Dou agora conta que, daqui a pouco, às duas da manhã, volta a ser uma da manhã. Uma hora a mais! "Bem bom!", como diriam as Doce. Ou, então, como perguntava o Cortez (não, não é o conquistador) ao Nicholson (não, não é o diplomata): "Já é uma hora? Que grande banquete!" Anos houve em que, chegado a este momento, me deu para ler mais uma hora. Como agora estou em Vila Real, com uma montanha de livros à volta, lembrei-me começar a ler um deles. Mas não me apetece. Ou, então, ir dar uma volta pela minha cidade, sob chuva e vento, como antes muito gostava de fazer. Mas não tenho pachorra. Televisão, recuso-me a ligar. Música, é para o carro. Que farei com esta hora? Dormir, claro. A idade não perdoa!
14 comentários:
Detesto o horário de inverno. Quem vai gostar é o meu cãozinho. A dona vai passar a passea-lo uma hora mais cedo. Não bate palmas mas ladra e abana o rabinho de contente.
Por aqui, não houve hora a mais. Perdi uma hora de sono e o culpado dá pelo nome de Bozo ( não, não é o palhaço do Livingston ).
Houve tempos em que também gostava muito de me passear à chuva e ao vento, especialmente ao fim da tarde, dava-me para fazer a Avenida de Roma toda para cada um dos lados, chegar a casa num estado lastimoso e deixar a minha Mãe à beira de um ataque de nervos.
Como se imagina esses tempos foram há que tempos.
Entretanto comecei a apanhar grandes molhas e enormes cargas de água por obrigação, a caminho de ou de regresso do trabalho, deixei de achar graça.
Hoje já ninguém sai à rua preocupado com a chuva, isso já lá vai, o problema é cairmos no meio de um “rio atmosférico” ou sermos apanhados por um “combóio de tempestades”, fenómenos meteorológicos normais no Inverno quando eram conhecidos sob a designação genérica de “chover a potes” mas que, desta forma classificados, tomam outras proporções na imaginação colectiva .
Por outro lado começarem a chamar-se as tempestades pelos nomes também é bom, evita-se assim muita confusão passando de um vago “quando é que foi mesmo aquela tempestade que nos inundou a garagem?” para um culpabilizante “foi a safada da Céline que nos inundou a garagem!”, assim não há dúvidas e fácilmente se enquadra no tempo.
Agora há-de vir aí a tempestade “Domingos” conforme nos informa o “Público” de 4 de Setembro passado no artigo “De Aline a Wilhelmina, já sabemos os nomes das tempestades da próxima época”.
Convém ler o artigo até ao fim antes de nos preocuparmos com as tempestades todas que nos digam que aí vêm pois, como sublinha o IPMA “Uma depressão a que foi atribuído um nome por outro serviço meteorológico pode ter outros ou até nenhuns impactos sobre o nosso território".
Finalmente nunca confundir “Meteorologia” com “Clima”, são conceitos diferentes mas que demasiadas vezes são deixados ali num limbo que convém a interesses muitas vezes antagónicos mas nem sempre científicos.
Tal como Flor, não gosto desta mudança de hora. Tem um benefício - uma hora de sono a mais no primeiro dia, que muito apreciei.
Como sempre que se anda há procura de qualquer livro encontramos umas dezenas de livros que já nem nos lembrávamos de ter comprado.
Encontrei assim “L'abeille et l'architecte” de François Mitterand, na edição da Livre de Poche de Março de 1980 e que não me lembro de ter lido.
É boa altura para o fazer.
Manuel Campos. Posso estar enganado, mas é no "L'abeille et l'architecte" que Mitterrand descreve uma noite de S. João no Porto, passada com Mário Soares.
Francisco de Sousa Rodrigues
Como disse não me lembro de nada do livro, inclusivé se o li na altura, pelo que o mais provável é não o ter lido.
Mas vou folheá-lo e ver se esse bocado de que fala lá está e logo volto aqui.
