segunda-feira, maio 22, 2023

Os 25 anos da Expo


Leio agora isto, em especial o último parágrafo, e, pondo-me no lugar do leitor, dei comigo a reagir: "Este tipo foi 10 vezes à Expo? É um "Expo-dependente", como António Costa, Mariano Gago e Manuel Maria Carrilho?". 

Ora eu, na realidade, só fui à Expo, como visitante, um único dia. Estas 10 vezes que vêm hoje referidas nas notícias representaram o acolhimento que me coube fazer a 10 ministros ou dignitários de outros tantos países, no respetivo dia nacional, com a cena dos hinos e do hastear das bandeiras, passagem ao filme de apresentação (que já sabia de cor) no Pavilhão de Portugal, com a Simoneta da Luz Afonso a ter de repetir a sua explicação, subida ao primeiro andar, um Porto ou um Madeira branco (eu pedia sempre um Douro tinto), ida para a mesa, débito de um discurso inventado sobre o país em causa e sobre a conhecida "excelência" das nossas relações bilaterais, seguido do ritual almoço "ex officio". Depois, ala que se faz tarde para o trabalho, porque ninguém o fazia por mim.

Foi uma belíssima realização, saída da genialidade de António Mega Ferreira e Vasco Graça Moura, com o apoio de Cavaco Silva e o empenhamento de António Guterres. O país gostou, os estrangeiros também, os erros de Sevilha foram evitados e lá está hoje o Parque das Nações, nome saído de um conselho de ministros, já no final da Expo, a que, por acaso, estive presente e no qual tive a ousadia de propor, com o resultado que se viu, o nome de "Parque do Oriente", por algumas razões que então adiantei, quando mais não fosse, para homenagear o estimável Clube Oriental de Lisboa...

14 comentários:

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Foi memorável e o Parque das Nações é um belo sucedâneo.
Felizmente, tive oportunidade de ir com a escola, andava eu no 5.º ano, dado o número limitado de bilhetes, foram convidados apenas os alunos com melhores notas, ainda me lembro a alegria que foi quando o saudoso Prof. Hermínio Machado foi anunciar numa aula de português e disse o meu número.

Francisco F disse...

Não sei quais foram os "erros de Sevilha" mas também é preciso dizer que, atendendo à "universalidade" andaluza, a "mundialidade" lisboeta pressupunha menos espaço para que eles acontecessem.

Sevilha 92 foi um gigantesco festival de arquitetura, cada país tentando destacar-se através do "exotismo" do seu pavilhão. Nunca me esquecerei da maravilha em madeira construída pela Suíça ou do sonho que era o palácio marroquino. Foi outro campeonato. Logicamente, seria muito mais difícil dar uso àquele "bric-a-brac" do que substituir os pré-fabricados da Expo 98 por prédios de habitação.

E, porque a frieza de análise é uma virtude, há que lembrar que uma grande parte dos "pavilhões" em 98 eram de uma pobreza franciscana, meros espaços mal preenchidos com meia dúzia de fotografias e objetos de pouco valor. Havia mesmo um que era composto, apenas, por uma bandeira (ou cartaz) pendurada do teto. Mas contava para o "número de participantes" (que se anunciava ser um record!).

Honre-se países como a Turquia ou a Suécia, que se empenharam em dar boa imagem de si mesmos.

Dito isto, a Expo 98 foi uma coisa muito bonita e tenho imensa pena que o Parque das Nações nunca tenha recuperado algumas "graças" da exposição (aquele caminho por entre a névoa, junto à cascata era lindo).

Luís Lavoura disse...

Quais foram "os erros de Sevilha"?

caramelo disse...

Francisco F. eu estive na expo 92 de Sevilha e voltei a Sevilha passados uns anos. O terreno da expo, na Ilha da Cartuxa ainda estava cheio de destroços da feira... Acho que nem sabiam o que fazer com aquilo. Lá acabaram por acertar, mas o trabalho de renovação urbana, num e noutro, não tem comparação. Eu vi as duas e, sinceramente, achei a nossa mais grandiosa e com um programa cultural mais completo.

caramelo disse...

Fui fazer uma pesquisa rápida e de facto a exposição de Sevilha foi um escândalo financeiro, que endividou a cidade. Ninguém sabia de facto o que fazer daquilo após o fecho da exposição. Os sevilhanos não ficaram lá muito satisfeitos...

manuel campos disse...


Com que então "Expo-dependente"!
E só agora é que sabemos?

Só lá fui uma vez, na ante-véspera do fecho.
Mas tinha que ser mesmo.

Anónimo disse...

