quarta-feira, março 27, 2024

A tragédia da imprensa


O "Público" de hoje terá fechado a sua primeira página por volta da hora de jantar de ontem. Por essa altura, o novo presidente da Assembleia da República ainda não tinha sido escolhido. Houve assim cuidado com o título. "Falta de acordo (...) atrasa eleição do presidente". 

Pura verdade, mas que dava para tudo. Se, entretanto, a Assembleia da República já tivesse escolhido um nome, esta manhã o jornal, embora não referindo a pessoa, não estaria a mentir: na véspera, como o título dizia, tinha havido um atraso nessa mesma escolha. Como, na realidade, ninguém foi escolhido, o jornal continua a ter "razão", de manhãzinha até, pelo menos, as 12 horas de quarta-feira. O atraso continuava... como o "Público" bem dizia!

Deve ser cada vez mais aliciante (ou desafiante, na linguagem modernaça dos negócios) fazer os títulos da atualidade dos jornais sincrónicos, em papel ou em PDF, cada vez mais esmagados pela diacronia dos sites, das rádios e das televisões, com débito informativo constante. 

Na imprensa, havia o velho dito de que um jornal de véspera já só serve para embrulhar peixe. Hoje, nem isso é verdade: a ASAE não deixa.

3 comentários:

Luís Lavoura disse...

Lembro-me de ver em França pessoas a trasportar baguetes para casa enroladas num jornal e debaixo do braço, junto à axila. Aquilo meteu-me um nojo enorme, fiquei convencido de que os franceses são uns porcos.
A ASAE não deixa mas o consumidor continua a ter o direito de ser porco, como os franceses.

Anónimo disse...

Fernando Neves
O Montenegro não parece ter jeito para este negócio. A auto-humilhação que ontem engendrou é ridícula. Como dizia o outro Esteves , não havia necessidade. Mas devo dizer que ontem me fartei de rir. Quem não tem unhas…

manuel campos disse...


Um jornal da véspera tinha (e ainda tem) outros usos que não há fiscalização que impeça e trave.
Ali pelo fim dos anos 50 e nos anos 60 eu ía muito ao futebol, meu Pai esteve ligado a um clube da 2ª divisão da zona de Lisboa e todas as semanas nos arrastava para os jogos, nós todos contentes de ser arrastados.
Era o tempo dos campos de futebol em terra batida, das bancadas de madeira, dos lugares em pé (o “peão”) do lado contrário à bancada principal, das latrinas ao nível do chão e com um ferro na parede cheio de “jornais da véspera” a substituir com vantagem o papel higiénico (vantagem para o clube, claro, aquilo ninguém roubava).

Lembro-me de vez em quando de um jogador em particular, dessa equipa que acompanhei durante anos ali entre os meus 6 anos e os meus 15 anos.
Por mais que chovesse (e nesses tempos também chovia muito, imaginem!), por mais que aqueles campos se transformassem em lodaçais terríveis, conseguia acabar os jogos com o equipamento imaculado, encharcado mas sem a mais leve mancha de sujidade, um caso único de capacidade de andar (ele corria pouco) entre os enormes salpicos de lama, para mais porque era brilhante a evitar choques ou qualquer outra situação que o pudesse fazer caír.
Mas uma pessoa de grande coração, que a vida fez com que nos reencontrássemos muitos anos depois na mesma empresa, criando mesmo alguma amizade (já faleceu há uns bons anos).

Um jornal bom para embrulhar peixe ou ajudar numa "emergência" ainda nos pode trazer excelentes memórias.

Entrevista à revista "Must"

Aque horas se costuma levantar?  Em regra, tarde. Desde que saí da função pública, recusei todos os convites para atividades “from-nine-to-f...