PS- Ali na 1ª linha é "à procura" e não "há procura", claro.
Faço portanto também meu o fim deste texto: A idade não perdoa!
Francisco de Sousa Rodrigues
Como ainda nem era uma da manhã e a noite (para mim) é uma criança, fui folhear o livro como prometido e tirar umas notas para este efeito.
Pois não o li de certeza.
O livro tem quase 400 páginas de crónicas do homem político mas também do intelectual culto que ele era, apontamentos do dia-a-dia sem pretensões de fazer História, mas como que desabafos sobre o que ia vendo e ouvindo.
Muito agradável e útil de ler é o que se me anuncia.
A páginas 304 a 308 lá temos a situação de que fala.
O livro está por anos (1975, 1976, 1977, 1978) e cada escrito datado, este é de 29 de Junho de 1977, Mitterand chegou ao Porto e jantou nesse mesmo dia com Mário Soares, Jorge Campinos e Manuel Alegre num pequeno restaurante de Leixões junto ao porto de mar.
Na descrição da noite de S. João começa por dizer que não conhece nenhuma festa como aquela na Europa, onde 300 mil pessoas circulam entre a parte alta e a parte baixa da cidade, num ambiente em que não existe na realidade qualquer tipo de organização, onde as pessoas se divertem a bater umas nas outras com um alho gigante ou com um martelinho de plástico, toda a gente rindo, abraçando desconhecidos e dançando.
Conta ainda que Mário Soares se misturou com a multidão, perfeitamente integrado e aceite naqueles rituais populares, acabando Mitterand por perguntar que outro Chefe de Estado ou Primeiro Ministro o poderia fazer sem arriscar um insulto, uma crítica ou uma pancada.
Pelo caminho ainda encontrei uma referência em 26 de Maio de 1975 ao fecho do Jornal República onde ele diz que o MFA adoptou uma posição de “Roi Salomon borgne”, face ao que classifica como fim da liberdade de imprensa, e o princípio de uma carta de 2 de Novembro de 1976 que ele remeteu a Otelo Saraiva de Carvalho (em prisão domiciliária) dizendo que não tinha tido tempo para estar com ele e outras banalidades, acrescentando no entanto neste texto da crónica que de seguida tinha enviado cópia da mesma a Mário Soares.
Deixei para o fim a mais patusca, quando o embaixador da URSS em Paris lhe disse que o Comité Central do Partido Comunista lhe tinha dado instruções para informar Mitterand de que não aceitaria qualquer ingerência estrangeira nos assuntos de Portugal, ao que Mitterand respondeu que era uma situação espantosa um embaixador da Rússia vir invocar junto do SG do PCF que Portugal tinha o direito de tratar dos seus assuntos sózinho.
Nota final- Adaptação (minha) da tradução (minha) do francês.
No último parágrafo do texto anterior URSS e Rússia são "sic", talvez uma distinção intencional da parte do autor a quem a História anterior e posterior nunca deixou de dar razão em muitos aspectos.
Caro Embaixador Seixas da Costa
Mas que grande barraca!
Então não é que acabo de levar uma descasca monumental de minha mulher e com toda e mais alguma razão?
Isto está muito pior do que eu julgava.
O que me vale é que estando ela muito melhor de cabeça que eu (como aqui se confirma), assim que há bocado leu os textos de ontem apareceu aqui no meu escritório com uma cara que me meti logo debaixo da secretária.
Ontem não foi um dia bom mas não vou inventar desculpas esfarrapadas.
Li “Francisco” e, como costumo dialogar por aqui com "outro Francisco”, “não vi” mais nada (e mais tarde voltei a “não ver” mais nada).
Espero no entanto ter confirmado a sua excelente memória.
Peço-lhe assim desculpa pelo sucedido e vamos ver se me serve de lição.
Obrigado pela sua paciência para isto tudo, que não é pouca.
Um abraço
PS- Se pudesse interceder junto de minha mulher agradecia, ficou “piúrsa” que é uma expressão muito dela, que “isto nem parece teu” e outros "elogios" não menos deprimentes.
