Ontem, desde manhã, dei comigo a cantarolar intimamente o velho hino da RTP. Creio que a muita gente acontece surgir-lhe à memória uma música e, por mais esforços que faça, ela não lhe sair da cabeça ao longo de todo o dia. Só passa na manhã seguinte.
Contei isto numa reunião de trabalho e todos os presentes revelaram que, por vezes, lhes acontece o mesmo. Um dos amigos queixou-se que só lhe "surgem" canções ridículas, sem a menor graça. Eu disse que sou mais feliz: já "acordei" com grandes êxitos! Mas também já "andei" a cantarolar glórias do nacional-cançonetismo, confesso.
O dia passou. Já perto da meia-noite, nos corredores da CNN Portugal, ouvi-me a continuar a assobiar, distraidamente e baixinho, o tal hino da RTP, que, para quem não saiba, tem o nome de "Derby Day".
Num segundo, auto-censurei-me: então eu andava por ali a evocar o hino da concorrência?! Depois pensei melhor: mesmo que alguém me ouvisse, quem é que, das novas gerações que enchem a TVI / CNN Portugal faz hoje a menor ideia do velho hino da nossa televisão pública? E, com maior certeza ainda, quem, de entre os mais novos, alguma vez viu uma das primeiras miras técnicas da RTP, que aqui coloco? ("Mira técnica?", o que é isso?)
Deixo (clicando aqui), o "Derby Day", música de orquestra que evoca os grandes hinos americanos e britânicos que enchiam os altifalantes dos nossos estádios de futebol nos anos 50 e 60, servindo também de música de fundo para a "Tarde desportiva da Emissora Nacional". ("Emissora Nacional?!", o que é isso?)
8 comentários:
Lembro-me muito bem de ver a mira técnica e de ouvir a tal música. O que eu assobiu mais é a Marselhesa.Va-se lá saber porquê ?
Também alinho pelo mesmo diapasão e às vezes vou mais longe. Aparece-me ( salvo seja ) o Alves dos Santos a falar sobre “ … um jogo esteriotipado, com largas aberturas pelos flancos “.
Com os 74 anos lembro-me perfeitamente da mira técnica e da música.
E, sim, acontece a toda a gente andar com um música qualquer na cabeça e, por vezes, em momentos bem desadequados.
Cantarolar quase todos cantarolamos, como o confirmaram alguns dos presentes na reunião que refere, a insistência no “bis” sem deixar passar à “faixa” seguinte é de norma também, o subconsciente é um “juke box” avariado.
E no dia seguinte já passou e nem nos conseguimos lembrar do que não nos tinha largado o dia todo na véspera.
Há no entanto que evitar cantarolar na rua pois é arriscado, ou se canta muito bem e pode-se fazer disso um modo de vida alternativo, ou se canta muito mal e mais vale pôrmo-nos a fingir que assobiamos para não passar por mais um que anda por aí a falar sozinho, o que cada vez é apesar de tudo menos grave porque cada vez é mais frequente.
Claro que cantarolar “greatest hits” sempre é melhor que “pimba”, mas a experiencia diz-nos que este tipo de compulsão artística não dá para ser escolhida.
Não há qualquer risco de quem quer que seja lá nos estúdios saber o que estava a ouvir, os que ainda se lembram dele ou estão reformados ou com dificuldades auditivas.
As transmissões da RTP começaram em Março de 1957 mas muito pouca gente tinha televisor (para não dizer praticamente ninguém), lembro-me que ao domingo à tarde íamos visitar um familiar que tinha e era uma excitação quando a mira técnica dava lugar à marcha de Robert Farnon, um compositor canadiano daquilo que os ingleses chamam “light music”, algo entre o mais que ligeiro e o menos que clássico.
A música dos estádios de futebol era muito à base de John Philip Sousa, o maior compositor de marchas de sempre, nascido nos EUA (1854-1932) de pai português de origem açoriana e de mãe bávara.
Dentro da música clássica as marchas sendo um “parente pobre” não deixam por isso para mim de ser um parente que aprecio, ainda que não seja música para ouvir todos os dias e cantarolar o “Stars and Stripes Forever” ou o "Washington Post" na Rua Garrett não é grande ideia, a menos que se dê uma entoação suficientemente marcial para passarmos por doidos varridos.
Mas algumas marchas, tal como esta, ficaram associadas a memórias nossas e ouvir uma ou outra é por vezes revigorante, ainda hoje muitos de nós ficam emocionados ao ouvir “A life on the ocean wave” do compositor inglês Henry Russell, mais conhecida entre como “aquela música do MFA, como é que se chamava?”.
Aqui fica a ligação para a excelente interpretação dos Reais Fuzileiros ingleses:
“A Life on the Ocean Wave | The Bands of HM Royal Marines”
Manuel Campos, belíssima banda. Obrigada.
Flor
De nada, é um prazer.
Nesta bandas dos Royal Marines um dos pontos mais interessantes do ponto de vista da exibição é o movimento perfeitamente sincronizado das baquetas dos tambores, aliás uma das "imagens de marca" deles.
Acima chamei-lhes "ingleses" mas o correcto seria ter dito britânicos.
Talking about fanfares, uma que me vem com frequência é da "Eurovisão", "Te Deum" de Antoine Charpentier.
O que aqui se aprende !
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