quinta-feira, junho 08, 2023

Barbaridade

A destruição deliberada de uma obra pública essencial para um país, como é o caso de uma barragem, como mera decisão tática no contexto de uma guerra, dela decorrendo graves consequências humanas, económicas e ambientais, é um ato bárbaro, de uma imensa gravidade.

Outros tempos


Sei lá bem porquê, ao surgir-me, num acaso da net, esta capa do DN, deu-me para ir à procura de uma música. E senti-me bem! Ouça aqui.

Verdes


Um utilíssimo mapa da produção de um vinho com qualidade cada vez mais apurada.

Patamar

A destruição da barragem de Kakhovka - hipótese de que se falava desde o início da guerra - representa a passagem a um outro patamar de ação militar. A lógica de quem mais aproveita torna plausível a autoria russa e parece revelar algum desespero tático de Moscovo.

Do algodão

Esgrimir com os mortos "do outro lado" faz parte da narrativa sectária nas guerras. Um "truque" comum, para "animar a malta", é estar sempre a auto-atribuir-se vitórias e pôr gente amiga a dizer que tudo corre mal ao inimigo. O teste do algodão é olhar as posições no terreno.

Guerra de trincheiras

A prova de que a guerra na Ucrânia se converteu num irrecuperável conflito de opiniões entrincheiradas é que, nos bitaites sobre a responsabilidade pela destruição da barragem, não haverá surpresas quanto a quem "acredita" em quem. Já assim foi com o Nordstream 2, lembram-se?

Comichões

Faço parte do seleto grupo de cidadãos que não assistiram, nem por um segundo, às audições da comissão parlamentar que tem a TAP como longínquo pretexto. Depois contem-me...

Notícias do caos

Das duas, uma: ou todo este alarmismo sobre o "caos" que se vai abater sobre Lisboa durante as tais Jornadas é exagerado, para depois se poder dizer que "correu tudo lindamente, somos os melhores", ou então foi uma imensa cretinice ter a ousadia de organizar aquilo. Escolham!

Malta do largo do Rato

 


quarta-feira, junho 07, 2023

Adeus, feira?


Por este andar, este ano acabo por não ir à Feira do Livro. Por comodismo, recuso sábados, domingos e feriados. Por precaução, não vou em dias em que ameace chover. Deteto já, cá em casa, um estranho júbilo em quem há muito acha que as nossas estantes não dão vazão à minha compulsão aquisitiva.

E o papa?

É um pouco cruel pensar que, mais do que com o estado de saúde do papa, o país parece essencialmente preocupado com o efeito que daí possa decorrer para a realização das Jornadas Mundiais da Juventude.

Falando da Ucrânia

1. Um acordo para pôr fim à guerra na Ucrânia estará mais longe do que nunca. Uma intermediação dos países do Sul - depois da desastrada posição de Lula e da bizarra proposta indonésia - parece condenada ao fracasso. Kiev apenas não descartou, em absoluto, um papel para a China.

2. Contudo, a última coisa de que Washington admitiria, depois do evidente desagrado causado pela recente intrusão diplomática chinesa no Médio Oriente, seria ver Pequim assumir um papel de "broker", num dossiê onde é o principal "investidor" político-militar. E a Ucrânia sabe isso.

3. À luz da História, será muito pouco provável que um cenário negocial para o pós-guerra - que envolverá necessariamente os EUA, a NATO e a UE -, que no essencial definirá a nova arquitetura de segurança na Europa, venha a ser desenhado por potências exteriores ao continente.

4. Existe a sensação de que o Reino Unido se estará a posicionar para vir a desempenhar um futuro papel destacado na segurança ucraniana, como poder europeu delegado dos EUA, apreciado por Kiev. A possível designação do seu ministro da Defesa para SG da NATO ajudaria a esta ambição.

5. No seu ziguezague desde o início da guerra, Macron sonhou um "tandem" com a China, para pilotar uma solução negocial, dada a mútua autoridade de membros do CSNU. Os EUA, que não confiam na França, terão travado a iniciativa. E Macron, sem problemas, passou de pomba a falcão.

terça-feira, junho 06, 2023

Ficha na Pide


Há mais de uma década, numa passagem pela Torre do Tombo, inquiri sobre se que, nos arquivos da PIDE/DGS, haveria alguma informação a meu respeito. Foi-me dito que sim, tendo mesmo obtido o número de referência sob o qual esses dados estavam registados. 

O facto de, desde então, nunca ter procurado ter acesso àquilo a que vulgarmente se chama a "ficha na Pide", revela a consciência que já tinha de que nada de muito relevante devia integrar esse dossiê. Antes de Abril, nunca fiz parte de qualquer organização política clandestina, nem nunca fui incomodado pela polícia política. 

Hoje, aproveitando meia manhã livre, e porque andava por perto, decidi ir à Torre do Tombo.

Respira-se uma saudável serenidade naquele espaço. Há por ali um amável silêncio, quase ia jurar que único em Lisboa. (Não excluo voltar, sob qualquer pretexto, só para gozar aquela magnífico ambiente). Notei, além disso, uma excecional simpatia e profissionalismo por parte de todo o pessoal, que me atendeu a mim e a outra gente que estava por ali por coisas bem mais sérias do que a minha curiosidade sobre o que os "pides" pensariam a meu respeito.

E afinal, que descobri? Praticamente nada! A PIDE e, depois, a DGS - cuja Comissão de Extinção, agora me lembro, integrei, por alguns meses, em 1974 - apenas tinha anotado, a meu respeito, coisas inócuas, como pedidos de passaporte, entrada para a Função Pública e ida para a tropa. 

Ora eu pensava que ter feito parte da "troika" que entregou a lista oposicionista ao Governador Civil de Vila Real, em 1969, sendo depois chamado à polícia local, por mais de uma vez, tinha marcado para sempre o meu destino. Ou que o facto de ter sido "não-homologado", por duas vezes, por decisão ministerial, como dirigente associativo universitário eleito, era a prova provada de que estava, para sempre, na "lista negra" do regime. Ou que o ter sido vetado expressamente pela Censura de continuar a escrever em "A Voz de Trás-os-Montes", por manifesta desafetação ao regime detetada nos artigos, abrira, de imediato, um severo processo a meu respeito. Ou que a minha assinatura, com trémula letra, em abaixo-assinados claramente ligados ao "reviralho", tinha sido posta a crédito (a débito, para eles) da minha "esquerdalhice". Ou que a circunstância de, por bastantes anos, ter andado da passarinhar por tudo quanto eram reuniões oposicionistas, desde manifestações de rua aos comícios mais diversos, tinha chamado a atenção dos "pides" sobre a minha pessoa. Ou que os incidentes disciplinares por que fora "chamado à pedra" na tropa, em Mafra, bem como a participação nas reuniões clandestinas de milicianos, nos meses que antecederam Abril, estavam a ser registados para devidos e futuros efeitos. Tudo somado a uma imensidão de outras muito pequenas coisas, desde distribuir literatura clandestina a pintar algumas (muito escassas) paredes, atos que pensava que não tinha escapado à argúcia do pessoal da António Maria Cardoso.

