segunda-feira, novembro 06, 2023

Crianças mortas em Gaza

Na CNN Portugal, a propósito das crianças mortas em Gaza, referi isto e só isto:

Limpeza étnica

Na CNN Portugal considerei que as ações de intimidação desencadeadas pelos colonatos judaicos, apoiados por força armada israelita, para forçar o abandono dos palestinos da Cisjordânia pode configurar uma ação de limpeza étnica. Apoiei-me nos factos e neste texto da ONU.


domingo, novembro 05, 2023

Ha 28 anos, dia por dia


Chegada a Gaza, em 5 de novembro de 1995, dia da morte de Yitzhak Rabin. 

... quem pode!

De hoje a um ano, no dia 5 de novembro, saberemos quem vao ficar a mandar na Casa Branca, a partir de janeiro de 2025. O poder global dos Estados Unidos também se mede pela expetativa com que todos aguardamos as eleições americanas.

Kamala

O politicamente correto impede, em regra, que alguém afirme, alto-e-bom-som, que uma mulher de cor não tem competência para exercer um determinado cargo. Mas quase não há democrata americano que não diga isso de Kamala Harris, embora com pena. A realidade é mesmo muito poderosa.

Dois Estados

Aqueles que agora enchem a boca com a ideia dos "dois Estados", sabendo que Israel nunca a aceitará, são os mesmos que estiveram silenciosos sobre o assunto nos últimos anos, talvez esperando que os acordos de Abraão e o dinheiro no bolso da Autoridade Palestina o apagassem.

Lembram-se da Ucrânia?


Ver aqui.

Falando de Israel

 


Ver aqui.

O Irão como "trouble-maker"


Pode ler aqui

Netanyahu


Em 18 de março de 2015, escrevi aqui isto:

"Em meados de 1996, recebi no meu gabinete o embaixador de Israel em Portugal. Meses antes, em Jerusalém, ambos havíamos almoçado em casa de Itzahk Rabin, horas antes deste ser assassinado. A partilha desse momento criara entre nós uma relação especial. 

Israel tinha ido a votos, semanas antes. Netanyahu acabava de ser nomeado primeiro-ministro. O embaixador cessava as suas funções, por ter atingido a idade da reforma. Ia regressar a Israel. Era uma figura muito simpática, popular em Lisboa, onde ia deixar grandes amigos. Ofereceu-me um livro de Amos Oz, que tinha acabado de ser publicado em português. Trocámos algumas palavras amáveis, como é uso nas despedidas, desejei-lhe felicidades pessoais e fui levá-lo ao pátio do Palácio da Cova da Moura, onde estava o seu carro. Lá chegados, perguntei-lhe se achava que a vitória do Likud ia induzir mudanças drásticas no processo de paz que, pelo menos no papel, parecia ainda poder subsistir. Otimista por dever de ofício, disse-lhe que não esquecia que o mais corajoso passo político que testemunhara por parte de um governo israelita - o tratado de paz com o Egito - fora dado precisamente por um governo Likud. Seria este novo governo Likud capaz de uma "paz dos bravos"?

O embaixador olhou para mim de um modo estranho. Fez um ricto facial que não me pareceu dever-se ao sol que lhe banhava a cara. Notei lágrimas a surgirem-lhe nos olhos. Agarrou-me o braço com força e, com visível dificuldade para dizer o que diria de seguida, ousou expressar: "Meu querido amigo. Provavelmente, eu não deveria estar a dizer-lhe isto, mas digo-o: com a eleição de Netanyahu, o meu país entrou no caminho da tragédia. Qualquer paz é impossível com ele. Não o conhecem!". E entrou no carro. Nunca mais o vi. Não sei se, quase duas décadas passadas sobre aquele momento, ainda será vivo. Espero bem que sim.

Lembrei-me dele há minutos. Os israelitas voltaram a escolher Netanyahu."

Comunicação

"Mas eu já te respondi!", disse-me ele, perante uma pergunta que lhe fiz pelo telefone. "Não vi. Foi por onde?". "Eh! pá, não sei... Olha, talvez por SMS, por email, por WhatsApp, pelas mensagens do Facebook, do LinkedIn ou do Twitter ou lá como aquilo agora se chama". E estamos nisto.

sábado, novembro 04, 2023

As palavras e as coisas


As coisas têm que ser ditas com as palavras que entendemos por mais adequadas, por maior que seja o seu peso. Foi o que fiz, hoje à noite, na CNN Portugal. Pode ver e ouvir aqui

Mau, mestre!

A gente leva cada abalo! Anteontem, num restaurante, o dono disse-me: "Tenho muito gosto em conhecê-lo ao vivo. Mas na televisão parece mais novo!" Ontem, uma senhora conhecida atirou-me com esta: "Com a sua idade, é obra conseguir escrever um livro com aquela dimensão!"  Mau, mestre!

quarta-feira, novembro 01, 2023

segunda-feira, outubro 30, 2023

José Carlos Megre


Morreu o José Carlos Megre, soube agora. Nos últimos "jantares da Dois", a comezaina anual dos "80" que se sentavam na Mesa Dois do bar Procópio - uma lista fixada pelo Nuno Brederode Santos, cujas convocatórias geri por mais de uma década, até que tudo acabou, como afinal tudo sempre acaba -, o José Carlos não falhava. Trazia com ele o sorriso irónico que era o seu, aquele ar de "bom malandro" e excelente conversador que sempre foi.

O país fixou-o desde 1975, quando constituiu, com Joaquim Letria, a dupla de jornalistas que orientou o mais célebre debate do mundo mediático português, entre Mário Soares e Álvaro Cunhal, durante o qual o líder comunista retorquiu com o hoje clássico "Olhe que não! Olhe que não!". 

