segunda-feira, outubro 09, 2023

Obsceno

A atual liderança da Comissão Europeia revela a sua natureza de burocracia inimputável em termos morais, querendo fazer pagar à generalidade do povo da Palestina as atrocidades cometidas pelo Hamas, escondendo que uma coisa é esse grupo e outra coisa é a Autoridade Palestina.

5 comentários:

Joaquim de Freitas disse...

Quando os nazis ucranianos meteram o fogo no edificio dos Sindicatos de Odessa, queimando vivos dezenas de ucranianos russofonos, a UE nao disse nada !Os ucranianos tratados como "untermenshen"!

Quando Obama abriu a porta, aos palestinos no seu célebre discurso do Cairo em 2009, : "“A América não virará as costas à aspiração legítima do povo palestiniano por dignidade, oportunidade e um Estado próprio; a única resolução é responder às aspirações de ambos através da criação de dois Estados, onde israelitas e palestinianos viverão em paz e segurança. (...) É por isso que pretendo pessoalmente perseguir tal resultado com toda a paciência e dedicação que esta tarefa exige. » A UE surda e muda, nao disse nada...para encorajar.

Com efeito, em Setembro de 2010, o Presidente Obama propôs à ONU a criação de um Estado palestiniano até Setembro de 2011. Neste contexto, propôs, em Maio, a criação de um Estado palestiniano dentro das fronteiras de 4 de Junho de 1967.

O lobby pró-Israel chamou-o à ordem. Ele então retratou-se, acrescentando que havia sido mal compreendido; acrescentando que as trocas de territórios terão de ser acordadas.

Aqui, mais uma vez, é um erro da parte de Israel que, recordamos, apesar da farsa das negociações de Setembro de 2010, continuou os seus colonatos incluindo tudo o que tinha valor nas terras palestinianas.

A judaização de Jerusalém e uma persistente “agressão” aos Lugares Sagrados do Islão sob o olhar paralisado da comunidade internacional e portanto da UE, e a cobardia dos potentados árabes mais preocupados em preservar os seus tronos do que em declarar a lei.

Depois houve o crime do Gasoduto de Gazprom. O mundo inteiro viu as cuecas de Olaf Scholtz e Borrel quando as calças lhes cairam ! Voilà a UE ...

Anónimo disse...

É urgrnte que à Vontade der Leyden leia o Tratado. Ou então que seja interditada
Fernando Neves

Carlos Antunes disse...