Qual quê! Nunca me ligaram peva, não me deram a menor importância, nem sequer tiveram a atenção de fazer um leve juízo apreciativo a meu respeito, fosse ele qual fosse... Uns ingratos!

Não se tivessem passado cinco décadas de ditadura, de perseguições, de torturas, de mortes, da infernalização da vida de muita e corajosa gente, pelo olhar para a minha "ficha da Pide" eu deveria concluir que nunca por cá houve qualquer coisa a que se pudesse chamar fascismo.

Saí hoje da Torre do Tombo devidamente "humilhado" pela descaso feito pela PIDE à minha, afinal minúscula e irrelevante, atividade oposicionista. Mas também saí com uma muito maior admiração por quem teve a coragem, que eu não tive, de enveredar pela luta aberta contra a ditadura, nas esquinas da clandestinidade ou a dar a cara na denúncia do regime, arrostando com as devidas consequências, em muitos casos trágicas. 

Essa gente é que merece, com imensa honra, ter "ficha na Pide". Não eu.

O porto que Lisboa é

Os traços eram estranhos, algo asiáticos, mas não muito pronunciados. O português, abrasileirado, era razoável na pronúncia, embora com ligeiros erros nas concordâncias. Fizemos apostas sobre a origem da empregada que nos servia, no jantar de ontem. Na altura de pedir as sobremesas, perguntei-lhe. "Usebequistão", foi a resposta, com um sorriso. "É muito longe...", esclareceu. Para ver a reação dela, disse-lhe: "Já estive alguns dias no seu país". Abriu os olhos bem oblíquos, entre o espantada e o descrente. "É verdade! Dormi em Fergana, em Tashkent, em Samarcanda e em Bukara". Parecia não querer acreditar. "O seu país é muito bonito". Era pura verdade. O sorriso ia aumentando. A música ambiente, caribenha, aos berros, naquele restaurante novo e incaraterístico, desenhado para turistas, no local onde a Braamcamp cruza com a Alexandre Herculano, onde o fantástico fim de tarde e o acaso nos tinham feito desaguar, não dava para mais conversa. À saída, a rua estava assim, a cheirar a tílias, a lembrar o Jardim da Carreira, em Vila Real. O edifício da sinagoga tem, ao lado, uma loja com nome árabe. Lisboa é um porto, pelos vistos seguro, para gente muito diversa. A mim, é uma coisa que muito me agrada. Só espero que a eles também.

segunda-feira, junho 05, 2023

Carpe noctem

 


Nomenclatura



É com a passagem do tempo num consultório médico que percebemos, finalmente, por que razão somos designados por "pacientes" e o lugar onde aguardamos que nos chamem se designa por "sala de espera".

"Piauí"


Chegou-me a "Piauí" nº 200, pela minha assinatura. 

Lembro-me bem do dia em que comprei, há 17 anos, o nº 1 desta que é, a grande distância, a melhor revista Brasil, que se qualifica uma publicação "para quem tem um parafuso a mais". 

O primeiro texto deste número começa assim:



Em Jaboatão dos Guararapes


Não consigo encontrar o nome de Judite Vilar nos glossários das histórias do movimento operário.

domingo, junho 04, 2023

O segredo de Ansón


Rafael Ansón é, desde há muitos anos, uma figura muito conhecida da vida pública espanhola. Hoje com 87 anos, mantem-se como o "papa" da Gastronomia espanhola, que lhe deve um extraordinário trabalho de promoção. 

Nessa área, Rafael já ocupou todos os lugares possíveis, até ter chegado a presidente da Associação Internacional de Gastronomia. Esteve presente em Lisboa, na passada semana, para participar na gala anual da nossa Academia Portuguesa de Gastronomia*, onde foram entregues os prémios anuais de cozinha, de escanção, de restauração e de divulgação mediática.

Rafael é seco de carnes, como alguns dizem. Andando ele, desde há muito, num vai-e-vem de eventos e, imagina-se!, almoçaradas e jantaradas, perguntei-lhe, um dia, numa refeição no Belcanto, como é que ele conseguia ter aquele físico equilibrado. Coloquei a questão com curiosidade mas também com inveja, confesso.

Riu-se e explicou o "segredo": "Numa refeição, em geral, eu como sempre pouco, mas como muito daquilo que é bom!" Nas vezes que nos voltámos a cruzar, constatei que Rafael Ansón, embora provando de tudo, evita aquilo o que seja lateral à essência do prato, todos os componentes que considere não essenciais. E, claro, é muito cuidadoso com o que come do resto, do "bom". É a arte de comer, enfim.

(* Porque se vive por aí uma cultura de inveja e de desconfiança, gostava de deixar claro que a APG é uma organização sem fins lucrativos, dedicada à promoção da gastronomia portuguesa, em que cada associado paga as suas quotas e o custo de participação nos eventos a que assiste. A APG nunca recebeu, naturalmente, um único centavo do Estado ou de qualquer 20/20 ou PRR...)

A Suécia vai entrar para a NATO. Ponto

 

A ver aqui.

Sanchez - será desta?


Ver aqui.

Erdogan - mais uma corrida, mais uma viagem!


Pode ver aqui.

A guerra chegou à Rússia?


Ver aqui.

Juros

Só uma manifesta iliteracia pública justifica que não seja uma evidência que o Estado português, ao financiar-se internamente através dos Certificados de Aforro, deve tentar pagar a mais baixa taxa de juro que seja possível. Como contribuinte, quero pagar, pelos empréstimos ao Estado, o menor serviço de dívida possível - seja no exterior, seja no nosso mercado financeiro interno. Como contribuinte, não quero que os meus impostos sirvam para subsidiar o investimento de quem tem isso poupanças para comprar Certificados de Aforro. Por isso, quero que estes tenham a mais baixa taxa de juro que for possível conseguir-se. Confundir isto com a questão dos juros dos bancos é uma mera demagogia, que só sobrevive no debate público graças à iliteracia financeira que por aí grassa.

"A Cozinha do Manel"


Na noite da passada sexta-feira, no Grémio Literário, ao restaurante "A Cozinha do Manel", situado na rua do Heroísmo, no Porto, foi atribuído pela Academia Portuguesa de Gastronomia o prémio Maria de Lurdes Modesto, que anualmente homenageia um restaurante que se destaque na área da cozinha tradicional portuguesa.

Recebeu o prémio o proprietário, José António Vieira, na imagem com José Bento dos Santos, figura cimeira da Academia, cujo presidente do Conselho Diretivo, Carlos Fontão de Carvalho, sublinhou os mais de três decénios de bons serviços à gastronomia portuense prestados pelo restaurante.

