A maior ironia do Médio Oriente é que se alguém for apanhado a dizer que é 100% favorável à existência do Estado de Israel, com fronteiras seguras e internacionalmente reconhecidas, é tido por hostil ao governo israelita. Porquê? Porque Israel não aceita essas fronteiras.
3 comentários:
A propósito e a despropósito de Israel.
Sempre julguei que, para se enganar quase toda a gente quase sempre, se tinha de ser bastante esperto, pelo menos o suficiente para não achar que quase todos os outros são parvos.
Leio que o Paddy Cosgrove se demitiu hoje de CEO lá daquela coisa.
O que me causa repulsa é a hipocrisia dos líderes mundiais em continuarem a falar da “Solução dos Dois Estados”, quando todos eles, estão cansados de saber que o projecto sionista de ocupação e anexação dos territórios palestinianos, ao longo destas sete décadas, inviabilizou a existência de um Estado palestiniano na região.
Os 700 mil colonos que Israel foi implantando, tanto na Cisjordânia como em Jerusalém Oriental, todos ilegais à luz do que a Europa assinou em 1948 e as sucessivas Resoluções das Nações Unidas têm sufragado, transformaram a Cisjordânia num gueto, onde mais de três milhões de palestinianos vivem num regime de autêntico apartheid (o escritor de origem sul-africana John Coetzee, Prémio Nobel Literatura 2003, afirmou a este propósito: “o apartheid foi um sistema de segregação forçada baseada na raça e na etnia, praticada por um grupo excludente e autoproclamado para consolidar uma conquista colonial e, em particular, para manter e estender seu domínio sobre uma terra e seus recursos naturais. Em Jerusalém e na Cisjordânia, para falar só de Jerusalém e Cisjordânia, o que temos é um sistema de segregação forçada baseada na religião e na etnia, praticada por um grupo excludente e autoproclamado para consolidar uma conquista colonial e, em particular, para manter e estender de facto o seu domínio sobre uma terra e seus recursos naturais”).
O editorial do jornal israelita Haaretz (17/10/2023) afirmava textualmente: “O nevoeiro da guerra" — uma referência à fúria em Israel contra a matança de civis pelo Hamas — está a dar cobertura "à expulsão de palestinianos na Cisjordânia". "Aquilo que é, para a maioria sã em Israel, a maior catástrofe da sua história é, para os colonos [israelitas], uma oportunidade para expulsar palestinianos e para ocupar as suas terras", dizia o editorial do Haaretz"Em alguns casos, algumas localidades foram completamente despovoadas, e, em outros casos, algumas famílias fugiram e mulheres e crianças foram deslocadas. Os residentes têm denunciado ameaças de morte feitas por colonos, que por vezes surgem armados."
No fundo, Israel apenas aceitará as fronteiras (do Israel Bíblico), ou seja, quando o regime sionista de Telavive consumar o desaparecimento dos palestinianos da Palestina histórica, aplicando ao povo palestiniano uma "solução final" aparentada à do regime nazi contra os judeus.
Carlos Antunes disse...
"O que me causa repulsa é a hipocrisia dos líderes mundiais..."
Creio que poderiamos acrescentar, à hipocrisia, a "naïveté" dos EUA, , quando, em 2006, “eleições democráticas livres” foram impostas a Israel e à Autoridade Palestiniana.
Na altura, os americanos acreditavam que todos os problemas do Médio Oriente seriam resolvidos pela democracia. É daí que vem o actual Hamas cataclísmico: primeiro, os Estados Unidos impuseram as eleições, que foram vencidas pelo Movimento de Resistência Islâmica, depois recusaram-se a reconhecer os resultados.
A violenta tomada de Gaza pelo Hamas criou então o enclave a partir do qual Israel foi atacado no início deste mês.
Esta história complexa, que se estende por cem anos, ocorreu, talvez não sob controle total, mas pelo menos com a participação activa de forças exteriores.
A composição destas forças mudou ao longo dos anos, mas foram sempre os actores externos que deram o tom.
A comunidade internacional não está a assumir as suas responsabilidades políticas internacionais face às inúmeras violações de que são vítimas todos os palestinianos, independentemente de onde se encontrem, da sua idade ou do seu estatuto social. Basicamente não têm direitos, a menos que o governo israelita assim o decida.
Tudo é possível, tudo é permitido ao Estado de Israel; este estado de graça permanente é o sintoma de uma Europa que nunca se perdoou por ter produzido monstros que nunca deixaram de perseguir cidadãos europeus de cultura judaica em direção a um país que viu nascer sob tempestuosos auspícios, para dizer o mínimo, com as consequências da violência forçada. a Nabka, de milhares de palestinos que tiveram que abandonar as suas terras, de mãos vazias, sem esperança de regressar às casas que alguns deles guardavam, perto do coração, as chaves.
Entretanto, os palestinianos continuarão a ser presos, mortos, arrebanhados, famintos e embargados sem que ninguém se preocupe.
A solidariedade internacional, cautelosa, continuará a trocar queixas inúteis para saber se o que foi cometido é sustentável ou não, a ponto de esquecer que qualquer povo ocupado tem o direito de resistir e particularmente face a um "Estado que, com os Estados Unidos e alguns países europeus, tem a honra de ter à sua frente criminosos de direito internacional, o que não honra a democracia tão defendida por esses mesmos países
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