terça-feira, fevereiro 06, 2024

Como eu vejo as coisas


Os debates, numa eleição com algumas caras novas na linha da frente, podem vir a ter alguma importância. Mas só alguma. Pressente-se que a esmagadora maioria dos eleitores já sabe bem em que "lado" vai votar. Alguns, da brigada azeda e biliosa tentada pelo "é preciso dar cabo disto tudo!", ainda estarão algo hesitantes entre o Chega ou o reforço do seu PSD de sempre, o único que sabem que pode oferecer-lhes o governo. Do outro lado do espetro, há quem hesite em renovar o voto no PS. Uns porque se sentem tentados a dar uma oportunidade ao Livre ou à nova liderança do Bloco. Outros, de um setor mais dado à prudência, é gente que ainda não percebeu bem se o novo líder pretende deslocar o partido do lugar onde tem estado e que, no fundo, lhes dava algum conforto. Pelo meio, há ainda outros que também se interrogam. Não houve, pelas bandas socialistas, algumas trapalhadas desagradáveis? Claro que sim, mas também há que lembrar, do outro lado da balança, que, na pandemia e na crise económica que lhe sucedeu, quando o país tremeu, o governo esteve onde devia estar, transmitiu a confiança e a segurança necessárias. E deixou as contas certas, o que não é de somenos. Está bem, mas não há ainda muitas outras coisas, nos serviços públicos, que continuam a correr menos bem? É bem verdade, mas também há que pensar que os professores e os médicos terão ido longe demais no seu egoísmo corporativo e isso, somado a outros fatores, não deixa de ter efeitos negativos na eficácia de serviços que deles dependem. Ou também acham que os polícias e os agricultores na rua, nesta precisa ocasião, é uma mera obra do acaso? Tudo considerado, contudo, sente-se que algumas pessoas ainda que não parecem decididas em transferir para Pedro Nuno Santos a confiança que um dia tiveram em António Costa. Mas será isso suficiente para as fazer mudar de "lado"? É que, quando olham para a alternativa potencial, imagino que algumas devam perder o apetite... Daí a importância da campanha, dos debates, para ajudar a um separar de águas, mesmo por cima do ruído dos debates. Esta é uma eleição que ainda vai ter muito mais demagogia, "fake news" e mentirolas gordas, com uma comunicação social (algumas televisões já nem disfarçam nada!) que, em grande parte, já juntou os trapinhos com o lado do costume e irá continuar a fazer títulos de arromba para tentar levar a água ao seu moínho. Enfim e no fim, que seja o que os eleitores quiserem, esperando eu, naturalmente, que uma maioria deles venha a querer o que eu quero. Mas que fique claro: se outra maioria decidir ir por um caminho diferente do meu, estará no seu pleno direito! Foi para isso, foi também para eles (mesmo para os que dele não gostam), que se (e o "se" aqui é reflexo) fez o 25 de Abril.

16 comentários:

Anónimo disse...

PS forever não é?!

Unknown disse...

É reconfortante ver que
, ao contrário de muitos dos seus companheiros de PS, o Sr. Embaixador reconhece legitimidade democrática a um governo de maioria que possa eventualmente integrar o Chega.

Unknown disse...

É reconfortante ver que
, ao contrário de muitos dos seus companheiros de PS, o Sr. Embaixador reconhece legitimidade democrática a um governo de maioria que possa eventualmente integrar o Chega.

Ricardo disse...

"(...) Alguns, da brigada azeda e biliosa tentada pelo "é preciso dar cabo disto tudo!", ainda estarão algo hesitantes entre o Chega ou o reforço do seu PSD de sempre (...)". Achará o Embaixador que, um partido que, segundo as sondagens, representa quase 20% do eleitorado, é potenciado pelos descontentes do PSD? A tentação de colar este "saco de pulgas" ao PSD, ainda vos vai fazer sair o tiro pela culatra.

Nuno Figueiredo disse...

uma indulgência sua. os debates não interessam nem ao menino jesus.

Carlos Antunes disse...

A sabedoria popular ensina que «burro velho não aprende línguas” o que no sentido metafórico quer dizer que «a idade faz-nos perder a agilidade física e mental, tornando-nos mais lentos e menos resistentes, logo menos receptivos a novidades». Para mal dos meus pecados, é neste estado que me encontro politicamente, de forma que a probabilidade de mudança é notoriamente nula.
Por isso, descubro-me incapaz de varrer da memória, as sombras “cavaquista” – recordo o imenso de suspiro de alívio quando saiu de Belém, que julgo também ter sido o sentimento comum da generalidade dos portugueses – e “passista”, com o empobrecimento generalizado dos portugueses, os milhares de despedidos, o ataque às pensões da “peste grisalha” dos reformados, as famílias destroçadas despedindo-se dos jovens convidados a emigrar e a abandonar “a sua zona de conforto”, as empresas falidas, as jóias públicas do Estado alineadas ao desbarato a um estado autocrático.
Neles nunca penso, mas chegada a hora das eleições, não sei porque são as sombras “cavaquista” e “passista”, mesmo que através dos seus actuais sobrestantes (AD) que me atormentam e surgem à frente, e me obrigam a ter consciência do meu sentido de voto!
Por essa razão, vou voltar a votar PS (não sou filiado no partido …).

Joaquim de Freitas disse...

O Senhor Embaixador disse: "Foi para isso, foi também para eles (mesmo para os que dele não gostam), que se (e o "se" aqui é reflexo) fez o 25 de Abril."

Ora eu tinha pensado que foi precisamente para o contrario que o 25 de Abril foi feito. Rosa Luxemburgo tinha pensado como o Senhor Embaixador. Viu-se o resultado.

A eterna indulgência da social-democracia e a atracçao do abismo.