Manuel Campos. Não se preocupe(m). Um blogue é um blogue é um blogue. Um abraço
Caro Embaixador Seixas da Costa
Um blogue é um blogue é um blogue mas, a partir de certa altura, acabamos por criar alguma "familiaridade virtual" uns com os outros e, tal como em qualquer grupo de conhecidos, há pessoas com quem não nos importamos de dar barraca e outras com quem nos importamos de a dar e ficamos "incomodados" se isso acontece. Foi esse o caso.
De resto já nos rimos da minha "xéxézice", se isso é bom ou mau o futuro dirá.
Uma boa noite para si
Como estive mais de um mês no meu “esconderijo”, terá sido há mês e meio que passei um bom bocado na FNAC de Cascais de volta dos livros em francês, inglês e castelhano em saldo, enquanto minha mulher dava as suas voltas.
Não há nunca nada de notável neste tipo de saldos, são habitualmente o que ninguém quis, uma vez sem exemplo lá se apanham livros que nos interessam porque estão àquele preço, senão deixavam de nos interessar.
Comprei assim há uns meses o “2666” do Roberto Bolaño, na edição original em castelhano “com pequenas marcas de uso” bastante em conta (dele só tinha lido “Os detectives selvagens” na tradução portuguesa).
Desta vez estive entretido com dois livros em edição da “Livre de Poche”, o “Passions” de Nicolas Sarkozy e o “Les Leçons du pouvoir” de François Hollande, que folheei longamente (estava a fazer horas) e fui lendo o que deu para ler.
Tendo em conta que, com os descontos propostos, me ficavam os dois juntos por menos de 5€ era tentador mas não me deixei tentar, muito auto-elogio, muita auto-complacência, muita auto-justificação, muito auto-tudo do que não se aguenta em quem se esquece que também cá andávamos a olhar para eles.
Que diferença para a escrita de François Mitterand (se é que a escrita dos outros dois senhores era mesmo deles).
Não encontrei o livro que procurava mas encontrei uma série de outros que talvez valha a pena reler, tenho ideia de os ter lido na altura errada e não lhes ter dado a devida atenção.
Durante muitos anos “obrigava-me” a ler os livros até ao fim, uma questão de método e treino da vontade para mim (palermices), mas nada como ir envelhecendo para nos deixarmos dessas manias, não só porque já não estamos para fazer fretes de livre vontade (já basta os que nos caem em cima a toda a hora) como, muito em especial, porque tomamos cada vez mais consciência de que o nosso tempo útil vai escasseando, portanto há que tentar ser mais inteligente nas escolhas.
Acontece-me sempre com os livros o que me acontece com os discos, se não os começo a ler “na altura certa” ou os ouço “no dia certo”, quantas vezes os ponho de lado uns tempos antes de os voltar a ler ou a ouvir, na esperança de que os encare de outro modo, porque com outro espírito, nisto acho que somos todos iguais (e funciona em 3/4 dos casos).
Já com as pessoas é mais complicado, ainda que também aconteça, é a tal situação de não haver segunda oportunidade para criar uma primeira boa impressão, disso somos “vítimas” e fazemos “vítimas”, estragando-se precipitadamente o que poderia ser “o princípio de uma bela amizade”, como diz sempre um amigo meu.
De entre os que encontrei há um que cai nesta categoria dos “a reler”, 200 páginas é uma tarde e uma noitada para quem não vê televisão.
Trata-se de “O 25 de Abril – Uma síntese, uma perspectiva” de Mário Matos e Lemos, editado em 1986 pela Editorial Notícias e que ainda lá tem o preço de 750 escudos e a data de 21/4/86 que deve ser a de entrada na livraria onde o comprei.
Achei 750 escudos um dinheirão e fui atualizar o valor para preços de hoje: 14,52€ (utilizei como sempre o sítio “Atualização de Valores com Base no IPC” do INE).
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