segunda-feira, março 25, 2024

Momento semântico

No termo da entrevista, esta tarde, na CNN Portugal, com o Pedro Bello Moraes, fiquei com uma sensação estranha. Aqueles seis minutos e tal de conversa, sobre a situação na Rússia, tinham corrido com toda a normalidade, mas, naquilo que eu tinha dito, havia algo que me soava mal. E não sabia o que era.

Fui rever a entrevista e lá estava a razão da estranheza: eu usara, por duas vezes, a palavra "concomunar". Algum problema? Nenhum, exceto que esse vocábulo não existe. Para quem tivesse estado distraído, e dado o contexto da frase, o erro pode ter passado despercebido. Quem estivesse mais atento, contudo, deve ter-se perguntado: onde diabo foi ele desencantar aquela palavra?

O que eu queria significar é que a Rússia, perante o atentado em Moscovo, dava mostras de pretender juntar, como se de uma agressão comum contra si se tratasse, a Ucrânia, tendo esta todo o ocidente por detrás, e os radicais islâmicos. A ideia é que, por uma qualquer forma, havia um conluio (combinação de um ou dois para prejudicar um terceiro), que ambas as partes estavam mancomunadas (em acordo para um ato repreensível). E terá sido do "conluio" com o "mancomunar" que me saiu o "concomunar". 

Até nem desgosto da palavra, só que ela não existe. Não existe? Ora essa! Passou a existir, graças ao meu momento de criatividade semântica. Fica o neologismo e sintam-se à vontade para o utilizar.

8 comentários:

egr disse...

Senhor Embaixador : com o meu prévio pedido de desculpa , e sem querer portanto colocar em causa a criatividade do senhor Embaixador , eu era capaz de não estranhar a palavra , pois estou convencido que já a ouvi ; só que a minha paupérrima memória , não consegue dizer nem quando , nem a quem , sem estar a faltar á verdade ; mas ,rebuscando muito , julgo que a ouvi a meu avô materno que, com a idade de 78 anos , faleceu em 1970 ; esse meu avô era o que então profissionalmente se chamava Solicitador Encartado , e era natural de Gondomar embora tivesse feito a sua vida no Porto.
A partir de agora , e por acaso , a palavra me aparecer , terei em conta o sucedido hoje .

Anónimo disse...

Esclarecidos, sr. Embaixador.
Mas, já agora, “concluio” também é outro neologismo?
Agradecida!

Anónimo disse...

Não terei tanta certeza.
Posso estar enganado, mas parece-me ter ouvido o Srº Profº Cavaco Silva usar o vocábulo "concomunar" quando deu posse ao governo da geringonça.

Luís Lavoura disse...

Não deixa de ser estranho que os terroristas após o atentado tenham decidido fugir na direção da Ucrânia, sabendo-se que a fronteira russo-ucraniana deve ser, neste momento, uma das mais bem guardadas do planeta.
Dá sem dúvida ideia de que eles contariam com alguma ajuda para atravessar essa fronteira.

Luís Lavoura disse...

a Ucrânia, tendo esta todo o ocidente por detrás

A Ucrâna certamente que não teria todo o ocidente por detrás ao facilitar a fuga dos terroristas.

A Ucrânia não tem todo o ocidente por detrás em muitas das coisas que faz.

carlos cardoso disse...

Senhor Embaixador, acho a sua invenção muito ao estilo do Mia Couto, o maior criador de neologismos da literatura em língua portuguesa.

Unknown disse...

“Concluio” também deve ser lapso. Nunca ouvi tal palavra.

afcm disse...

Mancomunar era um vocábulo muito usado nas acusações criminais para qualificar qualquer acordo de meliantes.'E assim, mancomunados nesse propósito de apropriação e pela calada da noite...'

"Quem quer regueifas?"

Sou de um tempo em que, à beira da estrada antiga entre o Porto e Vila Real, havia umas senhoras a vender regueifas. Aquele pão também era p...