Recordo que, entre outros, no passado foi atribuído este prémio a restaurantes como "A Tasquinha do Oliveira" (Évora), o "Tia Alice" (Fátima), o "Vallecula" (Valhelhas), o "Noélia" (Tavira), o "Casas do Bragal" (Coimbra), o "Geadas" (Bragança) e o "Solar dos Presuntos" (Lisboa).

Parabéns a quem dirige e trabalha no "A Cozinha do Manel", um dos meus restaurantes de eleição no Porto.

sábado, junho 03, 2023

O cambão

Existe um evidente cambão entre os bancos que leva a um ambiente artificial de baixas taxas de juro de depósitos. Por que é que o acionista do principal banco português não impõe que se acabe com esta vergonha? Quem é? É o Estado! Para que serve, afinal, manter um banco público?

sexta-feira, junho 02, 2023

Saber viver com a diferença

A tentativa de desqualificação de alguns comentadores militares, área em que a CNN Portugal faz a diferença face à concorrência, a qual parece viver feliz no seu quase unanimismo opinativo unilateral, tem apenas um objetivo: tentar o afastamento das vozes dissonantes. Digo eu...

"Procuro..."


"Procuro e não te encontro, procuro nem sei o quê..." cantava o velho Toni de Matos.

Lembrei-me desta pérola do nacional-cançonetismo ao ler, há pouco, que a senhora Procuradora-Geral da República disse estar em curso um inquérito (não esclareceu se é "rigoroso", mas deve ser, porque é de regra dizer que o é) por violação do segredo de justiça, nas trapalhadas autárquicas do PSD. 

Perante esta declaração, o país fez "uhf!" e sabe que pode passar a dormir descansado... e esperar sentado!

"Amarra ó Tejo"


Chama-se "Amarra ó Tejo" e tem, muito provavelmente, a melhor vista sobre Lisboa que qualquer restaurante pode ter - o Miradouro de Almada. Fica na zona antiga da cidade, no Jardim do Castelo, com acesso junto à igreja de Santiago, ao lado do coreto. Para lá chegar, atenção!, é necessário deixar-se conduzir pelo GPS e, depois, ter a sorte de encontrar um lugar para estacionar, em alguma das ruelas próximas. Mas, pela vista e pela comida, vale bem o esforço: a lista é muito bem construída e com mão de quem sabe da poda, com um conjunto de entradas apelativo e diversificado (infelizmente, desta vez, não nos deu para ir por aí), com os peixes e coisas correlativas (foi a nossa escolha, de que nos não arrependemos) a dominarem sobre as opções em matéria de carnes, com uma lista sobremesas bem recheada (as que foram provadas estavam excelentes) e uma carta de vinhos não muito longa, espelhando várias representações regionais, marcada por uma cada vez rara honestidade nos preços. O serviço foi competente, cortês e discreto. O preço esteve perfeitamente na média que se justificava, atenta a qualidade daquilo a que tivemos direito. Se a tudo isto somarmos o fim de tarde soberbo que nos calhou em rifa, já estaria feita a festa. No meu caso, juntei-lhe um belo grupo de amigos cuja conversa se prolongou até às horas de fecho da casa. A "outra banda" vale a pena, acreditem! 

quinta-feira, junho 01, 2023

A páginas tantas...


Como eu já esperava, a minha chegada a casa, esta tarde, com uma saca que continha mais de uma vintena de livros, não foi saudada com um excessivo júbilo. Ah! E, este ano, ainda não fui à feira do livro! Os dias que aí vêm não se anunciam nada fáceis...

quarta-feira, maio 31, 2023

"Crónicas de Lisboa"


Na quarta-feira da semana passada, às seis e meia da tarde, cheguei à Brasileira do Chiado, para assistir à apresentação deste livro de Ferreira Fernandes e de Nuno Saraiva. Era cedo demais: o lançamento foi só hoje, com palavras prévias de Manuel Serrão. E lá estive. Prometo que vou tentar não voltar para a semana. Ah! É um belíssimo livro, aviso!

"À suivre..."


Uma notícia curiosa: um jornal informa que alguns gestores da empresa que é sua proprietária têm a intenção de apresentar ao acionista dessa mesma empresa (mas ainda não o fizeram) uma proposta para a aquisição da mesma. "À suivre", como na banda desenhada...

terça-feira, maio 30, 2023

O patife


Tive um grande prazer em ter sido convidado a apresentar, hoje, no Instituto Universitário Militar, o livro do general Francisco Cabral Couto, "O Fim do Estado Português da Índia - Um Testemunho da Invasão". 

O autor serviu no Exército que estava em Goa, foi preso durante seis meses pelas forças indianas e, como muitos outros militares portugueses, foi menos bem tratado pelo regime, depois do seu regresso a Portugal. A sua magnífica carreira militar posterior terá compensado o tempo traumático em Goa, que, com grande rigor, deixou por escrito.

Na apresentação que fiz, procurei contextualizar a invasão indiana de Goa nesse "annus horribilis" que 1961 foi para a ditadura portuguesa, quer no plano interno, quer no quadro internacional.

Destaquei, em particular, o cinismo do ditador, o qual, não obstante ter a plena consciência de que os meios militares ao dispor das Forças Armadas portuguesas que estavam em Goa eram, em absoluto, insuficientes para deter um qualquer ataque, não hesitou em enviar ao governador instruções que incluiam esta sinistra frase: "Não prevejo possibilidades de tréguas nem prisioneiros portugueses, como não haverá navios rendidos, pois sinto que apenas pode haver soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos". 

Na resposta, o governador e comandante-chefe destacou "a desproporção das forças em presença, a fragilidade do dispositivo de defesa e a exiguidade dos meios em pessoal e material postos á nossa disposição".

Francisco Cabral Couto destacou, na ocasião, alguns aspetos do seu texto e, hesitando na escolha do vocábulo, com a contenção própria do militar de honra que sempre foi, concluiu a sua curta intervenção dizendo: "Salazar foi um patife!" E foi mesmo.

segunda-feira, maio 29, 2023

O impedimento


Hoje, estive na Universidade Fernando Pessoa, no Porto, a apresentar uma comunicação num congresso sobre Ciência Política e Relações Internacionais. E recordei a primeira vez que lá não fui. Eu explico.

Foi em inícios de 1996. O reitor da recém-criada Universidade Fernando Pessoa, professor Salvato Trigo, tinha-me convidado para abrir um evento, na minha então qualidade de secretário de Estado. Achei dever corresponder positivamente a esse gesto dessa nova instituição de ensino superior privado. Fixou-se a data e a minha visita foi anunciada na imprensa.

