quarta-feira, outubro 18, 2023

Opção

José Cutileiro, uma figura desaparecida há uns anos e que teve uma carreira distinta no serviço diplomático português, contou-me que, um dia, no decurso de uma conversa com o presidente croata, Franco Tuđman, sobre a operação militar que levou os croatas a expulsarem os sérvios que viviam na região da Krajina, este comentou, em jeito de pergunta que não precisava de resposta: "Sempre é melhor uma limpeza étnica do que um genocídio, não acha?"

9 comentários:

Luís Lavoura disse...

Franco --> Franjo

Exatamente. Os israelitas querem limpar etnicamente metade de Gaza e voltarem a instalar lá colonatos. Sempre é mais um bocadinho de espaço para o seu país sobre-povoado. Mas o Egito e a Jordânia já afirmaram enfaticamente que não estão pelos ajustes. Que é uma "linha vermelha", dizem eles. O Blinken ficou descoroçoado, e pediu para o próprio Biden ir lá, a ver se os convence.

Carlos Antunes disse...

A questão é que perante a ocupação e a anexação que Israel tem feito dos territórios dos palestinianos desde 1948, parece cada vez mais difícil distinguir o que é “limpeza étnica” do que é um “genocídio”?
Ainda ontem, em entrevista ao Publico (17/10/2023), o filósofo, professor e crítico literário inglês, Terry Eagleton, afirmava: “O que o Hamas fez foi uma obscenidade moral. Mas não foi nada que Israel não tivesse feito aos palestinianos vezes sem conta ao longo destas décadas. Dizer uma coisa e não dizer a outra é profundamente desonesto. E é claro que os meios de comunicação social em geral estão a dizer uma coisa, e não a outra”.


Carlos Antunes disse...

Se me permite caro Embaixador, e ainda a propósito de limpeza étnica, transcrevo parte da opinião assertiva de Vital Moreira, no seu blog Causa Nossa, 17/10/2923:
«Não vale tudo: Desvergonha ocidental
A afirmação do Presidente norte-americano sobre o apoio à solução dos dois Estados para o conflito israelo-palestino, no momento em que Israel se prepara para esmagar manu militari Gaza e a sua população, constitui uma despudorada manifestação de hipocrisia e de má-fé política, sabendo-se que os Estados Unidos têm emprestado sempre o seu apoio político e militar à sistemática ação de Israel, desde a sua criação, em 1948, para inviabilizar tal solução, primeiro pela ocupação e confisco militar do território palestino (1949, 1967), depois pela anexação progressiva de Jerusalém oriental e da Cisjordânia, confinando os palestinianos a pequenos fragmentos descontínuos das suas antigas terras (como os mapas acima mostram), numa deliberada campanha de limpeza étnica, sendo essa a verdadeira causa das desesperadas e ocasionais tentativas de reação armada por parte dos movimentos radicais palestinos contra a humilhação e a espoliação israelita.
Ao recuperar cinicamente a ideia dos dois Estados que os próprios Estados Unidos ajudaram friamente a liquidar, Washington junta a desvergonha ao vitupério».

manuel campos disse...


Se os EUA desistirem da Ucrânia, acabou-se.
Acabou-se a Ucrânia e não só, já agora.
Se os EUA desistirem de Israel, acabou-se.
Só que os EUA nunca irão desistir de Israel, todos sabemos porquê.

Portanto ver o mundo a preto e branco, como cada vez mais se torna evidente em muitas leituras feitas em cima do momento, deve criar uns nós cegos em muito cérebro por aí.
Digo bem dos EUA que aprovo totalmente na Ucrânia ao mesmo tempo que digo mal dos EUA que desaprovo totalmente em Israel?
E se digo mal dos EUA, independentemente do que eles fazem de bem, os eleitores locais não me mandam bugiar um dia destes como mal agradecido?
Um pouco do "to be or not to be, that is the question".

Prefiro que os EUA deixem de ser os "policias do mundo" tendo desde já a vaga ideia de quem tomará conta da "esquadra" a seguir?
E isto se alguém tomar conta da "esquadra" e não deixar cada um por sua conta, claro.

Lembrou-me de ir ali folhear o livro "Podia ter sido pior" de José Cutileiro, no conjunto de temas "O mundo dos outros", das págs. 550 a 730.
Apesar de as ter lido há poucos meses acho que as vou reler à luz do que hoje vejo à minha volta.
Só me podem ser úteis alguns dos capítulos, vistos por quem já imaginava bastante do que aí vinha muito antes de aí vir, sem emoções do momento e com longa experiência daquilo de que falava.
É aliás também isso que sei que vou encontrar no livro que o nosso anfitrião vai editar, um livro de leitura e de consulta ao longo dos anos que aí vêm.

Luís Lavoura disse...

Carlos Antunes,

como bem fez notar Henrique Pereira dos Santos no seu blogue, não há genocídio nenhum, de facto o povo palestiniano tem-se multiplicado fortemente desde a Nakba, havendo atualmente muitíssimos mais palestinianos do que em 1948, 1967, etc.

Limpeza étnica terá havido, mas genocídio, não.

J Carvalho disse...

A opção entre uma coisa e a outra vai dar ao mesmo, na perspectiva do agressor. Logo defender o mal menor, no caso, é defender o Estado que até hoje não cumpriu centenas de resoluções da ONU e, o que é mais absurdo, ainda o ajudam a não cumprir.

AV disse...

Sim, um eufemismo é sempre preferível.

Lúcio Ferro disse...

E o José Cutileiro engoliu em seco? Do meu ponto de vista, devia ter mandando esse criminoso, que o foi, co-responsável por um dos piores momentos da história recente dos Bálcãs, para a pqp. Mas não o fez. Calou-se e foi para casa e depois foi ser chefe daquela já então defunta organização chamada UEO. Que lindo para um membro da "elite" diplomática de antanho.

Anónimo disse...

Se o Irão entrar na guerr há altas probabilidades de Israel usar armas nucleares. Em 1980 um colega israelita disse-me que a próxima vez que sentissem abraçados de extinção, iam eles e nós todos com eles. E os US, talvez por razões eleitorais vetam a resolução sobre ajuda humanitária. Fazia mal a quem?
Fernando Neves

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