Um dia, lá por 1988, para minha surpresa, fui dar com o José Carlos em Argel, onde dirigia a delegação do então ICEP. Depois, com ambos andando por lugares de vida diversos, ia-o encontrando a espaços, muitas vezes em noites no Procópio, em belas conversas que tinham o Nuno como maestro.

Católico "progressista", tinha assinado o famoso manifesto "dos 101", documento-chave na mobilização do catolicismo anti-salazarista. Em 1969, esteve na lista lisboeta da CEUD, como candidato a deputado. Depois, foi com Jorge Sampaio para a Câmara de Lisboa, trabalhou na Lisboa - Capital europeia da Cultura e teve várias outras funções públicas e privadas, onde a sua seriedade e competência foram uma sua imagem constante de marca.

Pronto! Mais um que parte! 

domingo, outubro 29, 2023

Amanhã

 


Como anda a política na Argentina

 


Pode ver aqui.

Outono é isto


Depois de um belo cabrito no Lameirão, em Vila Real, abasteci-me de material doce até ao fim do outono, lá por Vila Pouca, de onde ainda trouxe castanhas assadas, a sujar os bancos do carro.

"Antes que me esqueça"


A FNAC acaba de anunciar que já está em pré-venda, com desconto face ao preço de capa. Por isso, para quem possa estar interessado, deixo um "aviso à navegação": a partir de 21 de novembro, estará à venda nas livrarias o meu livro "Antes que me esqueça", com o subtítulo "A diplomacia e a vida". 

A data e o local do evento público de lançamento, que será feito por Jaime Nogueira Pinto e José Ferreira Fernandes, serão anunciados em breve.

São quase 700 páginas (isso mesmo!) de crónicas das minhas andanças político-diplomáticas, com um prefácio de Jaime Gama e uma introdução a que deliberadamente dei o nome de "Isto não são memórias". O volume recolhe lembranças avulsas, episódios de 1975 em diante. 

Última nota. Por minha decisão, metade dos direitos de autor, resultantes da venda deste livro, serão entregues pela editora à APDP - Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal.

Não é bem assim

Um ignoto secretário da Defesa americano ficou famoso um dia por ter afirmado que "o que é bom para a General Motors é bom para a América".

Como agora se viu no caso de Israel e da Palestina, nem sempre o que é bom para os EUA é bom para todos os seus aliados.

sábado, outubro 28, 2023

Que farei com esta hora?


Dou agora conta que, daqui a pouco, às duas da manhã, volta a ser uma da manhã. Uma hora a mais! "Bem bom!", como diriam as Doce. Ou, então, como perguntava o Cortez (não, não é o conquistador) ao Nicholson (não, não é o diplomata): "Já é uma hora? Que grande banquete!" Anos houve em que, chegado a este momento, me deu para ler mais uma hora. Como agora estou em Vila Real, com uma montanha de livros à volta, lembrei-me começar a ler um deles. Mas não me apetece. Ou, então, ir dar uma volta pela minha cidade, sob chuva e vento, como antes muito gostava de fazer. Mas não tenho pachorra. Televisão, recuso-me a ligar. Música, é para o carro. Que farei com esta hora? Dormir, claro. A idade não perdoa! 

"Em alta voz"


Foi um gosto voltar aos estúdios da TSF, para uma conversa solta com Rosália Amorim, diretora da estação, e Leonídio Paulo Ferreira, diretor interino do Diário de Notícias. Foram 40 minutos, que estão em podcast e a que o Diário de Notícias dedica hoje quatro páginas.

Portugal e a crise internacional


Concedo que é dificil encontrar um cenário mais confortável para a apresentação que fui convidado a fazer hoje, sobre o tema "Portugal e a crise internacional". Não, não é aberto ao público, desculpem lá!

Se a D. Quixote o diz numa notícia...


... é com certeza verdade!

sexta-feira, outubro 27, 2023

Portugal muito bem

Na votação na Assembleia Geral das Nações Unidas. Parabéns a António Costa e João Gomes Cravinho. E a Marcelo Rebelo de Sousa, que seguramente esteve solidário com esta posição. Uma política externa constrói-se com coragem e com valores. E Portugal teve-os. No sítio onde se vota. 

Assobiar a concorrência



Ontem, desde manhã, dei comigo a cantarolar intimamente o velho hino da RTP. Creio que a muita gente acontece surgir-lhe à memória uma música e, por mais esforços que faça, ela não lhe sair da cabeça ao longo de todo o dia. Só passa na manhã seguinte.

Contei isto numa reunião de trabalho e todos os presentes revelaram que, por vezes, lhes acontece o mesmo. Um dos amigos queixou-se que só lhe "surgem" canções ridículas, sem a menor graça. Eu disse que sou mais feliz: já "acordei" com grandes êxitos! Mas também já "andei" a cantarolar glórias do nacional-cançonetismo, confesso.

O dia passou. Já perto da meia-noite, nos corredores da CNN Portugal, ouvi-me a continuar a assobiar, distraidamente e baixinho, o tal hino da RTP, que, para quem não saiba, tem o nome de "Derby Day". 

Num segundo, auto-censurei-me: então eu andava por ali a evocar o hino da concorrência?! Depois pensei melhor: mesmo que alguém me ouvisse, quem é que, das novas gerações que enchem a TVI / CNN Portugal faz hoje a menor ideia do velho hino da nossa televisão pública? E, com maior certeza ainda, quem, de entre os mais novos, alguma vez viu uma das primeiras miras técnicas da RTP, que aqui coloco? ("Mira técnica?", o que é isso?)

Deixo (clicando aqui), o "Derby Day", música de orquestra que evoca os grandes hinos americanos e britânicos que enchiam os altifalantes dos nossos estádios de futebol nos anos 50 e 60, servindo também de música de fundo para a "Tarde desportiva da Emissora Nacional". ("Emissora Nacional?!", o que é isso?)

quinta-feira, outubro 26, 2023

Entrevista à CNN Portugal


As declarações de António Guterres e o conflito israelo-palestino.

