sábado, maio 27, 2023

Multilateralismo


Na passada quarta-feira, na Universidade Autónoma de Lisboa, dei uma aula sobre Multilateralismo. Foi mais de uma hora e meia, com um grupo de alunos interessados e interventivos. Se a professora Sónia Sénica não tivesse colocado um ponto final ao debate, aquilo tinha-se prolongado sabe-se lá até quando!

Demos uma "volta ao mundo" das organizações multilaterais, da sua origem, história e desenvolvimento, em especial ao longo do século XX - o século de consagração do multilateralismo. Falámos das diferenças entre as diplomacias bilateral e multilateral, dos métodos de trabalho diversos para operar em cada uma. E discutimos muito o que foi a aculturação portuguesa ao mundo multilateral, desde as reticências da ditadura à "explosão" da nossa ação externa nesse domínio, no pós 25 de Abril. E falámos, claro, dos problemas que o multilateralismo atravessa, com a ONU no centro dessa crise.

Comecei a aula perguntando aos alunos se já tinham mandado uma carta pelo correio, para o estrangeiro. E se, ao pagarem o selo no ato do envio da carta, acaso se tinham perguntado por que motivo alguém se iria dar ao ao trabalho, no destino, de ir entregar a carta ao endereço indicado. Com certeza, esse serviço tinha de ser pago, o que significava que parte do custo do selo tinha de ser entregue ao serviço dos correios desse país. Uma coisa óbvia. Da mesma forma que entendemos natural que, ao colocarmos o endereço, escrevamos o nome do destinatário, depois a artéria, a cidade (mais modernamente, o código postal) e o país. Quem "combinou" que isso fosse assim? Como é tudo começou? Como é que os países se organizaram, entre si, para que tudo funcione, em termos de respeitada reciprocidade?

Foi por causa de tudo isto que, em 1878, foi criada a União Postal Universal, a primeira estrutura institucional multilateral de vocação global. A diplomacia é feita destas pequenas grandes coisas bem úteis ao mundo.

3 comentários:

manuel campos disse...


Ora ainda bem que se fala de Correios porque eu tinha aqui guardado um texto que não sabia onde meter sem ser muito “off-topic” mas que, com alguma falsa modéstia, considero “serviço público”.
Estou como os políticos que, quando estão a ser entrevistados e querem meter um tema que só vagamente tem a ver com a pergunta, começam a resposta com “Ainda bem que me faz essa pergunta” e engrenam no que lhes convém.
Segue o longo texto, com sua licença.

manuel campos disse...


Muitos de nós se lembrarão de receber há 30 ou 40 anos aquelas cartas de viúvas de generais de países mais ou menos desconhecidos, mas de um modo geral pouco desenvolvidos e com má fama em matéria de dinheiros, cartas essas em que tínhamos a honra de ser informados que nos haviam escolhido para sermos recipiendários de grossas maquias (ando há anos para escrever “recipiendários”).
A ideia era quase sempre a mesma, tinham que tirar de lá uns milhões de dólares ou uma batelada de diamantes, obviamente fruto de trabalho árduo e honesto, contavam connosco para guardar tudo durante uns tempos e no fim ainda nos deixavam simpaticamente ficar com 10% daquilo por conta da nossa boa vontade e cooperação.
Além das duas ou três que recebi em meu nome ainda cheguei a receber uma carta destas numa empresa onde estive, o que não abona nada a meu favor, nem de um ponto de vista pessoal nem institucional.

Dirão muitos que nesta não caía ninguém.
Enganam-se redondamente, muito boa gente caía, pelo menos a suficiente para o sistema ter funcionado durante uns anos, a fossanguice nunca tem limites lógicos.
Qual era o negócio deles, para quem não conheça isto?
Pois éramos convidados a enviar-lhes, pelos meios que existiam na altura, certas quantidades de dinheiro para “agilizar” a libertação dos fundos lá no sítio, dando a entender que essa “agilização” passava por angariar algumas “boas vontades”.
Claro que passados uns tempos vinham dizer que afinal eram precisos mais uns tostões e a bola de neve começava a rolar, houve sempre quem não conseguisse parar a tempo, é disso que todos os casinos do mundo vivem.
(Consigo imaginar alguns sorrisos mas não, eu não caí no conto do vigário, isto é cultura geral de idoso).

Hoje em dia tudo isto está muito simplificado com a internet, já não há cartas, há mails, mas imagino que a conversa seja a mesma pois de vez em quando aparecem notícias dos que continuam a caír, só que agora caem noutra que é a de abrir o mail, lá dentro clicar num link manhoso e abrirem as portas sabe-se lá a quem, que num cantinho qualquer do mundo lhes acede calmamente a dados pessoais.
De vez em quando recebo uma mensagem destas no “junk” de um endereço que mantenho mas que pouco uso, costuma ter a ver com os graus de segurança dos servidores.
Hoje recebi um de um senhor com um nome que me pareceu flamengo, que começa por dizer que “Oi, sou (o nome dele), CEO da XXX…”, a partir daqui não sei mais porque não abri, como é evidente, mas a “XXX” são as primeiras letras do nome dele.
Portanto fui ver de que endereço vinha o mail, pousando a ponta do rato no remetente lá apareceu.
Normalmente são endereços estapafúrdios e era disso que eu estava à espera.
Mas sendo a estupidez humana o que é, isto hoje foi diferente: é de uma pessoa que tem nome e apelido e, para cúmulo, o enviou do seu mail pessoal de serviço na empresa onde trabalha.
Em meio minuto cheguei à empresa, que se dedica a enfermagem ou algo do género e que até disponibiliza os mails dos colaboradores ainda que só com algumas letras e muitas estrelas pelo meio (aquele “Oi” inicial diz de onde vem).
Ora acontece que aquele senhor por quem ele se fez passar (mais meio minuto de pesquisa) é um dos grandes empresários e filantropos alemães, que se juntou a Bill Gates e Warren Buffet no desiderato de doarem as suas fortunas, de onde deduzo que aquela alma simples acha que somos todos simples (no que não deixa de ter alguma razão) e que o CEO de um Instituto de prestígio mundial começa as suas abordagens com “Oi”.

Há por aí à solta um espírito estranho, toda a gente acha tudo normal.
Não me parece que neste momento, tendo enviado decerto muitas mensagens para o mundo, tenha o emprego por muito seguro.

manuel campos disse...


"...disponibiliza os mails dos colaboradores ainda que só com algumas letras e muitas estrelas pelo meio".

Dito assim não chega.
Isto é o que está no site, para aceder aos mails pessoais há que introduzir o nosso, como é vulgar neste tipo de tentativas de contacto.

Mas deu para ver por algumas letras esparsas que o sujeito lá trabalhava.

Entrevista à revista "Must"

Aque horas se costuma levantar?  Em regra, tarde. Desde que saí da função pública, recusei todos os convites para atividades “from-nine-to-f...