Venho lembrar como os famosos intelectuais videntes, afirmativos, assertivos, para-infalíveis historiadores nas suas crónicas-comentários em jornais de referência, ontem como hoje se fazem parvos face aos seus desejos e fracassos, tal qual o Vasco Pulido Valente afirmava convictamente numa sua crónica, avisando a malta, de que passados uns dias do fecho da Expo'98 a linha vermelha do Metro, lançada especialmente para servir a Expo, teria de ser fechada por falta de passageiros e perante o futuro deserto que seria o local da Ex-Expo'98.
Morava ali próximo nos Olivais e lembro-me de passados cerca de meses ou um ano essa linha ser considerada a mais concorrida da rede do Metro de Lisboa.
É uma sina em Portugal os intelectuais pré-fabricados se tornarem uns falhados políticos e, deste modo, se armarem em arautos da desgraça.

jose neves

Mal por Mal disse...

Expo 98, Ponte Vasco da Gama, Auto Estradas, Estádios de futebol, CCB, Alfa pendular...tudo se ia fazendo.

Agora um aeroporto,ninguém tem tomates para decidir, tristeza!

Mal por Mal disse...

Não se esgotaram os hoteis, quase não foram usados os "Navios dormitórios", sonhou-se com muitos mais visitantes, aliás, o cagufe foi tanto que houve paises de emigração portuguesa em que se evitou exagerar a propaganda da Expo 98.

No próprio Brasil e Canadá e Estados Unidos por exemplo.

Houve medo da "invasão".

Houve coisas bonitas, mas alguma notória mediocridade, como neste pormenor de potenciais visitantes "evitados"

Somos assim! fez-se o possível.

Francisco F disse...

Correto, Mal por Mal.

Os bilhetes eram muito caros para a altura. Eu, que trabalhava e não tinha preocupações, matutei muito sobre que tipo de bilhete comprar.

E, no domínio das contas furadas, os espanhóis brilharam, não tendo comparecido como se julgava. Aliás, repetiriam a graça no Euro 2004. Isto apesar de o espanhol, pelos tempos da Expo 98 se ter convertido numa espécie de língua co-oficial de Lisboa, com tudo quanto era letreiro afixado em modo trilingue.

Também houve um aumento generalizado de preços, nomeadamente nas refeições. Aumento que... ficou, claro.

Francisco F disse...

"caramelo", gostos não se discutem mas é-me impossível não ficar espantado com o seu. Achar que uma exposição feita de armazéns com espaços alugados a países é mais grandiosa do que uma exposição onde cada país constroi um edifício... As fotografias estão aí, para quem quiser comparar.

A Expo 92 era tão grande que houve zonas onde nem consegui ir. E estive lá de manha à noite! Sorte a minha que o monocarril que dava a volta àquilo tudo me permitiu ter uma ideia dos sítios onde não fui.

Já se me quiser dizer que o Gil era muito mais engraçado do que o pássaro da Expo 92, então, concordo consigo. E é mostra da nossa tacanhez que o boneco azul não se tenha tornado um símbolo de toda a pequenada nacional. Ainda há uns tempos havia alguns abandonados num depósito a céu aberto ali pela zona.

Como os miúdos adoravam o Gil!

carlos cardoso disse...

Visitei a Expo98 várias vezes: nesse ano tinha partido uma perna e, de cadeira de rodas, passava à frente de toda a gente. Por isso visitei a maior parte dos pavilhões várias vezes de seguida, sempre com uma pessoa diferente a empurrar a cadeira!

Quanto à comparação com Sevilha, lembro que as duas não jogavam no mesmo campeonato: enquanto Sevilha era uma exposição universal, Lisboa era só uma exposição mundial.

caramelo disse...

Eu não sei, Francisco. A minha memória é outra, falível, como qualquer uma e talvez deformada pelo orgulho de ter no pais uma coisa destas. Mas sei que dizer que aquilo foi "uma exposição feita de armazéns com espaços alugados" é muito redutor. Serviu sobretudo, como serve qualquer exposição mundial, para dar a conhecer o melhor que cada pais do mundo tem, incluindo ao nivel da tecnologia, que nessa altura era mais avançada do que a de Sevilha, anos antes. Cumpriu. Não conheço realmente ninguém que de lá tenha saído decepcionado. Talvez seja então melhor acentuar a herança de uma e outra e esse é o maior legado de uma feira destas. Ficou da Expo um aquário fantástico, por exemplo, bons edifícios, com boa arquitetura, ótimos espaços públicos e sobretudo o fim do complexo atávico que não conseguiamos fazer coisas destas. Sevilha esteve longe disto, ao que sei. Pelo menos, como disse, quando lá fui passados uns anos aquilo era um destroço e e sei que se tornou tornou uma herança pesada para a cidade.

manuel campos disse...


"... e sobretudo o fim do complexo atávico que não conseguiamos fazer coisas destas".

Não podia estar mais de acordo.

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