Pode ver clicando aqui.

Entrevista ao "Diário de Notícias"



O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, foi acusado por Israel de ter quebrado a imparcialidade do cargo. Concorda com esta leitura? 

Não. Acho que a função do secretário-geral é defender os princípios da carta das Nações Unidas e o engenheiro António Guterres, ao dizer o que disse e da maneira como disse, não só sublinhou aquilo que eram os princípios básicos da ONU como dignificou o cargo. O engenheiro António Guterres, na questão da Ucrânia, também se colocou de uma forma que foi lida negativamente por Moscovo, precisamente pela mesma razão, precisamente porque decidiu lembrar aquilo que são os princípios fundamentais da ONU.

E agora foi Israel.

Na questão de Israel, da Palestina e do Hamas, Guterres disse duas coisas e só está a ser sublinhada uma. Disse uma coisa que naturalmente funciona bem aos ouvidos de Israel, que é a questão da denúncia da ação terrorista do Hamas e do caráter absolutamente inaceitável de ter atacado populações civis, ter morto civis de forma cobarde e, de forma cobarde, ter raptado civis que agora procura instrumentalizar. Mas também disse uma coisa que é uma evidência e que muitas vezes a cobardia e a complacência no plano internacional têm evitado dizer. Disse que isto não aconteceu do nada. Porque é preciso percebermos que o Hamas faz aproveitamento daquilo que é a radicalização da injustiça de décadas a que a população palestina tem sido sujeita. Tem havido, por exemplo, contra a vontade das Nações Unidas, a construção de colonatos na Cisjordânia.

É isso que está a ser usado contra Guterres...

Eu tenho o maior dos respeitos por Israel e mais do que isso, Israel é um país cuja existência não está em causa e não deve estar em causa pela comunidade internacional. Mas a segurança de Israel, para mim, não é superior à importância da segurança dos palestinos e da vida dos palestinos. E enquanto Israel tem um Estado para proteger os seus cidadãos, só a comunidade internacional, isto é, as Nações Unidas, pode proteger os palestinos. É um bocadinho irónico, devo dizer, ver Israel a acusar as Nações Unidas de falta de independência quando Israel não cumpre as próprias resoluções das Nações Unidas. E mais: se eu disser que sou a favor da existência do Estado de Israel com fronteiras definidas à luz do direito internacional, serei considerado um adversário de Israel. Porque Israel não aceita as fronteiras que o direito internacional lhe atribuiu.

Voltando ao papel do secretário-geral, Kofi Annan disse uma vez que tem que ter imparcialidade, mas isso não significa neutralidade. Concorda?

É evidente que o secretário-geral não pode ser neutral, o secretário-geral tem um problema histórico, que é ser a voz do Conselho de Segurança. E fora desse tempo em que é a voz do Conselho de Segurança, quando o Conselho de Segurança está bloqueado, o secretário-geral tem apenas que ecoar os princípios gerais das Nações Unidas, aqueles que vêm da Carta da ONU. Não é por qualquer razão que Boutros Ghali não foi reeleito secretário-geral da ONU. Não foi pela simples razão de que, ao defender os princípios gerais da Carta, se colocou contra um Estado, que eram os EUA. E, portanto, o engenheiro Guterres sabe que, ao dizer estas palavras, está a defender aquilo que são os princípios das Nações Unidas, que é a razão pela qual ele foi eleito. Como português, fiquei muito honrado por aquilo que ele disse e fiquei altamente marcado por aquilo que ele disse. Ele tem que ser isento, não tem que ser neutral de maneira nenhuma, porque só podia ser neutral se fosse amoral. E ele não é amoral. Nós aqui em Portugal, que o conhecemos bem, sabemos perfeitamente bem que os princípios e os valores são a coisa que Guterres mais acarinha.

Israel pede agora a demissão de Guterres. Tem força para o fazer?

Israel tem a mesma força que tem um país que incumpre com todas as resoluções de Conselho de Segurança. Quer dizer, é evidente que se amanhã os EUA, a França, o Reino Unido, a Rússia, a China ou alguns deles subscreverem essas mesmas posições, a fragilidade do papel do secretário-geral aumenta. Eu diria, no entanto, que o secretário-geral, neste momento, tem um mandato e que o deve levar até ao fim e que só honra às Nações Unidas a circunstância de ter um secretário-geral que foi capaz de levantar bem alto os princípios da Carta das Nações Unidas.

Na história das Nações Unidas só houve um secretário-geral que se demitiu, que foi logo o primeiro, o norueguês Trygve Lie.

Exatamente. E outro [Dag Hammarskjöld] morreu num acidente de avião, provavelmente num atentado, no Congo. Mas houve outro que não viu o seu mandato renovado, que foi o Boutros Ghali, porque se opôs aos EUA, que não o deixaram renovar o mandato. Foi um conjunto de declarações que basicamente pôs em causa o papel dos EUA. Em relação ao engenheiro Guterres, eu acho que só honra as Nações Unidas ter um secretário-geral que diga estas coisas, que são, volto a dizer, banalidades. Isto se o mundo não tivesse uma complacência há muito tempo estabelecida. Nomeadamente esta entidade que tem uma postura absolutamente medíocre no Médio Oriente que se chama a União Europeia, que só serve para pagar estragos feitos nas guerras e que é incapaz de ter uma posição comum e que hesita sempre entre uma grande complacência em face às questões de Israel e alguma sensibilidade moral face à Palestina e não consegue a partir daqui ter nenhuma decisão definitivamente satisfatória. E que ainda outro dia titulou, com as declarações da senhora Ursula von der Leyen, um dos momentos mais baixos da história da sua própria política externa. Eu acho que Guterres fez muito bem e Guterres não pode ser neutral e acho que o pedido da sua demissão por parte de Israel deve ter como resposta um encolher de ombros.

