Utilizei num texto, neste blogue, o verbo "reverar", no sentido de "ter profundo respeito por". Já não era a primeira vez que usava o termo. Há anos que, em artigos e textos vários, embora sem grande frequência, "reverar" faz parte integrante da minha escrita. Ao reler este último post, surgiu-me a dúvida: o vocábulo "reverar" teria mais algum significado, além daquele que eu lhe dava? Decidi ir a um dicionário: o verbo não constava. Fui ver a outros: idem. Sem querer, desde há anos, utilizo com regularidade uma palavra, um verbo, que, afinal, não existe. E agora, que faço? Continuo a usar "reverar"?
17 comentários:
Por mim pode continuar.
Mas convém que inclua um "disclaimer".
https://www.larousse.fr/dictionnaires/synonymes/r%C3%A9v%C3%A9rer/18419
révérer em francês. Será uma palavra aportuguesada?
Senhor embaixador
Se convencer muita gente a usar esse "reverar", talvez a coisa pegue e nos dicionários que se fizerem depois do novo acordo ortográfico (a entrar em vigor lá para 2123...), então terá razão antes de tempo...
O mais parecido que acho é "reverença" (= reverência), já usado em 1418, reinando em Portugal D. João I.
Já "revera", como substantivo, significa arbítrio...
E "revera", como advérbio, significa realmente...
Mas use, use, a ver se a coisa pega...
MB
Terá sido "descontinuado"...
Ainda hoje aconteceu - quis um um produto que me acompanha há mais de vinte anos e levei com um "foi descontinuado"...
Apetece mandar tudo às malvas...
Use e abuse. Conquanto não 'revere' quem, como bem sabe, reverência não merece.
Peça ao editor do dito dicionário para lhe fazer uma "entrada" na próxima edição.
Deixa de usar.
Fabricou a partir do inglês um termo que não existe em português.
Se não existe, eu não usaria. É que se pode ser interpretado como venerar, reverenciar, também se pode confundir com verberar ou reverberar. Será um neologismo algo confuso.
A observação da Flor tem muita razão de ser e estará porventura na origem dessa utilização que tem feito ao longo dos anos do "reverar", por assim dizer condicionada pela sua grande aproximação à cultura e â vida francesa.
Por vezes também me escapam palavras "portuguesas" inventadas na altura a partir do francês e do inglês, a substituír a palavra que me está a escapar, de um modo geral explico na altura a razão.
É normal que isso aconteça quando se domina muito bem outra língua, mais evidente no caso de uma língua com as mesmas raízes que a nossa, quando isso acontece "pensamos nessa língua" e as palavras surgem automaticamente.
No caso do inglês acaba por se usar a palavra inglesa sem aportuguesamento porque de facto entrou nos hábitos de linguagem, concedo que é errado, mas é assim e de facto simplifica a vida a todos.
A universalização do inglês "matou" uma ideia bonita na teoria mas com pouco futuro prático que seria a utilização do esperanto.
Estranho prurido para quem escreve, designadamente, a terceira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo “parar” , sem o necessário acento agudo
Sugiro que consulte um dicionário de Latim/Português, e é muito provável que encontre a palavra latina "reverar", que traduzida para Português significa "respeito".
E que tal respeitar, ou "considerar", "apreciar /ter apreço"? Esse reverar soa -me a francesismo...
A propósito deste tipo de situações sai mais uma história.
Como nunca me importei de escrever (não sei se alguém já notou) sempre foi habitual que as minutas das actas de administrações de que eu fiz parte fossem escritas por mim, sendo depois distribuídas pelos restantes membros para proporem as alterações ou correcções que achassem por bem antes de serem passadas a limpo e assinadas por todos.
A certa altura entrou para o CA, por indicação dos accionistas, um senhor que logo na 1ª minuta que lhe foi entregue para leitura achou por bem corrigir aquilo tudo por ali abaixo, lembro-me bem que não houve uma única linha que não tivesse sido objecto da sanha persecutório-correctiva dele.
Quando recebi a cópia dele naquele estado fui ao gabinete do senhor e disse-lhe que ninguém mais tinha levantado grandes questões (se calhar nem leram, sei lá!) mas que eu ía pôr na acta passada ao livro todas as emendas e correcções dele.
No entanto havia uma coisa que lhe pedia, que fosse ele a escrever a minuta da acta da reunião seguinte do CA.
Pergunta-me ele a que propósito este pedido, pois se eu tinha aceite de boa vontade escrever todas.
E respondo-lhe eu que já tinha percebido que ele sabia corrigir e agora queria saber se ele sabia escrever.
Nunca mais me emendou uma linha, tal foi o susto de ser posto à prova.
Rui Figueiredo, do outro lado do Atlântico, há 80 anos que se escreve essa forma verbal sem o tal acento, não constam grande problemas.
Não gostam da norma ortográfica vigente, não a usem, não estão a isso obrigados! Mas já que querem defender uma escrita supostamente mais correta, sejam corajosos e escrevam como antes de 1911.
Quanto ao reverar, o Sr. Embaixador poderá pôr uma cunha na Academia das Ciências de Lisboa
Francisco de Sousa Rodrigues, “…do outro lado do Atlântico…”. Eu não diria melhor!