Foi então que tudo se complicou. Recebi um telefonema do meu colega de governo que tinha a seu cargo o ensino superior, o qual, alarmado, me disse: "Peço-te que não vás! O processo de legalização definitiva da Universidade está ainda em curso e vai demorar ainda alguns meses. Se acaso um membro do governo vier a surgir publicamente num evento da universidade isso acaba por funcionar como um reconhecimento oficial implícito. Seria muito desagradável!" E lá tive eu de inventar um pretexto para me furtar ao compromisso que tinha assumido.

Porque o tempo tudo cura, contei entretanto a história ao professor Salvato Trigo e ambos rimos sobre esse episódio. Só nessa altura ele ficou a saber o verdadeiro motivo do meu impedimento de então. Ilustro o post com um belo painel que figura no pátio central da universidade. Onde hoje tive imenso gosto de intervir.

domingo, maio 28, 2023

"O que os portugueses querem..."

Acho natural que um membro do governo se recuse a responder a uma pergunta de um jornalista. A ideia de que um jornalista representa a "voz do povo" é um demagógica falácia. Mas "passo-me" quando o governante, para fugir à questão, diz: "O que os portugueses querem saber é...".

Palavra

"Por que é que estavas a falar, há minutos, dos estúdios do Porto da CNN?", perguntou-me, agora mesmo, um amigo. "Ora essa! Já viste o inferno que está o trânsito para Queluz de Baixo?". Acreditem que ainda houve uns segundos de silêncio.

O partido das maiorias

Mariana Mortágua fez um forte discurso contra a maioria absoluta. Curiosamente, foi com o voto do BE que foi aberto o caminho a duas maiorias absolutas: uma dada à direita, em 2011, e outra oferecida ao PS, uma década depois. A continuar assim, o BE será sempre uma minoria absoluta.

No 28 de Maio

Há um mito, na política portuguesa contemporânea, de que uma determinada pessoa foi convidada por engano para um cargo ministerial, por ter um nome idêntico ao de alguém que era o verdadeiro destinatário do convite. Já está mais do que provado que essa historieta não tem pés para andar, mas, no entanto, tenho-a visto repetida como se fosse verdadeira. Talvez por ter graça...

A propósito da data de hoje, 28 de Maio, dia do funesto golpe militar, em 1926, conta-se que o general Gomes da Costa, depois de se ter desembaraçado dos seus colegas de conspiração, e pouco tempo antes de, ele próprio, ser posto com dono, recebeu os seus novos ministros. Ao cumprimentar aquele que ia ser o primeiro ministro da Saúde da ditadura militar, ter-lhe-á dito: "Tinha ideia de si como uma pessoa mais velha". O novo governante terá respondido: "Deve estar a confundir-me com o meu pai". E lá foi ele tratar da Saúde aos portugueses...

Os velhos turcos

No início da disputa presidencial na Turquia, dei comigo a perguntar, em voz alta, na CNN Portugal, se valia mesmo a pena decorar o nome, difícil de pronunciar, do líder oposicionista turco. Acabei por fazê-lo. O velho político regressa agora a casa.

A vida e o cinema


A CP passa no Alfa Pendular filmes belíssimos sobre a empresa, com funcionários sorridentes (presume-se não serem os grevistas), tudo com um ar "clean", eficiente e agradável. Pena é que a vida por lá não seja "como nos filmes"...

Com a cabeça na lua

Há semanas, numa conversa telefónica, veio à baila a célebre noite de 1969, em que, por todo o mundo, muitos madrugaram para conseguir ver, no nosso caso na televisão a-preto-e-branco, com o Mensurado a relatar, a chegada do primeiro homem à lua.

Explicava eu à pessoa com quem falava que, estranhamente, esse não havia sido o meu caso: tinha um exame de Sociologia no dia seguinte e, com uma disciplina de comportamento em que, nos dias de hoje, me não reconheço, tinha-me ido deitar cedo, depois de reler a muito sublinhada sebenta do professor José Júlio Gonçalves.

Foi então que ouvi, desse amigo quase da minha idade, com formação superior, sem a menor ponta de ironia, porque ele é assim, permanentemente dado às mais sofisticadas (se o termo se pode usar nesse contexto) teorias a conspiração: "Não perdeste nada, como sabes. Aquilo foi tudo montado em estúdio, para mostrar uma suposta superioridade tecnológica americana, em tempo de Guerra Fria. E a patranha pegou, para muitos, até hoje."

Creio que, na passada, lhe perguntei o nome da ilha onde vivem o Michael Jackson e o Elvis Presley. Ah! Esse amigo é um fiel seguidor político de um líder que ele trata sempre por “André”. E está ansioso pelo regresso de Trump, a quem o Biden "roubou" as eleições, é claro!

A vida, sem esta diversidade de gentes, não tinha graça nenhuma.

sábado, maio 27, 2023

Pela Europa


Uma bela manhã de análise das grandes questões europeias, num mano-a-mano com Paulo Sande, a convite da JSD de Setúbal.

O abraço do leão


O Benfica ganhou o "campeonato". Parabéns aos meus muitos amigos benfiquistas. O leão, lá do alto da estátua, representa-me no Marquês.

Multilateralismo


Na passada quarta-feira, na Universidade Autónoma de Lisboa, dei uma aula sobre Multilateralismo. Foi mais de uma hora e meia, com um grupo de alunos interessados e interventivos. Se a professora Sónia Sénica não tivesse colocado um ponto final ao debate, aquilo tinha-se prolongado sabe-se lá até quando!

Demos uma "volta ao mundo" das organizações multilaterais, da sua origem, história e desenvolvimento, em especial ao longo do século XX - o século de consagração do multilateralismo. Falámos das diferenças entre as diplomacias bilateral e multilateral, dos métodos de trabalho diversos para operar em cada uma. E discutimos muito o que foi a aculturação portuguesa ao mundo multilateral, desde as reticências da ditadura à "explosão" da nossa ação externa nesse domínio, no pós 25 de Abril. E falámos, claro, dos problemas que o multilateralismo atravessa, com a ONU no centro dessa crise.

Comecei a aula perguntando aos alunos se já tinham mandado uma carta pelo correio, para o estrangeiro. E se, ao pagarem o selo no ato do envio da carta, acaso se tinham perguntado por que motivo alguém se iria dar ao ao trabalho, no destino, de ir entregar a carta ao endereço indicado. Com certeza, esse serviço tinha de ser pago, o que significava que parte do custo do selo tinha de ser entregue ao serviço dos correios desse país. Uma coisa óbvia. Da mesma forma que entendemos natural que, ao colocarmos o endereço, escrevamos o nome do destinatário, depois a artéria, a cidade (mais modernamente, o código postal) e o país. Quem "combinou" que isso fosse assim? Como é tudo começou? Como é que os países se organizaram, entre si, para que tudo funcione, em termos de respeitada reciprocidade?

