quarta-feira, novembro 13, 2024

RTP


Tive o gosto de integrar o Conselho Geral Independente (CGI) da RTP, entre 2018 e 2021. Trata-se de um órgão de supervisão da RTP - Rádio e Televisão de Portugal, que entrou em funções em 2015, resultante de uma reforma introduzida pelo ministro Poiares Maduro. 

Composto desde então por personalidades com origens ou ligações políticas muito diversas. pude constatar, nos mais de três anos que ali me mantive (interrompi o meu mandato de seis anos, por motivos pessoais), como foi sempre fácil criar e preservar no seu seio um ambiente de sã cooperação, em prol do serviço público de rádio e de televisão. 

As pessoas são escolhidas para o CGI porque têm uma carreira anterior que as fez distinguir, pelo que seria impensável, até para a preservação desse seu prestígio pessoal, que viessem a funcionar como "correias de transmissão" de quem quer que fosse. E, com lisura e honestidade na ação, é perfeitamente possível manter independência, não obstante qualquer eventual ligação partidária.

Ao tempo em que estive no CGI, este passou, a partir de certa altura, a integrar os nomes de Leonor Beleza e de Alberto Arons de Carvalho. Tratando-se de duas figuras com um passado político ativo notório, posso testemunhar que nunca, na sua ação, detetei o menor viés político-ideológico, a vontade de "fazer fretes" às suas origens partidárias. 

Leonor Beleza assumiu recentemente responsabilidades políticas e entendeu dever afastar-se da presidência do CGI, o qual, no seu seio, elegeu, para substituí-la, Arons de Carvalho, um conhecido jornalista e professor universitário. 

Trata-se, à evidência, de uma das personalidades portuguesas com maior conhecimento da área da comunicação social, com obra publicada sobre o tema, tendo, no passado, sido titular dessa pasta em governos e tendo também ocupado funções na ERC (Entidade Reguladora da Comunicação Social). 

Alberto Arons de Carvalho é a escolha óbvia como novo presidente do CGI, lugar que, lembro, foi também já ocupado por António Feijó (atual presidente da Fundação Calouste Gulbenkian e antigo vice-reitor da Universidade de Lisboa) e por José Vieira de Andrade, catedrático da Universidade de Coimbra.

Desejo ao Alberto Arons de Carvalho um excelente trabalho à frente daquele importante órgão de supervisão - noto que é o CGI, nomeadamente, que escolhe e nomeia as administrações da RTP. 

A RTP não é uma típica empresa do Estado, um órgão tutelado pelo governo. É uma singular empresa pública, de que todos os cidadãos portugueses são "acionistas", pelo que pagam como "contribuição audio-visual" (CAV), na sua conta da luz. O atual estatuto da RTP permite-lhe resistir às eventuais tentações de pressão dos governos de turno, e isso foi uma imensa conquista que compete ao CGI tentar preservar. Contra todos os ventos e todas as marés que já por aí se estão a levantar.

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