Para finalizar, penso que a frase de Trygve Lie, de que o cargo é "o mais difícil do mundo" estará na sede das Nações Unidas. 

O que Trygve Lie dizia, no auge da Guerra Fria e no início das Nações Unidas, era porque sabia que no próprio quadro do Conselho de Segurança e nos membros permanentes com o direito de veto havia países que têm posições completamente diferentes e leituras completamente diferentes. O secretário-geral tem que ser uma espécie de representante de uma conflitualidade e portanto, quando a situação, quando o Conselho de Segurança decide sobre uma questão que não importa de forma vital a qualquer membro permanente do Conselho de Segurança, o secretário-geral tem um imediato poder e um imediato poder que pode exercer. Agora, quando há membros do Conselho de Segurança profundamente envolvidos, é evidente que a sua situação torna-se impossível. Eu não excluo que a situação, a certo momento se possa tornar impossível para António Guterres, num cenário em que os EUA subscreverem as posições de Israel. Guterres tem que ter a confiança dos membros permanentes do Conselho de Segurança. Se não tiver essa confiança, eu espero que o Brasil, que tem a presidência neste momento, seja capaz de tomar posições que permitam encontrar um caminho comum.

susana.f.salvador@dn.pt



quarta-feira, outubro 25, 2023

Artigo que publiquei, há uma década, no "Diário Económico"


"Na minha vida diplomática, dei-me conta de que criticar a ação internacional de Israel obrigava sempre a um "disclaimer", implícito ou explícito, sem o que se erguia o risco de cair, de imediato, na jurisdição dos atentos polícias do espírito: cuidar em não poder ser acusado de anti-semitismo e nunca deixar de referir que o povo judeu foi vítima da violência nazi.

A ajudar a este temor reverencial soma-se, desde o primeiro momento, um racismo anti-árabe, que condicionou o discurso popular. Tutelados por regimes retrógrados, embrulhados em panejamentos que os indiciavam noutro patamar da civilização, os árabes são-nos mostrados como uma espécie de bárbaros, apenas desejosos de "deitar os judeus ao mar". Por isso, e porque não eram aceitáveis os métodos extremistas da Fatah ou o não são os das várias seitas em que a revolta palestiniana se balcaniza, aos olhos de muito mundo passou a "valer tudo" por parte de Israel, desde os assassinatos da Mossad ("extra-judicial killings", na linguagem eufemista das Nações Unidas) às incursões sem limite pelas terras vizinhas. Ninguém ousa lembrar que Israel se recusa a cumprir as resoluções que a ONU aprovou (já agora, sem oposição dos EUA), muito embora se levante um escarcéu se outros países procederem de forma similar (desde logo, o Iraque).

Durante a "guerra fria", Israel estava do lado "de cá" e os árabes do "outro lado", embora se soubesse que as coisas não eram bem assim. Os judeus eram o povo perseguido, rodeado de "facínoras" que aproveitariam o seu menor descuido para o esmagar. Por isso, para o ocidente, era de regra apoiar, sem limites, tudo o que pudesse ser apresentado em favor desse "enclave" não árabe, que "dava jeito" quando era necessário (sem que ninguém tivesse de "sujar as mãos"), por exemplo, para dar uma lição às ambições nucleares iranianas ou ver-se livre de alguns terroristas, esquecendo leis. É que, neste "racismo nuclear" que por aí anda, o Irão não pode ter a arma atómica, mas Israel está aparentemente "isento" da observância do Tratado de não-proliferação.

Os EUA, mobilizados pelo lóbi judaico, neutralizam toda a atitude que possa limitar a liberdade do Estado israelita. A Europa, com o ferrete da guerra a marcar-lhe a memória, vive entre piedosos protestos perante os "exageros" de Telavive e os negócios com a constelação dos governos árabes. Estes, com os conflitos entre si a prevalecerem hoje sobre a sua acrimónia face a Israel, vivem mais preocupados em fazer sobreviver os seus heteróclitos regimes do que se sentem mobilizados para a causa palestiniana.

O absurdo de tudo isto é que, se alguém se atrever a afirmar que Israel tem o indeclinável direito de ver respeitadas as fronteiras que lhe foram consagradas pelas resoluções da ONU, é imediatamente acusado de ser inimigo jurado do Estado judaico. E se ousar dizer que, em troca da segurança desse território, garantida, por exemplo, pela colocação de forças internacionais de paz, protetoras dessas mesmas fronteiras, Israel deve prescindir de quaisquer ambições territoriais e recuar na construção de colonatos em territórios que ninguém reconhece como seus, de imediato fica crismado de anti-israelita, provavelmente de anti-semita e, ainda com alguma probabilidade, sei lá!, de simpatizante nazi. Dei-me conta que não falei de Gaza. Para quê?"