Foi por causa de tudo isto que, em 1878, foi criada a União Postal Universal, a primeira estrutura institucional multilateral de vocação global. A diplomacia é feita destas pequenas grandes coisas bem úteis ao mundo.

sexta-feira, maio 26, 2023

De Polichinelo


Vou contar um segredo de Polichinelo, que muito jornalista e político sabe, mas que a generalidade do público desconhece. Tem a ver com cerimónias, comícios ou discursos públicos, quando cobertos, em direto, pelas televisões.

A certa altura da sua arenga, quem está a falar para um público restrito recebe um sinal, por parte de uma pessoa da sua assessoria em comunicação social, informando-o de que, a partir desse momento, o que estiver a dizer deixa de ser ouvido apenas por quem está na sala e passa a sê-lo por centenas de milhares de espetadores.

Quase sempre, a partir desse instante, com mais ou menos jeito, o orador muda, subtilmente, de tom. Ele tem guardadas, precisamente para esse auditório exponencialmente alargado, as suas principais mensagens, os "bon mots", os ditos que quer que fiquem na cabeça das pessoas, por todo o país.

Hoje à tarde, por um mero acaso, liguei uma televisão. Fizeram, nesse instante, uma ligação a uma cerimónia onde falava o presidente da República, um evento com empresários.

Voltei-me para a pessoa que estava ao meu lado e disse: "Está atenta. Daqui a muito pouco, o presidente, fingindo que é a propósito daquilo em que está a intervir, vai dizer uma frase que, deliberadamente, ele quer que venha a ser interpretada num contexto mais vasto, aplicando-se à atualidade política". A pessoa não pareceu acreditar, até que ouviu.

Não passou um minuto e Marcelo Rebelo de Sousa, dando ares de que falava da vida dos empresários, lançou a frase de que, minutos depois, todo o país falava: "Quando o poder entra em descolagem em relação ao povo, não é o povo que muda, é o poder que muda".

Haver, há!


Há dias com um tempo mais simpático para passar um fim de semana em Palmela? Há. Mas só há este fim de semana para ser passado em Palmela. É a vida! 

Ferro Rodrigues no "Público"


Eduardo Ferro Rodrigues assina hoje, no "Público", um excelente artigo, onde, em especial, chama à responsabilidade e apela ao sentido de Estado de quem detém os meios de evitar uma crise política que, no seu entender, poderia afetar fortemente o regime democrático.

Olhando a árvore, porque a rama dá sempre mais jeito para alimentar a fogueira da polémica, o on-line do jornal ignora a floresta e, esquecendo o essencial, detém-se apenas sobre um pormenor do artigo - o episódio da dissolução da Assembleia da República em 2021 - embora, aparentemente, não entendendo o sentido que o autor quis dar-lhe, ao chamá-lo para o atual contexto.

E, para "orientar" o leitor preguiçoso, que se fique pelas "gordas" e não queira ler o texto todo, a edição em papel do "Público" faz um destaque enganador, na citação e na fotografia "grave", como se o único destinatário dos "recados" fosse António Costa. Irra!

Não costumo publicar aqui textos "fechados" (e eu pago a minha assinatura do "Público"). Mas, desta vez, o jornal merece que não se respeitem os seus direitos e se apele a que, no futuro, execute um jornalismo mais responsável.

E, já agora, quero dizer que lamento muito que uma figura com a experiência política e o estatuto institucional de Eduardo Ferro Rodrigues, que este texto bem revela, não tenha assento no Conselho de Estado. A sua voz poderia fazer a diferença, neste tempo de grande exigência democrática. 

quarta-feira, maio 24, 2023

Outra coisa


Acabei a aula na universidade, meti-me no carro pelo trânsito infernal da tarde de Lisboa, consegui um lugar no estacionamento, aproveitei uma aberta no meu barbeiro no Grémio ("estavas com um cabelame de lado que precisava de uma aparadela", tinha-me dito alguém que me viu na CNN) e, com calma, entre turistas que olhavam aquele espécimen fardado de casaco e gravata, subi o Chiado até à Brasileira. 

Entrei, passavam já uns bons minutos das seis e meia, a sala estava à pinha. Ao fundo, havia uma senhora a falar ao microfone. Graças à gentileza de uma cliente, consegui o último lugar de todo o espaço, na sua mesa. Com a sede dos afogueados, pedi uma imperial e, olhando a opção da minha companheira de pouso, e sem mais imaginação, mandei vir um "éclair" de chocolate (tardes não são dias e a minha glicose anda controlada). Ela sorriu, por eu lhe seguir o bom gosto.

A pessoa que, lá ao fundo, falava, dizia coisas sobre Natália Correia. Estranhei, mas só um bocadinho. Por entre as cabeças, tentei descortinar o inconfundível cabelo da Catarina Carvalho, que me convidara para a sessão. Sem êxito. De um dos autores do livro cujo lançamento ali me levava, o José Ferreira Fernandes, nem rasto. Quase não parecia ali haver nenhum homem! Era um mar de mulheres! Atentei então melhor no que era dito pela senhora que usava da palavra: falava sobre os motivos da sua decisão de escrever uma biografia sobre Natália Correia! 

Ó diabo! Agarrei no iPad, escrevi no tio Google "Ferreira Fernandes" e "Brasileira", na última semana, e lá estava, claro como a água: o lançamento do livro era na Brasileira, às seis e meia da tarde, na quarta-feira... dia 31 de maio, daqui a uma semana!

Acabei a cerveja e o "éclair", pedi a conta à empregada e desculpa à senhora do lado, e saí de fininho. Não é que me não interesse uma biografia da Natália Correia! Antes pelo contrário! Mas, hoje, eu ia ali por outra coisa. E uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. 

ps - a Catarina e o Zé que me desculpem se, lá para o fim do mês, não estiver na Brasileira. Já estive!

Depois, queixem-se!

O justicialismo paranóico, imagem de marca de muita da comunicação social portuguesa - que alegremente junta, no mesmo caldeirão, rumores, suspeitas, meias-verdades e raramente factos provados -, é pasto fácil para um populismo que pode vir a destruir o regime democrático.

terça-feira, maio 23, 2023

Reverar?

Utilizei num texto, neste blogue, o verbo "reverar", no sentido de "ter profundo respeito por". Já não era a primeira vez que usava o termo. Há anos que, em artigos e textos vários, embora sem grande frequência, "reverar" faz parte integrante da minha escrita. Ao reler este último post, surgiu-me a dúvida: o vocábulo "reverar" teria mais algum significado, além daquele que eu lhe dava? Decidi ir a um dicionário: o verbo não constava. Fui ver a outros: idem. Sem querer, desde há anos, utilizo com regularidade uma palavra, um verbo, que, afinal, não existe. E agora, que faço? Continuo a usar "reverar"?

segunda-feira, maio 22, 2023

Os 25 anos da Expo


Leio agora isto, em especial o último parágrafo, e, pondo-me no lugar do leitor, dei comigo a reagir: "Este tipo foi 10 vezes à Expo? É um "Expo-dependente", como António Costa, Mariano Gago e Manuel Maria Carrilho?". 

