sexta-feira, março 15, 2024

Limites

O PSD tem um grande desafio à sua frente: tentar esvaziar o balão do Chega e trazer de volta, para a direita democrática, muitos dos votos que a extrema-direita captou. O PS não deve atrapalhar esta "manobra", mas não se lhe peça um "harakiri" político.

9 comentários:

Francisco disse...

Meu caro Francisco, a vida, com as suas dinâmicas, tem-me impedido de visitar este sítio tão bem frequentado. Faço-o hoje de novo e com a satisfação de sempre. De modo lapidar, creio que há nestas mais recentes eleições portuguesas, a confirmação de uma tese que, é ela própria a demonstração também das entropias do sistema em que por enquanto vivemos. Concretizando, o espaço político da social-democracia, que nos últimos 50 anos nos tem governado, constituiu aqui e como seria inevitável, a passadeira vermelha para a entrada da extrema-direita. A permanente cedência ao ideário neo-liberal (nomeadamente no que respeita às relações laborais), em nome do princípio da moderação, acabou por dar o resultado que tinha que dar. Há cenários pela frente, mas a hipótese de o PSD e o CDS (no caso deste último, são detalhes), guinarem à direita, é muito forte. Depois, resta saber quando é que se atinge aquele patamar em que democracia e capitalismo não são compatíveis. Já temos aliás muitas manifestações concretas dessa incompatibilidade, em "berços das democracias ocidentais", como França e o Reino Unido. Isto, sem considerar a censura efectiva pelo silenciamento ou a mistificação de factos e de leituras sobre eles (a forma como o "mundo ocidental" se tem comportado em relação ao genocídio no território da Palestina ocupada, e à leitura oficial que dele é feita no espaço a que ainda insistimos em chamar de comunicação social, é absolutamente clara a esse propósito e asqurosa, consequentemente). Naturalmente que neste contexto, resta saber que papel e que destino está reservado para partidos que até aqui foram necessários ao sistema (imprescindíveis até, fundamentalmente e pelo menos até certo tempo bem recente, pelo seu arreigado e muitas vezes acéfalo anti-comunismo primário), mas que agora podem bem tornar-se incómodos e, consequentemente dispensáveis. Talvez seja pedagógico ir dando uma espreitadela para Leste (não, não, não é tanto para Leste...): Grécia, Itália, França. É que, como sabemos, Roma não paga mesmo a traidores...

Anónimo disse...

Impressionou-me muito favoravelmente o comentário de Francisco. Concordo com tudo ou quase. Impressionou-me muito esta frase:
"Isto, sem considerar a censura efectiva pelo silenciamento ou a mistificação de factos e de leituras sobre eles (a forma como o "mundo ocidental" se tem comportado em relação ao genocídio no território da Palestina ocupada, e à leitura oficial que dele é feita no espaço a que ainda insistimos em chamar de comunicação social, é absolutamente clara a esse propósito e asqurosa, consequentemente)"
De facto não é fácil saber o que se pensa do lado de Putin. Putin nem deve ser entrevistado. Os nossos media por vezes parecem secções do exército ucraniano. O regime ucraniano é referido como uma democracia exemplar e o russo como uma ditadura horrível. Mandam armas para os ucranianos morrerem bem como os jovens russos. Mas irem para lá .... parece que ninguém quer. Relativamente ao horror que se passa em Gaza já não se procede da esmo maneira.
Isto é jornalismo? Nos noticiários as pivots não escondem a sua irritação quando alguém diz que a Ucrânia não vai ganhar ....
Isto é jornalismo? Confesso que sou bastante ignorante na matéria mas ouvindo os nossos noticiários ainda fico mais ignorante.
Zeca

João Cabral disse...

E o PS não deve tentar também esvaziar o Chega? Até parece que não teve nada que ver com o enchimento. E convém não esquecer que o Chega foi buscar votos até ao PCP.

Carlos Antunes disse...

Antes das eleições, ilustres políticos e abalizados comentadores, com a particularidade de todos serem afectos à direita, opinavam que o País estava no caos por culpa do governo do PS/AC, e que foi esta situação que atirou os portugueses para os braços do Chega.
Agora, no pós-eleições pedem ao PS que seja o salvador do País e apoie a governação da AD para evitar que esta se abrace ao Chega.
Os que mais atacaram o PS são os que agora mais lhe pedem para não deixar cair o PSD nos braços do Chega!
Quem vos entende? Valha-nos a santinha.
Post scriptum: Concordo inteiramente com o Senhor Embaixador que o PS de Pedro Nuno Santos «não deve atrapalhar esta "manobra"» (não aprovando qualquer moção de rejeição à constituição de um governo da AD) «mas não se lhe peça um "harakiri" político», isto é o de ser o PS a sustentar um governo minoritário do PSD/CDS. Estes que se entendam com os seus parceiros à direita (IL e Chega)!

Joaquim de Freitas disse...

Francisco disse: "que destino está reservado para partidos que até aqui foram necessários ao sistema (imprescindíveis até, fundamentalmente e pelo menos até certo tempo bem recente, pelo seu arreigado e muitas vezes acéfalo anti-comunismo primário), mas que agora podem bem tornar-se incómodos e, consequentemente dispensáveis."

A "permeabilidade" de certos partidos de governo, como se diz, à ideologia extremista da direita, levou o PS francês ao abismo. E à morte da esquerda, abrindo a porta ao fascismo lepenista.

Como não pensar em Rosa Luxemburgo, nestes tempos tempestuosos para o socialismo? Foi este posicionamento ideológico que a levou a aderir ao Partido Social Democrata da Alemanha (SPD) em 1898.

Mas quando o Partido Social Democrata da Alemanha (SDP) apoiou publicamente o esforço de guerra, Luxemburgo separou-se e fundou a Liga Espartaquista.

Por isso foi assassinada. O nazismo aparecia no horizonte. E a guerra como consequência. 60 milhões de mortos.

De nada serve aplicar a censura, suprimindo textos que sendo radicais não deixam de ser anti fascistas.

Anónimo disse...

Será diplomático utilizar o termo "direita democrática" vs "extrema-direita"?.

Uma é "democrática" a outra não? Ambas as direitas basearam a sua força política no mesmo acto eleitoral. Houve reconhecida falcatrua "não democrática" durante o acto eleitoral?.
Será porque uma das direitas esteve a prometer mais do que seria, será razoável?. Veremos.
Afinal nenhuma das direitas -e das esquerdas- foi e é comedida...em campânha.
Seria mais cortêz simplesmente "direita" e "extema-direita".

disse...

O Sr. Embaixador detesta o Chega. Eu também não gosto. Agora, isto não significa que seja direita não democrática. Que eu saiba o Chega não defende limitações à liberdade de expressão ou o fim da democracia representativa. Pelo contrário, até me parece que eles querem tornar o sistema eleitoral mais proporcional e por essa via mais democrático.

Dito isto, não estou nada optimista. Não é possível ao PSD esvaziar o Chega. Olhando para o resto da Europa, a tendência é precisamente a inversa. O Chega vai-se normalizar e nesse movimento esvaziar o PSD, que se vai tornar um pequeno partido de charneira entre o PS e o Chega. Eventualmente desaparecerá. Os "sociais" passarão para o PS, os liberais para a IL e os reaccionários para o Chega. Quem viver verá.

PedroM disse...

O PS tem tarefa semelhante pois também perdeu centenas de milhar de votos para o Chega. Para isso vai ser necessário tempo. Nada de precipitações.

Unknown disse...

Qaundo é que começa a noite das facas longas no PS? e a caça às bruxas, que o levaram a esta triste situação?

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