Lembrei-me deste texto hoje, dia em que senti orgulho em ser diplomata português, ao ouvir as palavras de António Guterres.

terça-feira, outubro 24, 2023

Eduardo Ferro Rodrigues


Fomos muitos, mesmo muitos, os que ontem encheram, a transbordar, uma grande sala do Centro Cultural de Belém, na apresentação do livro de memórias de Eduardo Ferro Rodrigues. Foi um grande momento afetivo, bem patente em todas as intervenções, a começar na do autor até à peça que encerrou a sessão, uma deliciosa fala de Marcelo Rebelo de Sousa. Foram ditas muitas e muito justas coisas sobre o Eduardo, o "Fefé", como muitos lhe chamam, desde há décadas. Saí - julgo que saímos todos - muito satisfeito daquela que, a pretexto de um livro, acabou por ser uma bela homenagem a um querido amigo, um grande cidadão da nossa República. 

segunda-feira, outubro 23, 2023

Brasil


O cartoon da Folha de S. Paulo de hoje seria impensável, há bem poucos anos. O facto de agora ser publicado, com naturalidade, dá bem conta do desprestígio que os militares brasileiros estão a pagar por se terem comprometido, do modo como o fizeram, com a gestão Bolsonaro.

domingo, outubro 22, 2023

A "Varina" da noite boa


Ontem, fui jantar à Varina, à velha "Varina da Madragoa", na rua das Madres. Andava ocasionalmente ali pela zona, tinha testado alguns locais na rua da Esperança que estão na moda e que, por isso, estavam infrequentáveis por excesso de turistas, pelo que subi até às Madres. Ainda não eram oito e meia e, ao contrário dos outros locais, a Varina estava às moscas, com a exceção de um casal estrangeiro, sentado num canto. O Veiga recebeu-nos com um imenso abraço comum, a que chamou "familiar", de genuíno contentamento por nos ver, como sempre acontece quando nos acolhe por ali, há quase quatro décadas.

Em boa hora chegámos porque, pouco tempo depois, houve uma enchente e a Varina passou a não ter um único lugar vago. Ao casal estrangeiro que já lá estava, que meteu conversa connosco, explicámos que a mesa onde se sentavam era a que habitualmente era ocupada por José Saramago. Eram canadianos, muito simpáticos e achavam, sinceramente, que Saramago era espanhol. Ela tinha lido o "Ensaio sobre a Cegueira", ele era cultor de "slow food", o que se notava pela calma com que ia debicando o que tinha à frente. Viram-nos comer umas pataniscas e uns grenadinos de vitela (é o único sítio onde ainda encontro, com esse nome, aquela espetada de vitela com bacon), duas coisas que quase sempre pedimos por ali. Saímos com eles a encomendar os grenadinos, comigo na esperança de que não achassem que, aqui por Lisboa, "a carne é fraca"...

Gostei de regressar à Varina, onde julgo que não ia (não, não é "desde a última vez que lá fui", como diria o venerando Thomaz) desde a última noite de Santo António em que, como em outros anos, por lá reuni mais de uma dezena de amigos à volta das sardinhas e das febras. Ontem, foi mais uma noite boa na Madragoa.

Beilin e a paz



"Ó doutor Seixas! Disseram-me que vai receber amanhã o Yossi Beilin? É verdade?"

A voz era de Jorge Sampaio, pelo telefone, pouco depois de jantar. Cedo na noite porque, ao que sempre presumi, o presidente deitava-se "com as galinhas".

O "doutor Seixas" era uma expressão que ele muitas vezes utilizava. Como só conheci pessoalmente Sampaio em 1993, quando eu vivia em Londres, nunca o tratei por "Jorge Sampaio", como ele passava o tempo a insistir que eu fizesse, comigo a persistir depois no "senhor presidente", que ele não gostava que eu utilizasse. Verdadeiramente, em privado, confesso que nem sei como acabei a tratá-lo...

Era, de facto, verdade que eu ia receber Yossi Beilin, ministro da Justiça de Israel de um governo de Ehud Barak, que visitava Portugal por uma qualquer razão e que tinha pedido para ter um encontro com o secretário de Estado dos Assuntos Europeus, que eu era nesse ano de 1999. Posso imaginar que nisso tivesse havido mão do então embaixador israelita em Portugal, um homem com quem eu tinha uma excelente relação.

Yossi Belin foi, por algum tempo, uma estrela no universo político de Israel. Como vice-ministro dos Negócios Estrangeiros de Yitzhak Rabin, Beilin é considerado o estratega israelita do Acordo de Oslo, entre Israel e a OLP. Foi com ele que o atual presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, trabalhou para a finalização do processo de paz. Depois do assassinato de Rabin, em fins de 1995, Beilin veio a ser ministro da Justiça e, mais tarde, dos Assuntos Religiosos, em governos de Barak. Saiu depois do Partido Trabalhista e passou para um partido mais à esquerda, de linha pacifista, Meretz, que chegou a liderar. Em 2003, viria a estar ligado à iniciativa de paz de Genebra e defendeu, anos depois, a ideia de uma confederação de dois estados - Israel e Palestina. Abandonou a política em 2008 e é hoje consultor no setor privado.

Jorge Sampaio, ligava-me nessa noite para pedir que, logo após o meu encontro com Beilin, eu lhe telefonasse. Ele recebia-o meia hora depois e pretendia uma avaliação minha, a montante da conversa que ele próprio iria ter.

Yossi Beilin era uma figura excecional e eu fiquei com a melhor das impressões, depois daquela meia hora de conversa. Sereno, ponderado, bom conhecedor das clivagens e fragilidades do lado palestino, pareceu-me sempre imensamente realista, em especial com uma grande "saudade" de Rabin. Lembro-me de me ter dito uma coisa que me marcou: uma das grandes dificuldades da gestão do processo de paz no Médio Oriente (na altura, a sigla PPMO fazia parte da nossa rotina) era o papel, nem sempre "helpful", dos países próximos de ambas as partes. Senti ali uma queixa em relação ao diverso mundo árabe e muçulmano, no tocante aos palestinos, mas igualmente à influência do lóbi judaico nos EUA, que não tinha um sentido unívoco e nem sempre estava em consonância com o ritmo da evolução do processo em Israel, imiscuindo-se mesmo na luta política doméstica em Jerusalem. Beilin pareceu-me cético quanto à possibilidade da União Europeia ter um papel substancial no PPMO, embora, na conversa, tivesse passado alguns "recados" que esperava pudéssemos canalizar para o debate Bruxelas.