Ora eu, na realidade, só fui à Expo, como visitante, um único dia. Estas 10 vezes que vêm hoje referidas nas notícias representaram o acolhimento que me coube fazer a 10 ministros ou dignitários de outros tantos países, no respetivo dia nacional, com a cena dos hinos e do hastear das bandeiras, passagem ao filme de apresentação (que já sabia de cor) no Pavilhão de Portugal, com a Simoneta da Luz Afonso a ter de repetir a sua explicação, subida ao primeiro andar, um Porto ou um Madeira branco (eu pedia sempre um Douro tinto), ida para a mesa, débito de um discurso inventado sobre o país em causa e sobre a conhecida "excelência" das nossas relações bilaterais, seguido do ritual almoço "ex officio". Depois, ala que se faz tarde para o trabalho, porque ninguém o fazia por mim.

Foi uma belíssima realização, saída da genialidade de António Mega Ferreira e Vasco Graça Moura, com o apoio de Cavaco Silva e o empenhamento de António Guterres. O país gostou, os estrangeiros também, os erros de Sevilha foram evitados e lá está hoje o Parque das Nações, nome saído de um conselho de ministros, já no final da Expo, a que, por acaso, estive presente e no qual tive a ousadia de propor, com o resultado que se viu, o nome de "Parque do Oriente", por algumas razões que então adiantei, quando mais não fosse, para homenagear o estimável Clube Oriental de Lisboa...

Caldas


... e no dia 16.3.74, um grupo de oficiais, de obediência spinolista, tomou de assalto este quartel e tentou uma insurreição, que saiu gorada. Alguns foram detidos e isso grangeou-lhes esporas junto do "movimento dos capitães". Em 28.9.74 e, em especial, em 11.3.75, perdê-las-iam.

Sporting

Ser do Sporting é sê-lo num dia como o de hoje. Sporting sempre!

Ainda Cavaco

Pense-se o que se pensar sobre o conteúdo, a forma e a oportunidade do discurso de Cavaco Silva - e se fica bem a um antigo chefe de Estado, na plenitude das suas capacidades, agir daquela forma - nem por um segundo acho que Cavaco tenha pisado alguma linha vermelha da democracia.

domingo, maio 21, 2023

Estaline

 


Estaline é uma personagem histórica altamente controversa, "to say the least". A sua crueldade ultrapassou as raias do imaginável, as mortandades que a sua paranóia provocou anularam, para a grande maioria das pessoas, o sentido patriótico da liderança que protagonizou na União Soviética, em face da invasão da Alemanha nazi. 

Escrevo "grande maioria" porque, na Rússia, e até na sua Geórgia natal, encontrei quem reverenciasse a sua memória. E, nas vezes que passei na Praça Vermelha, em Moscovo, junto ao seu discreto túmulo, muito perto do edifício monumental onde está depositado Lenine, nunca ali vi faltarem flores. 

Mesmo em Portugal, como já em tempos aqui relatei, ainda há militantes comunistas que se recusam a entrar no coro da diabolização do "Zé dos Bigodes", como era carinhosamente tratado em outros tempos. Há gostos para tudo e, felizmente, em democracia, quem quiser pode revelá-los, por muito que outros se escandalizem!

Ontem, nas Caldas da Rainha, descobri, numa loja, este boneco, muito bem construído, representando Estaline. Comprei-a e vou oferecê-lo, logo que encontre um portador, a um velho amigo brasileiro que um dia, na cidade do México, ao visitar a casa de Trotsky e ao ouvir, da boca do guia, que ele tinha sido "assassinado" a mando de Estaline, reagiu, indignado: "Assassinado não! Justiciado!"

Imagino que alguns leitores achem que, por vezes, brinco demasiado com coisas muito sérias. Estão enganados: não é só por vezes!

A Oeste algo de novo

Aqui deixo quatro brevíssimas notas sobre outras tantas incursões restaurativas no Oeste, no fim de semana que agora termina.


ADEGA DO ALBERTINO (Caldas da Rainha). Nos arredores da cidade, uma casa de sólida cozinha tradicional portuguesa, que ali está há mais de 30 anos de bons serviços. Lista muito completa, pelas mãos da dona Fátima e pela direção de sala de Albertino Catarino. Serviço atento e profissional, cozinha de qualidade. Estacionamento fácil.


CAIS DO PARQUE (Caldas da Rainha). No Parque Dom Carlos (os caldenses acrescentam "primeiro", como se tivesse havido ou venha a haver um outro...), num pavilhão que é quase idêntico ao do Límia Parque, em Viana do Castelo, nasceu há, não muito tempo, um restaurante que começou por comida asiática e hoje tem outras boas opções, em que a carne, em doses dimensionadas, é uma oferta pouco comum. Sente-se por ali, na qualidade e apresentação, uma mão hábil de chefe, que nos fez apreciar bastante esta primeira experiência. Lista de vinhos com preços muito honestos, o que começa a ser raro. O serviço ganhava em ser um pouco menos "casual arrogant". Estacionamento difícil; use o parque do centro comercial por detrás do hotel.


TRIBECA (Serra d'El Rei). Os leitores já devem estar cansados de me ler a dizer bem desta "brasserie", onde aporto muitas vezes, por ficar a dois passos da A8. Imagino que alguns devam mesmo pensar que recebo uma comissão! Mas o que hei-de fazer? Ontem, uma vez mais, comi lá muito bem. Eu e uma montanha de estrangeiros que já sabe da poda e enche a casa! Estacionamento fácil.


TASCA DO JOEL (Peniche). Fica na costa sul da cidade, que é preciso atravessar para lá chegar. O peixe é ali rei, mas não reina sozinho. Hoje, por exemplo, era dia de cozido à portuguesa. Umas ameijoas com que se abriram as hostilidades, que a casa qualifica de XL, estavam excelentes. Como esteve tudo o resto que se comeu. Preços razoáveis para a boa qualidade. Serviço conhecedor e atento. Estacionamento fácil.

O Oeste recomenda-se!

Brasil

O que terá ocorrido, na realidade, que levou ao desencontro de Lula com Zelensky, em Hiroxima? E como fica o Brasil nas suas ambições de ser promotor de um processo de paz para a guerra na Ucrânia?

