Um ignoto secretário da Defesa americano ficou famoso um dia por ter afirmado que "o que é bom para a General Motors é bom para a América".
Como agora se viu no caso de Israel e da Palestina, nem sempre o que é bom para os EUA é bom para todos os seus aliados.
11 comentários:
Pois.
E o que devem fazer os aliados dos EUA quando constatam que os EUA estão a fazer algo que é mau para eles (os aliados)?
Os meus parabéns pela imparcialidade e lucidez das intervenções que lhe tenho ouvido na sequência desta criminosa vingança colectiva de Israel ao brutal ataque do Hamas.
Tudo de bom.
Num comentário ao texto “Opção” de 18 de Outubro passado escrevi a certa altura:
“Prefiro que os EUA deixem de ser os "policias do mundo" tendo desde já a vaga ideia de quem tomará conta da "esquadra" a seguir?
E isto se alguém tomar conta da "esquadra" e não deixar cada um por sua conta, claro.”
Independentemente do contexto em que o escrevi a ideia continua válida aqui.
Torna-se evidente para mim que há um conjunto de países (Rússia, Irão, China) que, estando desde há muito interessados em quebrar a hegemonia americana por razões várias e que nem sempre são as mesmas para todos, têm assim uma oportunidade excelente (para eles) de o tentar pelos meios que acharem por convenientes, sabendo-se como se sabe que determinados pruridos são coisas dessas gentes estranhas que se preocupam com a opinião e o bem estar dos seus povos.
Na nossa vida raramente nos é dada a oportunidade de escolher a melhor de entre várias soluções, a grande maioria das vezes só nos é possível escolher a menos má.
É essa a questão neste momento, muito complicada pelo facto do “polícia do mundo” nos estar a meter de um lado numa sarilhada que nunca poderíamos ser nós a resolver ao mesmo tempo que nos está a tirar de outra sarilhada que também nunca poderíamos ser nós a resolver.
É evidente que não perco tempo a discutir agora quem meteu ou ajudou a meter toda a gente nas sarilhadas, os problemas começam a resolver-se no minuto a seguir a surgirem e todo o tempo usado em elucubrações e recriminações sobre os antecedentes é tempo perdido na resolução das situações existentes.
E isto começa por ser válido para a nossa vida pessoal (para a minha é).
PS – Para quem anda mais distraído com altas conjecturas geopolíticas e relega para 2º ou 3º plano essa coisa chata que é o dia-a-dia, informo que o nosso Exército tem 3.985 praças (soldados e cabos) nas fileiras e que a PSP tem o dobro dos efetivos do Exército, como noticiado a semana passada pelos Expresso, TSF e outros citando afirmações proferidas pelo General Pinto Ramalho num colóquio na Assembleia da República, a propósito também das mudanças “facilitistas” nos critérios de admissão.
Na Marinha e na Força Aérea não é diferente, como se imagina facilmente (por que haveria de ser?).
Como de vez em quando lá aparecem umas pessoas cheias de entusiasmo com a ideia de irmos todos para a guerra, sabendo eles que já não têm idade para irem, não me privo de vez em quando em falar de “guerreiros de sofá” a contarem com os filhos e netos dos outros europeus todos pois, talvez também não saibam, mas esta situação de falta de efectivos militares é transversal a toda a Europa pelas razões que se conhecem.
Para além da Ucrânia e da Rússia, como é evidente, só a Lituânia, a Dinamarca, a Suécia, a Noruega, a Finlândia, a Letónia, a Áustria, a Grécia e a Estónia têm atualmente alguma forma de serviço militar obrigatório.
Pois, pois… a Rússia, o Irão e a China é que estão a levar a cabo a chacina em curso. Ontem o José Rodrigues dos Santos culpava o Egipto por não abrir a fronteira, logo corresponsável pelo sofrimento daquelas gentes. É espantoso os subterfúgios a que se recorre quando não se quer assumir o apoio explicito à matança. Foi o que fizeram o Trump, o Biden, estes ao menos ao andaram com rodriguinhos, é para avançar, prossiga.