Dei conta a Jorge Sampaio da conversa. Uma hora depois, ligou-me de volta:

"Doutor Seixas! Que figura, o Beilin! Com homens destes é que a paz naquela região pode um dia acontecer. Valeu bem a pena a conversa!" 

A paz não aconteceu, apesar de homens como Beilin.

Há pouco mais de um mês, eu tinha lido uma entrevista de Yossi Beilin ao "El País" onde ele explicava, "crystal clear", as razões do impasse no processo israelo-palestino. Depois do atentado do Hamas e do que se passa e vai passar em Gaza, tudo ficará agora mais difícil. Mas vale muito a pena ler a entrevista, que aqui deixo.

Anotei que Beilin tem exatamente a minha idade, que é também a idade de Israel.

sábado, outubro 21, 2023

As fronteiras da razão

A maior ironia do Médio Oriente é que se alguém for apanhado a dizer que é 100% favorável à existência do Estado de Israel, com fronteiras seguras e internacionalmente reconhecidas, é tido por hostil ao governo israelita. Porquê? Porque Israel não aceita essas fronteiras.

Teresa Magalhães


No final dos anos 80, vi o quadro numa galeria perto da praça de Espanha, gostei dele e comprei-o com cheques pré-datados, para serem descontados ao longo de meses, como então se fazia muito. Não foi barato, lembro-me. O quadro anda comigo, desde então. O meu pai, que dava um nome a cada um dos meus quadros não figurativos, chamava a este "A bota". Nos dias de hoje, o óleo está por Vila Real. Nunca conheci a autora, Teresa Magalhães, que soube que morreu agora, aos 79 anos.

Não chegaram a Vila Real, essa é que é essa!

 


sexta-feira, outubro 20, 2023

Não, não é sobre palestinos ...


 ... antes pelo contrário!

Muito bem, António Guterres!

 


Ai vai, vai!

Longe de mim estar a querer dar ideias a um pessoal por cujas ações tenho escassa (e isto é um "understatement") simpatia, mas, por este andar, mais dia menos dia, o presidente da República ainda vai acabar por ser aspergido de verde pelos "piquenos" radicais do clima.

Gaza


Nas próximas semanas, vamos ver por aí muita gente "Sem olhos em Gaza"...

Ah! Pois é!

E se aplicarmos a lei de Murphy à atual conjuntura internacional?: "Anything that can go wrong will go wrong, and at the worst possible time".

Biden

Estas palavras de ontem de Joe Biden explicam muito sobre o empenhamento americano na guerra da Ucrânia: "It’s a smart investment that’s going to pay dividends for American security for generations, help us keep American troops out of harm’s way".

quinta-feira, outubro 19, 2023

Mesa Dois


Estivemos lá ontem. Tal como já tínhamos estado na quarta-feira da passada semana. Na Mesa Dois do Procópio. Foi um grupo pequeno, capitaneado pela "Sedonalice" Pinto Coelho. Muitas mulheres, poucos homens. Vamos tentar reconstituir, nas próximas semanas, o espírito do local. O Nuno, sempre por lá, olha-nos do retrato desenhado pelo Caruso. E, conhecendo-o, deve estar a dizer: "Bebam um copo por mim!" Eu até bebi dois, por ele, por todos os que já lá não podem ir.

quarta-feira, outubro 18, 2023

Opção

José Cutileiro, uma figura desaparecida há uns anos e que teve uma carreira distinta no serviço diplomático português, contou-me que, um dia, no decurso de uma conversa com o presidente croata, Franco Tuđman, sobre a operação militar que levou os croatas a expulsarem os sérvios que viviam na região da Krajina, este comentou, em jeito de pergunta que não precisava de resposta: "Sempre é melhor uma limpeza étnica do que um genocídio, não acha?"

terça-feira, outubro 17, 2023

Campo de Ourique

 


E não é ...


... que há pr'aí uma malta que não gosta do outono?!

Preocupação

Ontem, telefonou-me um amigo, colega diplomata, com quem vou falando episodicamente pelo telefone, dada a dificuldade em nos encontrarmos. 

Ouve-me em aparições televisivas e quis transmitir-me um sentimento: a sua profunda preocupação sobre o momento que o mundo atravessa, em face do que considera ser a conjugação "perfeita" de fatores de instabilidade, que pode facilmente levar a uma tragédia. Falámos quase uma hora. Coincidimos em muitas coisas, divergimos marginalmente em algumas. 

Ele vê bastante televisão, imagens das guerras. Ouve comentários, avalia opiniões e tem juízos muito ponderados - quatro décadas de diplomacia ajudam muito. Tem vivido os últimos dias marcado pelos acontecimentos, embora com sentimentos interiores que confessa serem, às vezes, algo contraditórios.

Julgo que ficou chocado quando lhe disse que, desde há muito tempo, sou quase incapaz de assistir a um telejornal, de ouvir um debate televisivo, mesmo na "minha" CNN. E surpreendeu-se ao saber que, para me informar, apenas leio textos, muitos textos, e que deixei, quase em absoluto, de ver imagens de atualidade. E que, nos dias de hoje, me encharco de futebol, de Mezzo e de filmes "light", sem dramas nem sentimentos profundos. Ele sabe que, além disso, continuo a trabalhar bastante - e que o trabalho, desde que me conheço, entretem-me muito e, em geral, até me diverte.

Cada um de nós tem a sua forma de estar no mundo. Mas, curiosamente, mantemo-nos de acordo no essencial, como sempre aconteceu. E, em comum, comungamos hoje uma forte preocupação.

segunda-feira, outubro 16, 2023

Onde terá sido?

Na Polónia, o partido mais votado vai, muito provavelmente, perder a chefia do governo, com os restantes a entenderem-se para criar uma nova maioria. 

Estou a tentar lembrar-me do nome do país onde, há oito anos, uma solução similar foi acusada de ser anti-democrática.