Caro Embaixador
A questão é a duplicidade ocidental face ao conflito israelo-palestiniano, em que através de uma narrativa, cínica e hipócrita, se foca exclusivamente na natureza “terrorista do Hamas”, para tentar explicar o actual reacender da guerra israelo-palestiniana
Mas essa narrativa não resiste a uma análise atenta da evolução do mapa daquela região desde 1948 até agora, em que se comprova que os palestinianos têm sido espoliados gradualmente dos seus territórios desde o fim da 2.ª Guerra Mundial, ao ponto de a possibilidade – de acordo com o plano da ONU de 1948 para a criação, na referida região, do Estado de Israel, em que se previa, ao mesmo tempo, o do Estado da Palestina, do qual fazia parte a Cisjordânia, conjuntamente com a Faixa de Gaza – se ter transformado numa simples miragem.
Em 1967, porém, o território foi anexado militarmente por Israel, que se apressou a edificar no local, “colonatos judeus”, decisão que está na base do conflito actual. De lembrar, a este propósito, que essa política de colonatos adoptada pelos sucessivos governos sionistas de Israel é condenada pela maioria da comunidade internacional (mais de 160 Resoluções aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU).
Alheio a isso, sucessivos governos israelitas têm ignorado estas decisões, e o actual governo de Netanyahu, de coligação com os extremistas religiosos de Itamar Ben-Gvir, anunciou em Junho de 2023, que iria prossegui-la. No final desse mês de Junho, i.e., há pouco mais de quatro meses, as autoridades israelitas lançaram a maior operação militar na Cisjordânia em 20 anos. Não me recordo, entre os que apontam hoje o dedo ao Hamas, uma condenação idêntica dessa recente ofensiva israelita naquela região.
Os seres bem pensantes do mundo ocidental que, olvidando todo o contexto histórico anterior, se focam exclusivamente na condenação do terrorismo do Hamas, deveriam condenar igualmente a natureza de certas práticas das autoridades israelitas, ao longo de anos, contra a sistemática violação dos direitos dos palestinianos, a expansão de "colonatos judaicos”, a construção de um muro de separação em território palestiniano, a expulsão de palestinianos de Jerusalém (uma limpeza étnica), o bloqueio de Gaza, o “apartheid anti-palestiniano”, enfim, a inviabilização delineada e programada de um Estado palestiniano. Nenhum povo pode aceitar passivamente a opressão e a humilhação continuadas, pelo que acusar apenas uma das partes tem um nome: parcialidade.
Dentro de Israel, felizmente, há ainda vozes que não hesitam em ir ao cerne da questão, como o do jornal Haaretz que, no último domingo (9/10/2023), escrevia: "O desastre que se abateu sobre Israel no feriado de Simchat Torá é da clara responsabilidade de uma pessoa: Benjamim Netanyahu. O primeiro-ministro (...) falhou completamente na identificação dos perigos para os quais conduzia conscientemente Israel ao estabelecer um Governo de anexação e desapropriação (...), ao mesmo tempo que adoptava uma política externa que ignorava abertamente a existência e os direitos dos palestinianos." O Haaretz acrescentava ainda que, após as últimas eleições, o primeiro-ministro israelita adoptou medidas de limpeza étnica em partes do território em disputa, como as Colinas de Hebron e o Vale do Jordão, para expandir massivamente os colonatos e reforçar a presença judaica no Monte do Templo, perto da Mesquita de Al-Aqsa, ou seja, a guerra na região não caiu do céu e os recentes ataques do Hamas são o resultado de uma tragédia desde há muito anunciada.
É manifesto, porém, que os países ocidentais que poderiam pressionar Israel a abandonar as suas políticas de inviabilização do Estado Palestiniano, nada fazem, senão o de incitar as reacções desesperadas dos palestinianos, como as do Hamas, que legitimam que Israel prossiga as políticas de ocupação e da inviabilização definitiva dos “Dois Estados”.
Cordiais saudações

Joaquim de Freitas disse...

Excelente texto do Sr Carlos Antunes.

Eu receio o que está para vir! Se Israel decide de "conventrisar" Gaza, o desespero dos palestinos pode ser extremo. Eles conhecem a historia de Massada ! Podem muito bem decidir de copiar o acto heróico dos judeus perante a potência romana… E então será o holocausto de centenas de milhares de homens, mulheres e crianças… Eles também sabem morrer.

Pergunto-me quantos daqueles que decidiram vestir o Parlamento em Londres e a Torre Eiffel em Paris com as cores da bandeira israelita compreendem realmente como este gesto aparentemente simbólico é recebido em Israel.

Mesmo os sionistas liberais, com um mínimo de decência, interpretaram este acto como uma absolvição total de todos os crimes cometidos pelos israelitas contra o povo palestiniano desde 1948 e, portanto, como carta branca para continuar o genocídio que Israel está a perpetrar contra a população de Gaza.

Carlos disse...

A Sra von der Leyen a propósito dos dramáticos acontecimentos da últim fim de semana mais do que palavras de luto pelas vítimas apenas encorajou a vindicta ao afirmar "Israel tem o direito de se defender". Afirmação inútil e que exclui a União Europeia de moderar uma qualquer solução futura. É verdade que os relatos da acção perpetrada pelas milícias do Hamas tem contornos chocantes e bárbaros. Mas incentivar a retaliação vai apenas alimentar a lógica do olho por olho, dente por dente.

De qualquer forma não há muito a esperar da actual (e possívelmente futura) Presidente da Comissão Europeia cuja política internacional se tem pautado por afirmar o alinhamento quase incondicional com os EUA. Lamentávelmente isto tem como resultado reduzir a UE à quase insignificância enquanto actor global e alienar o potencial de influência junto de outros países que procuram uma alterantiva À logica bipolar EUA - China.

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