Pode compreender-se a tentação de usar os fundos russos congelados para beneficiar a Ucrânia. Mas será que os países ocidentais já pensaram bem naquilo em que se estão a meter? Quem é que, do "outro lado", confiará no futuro nos bancos "de cá"?
Tem toda a razão e a observação é muito pertinente. E o "lado de lá" de que fala não é obviamente só a Rússia, é quase meio mundo, mas esse é um raciocínio mais complexo pois há cada vez mais gente sem descendência (ou borrifando-se para ela, também conheço) que pensa "après nous, le déluge"(*). O "lado de lá" são todos os regimes do mundo que, de hoje para amanhã, se podem meter ou ver envolvidos em situações de contornos semelhantes e cujos habitantes mais abonados (que são pouquíssimos) não deixam o dinheiro (que é muitíssimo) em casa ou por perto. E de que as sociedades ocidentais muito beneficiam através dos seus bancos (a leitura de que não é bem assim pois só beneficia os bancos, o grande capital e outras tretas bem pensantes é bastante folclórica).
É da natureza da hipocrisia reinante dizer "coisas bonitas" enquanto não nos vêm aos bolsos, especialmente porque esperamos que sejam sempre os outros a pagar as contas (os "ricos", dizem eles, quando não fazem a mínima ideia do que é ser efectivamente rico). Mas isso vamos vendo que pouca gente se dá conta. E pouca gente se dá conta também que as economias e as pessoas "de cá", usufruem (e muito) desses fundos que procuram refúgios seguros, a Suíça ainda hoje tem uma fama que em parte já nem merece.
Claro que depois lá vem a conversa, não menos bem pensante, de que ninguém pediu que esse dinheiro viesse, que é dinheiro sujo, que é uma vergonha, mas isso é depois, quando vem a lume alguma escandaleira, porque até lá ninguém mexeu um dedo para que esse dinheiro nunca tivesse vindo, dava jeito. As grandes tiradas são baratas e bonitas mas podem sair caras e feias, mas um número considerável dos que pensam "bem" mas raciocinam "mal" já não vão estar cá nem deixam descendência. Há gente muito solidária desde que não lhes peçam nada nem venha a sobrar para a família deles.
(*) "Après nous le déluge est une expression imagée voulant dire qu'après sa mort, les choses (matérielles ou métaphysiques) vont tourner mal et que l'on montre peu d'intérêt pour le sort des autres." (da Wikipedia).
2 comentários:
A minha percepção é a de que não pode haver contemplações com o lado de lá.
Tem toda a razão e a observação é muito pertinente.
E o "lado de lá" de que fala não é obviamente só a Rússia, é quase meio mundo, mas esse é um raciocínio mais complexo pois há cada vez mais gente sem descendência (ou borrifando-se para ela, também conheço) que pensa "après nous, le déluge"(*).
O "lado de lá" são todos os regimes do mundo que, de hoje para amanhã, se podem meter ou ver envolvidos em situações de contornos semelhantes e cujos habitantes mais abonados (que são pouquíssimos) não deixam o dinheiro (que é muitíssimo) em casa ou por perto.
E de que as sociedades ocidentais muito beneficiam através dos seus bancos (a leitura de que não é bem assim pois só beneficia os bancos, o grande capital e outras tretas bem pensantes é bastante folclórica).
É da natureza da hipocrisia reinante dizer "coisas bonitas" enquanto não nos vêm aos bolsos, especialmente porque esperamos que sejam sempre os outros a pagar as contas (os "ricos", dizem eles, quando não fazem a mínima ideia do que é ser efectivamente rico).
Mas isso vamos vendo que pouca gente se dá conta.
E pouca gente se dá conta também que as economias e as pessoas "de cá", usufruem (e muito) desses fundos que procuram refúgios seguros, a Suíça ainda hoje tem uma fama que em parte já nem merece.
Claro que depois lá vem a conversa, não menos bem pensante, de que ninguém pediu que esse dinheiro viesse, que é dinheiro sujo, que é uma vergonha, mas isso é depois, quando vem a lume alguma escandaleira, porque até lá ninguém mexeu um dedo para que esse dinheiro nunca tivesse vindo, dava jeito.
As grandes tiradas são baratas e bonitas mas podem sair caras e feias, mas um número considerável dos que pensam "bem" mas raciocinam "mal" já não vão estar cá nem deixam descendência.
Há gente muito solidária desde que não lhes peçam nada nem venha a sobrar para a família deles.
(*) "Après nous le déluge est une expression imagée voulant dire qu'après sa mort, les choses (matérielles ou métaphysiques) vont tourner mal et que l'on montre peu d'intérêt pour le sort des autres." (da Wikipedia).
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