Cavaco

Cavaco Silva não se resigna com a circunstância de persistir, na memória da direita, o facto de que foi ele quem deu posse à Geringonça. E como ninguém surge a defendê-lo, aparece ele, cavalgando a frustração do PSD, lembrando subliminarmente tempos passados em que o futuro do partido era, em geral, bem melhor.

sábado, maio 20, 2023

Confissões de viajante


A compulsão é imensa e creio que eterna. Perante as estantes cheias de livros, deixados pelos hóspedes nos hotéis em que me alojo, a minha vontade de surripiar um ou dois é constante. Uma vez mais, contive-me, o que também foi ajudado pelo facto de o que estava impresso em línguas de gente ser inaproveitável. Para o futuro, descobri uma solução: vou passar a trazer de casa uns monos, fazendo as trocas com a consciência mais tranquila.

sexta-feira, maio 19, 2023

Expressamente

Reitero, "avant la lettre", a minha indignação: o "Expresso da Meia-Noite", que aí vem dentro de minutos, promete ser o habitual espetáculo de subserviência ao governo, de bajulação a Costa & Galamba. A SIC e o "Expresso", nos dias de hoje, são o outro nome do "Ação Socialista".

Leon, mostra a tua raça

Deve ser confortável para o Bloco de Esquerda ter um seu antigo assessor no centro de um furacão político, que coloca uma imensa rasteira ao PS pós (e espera-se que não pré) PNS. Quem conhece o trotskismo sabe o que é o "entrismo", não sabe?

Um escândalo, é o que é!

Surpreende-me, com franqueza, o modo lambe-botas como as nossas televisões passam o tempo a defender Galamba e o governo, só escolhendo comentadores que lhe são favoráveis, não ecoando nunca a voz das oposições. É a mordaça, é a nova censura! Saia um novo 25 de Abril, já!

Perguntei à Inteligência Artificial

 


Belém

Pronto, já posso sair calmamente para o meu fim de semana gastronómico no Oeste. Em Belém, além do regresso do Belenenses à divisão principal, não se vai passar nada. Quem é que manda o "Expresso" sair à sexta?

Vadim


Ao final da tarde de quarta-feira, na Gulbenkian, ouvi o escritor Giuliano de Empoli fazer uma apresentação do seu badalado livro "O Mago do Kremlin" (já agora, vale bem a pena lê-lo!). Dá pelo nome de Vadim a personagem ficcional que, na trama, surge como o conselheiro de Putin. 

E isso trouxe-me à memória um outro Vadim, também russo, que, em outros e distantes tempos, cruzei na vida diplomática.

Foi no início dos anos 80 do século passado, em Luanda. A Guerra Fria estava no seu esplendor. Angola era uma das suas frentes ativas. Soviéticos e cubanos, com muita gente de vários países socialistas do Leste europeu, acolitavam o governo angolano na sua luta política e, em especial, na guerra civil contra as tropas da UNITA. 

Portugal era então visto, por Luanda, como um país com uma atitude algo hostil, por permitir a livre movimentação em Lisboa dos adversários do regime do MPLA. Na narrativa local, o nosso país surgia como aparentemente solidário com o satã americano que, ao lado dos sul-africanos, era objeto prioritário da diabolização da propaganda oficial. Não era muito fácil, naqueles tempos, ser por ali diplomata português, como era o meu caso. Mas tinha alguma graça.

Um dia, o nosso embaixador, António Pinto da França, deu-nos conta de ter sido aproximado, numa receção oficial, por um diplomata da União Soviética. Não era uma abordagem com conteúdo substantivo, como o seria se feita pelo embaixador de Moscovo, seu contraparte, hipótese que teria um inevitável significado político e que conviria interpretar de imediato. Naquele caso, fora apenas um funcionário de "ranking" intermédio. 

A troca de palavras, disse-nos o nosso embaixador, tinha sido o mais social possível, sobre generalidades, sol e praia. E era mesmo da praia do Mussulo que tinham falado. O diplomata soviético iria, como que por acaso, coincidir connosco, no domingo seguinte, nessa praia. Aí dispúnhamos de uma minúscula casa de apoio - modernizada pelo bolso dos diplomatas portugueses - onde, regularmente, nos reuníamos com amigos. E o embaixador convidou o diplomata soviético para ir lá beber um copo, trazendo a sua família. 

O António Pinto da França era assim, desconcertante e "fora da caixa", com conhecimentos improváveis, transmitindo naturalidade a coisas que outros poderiam ler de forma menos linear. Trabalhar com ele era um constante e divertido "happening"! Que saudades!

E lá veio o soviético, que por acaso era russo, com a mulher e dois filhos pequenos. Chamava-se Vadim Mortin. Revelou-se um tipo divertido e expansivo. Falava um português macarrónico, como acontecia com muita gente desse mundo "de Leste", que pululava à volta dos países "do Sul", que Moscovo procurava cultivar, num proselitismo estratégico muito óbvio, na compita bipolar com Washington.

Nenhum de nós tinha dúvidas de que o Vadim estava longe de ser um diplomata típico. As principais embaixadas dos países do "socialismo real" tinham, quase sempre, umas figuras soltas, que não faziam parte do topo da sua lista diplomática mas que, curiosamente, se movimentavam com inusitada facilidade junto dos colegas estrangeiros e das entidades locais. Pertenciam, como era óbvio, aos respetivos serviços de informação. Só isso justificava que, em flagrante contraste com os restantes colegas, tivessem uma grande liberdade para este tipo de contactos. Conheci alguns. Vadim era, claramente, um de eles.

Eu era então o mais novo diplomata da nossa embaixada, embora já a caminho de uma década de profissão. Lembro-me de ter provocado o Vadim, desde o primeiro momento em que nos conhecemos, com os relatos anedóticos das minhas, não muito distantes no tempo, incursões turísticas pelo mundo do centro e leste europeu, nomeadamente pela sua União Soviética. Ao ter-lhe contado episódios, alguns caricatos, de viagens que fizera por Berlim-Leste, Praga, Budapeste, Moscovo, Leninegrado (o nome de São Petersburgo não tinha ainda chegado) e até pela então ucraniana Crimeia, vi surgir nele uma imensa curiosidade. Como, à época, eu cultivava uma volumosa coleção de livros sobre serviços secretos (que hoje repousa, para quem nisso estiver interessado, na Biblioteca Municipal de Vila Real), tinha matéria para falar de alguns pormenores que deixaram o tal Vadim perplexo.

Acho que ele deve ter-se perguntado: será que este tipo disfarça mas, lá mo fundo, é próximo de "nós"? Ou é das secretas "deles"? Como, na altura, ele soube que parte importante do meu trabalho na embaixada era o acompanhamento das movimentações militares no território angolano, o soviético tomou-me rapidamente como interlocutor.

O Vadim bebia muito, como ficou evidente nessa  como em várias ocasiões posteriores. E tentava que os outros bebessem com ele, com o óbvio objetivo de os fazer baixar a guarda. Como acontece com este género de profissionais das informações, apenas vivia para reportar, praticamente não dava opiniões nem observava factos, só fazia perguntas. Tentava apurar o que sabíamos e, sem surpresas, que fontes tínhamos. Criar-lhe falsas pistas passou a ser um exercício divertido. As patranhas que lhe impingi!