Nunca tinha visto...


... o "Casablanca" desta perspetiva.

domingo, outubro 15, 2023

A expressão



Eram lendárias as hesitações daquele diplomata. Rebuscado cultor do perfecionismo, colocava em cada texto um esforço de afinação de escrita que ia sempre muito para além daquilo que o próprio bom-senso recomendaria. As matérias mais simples levavam-no a um trabalho insano, que demorava horas, porque não desejava deixar, a quem potencialmente o viesse a ler, a ideia de um descaso ou de menor atenção face àquilo que os arquivos dele iriam recolher para a História. 

De duas circunstâncias ele se não dava conta: por um lado, que o que ganhava em rigor perdia em leitura, porque a atualidade e interesse dos seus textos iam fenecendo na razão inversa do tempo que ele lhes dedicava. E, por outro, a realidade de que os postos onde operava estiveram, quase sempre, longe da linha de prioridades de quem tinha a responsabilidade por tomar conta da nossa política externa, o que levava a que essa sua elaborada escrita acabasse por ter um escasso universo de leitores.

Uma dia, numa zona do país onde estava colocado, ocorreu uma grave catástrofe natural, com perda de muitas vidas e haveres. Não obstante as agências noticiosas terem multiplicado pelo mundo, desde a primeira hora, relatos pormenorizados sobre a situação, o nosso embaixador, embrulhado na constante chegada de novos factos, foi adiando, ao longo de todo o dia, para grande desespero dos seus colaboradores, o envio de uma comunicação a Lisboa, menos para relatar o que já seria conhecido mas, por exemplo, para dar conta da sua avaliação sobre as medidas que, no entendimento da embaixada, Portugal deveria tomar para se associar ao esforço internacional de solidariedade que já se desenvolvia.

As comunicações, à época, estavam longe dos meios vários que hoje são utilizados. Nem o telefone era fácil de usar! Só ao final do dia o embaixador concluiu, com o requinte estilístico habitual, um longo texto que, rasurado e emendado mil vezes, chegou à funcionária do serviço da Cifra, que fazia a expedição dos "telegramas", a qual passou então um largo tempo a dactilografar para a máquina a obra-prima do seu chefe. Exausta, acabou, já ao início da noite, o "bem elaborado telegrama" (uma expressão clássica do MNE), o qual foi então enviado ao ministério, a Lisboa, onde, depois de decifrado, seria colocado sobre as secretárias dos responsáveis, na manhã seguinte. Tinha-se, assim, perdido um dia.

À uma da madrugada, o telefone tocou na casa da funcionária da Cifra. Era o embaixador. Pedia-lhe, em tom extremamente educado e delicado, se podia regressar à chancelaria, dada a necessidade de enviar algo "muito urgente" para Lisboa. 

A capital onde a embaixada se situava não tinha um ambiente muito sossegante, em matéria de segurança, principalmente durante as noites. Ciente de que se vivia um tempo excecional, a senhora, que já estava a dormir, saída da zona de subúrbio onde vivia, lá regressou ao local de trabalho, guiando o seu carro, num gesto de dedicação excecional. 

O embaixador esperava-a, no gabinete. Visivelmente grato, com um sorriso entre o nervoso e o embaraçado, estendeu-lhe uma folha com o texto manuscrito de um novo telegrama. À distância, ao ver que era uma mensagem muito curta, a funcionária sentiu-se aliviada. Ao menos isso! E lá foi para a Cifra enviar o texto para as Necessidades, Quando finalmente o leu, ia-lhe dando uma coisa má: "Muito agradecia que, no meu telegrama anterior, todas as vezes em que surge a palavra "terramoto", esta fosse substituída por "tremor de terra"...


(Publiquei este texto neste mesmo blogue no dia 15.10.2013, há precisamente 10 anos)

sábado, outubro 14, 2023

O problema das malgas

 
Anos 70 e 80 do século passado. Por esta altura de outono, quando passava por casa das minhas quatro tias, duas solteiras e duas viúvas, irmãs da minha avó materna, que viviam juntas nas Pedras Salgadas, recebia meia dúzia de malgas daquilo que, para a família, era a famosa "marmelada das tias". 

Com a sua tradicional modéstia, a tia Helena, a mais dotada de entre elas para a doçaria, lançava umas rituais reticências: "Este ano, a marmelada não saiu lá muito bem..." E lá vinha eu, o sobrinho-neto guloso, com uma recheada saca de malgas, não sem antes me ter alambazado, no lanche na mesa da braseira, com uma sanduíche com uma bela fatia do produto, sempre acompanhada de uma idêntica porção do queijo de bola comprado no Frutuoso. (Um dia, o Frutuoso mandou fazer uns sacos de plástico, mas, por lapso ou pelos ínvios caminhos do senhor, saiu neles impresso "Furtuoso", o foi levado à conta do exagero da balança que usava e dos preços que praticava...)

Mas não era da marmelada, nem sequer da excelente marmelada das tias, que eu queria falar. Queria falar das malgas. 

Desde miúdo até hoje, em casa dos meus pais ou depois da meia centena de anos que levo de casamento, que ouço uma conversa recorrente e nunca resolvida sobre malgas. Abre-se um armário e, à vista de uma qualquer malga, ouço logo uma referência à propriedade do objeto. No passado era: "Esta malga é das tias, temos de a levar de volta" ou "há que devolver esta malga à Mariazinha Rua", esta última uma senhora amiga que, por décadas, foi responsável pelos meus mais avantajados índices de glicose. Mais recentemente, a conversa passou a ser outra, mais ou menos lisboeta: "Esta malga veio, no ano passado, com a marmelada da Didas" ou "da Graça" ou "da Mariita". E a consciência, levemente culposa, de que aquilo não é nosso, fica a pesar no saldo de malgas cá de casa.