Quanto aos aliados dos EUA, em meu parecer os EUA não têm aliados propriamente ditos. Têm países adversos e países subordinados, sendo estes, onde se enquadram os países da U.E. e a própria liderança da U.E. São estes países que dão corpo e folgo ao desenvolvimento das políticas económicas, financeiras e militaristas que os governos americanos aplicam, incluindo as sanções unilaterais e o controlo das organizações internacionais. Assim, todo e qualquer conflito que contribua para enfraquecer todo e qualquer país, incluindo os ditos aliados, é benéfico para os EUA.
J. Carvalho
Pode ter sido coincidência a sua observação sobre "Pois, pois… a Rússia, o Irão e a China é que estão a levar a cabo a chacina em curso" vir na sequencia do que eu escrevi, mas eu não sou muito dado a coincidências e neste caso é óbvio que se escreveu aquilo foi porque eu falei naquilo.
Não me compete ensinar-lhe nada mas o "Pois, pois..." não engana ninguém.
Quem quiser ler e interpretar o que eu escrevi lê o meu texto, quem quiser debater sériamente o que eu escrevi está à vontade porque sabe que eu nunca me furto ao contraditório e não tenho por hábito partir para a resposta agressiva como forma de desconversa, quem quer vir chatear por chatear para poder enfiar as suas opiniões sem rebater as dos outros está também à vontade porque como se sabe eu não sou de "rodriguinhos" e não se livram de que eu avance e prossiga.
Portanto é só para frisar junto de quem nos lê que o que eu escrevi não tem nada a ver com o que escreveu o Sr. J. Carvalho e claro que mantenho o que escrevi, é uma opinião que para já vale tanto como outra qualquer a começar pela do Sr. J. Carvalho: falta provar e portanto falta tudo para não ser mais que uma opinião.
Junto de si não estou a frisar nada, como é evidente, seria perda de tempo,
se quisesse diálogo o Sr. J. Carvalho ter-me-ia interpelado directamente em vez de estar com rodriguinhos.
Mas seria amabilidade da sua parte dizer-me onde é que eu alguma vez defendi Israel no que está a acontecer, é só uma curiosidade minha.
Quanto à conversa do ser espantoso "os subterfúgios a que se recorre quando não se quer assumir o apoio explicito à matança", parece-me muito infeliz, ainda julguei que fosse das pessoas que não entrassem pela crítica gratuita, truque velho e barato com que se tenta calar os outros, numa de chama-lhes nomes antes que eles te chamem a ti.
Enganei-me, está sempre a acontecer, fico avisado.
PS- Claro que o resto que escreveu poderia dar uma conversa gira, em que até podíamos encontrar pontos comuns de entendimento, mas admito que não me apetece lá muito tê-la consigo, talvez a tenha um dia destes com alguém que queira dialogar.
José Rodrigues dos Santos culpava o Egipto por não abrir a fronteira, logo corresponsável pelo sofrimento daquelas gentes
Mas não seria isso mesmo que o Egito deveria fazer, abrir a fronteira?
Eu a mim dá-me a ideia que sim.
E a Europa, que está tão ralada, não se deveria oferecer para, digamos, ir ao Egito buscar alguns dos que para lá passassem, para os acolher com estatuto de refugiados na União?
Faltou-me acrescentar algo: “no hard feelings”.
Direi mesmo mais, de modo Dupond/tiano: “no feelings at all”.
Como disse alguém de que não me lembro agora do nome:
“Sempre perdoei a quem me ofendeu. Mas guardo a lista”
Sr. Manuel Campos
De facto, não foi coincidência. Admito que não comecei o meu texto da forma mais agradável. Peço-lhe desculpa por isso mesmo. Acontece, por vezes, que uma simples interjeição, exclamação ou uma leve ironia, estrague tudo o mais, definitivamente.
Sr. J. Carvalho
A sua resposta ao meu último comentário é de uma hombridade muito invulgar nestes contextos em que escrevemos, agradeço-lhe assim a dignidade do gesto.
Reagi forte ao seu 1º parágrafo por o considerar injusto, isso são agora águas passadas, se estiver de acordo.