Com o tempo, e perante a obsessiva repetição das conversas, que se convertiam em enfadonhos inquéritos da sua parte, creio que todos nós, lá na embaixada, a começar no embaixador Pinto da França e a acabar em mim, nos fomos cansando do Vadim, o "nosso" soviético de estimação. Ele terá percebido isso, a nossa retração crescente e, se bem me lembro, foi deixando de aparecer, talvez concluindo que nada de interessante dali levava. E terá deduzido, e bem, que, de "vermelhos", nós só tínhamos lá por casa os rótulos da Stolichnaya, a bela vodka russa.

Há poucas horas, ao final da quinta-feira, regressei à Gulbenkian. Desta vez, para ouvir a 11ª sinfonia de Shostakovitch. Tão russo como a Stolichnaya. Chegado a casa, mandando às malvas as sanções de Bruxelas, bebi um cálice daquela excelente vodka, à memória do passado e de saudação ao futuro. Nazdarovya!

Transparência

A PGR informou que o inquérito sobre os incidentes no Ministério das Infraestruturas se encontra "em segredo de justiça". Ainda bem! Isso é uma garantia de que, daqui a dias, vai saber-se tudo...

quinta-feira, maio 18, 2023

"A Arte da Guerra"


As eleições presidenciais na Turquia, as próximas eleições legislativas na Grécia e o novo périplo diplomático de Zelensky são os três temas do "A Arte da Guerra" desta semana, a conversa com o jornalista António Freitas de Sousa, no podcast internacional para o "Jornal Económico', que pode ver aqui.

quarta-feira, maio 17, 2023

"Guetto" de Varsóvia


Nas instalações da Casa da Imprensa (o edifício está "um brinco"!), ao final da manhã de hoje, participei numa conversa sobre o octogésimo aniversário da revolta no "guetto" de Varsóvia, tema de uma exposição exibida no local, organizada por um coletivo integrado por João Soares, Manuela Rego e José Manuel Saraiva, entre outros. 

Esse grupo tinha já sido responsável pela exposição sobre a passagem por Lisboa de Jean Moulin, resistente francês assassinado pelos nazis, exibida há uns meses. De ambas as exposições resultaram belos catálogos.

Na conversa, que foi moderada pela subdiretora do "Diário de Notícias", Joana Petiz, estive com dois historiadores - Irene Pimentel e Rui Tavares - e uma especialista na temática judaica - Esther Mucznik.

Pela minha parte, falei especialmente da diferenciada memória da Segunda Guerra mundial na Europa e do modo como, em Portugal, o tema judaico foi sendo oficialmente tratado, quer na ditadura, quer em democracia.

Foi uma bela conversa. Para quem nela esteja interessado, avisarei quando for para o ar.

Quem quiser ver a exposição, tem de se apressar: encerra a 19 de maio.

Bar aberto

Tive um problema com uma reserva na TAP. Pelo andar da carruagem, ainda vou conseguir que o assunto vá à comissão parlamentar de inquérito.

terça-feira, maio 16, 2023

Lições do Sul

Não vai acontecer, infelizmente, mas teria imensa graça ser uma iniciativa "do Sul" a desenhar o caminho negocial para pôr fim a uma guerra na Europa. Na Europa, que quase sempre afivela uma tradicional sobranceria, tentando dar lições ao mundo "em vias de desenvolvimento".

Eutanásia

A maioria dos meus amigos regozija-se com a aprovação da autorização da eutanásia. Percebo perfeitamente as suas razões e só espero que haja totais garantias de que o sistema está "blindado" a "abus de faiblesse" (não conheço a expressão equivalente em português).

Curiosidade

Uma curiosidade que tenho - não sendo especialista em armamento - é saber se os mísseis hipersónicos russos podem ou não ser intercetados pelo sistema de defesa Patriot e se é verdade a alegação russa de que conseguiu destruir um desses sistemas. "Bocas" de cada lado não chegam.

Não é mau de todo...

Há meses, li que havia problemas para alojar pessoas em Coimbra, por causa dos Cold Play. Caí na asneira de perguntar: "O que é Coldplay? Um grupo (eu não digo banda) musical?". O que fui dizer! Caiu-me tudo em cima! E lá fui ao YouTube. Foi agradável.

O trigo e o joio autárquico

Pela leitura da imprensa, constata-se que, no setor autárquico surgem, com grande frequência, suspeitas, acusações e condenações por corrupção. 

Posso imaginar que a esmagadora maioria dos autarcas, que sabemos ser gente honesta e trabalhadora e faz um trabalho magnífico em prol da dignificação do poder local, se sinta regularmente incomodada com este labéu que se coloca a pessoas do seu setor.

Terá porventura chegado o tempo dos nossos autarcas perderem o subliminar corporativismo, que deriva do seu embaraçado silêncio face ao comportamento culposo dos seus colegas incumpridores, e "chamarem os bois pelos nomes", tomando a dianteira da luta contra a corrupção no seu setor.

Por exemplo, ficaria muito bem a uma entidade como a Associação Nacional de Municípios Portugueses ter a coragem de organizar uma conferência sobre "O poder autárquico e corrupção", criando simultaneanente, no seio da organização, em articulação com o Ministério Público e os órgãos de polícia, uma unidade de monitorização do fenómeno, com ações de formação e troca internacional de experiências, revelando assim transparência e determinação em separar o trigo do joio.

Um abraço ao António Vitorino

 


Que diabo de selo!


A criatividade gráfica no Vaticano está, como se vê, pela hora da morte. Mas eu, desculpem lá!, não participo no coro da indignação que por aí anda. O selo é muito feio, ponto.

segunda-feira, maio 15, 2023

Jornalismo adversativo

Nunca é demais lembrar, para que ninguém se esqueça: muita da nossa comunicação social não consegue dar uma boa notícia para o país, saudar o que de positivo possa surgir, sem o fazer seguir de um "mas", de um "contudo", de um "porém", que atenue o menor surto de otimismo e de bem-estar. O que importa é garantir que o ambiente catastrofista se instale e permaneça. Até que os seus sonhos se concretizem. Ou não.

Que chatice, não é?

Segundo alguns "especialistas", os bons resultados que a economia apresenta pouco têm a ver com a ação do governo, mas exclusivamente com o bom comportamento das empresas, que têm sabido "fazer pela vida". Diriam o mesmo se os resultados fossem diferentes?

Dilema

Neste final de campeonato, não há maior dilema do que aquele que atravessa um adepto do Sporting. Não podendo ser o nosso clube a ganhar, quem é que, intimamente, desejamos que não ganhe, na infeliz impossibilidade de ambos perderem?

Está lá? É do Kremlin?

Olav Sholz falou hoje com Putin. Terá mudado alguma coisa, na atitude de Moscovo, que possa justificar que o líder do maior país europeu ten...