terça-feira, outubro 17, 2023

Preocupação

Ontem, telefonou-me um amigo, colega diplomata, com quem vou falando episodicamente pelo telefone, dada a dificuldade em nos encontrarmos. 

Ouve-me em aparições televisivas e quis transmitir-me um sentimento: a sua profunda preocupação sobre o momento que o mundo atravessa, em face do que considera ser a conjugação "perfeita" de fatores de instabilidade, que pode facilmente levar a uma tragédia. Falámos quase uma hora. Coincidimos em muitas coisas, divergimos marginalmente em algumas. 

Ele vê bastante televisão, imagens das guerras. Ouve comentários, avalia opiniões e tem juízos muito ponderados - quatro décadas de diplomacia ajudam muito. Tem vivido os últimos dias marcado pelos acontecimentos, embora com sentimentos interiores que confessa serem, às vezes, algo contraditórios.

Julgo que ficou chocado quando lhe disse que, desde há muito tempo, sou quase incapaz de assistir a um telejornal, de ouvir um debate televisivo, mesmo na "minha" CNN. E surpreendeu-se ao saber que, para me informar, apenas leio textos, muitos textos, e que deixei, quase em absoluto, de ver imagens de atualidade. E que, nos dias de hoje, me encharco de futebol, de Mezzo e de filmes "light", sem dramas nem sentimentos profundos. Ele sabe que, além disso, continuo a trabalhar bastante - e que o trabalho, desde que me conheço, entretem-me muito e, em geral, até me diverte.

Cada um de nós tem a sua forma de estar no mundo. Mas, curiosamente, mantemo-nos de acordo no essencial, como sempre aconteceu. E, em comum, comungamos hoje uma forte preocupação.

4 comentários:

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

A isso se chama saber viver.

manuel campos disse...


Já devo ter contado que não vejo televisão há muitos anos, há tantos que até tenho vergonha de o lembrar, ver os jogos da selecção ou esporadicamente um filme para o qual a minha mulher me chama a atenção não é ver televisão (ela também pouco vê).
E isto tendo um pacote completo (TV Cabo+ Internet + Telefone fixo + um ou outro extra) em Lisboa e outro até mais completo aqui no meu “algures”, dos quais sõ acabo por usufruir metade do ano e média de cada um.
Portanto não é falta de meios, é mesmo total falta de vontade.
Com a informação que hoje podemos alcançar online, sabendo onde a procurar e nunca esquecendo de exercer um espírito crítico sobre o que por aí anda de mentiras e semi-verdades na internet, qualquer pessoa pode formar uma opinião pessoal sobre praticamente qualquer assunto sem estar sujeita àquilo que lhe querem impingir como verdades e semi-mentiras nos ecrãs.
É habitual aqui e ali falarem-me de um programa qualquer e perguntarem se o vi, quando respondo que não vejo televisão há (nem digo) anos, além do olhar de horror por se verem de repente frente a um troglodita que desconheciam, vem sempre um “Mas nem o telejornal?”, ao que eu respondo “Especialmente nunca o telejornal!”, não preciso que me digam o que é que me interessa nem me convençam de como é que os assuntos me devem interessar.
Portanto estou na mesma mas há muitos anos.
Leio, escrevo, ouço música de manhã à noite e faço retrospectivas pessoais de cinema, com a quantidade de DVD que tenho por aí revi há 2 anos todo o “007”, todo o “Woody Allen”, todo o “Fellini”, todo o “Sergio Leone”, todo o “Spielberg” e mais muitos outros “todos”.
Não me passa assim pela cabeça ver o que me querem mostrar, eu sei o que se está a passar porque ando há 60 anos a ler sobre o que se passou em todas as guerras do mundo, a ver reportagens da época sobre o que se passou (também tenho muito em DVD), as guerras são todas iguais e qualquer morte é tão estúpida numa como noutra, de um lado como do outro.
Por isso quando intervinha aqui, por causa da Ucrânia, só perguntava onde estavam os caminhos para a PAZ e é isso que continua a preocupar-me cada vez mais pois, desta vez, estamos em face da tal “conjugação "perfeita" de fatores de instabilidade”, que só se tornaria “perfeita” se a China aproveitasse para “resolver” o problema de Taiwan.
Volto assim ao sempiterno humorista francês Sempé (ou devia dizer “sempéternosempé”):
“Quand j'étais jeune je voulais tout faire sauter, maintenant j'ai peur que ça saute réellement...”
É que “eu” não acabo quando eu “acabar”, para já é possível que daqui a 60 anos uns netos meus falem aos netos deles de um trisavô que, segundo a lenda , era um “chato de galochas” cujo entretenimento favorito era inundar o “Duas ou Três Coisas” de comentários as mais das vezes sem grande nexo.
Espero que se riam todos muito, que ninguém comente que ainda bem que não me conheceu.
É a forma de eternidade possível, talvez curta mas a possível.

J Carvalho disse...

Grande ideia. Taiwan. Já agora, porque não?

Nuno Figueiredo disse...

o mundo está perigoso... (VPV)

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