Procurei contextualizar o meu comentário inicial, únicamente virado para o que estava em causa no texto "Não é bem assim" e que recai (para mim) na moderada confiança que se pode ter nos EUA como "polícia do mundo".
Mas considerei também no meu comentário ao texto “Opção” que “tendo desde já a vaga ideia de quem tomará conta da "esquadra" a seguir” isso não me parecia nada entusiasmante e daí a minha escolha do “menos mau”.
A referência àqueles três países não implicava no meu raciocínio que eles estivessem sequer conluiados, mas apenas jogando conjunturalmente na “mesma equipa” e procurando abalar na medida do possível a posição americana.
No caso do 2º parágrafo do seu texto estou bastante de acordo com a 1ª frase, mais ou menos de acordo com a 2ª frase, pouco de acordo com a 3ª frase (há uma generalização a que ponho dúvidas).
Mas é um texto racionalmente concebido e suficientemente claro para que qualquer pessoa perceba a ideia, esse poder de síntese é raro, por isso disse que podia dar uma conversa gira.
Sou dos que acham que a franqueza total faz bons amigos mesmo quando começa mal (e muitas vezes especialmente quando começa mal).
Mais uma vez agradeço o seu cuidado.
Gostei de ler os últimos comentários de J. Carvalho e da Manuel Campos, pelo bom espírito e pela elegância que manifestaram.
“All is well that ends well”.
J.Carvalho disse …no seu comentário das 14 :56 : “É espantoso os subterfúgios a que se recorre quando não se quer assumir o apoio “…explícito à matança.”
Tem perfeitamente razão. O problema para os pró-Israel do Ocidente é que caíram numa armadilha do Hamas, que encurralou os israelitas no estreito corredor da guerra. O Ocidente encontra-se preso num círculo vicioso catastrófico. Apostaram tudo numa certa visão moral e ética do mundo e enfrentam uma situação em que os “valores morais” do Ocidente são abertamente criticados e rejeitados.
É extremamente difícil – e talvez tragicamente impossível – para eles questionarem-se, admitirem os seus erros e corrigirem as coisas. Em vez disso, os líderes psicopatas do Ocidente poderiam optar por ir até ao fim e impor a sua visão ontológica completamente pervertida ao resto do mundo.
Basta ver como são tímidos perante a tragédia que se desenrola em Gaza e o que aconteceu na Ucrânia e as reacções no Ocidente.
Sancionamos a Rússia quando ataca a Ucrânia, sancionamos a Rússia quando não respeita as resoluções das Nações Unidas e, durante 70 anos, as resoluções das Nações Unidas foram aprovadas em vão e Israel não as respeitou. Alors…
A causa palestiniana foi uma causa política. e agora denunciamos uma causa islâmica, liderada pelo Hamas.
Causa que não permite qualquer forma de negociação. Do lado israelita, o sionismo era secular e político, defendido por Theodor Herzl no final do século XIX. Tornou-se em grande parte messiânico e bíblico hoje.
Leiam Netanyahou : « Nós somos o povo da luz, eles são o povo das trevas e a luz deve triunfar sobre as trevas. Meu papel agora é levar todos os israelenses a uma vitória esmagadora... Cumpriremos a profecia de Isaías... juntos venceremos. »
“A profecia de Isaías, à qual Netanyahu se refere, é uma profecia que promete a vitória de Israel sobre os seus inimigos. É frequentemente utilizado pelos israelitas para justificar o seu domínio sobre os palestinianos.» Israel é um dos únicos Estados do mundo fundados quase exclusivamente na “lei bíblica”, e que a sua política – seja boa ou má – esteja enraizada na história bíblica. E qual é a diferença com o Hamas?
Netanyahu vê-se como uma figura messiânica. O que é perigoso quando uma nação liderada por um autoproclamado messias do fim dos tempos arrasta o resto do mundo sonâmbulo para a Terceira Guerra Mundial.
Como é possível apoiar um tal indivíduo? Eu sei que, automaticamente, aqueles que recusam seguir um tal messias, se encontram catalogados no Hamas.
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