Não sei como se resolve, mas há um eterno problema com as malgas. Porque ele ainda se agrava quando, sem dolo mas com descuido, a marmelada confecionada cá em casa surge feita em malgas alheias. Mas já nem quero pensar nisso!

E não é ...

 


... que eu já estava com algumas saudades da chuva?

sexta-feira, outubro 13, 2023

SNS

O governo talvez fizesse um favor a si próprio se alguém, em seu nome, viesse a público explicar por que razão demorou um ano a aprovar a lei orgânica da nova estrutura do SNS. Não é só dizer: agora já está aprovada. Não. É dizer: houve erros, penitenciamo-nos, pedimos desculpa. Custa assim tanto?

quarta-feira, outubro 11, 2023

Matinas

Nunca fui um homem das manhãs. Sou mesmo um assumido "late riser". O silêncio da noite e das madrugadas é-me essencial para a leitura e trabalho. Mas, às vezes, abro algumas exceções, nesta década de "novas profissões" que levo como "ex-reformado", como alguém costuma chamar-me.

Fiz parte, por vários anos, de uma tertúlia de discussão sobre temas económicos e sociais, com uma dezena de pessoas, que se reunia, cerca de duas vezes por mês, das nove e meia às 11 da manhã. Nem um minuto mais. E era um belo exercício. Um dia, por razões que não vêm ao caso, teve de acabar.

Também no âmbito de uma empresa de que sou consultor, organizo, desde há vários anos, a audição de personalidades com funções ou conhecimentos relevantes, em torno de pequenos-almoços de trabalho. Essas pessoas fazem uma curta palestra, a que se segue um período de debate, que me cabe coordenar. Os convidados para ouvir o orador são umas dezenas de gestores de topo, oriundos de empresas de diversos setores. É gente muito ocupada, que tem muito pouco tempo: o exercício começa assim às oito e meia e termina exatamente uma hora depois. Ontem, foi mais uma dessas ocasiões. Uma excelente apresentação e uma bela discussão.

terça-feira, outubro 10, 2023

Letras a mais

Os vestígios da colonização britânica da Palestina permanecem: ainda se continua a traduzir "palestinians" por "palestinianos", em lugar de lhes chamarmos simplesmente palestinos.

Baixa intensidade

Na vida internacional, há conflitos que tem vindo a ser possível manter, por bastante tempo, sem afloramentos significativos de violência. É aquilo que é vulgar apelidar de "conflitos de baixa intensidade". O caso de (e não do, por favor!) Chipre é um deles.

A verdade é só uma?

Sente-se em algumas pessoas um doentio desejo de que os comentários internacionais nas televisões se reduzam a uma única linha de análise. É preciso resistir ao unanimismo, mesmo que o custo seja o insulto. A liberdade de expressão merece isso.

Será verdade?

Um amigo de direita dizia-me esta manhã: "Com o Montenegro na liderança do PSD, o PS ainda se "arrisca" a ganhar as europeias de 2024. Nem sabe no que se mete! O Passos ainda pode vir por aí. E não se fiem demasiado na memória negativa do tempo da Troika!" Será verdade?

O dia...

... começou muito cedo assim...

... e já vai assim...


... e acaba assim!


segunda-feira, outubro 09, 2023

Obsceno

A atual liderança da Comissão Europeia revela a sua natureza de burocracia inimputável em termos morais, querendo fazer pagar à generalidade do povo da Palestina as atrocidades cometidas pelo Hamas, escondendo que uma coisa é esse grupo e outra coisa é a Autoridade Palestina.

Sondando

A minha sondagem. Nos últimos dias, conversei com bastante gente da direita serena. Em todos - todos, sem exceção - detetei um profundo desencanto com a liderança de Luís Montenegro. A maioria estava "farta" do PS mas duvida de que, "por este caminho", se consigam libertar dele.

Por que será ? (3)


Por que será que se falou tão pouco desta sondagem? O foguetório que teria sido se os resultados não fossem estes...

domingo, outubro 08, 2023

Por que será ? (2)

Por que será que as NU não instalam uma força militar de interposição, a ser colocada na fronteira entre o território que é reconhecido a Israel pela lei internacional e aquele que essa mesma lei atribui aos palestinos - ambos com limites bem claros nas resoluções do CSNU?

Por que será?

Por que será que, nos dias de hoje, já ninguém ousa sugerir que sejam cumpridas as pertinentes resoluções do CSNU sobre o conflito israelo-palestino? Lembremos que elas foram sempre aprovadas com o apoio ou a não oposição do principal aliado de Israel, os EUA.

sábado, outubro 07, 2023

Grande Porto

 




Ainda vamos a tempo?

A imensa tragédia que atravessa Israel é também o saldo de décadas de tibieza dos atores internacionais relevantes, que nunca revelaram coragem política para isolar politicamente os vários responsáveis pelos ciclos de radicalismo que se têm sucedido no conflito israelo-palestino.

Pois é!

A causa ucraniana vive, desde o início do conflito, numa insuperável contradição: os democratas e amantes da liberdade que a apoiam sentem o desconforto de encontrarem, do mesmo lado da barricada, gente que, em tudo o resto, está nos antípodas das suas opções cívicas e políticas.

sexta-feira, outubro 06, 2023

Já agora...

Há quem queira comemorar o 25 de novembro? Muito bem. Eu, como militar de Abril, desejo que seja dado idêntico destaque oficial ao 28 de Setembro de 1974, em que "quebrámos os dentes à reação", e ao 11 de Março de 1975, em que derrotámos a golpada de Estado spinolista. Concordam?

As horas difíceis de Zelensky


Ver aqui.

Entrevista à revista "Must"

Aque horas se costuma levantar?  Em regra, tarde. Desde que saí da função pública, recusei todos os convites para atividades “from-nine-to-f...