Talvez os portugueses devessem ler o que significou a manifestação monstro no centro de Berlim há dois domingos. Cerca de 100.000 alemães que se reuniram lá para protestar contra o extremismo de direita.
E não foi certamente para admitir que governem mesmo aliados aos “indulgentes” do costume.

Estavam lá porque, em 10 de Janeiro, a plataforma de média Correctiv publicou um relato notável de uma reunião de extrema-direita em Potsdam em Novembro passado. De acordo com o relatório, os participantes - provenientes de vários grupos de extrema-direita e incluindo vários políticos do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) - discutiram planos para a deportação em massa de milhões de estrangeiros e alemães de famílias migrantes.
Horrorizadas, mais de dois milhões de pessoas já saíram às ruas. Os protestos, alguns dos maiores do país em décadas, surgiram em todos os lugares: não apenas em cidades liberais como Berlim, Hamburgo e Munique, mas também em muitas cidades do leste da Alemanha, onde a extrema-direita é particularmente forte.
O estranho é que o relatório da Correctiv não nos dizia nada que já não pudéssemos adivinhar. A extrema-direita, sabemos, é construída sobre fantasias racistas de homogeneidade étnica, e a AfD há muito é considerada extrema.
No entanto, durante anos, muitos alemães viram a ascensão da extrema-direita com algo como um distanciamento cauteloso: mesmo quando a AfD subiu para cerca de 20% nas pesquisas, permanecia alguma complacência sobre a ameaça que representava. Não mais. A Alemanha, enfim, acordou.
A democracia alemã não está bem. O problema não é apenas a ascensão da AfD, que se tornou forte o suficiente em algumas regiões para aspirar a posições de poder ou, pelo menos, para interromper seriamente o processo de formação de governos estáveis. É que, em muitas partes do país, um sentimento geral de descontentamento se transformou em desdém. As pessoas agora rejeitam não apenas o actual governo, mas todo o sistema político.

Que os regimes democráticos ou os partidos ditos de governo, se dediquem rapidamente a resolver os problemas que constituem o carburante dessas ratazanas, isso sim.

Tony disse...

Caríssimo Carlos Antunes. Parabéns por mais um magnifico Post, com um pensamento claro e que subscrevo. Cá, por mim, com tanta sujidade, demagogia e populismo à nossa volta, não sei, de todo, como a coisa correrá, temo, e estou de pé a atrás. A única coisa que sei, é que aqui em casa, e somos quatro, vamos todos, convictamente, votar no PS, como sempre. (também não sou filiado, no Partido).

Carlos Cotter disse...

Ao anónimo das 05:44:
É!

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

C'est ça...! E dia 10/03 pelas 20 horas logo veremos.

JA disse...

Esqueceu-se daqueles que não esquecem as guerras (Ucrânia e Palestina) e as posições do PS sobre as mesmas, Sr. embaixador.

Anónimo disse...

Com um olho.

Carlos disse...

O resultado dos Açores ao ir no sentido contrário do que era sugerido por algumas sondagens de certa forma é premonitório do que será o resultado de 10 de Março. O sobressalto dos agricultores e os protestos policiais com vagos contornos de insubordinação compuseram o cenário que tem vindo a ser paulatinamente montado com a ajuda das televisões onde predominam os comentadores afectos a um dos lados do espectro político. A tudo isto junta-se a incrível falta de coordenação política do governo em sectores sensíveis que alimentou a crise dos policias e dos tractores. Por fim a escolha dos militantes do PS mais determinada pelo sentimento do « nòs contra eles » do que pela capacidade de mobilizar o país no seu todo não ajudou - o alegado carisma não passa duma ilusão quando confrontado com um registo governativo mais marcado pelas polemicas do que pelas realizações.

Vamos esperar que o futuro governo (provavelmente da AD) não venha a pôr em causa políticas importantes para o país - a recuperação económica e a dinamização de alguns polos de competitividade internacional com empresas baseadas em Portugal (inclui-se aqui o aeroporto, os investimentos no hidrogénio e na transformação digital), a melhoria dos serviços públicos em especial na saúde e na educação, o investimento na habitação para todos (não é só para os mais pobres) e continuar a redução da dívida pública. .. a AD não deu até agora sinais de se preocupar muito com isto mas vamos esperar pelo programa do futuro governo. No,entretanto junto-me ao Embaixador e aos aos outros comentadores que indicaram o seu sentido de voto

carlos cardoso disse...

Não posso concordar com a visão dicotómica do Senhor Embaixador, com um “lado” onde as diferenças entre PSD, CDS e até Chega seriam de somenos importância, completamente oposto a outro “lado” composto pelo PS, Livre e Bloco.

Penso ao contrário que a grande maioria dos portugueses se situam numa área central ocupada pelo PS e pelo PSD e que tende em não votar em ideologias mas naqueles que estima mais capazes de governar com competência. Por isso os debates são capazes de ser mais importantes do que aquilo que alguns pensam. O PS é o partido no qual votei mais vezes, mas não todas as vezes, e ainda não decidi como votar desta vez.

afcm disse...

Ensaio sobre a lucidez, ou a forma lúcida de votar sem cruz.

Unknown disse...

Por aquilo que tenho visto, o Bloco de Esquerda vai dar uma grande dentada no PS. O carisma de MM é muito superior ao do PNS, que, devido à sua notória inabilidade para os debates, espantará os mais esquerdistas para o BE, ao mesmo tempo que atirará parte relevante do eleitorado flutuante para a AD. Por outro lado, o populismo desenfreado de AV é capaz de fazer fugir alguma gente conservadora, intelectualmente mais bem preparada. para a AD. Conjugando estas tendências antevejo uma copiosa, e digamos até justa, derrota para o PNS e para o PS, que ficará órfão de poder.

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