As línguas são como os organismos viventes sujeitas a um processo evolutivo ditada de uma pressão selectiva que as modifica, altera e transforma-as tanto que às vezes quem fica parado num nicho ecológico quando encontra as gerações sucessivas não os percebe muito bem...😊 Talvez seja um defeito profissional (sou biólogo) mas tenho esta noção no que respeita às línguas. Por isso as contaminações de línguas afins e não só fazem parte desse processo evolutivo como não são para ser combatidas (muitas vezes inútil essa luta, acho eu) mas para ser endereçadas como se fazia à água do tanque na pequena quinta da minha Avó quando eu catraio de dez anos e poucos ajudava a endereçar-la para a levar através dos regos feitos com a enxada essa fonte de vida aos campos... (Uma das minhas melhores memórias de infância que tenho como diz o Manuel Campos bem metida na minha cabeça)
Considerem caros leitores já absorvidos por outras coisas bem mais interessantes para fazer que se assim não fosse e se de facto não houvesse um processo evolutivo ainda talvez estivéssemos a falar latim (qual a versão exactamente não sei). De facto senão existisse um processo evolutivo o latim que é que a base estrutural das línguas comummente referidas como neo-latinas não teria dado origem ao português, ao galego, ao catalão, ao castelhano (vulgarmente conhecido por espanhol), ao francês, ao italiano e ao romeno, não acham?
Se não fui coerente ou claro peço desculpa mas eu estou num nicho ecológico que me levou longe da terra pátria (ou mátria como quiserem) há algumas décadas e misturo com alegria todas as línguas que aprendi mais as duas versões do português, pré- e pós- acordo ortográfico, sobre a qual estão sempre a discutir...
E caro Manuel Campos é um prazer ler quando o que está escrito é de uma certa qualidade. Como vê também o faço mas não estou certo da qualidade...
Peço desculpa ao embaixador Francisco Seixas Costa por usar o seu espaço de comentários para praticar a escrita da minha primeira língua. E aos frequentadores do blog pelo excessivo uso de "bytes & bandwidth".
Renato
Caro Renato
Começo por agradecer as suas palavras.
O conjunto de observações que nos trouxe aqui é muito oportuno no sentido que enquadra bastante bem, de forma fácil de compreender como é desejável, o que é a natural evolução do que se diz e como se diz.
Ainda ontem e a propósito de algumas considerações aqui feitas, acabei embrenhado no catalão, que já nem sei bem como lá fui parar.
Toda a gente que passou a vida cercada de falantes de outras línguas acaba por conviver muito bem com essa alegria que é misturar tudo e seguir em frente, não é por o tempo do verbo estar errado ou a palavra saír baralhada na dicção que não nos entendemos quando nos queremos entender.
Já aqui contei que vivi algum tempo no Japão (por razões profissionais) há uns 40 anos e aí sim, era complicado, por lá nesses tempos falava-se o que eu classifico como “japanenglish” e as confusões eram mais que muitas, uma vez referi-me inadvertidamente a um deles, uma pessoa “alegre” como sendo “gay”, estive a um passo de ser obrigado a fazer “hara-kiri” (por lá diz-se “seppuku”).
Eu não compreendo muito bem porque se anda tanto às voltas com uma letra, uma palavra, uma frase, se percebemos onde o outro quer chegar está tudo bem.
Se não estamos a elaborar uma tese de mestrado em grupo, da qual depende a nossa entrada conjunta na Academia, qual é de facto o problema?
Somos todos assim tão preciosistas e perfeccionistas em tudo o que fazemos?
Todos não seremos porque eu não sou, felizmente.
Não escrevo segundo o acordo ortográfico.
Uma palavra ou outra lá terá talvez saído conforme o dito.
Se fosse obrigado a isso por qualquer imperativo legal ou profissional escreveria, mas não sou.
E assim é porque também sei escrever segundo esse acordo, tive mesmo oportunidade de em tempos elaborar e publicar aqui um longo (claro!) texto sobre esta questão e como a vejo.
O texto foi inadvertidamente apagado pelo nosso anfitrião, que de imediato me escreveu aqui a lamentar o facto e a solicitar que o voltasse a publicar.
Nessa altura não os escrevia antes em Word (a partir daí faço-o) e senti que não conseguiria reproduzir a ideia inicial da forma que fazia questão de o fazer, assim nem tentei.
Mas a ideia era simples, eu não escrevo segundo o AO mas tenho netos que tiveram que aprender a escrever segundo o AO, portanto para os ajudar eu tive que saber o que fazia e tive que o fazer bem.
E daí partia para o conhecimento que tenho da geração que hoje tem entre 18 e 24 anos, a dos meus netos, a geração da transição, a que apanhou o "pré- e pós-acordo ortográfico" de que fala.
Nestas andanças vamos inevitavelmente parar às barbaridades que se lêem por aí pois o que se conseguiu foi que, mesmo muitos que escreviam bem passaram a escrever mal, na dúvida tiram a consoante em vez de verificarem o que estão a fazer (dá muito trabalho, mas tudo que se quer bem feito o dá), tudo isto potenciado pela escrita utilizada nas mensagens cifradas que todos enviam a todos a toda a hora.
Há uma observação que ando para fazer e vem a propósito.
Existe a ideia peregrina de que esta evolução é uma coisa boa senão ainda escrevíamos Farmácia com “Ph” (e depois?), um argumento que vale o que vale e não vale nada, pois há por aí muitas línguas respeitáveis que o fazem.
Mais grave ainda é pôr no mesmo patamar o AO de 1990 com a Reforma Ortográfica de 1911 ou com o AO de 1945 pois é conversa sem sentido, tanto num caso como no outro a adaptação às novas regras teve que ser feita por minorias letradas, que era o que havia na altura, muito diferente do que agora está a acontecer pois toda a gente sabe ler e escrever e, ainda que pouca gente leia, toda a gente escreve.
Quanto à qualidade do que escreveu quem me dera que toda a gente usasse os "bytes & bandwidth" da forma como o faz, estou farto de gente que “fala, fala, até ter alguma coisa para dizer”.
Um belo dia ou uma bela noite para si.
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