segunda-feira, maio 15, 2023

Fernanda Gabriel


Não me recordo quando conheci a Fernanda Gabriel, uma cara da RTP que os portugueses se habituaram, desde há muito, a ver moderar debates com os nossos eurodeputados. 

A carreira da Fernanda é já muito longa e teve outras dimensões. Lembro-me dela na Lusa, no Diário de Notícias, na RDP e deve-me estar a escapar algo mais.

A Fernanda é uma profissional muito segura, com um forte equilíbrio nas suas prestações, um manejo invejável da tecnicidade das coisas europeias, área onde se especializou. É ainda, felizmente, uma jornalista "à antiga" - quase não usa o "eu", não confunde a informação com o comentário, não procura impingir-nos as suas ideosincrasias. O seu óbvio objetivo é recolher e transmitir-nos, com rigor, o máximo de informação útil, equipando-nos para, com toda a liberdade, podermos fazer as nossas opções e formar uma opinião própria. 

Há horas, disseram-me que o presidente da República, na sua recente passagem por Estrasburgo, base de trabalho da Fernanda Gabriel, lhe atribuiu uma distinção honorífica. Nada mais justo! 

Faço um "disclaimer". Depois de ter conhecido Fernanda Gabriel como jornalista, ela que foi também autarca na capital alsaciana e professora universitária, passei, de há muito, a ser também um bom amigo da Fernanda e do Jack, seu marido, o mais latino de todos britânicos que conheço. Algumas belas noites de conversa passámos nós em Estrasburgo, em Viena, na Jordânia, em Paris e no Estoril! Só ainda não consegui aceitar o convite para a sua casa na "aldeia mais portuguesa de Portugal", Monsanto, a terra da Fernanda. Um dia será!

Um beijo de parabéns à Fernanda e um abraço forte ao Jack.

domingo, maio 14, 2023

Turquia


A sede do partido dominante da vida política turca, o AKP, é o imenso edifício que a imagem mostra. Há precisamente uma década, entrei ali, acompanhado pelo nosso embaixador em Ancara, para ser recebido pelo vice-presidente do partido. Eu já estava reformado, dirigia o Centro Norte-Sul do Conselho da Europa e tinha ido à Turquia, a convite do nosso MNE, então dirigido por Rui Machete, para representar Portugal numa conferência e, de caminho, efetuar uma determinada diligência.

Habituado à modéstia das instalações das sedes dos partidos, na generalidade dos países europeus, fiquei impressionado pelo fausto daquele edifício, pelos seus mármores e generosos espaços, desde logo o imenso gabinete do vice-presidente do AKP, que me recebeu. O AKP era, sabia-se, um Estado dentro do Estado turco e não escondia esse seu papel. De certa forma, aquilo parecia-me bem mais próximo de algumas autocracias da Ásia Central e dos Cáucasos do que de um regime democrático ocidental.

Por todo o lado onde passei naquele prédio, os retratos de Erdogan rivalizavam com os de Kemal Atatürk, o indisputado deus oficioso do país. O culto da personalidade fazia claramente parte da maneira de ser daquele país, então em acelerada transição. Ali estava um Estado, que se reivindicava de uma forte matriz laica, com uma democracia por décadas tutelada pelas forças armadas, verdadeiro "backseat driver" da condução das coisas, que a liderança de Erdogan lograra transformar, passando de um regime parlamentar para um presidencialismo autoritário, nacionalista e arrogante, à imagem do líder, tudo associado a uma crescente deriva islâmica. 

À noite, para a sua residência, o nosso embaixador tinha convidado para jantar, entre outras pessoas, um casal turco, professores universitários que eu conhecera na Grécia, nos idos de 90, e que sempre reencontrara em anteriores visitas a Ancara. Eram da oposição, do centro-esquerda. Ao referir-lhe as minhas impressões da visita à sede do AKP, a reação de um deles foi esta: "Ainda bem que viste com os teus próprios olhos! Aquilo é, muito simplesmente, a cara do regime que por cá temos".

Daqui a horas saberemos mais sobre o futuro da Turquia.

O Estado do Mundo


Moderados por Maria João Costa, Álvaro Domingues, Carlos Magno e eu discreteámos, ao final da tarde de sexta-feira, sobre o "Estado do Mundo". Cada um fê-lo ao seu jeito pessoal, cruzando perspetivas. É bom integrar debates assim: livres, sem stress, sem temor ao politicamente correto, respeitando as ideias dos outros e aprendendo com elas e com eles. 

Foi no LEV - Literatura em Viagem, um festival em Matosinhos onde tive o gosto de participar pela segunda vez.

sábado, maio 13, 2023

Milagres

Há pouco, do Porto para Lisboa. "Achas que dava para almoçar no Tia Alice, em Fátima?". "Tenta telefonar, mas só por milagre, num 13 de Maio". "Como me chamo Francisco..."

sexta-feira, maio 12, 2023

Capicuas


Os miúdos de hoje saberão o que é uma capicua? Se não sabem, vão ao Google, não é? Alguns talvez saibam, mas imagino que muito poucos, nos tempos que correm, acharão a menor graça ao surgimento, num bilhete qualquer, de um número que se pode ler, identicamente, da frente para trás ou vice-versa. Há prazeres inocentes que o tempo fez desaparecer. Isso não é bom nem é mau, apenas revela que vivemos um tempo diferente de outros tempos.

Passando há pouco junto aos outros Prazeres, o largo em frente ao cemitério, olhei o prédio onde viveram uns familiares que já se foram há muito, há mais de meio século. Um casal. Ele era uma figura suave e sorridente; ela era uma mulher "de fibra", nem sempre fácil, palavra às vezes cortante. Completavam-se lindamente, como muitas vezes sucede.

A grande paixão dele (para além de Salazar) era o Benfica. Fazia parte de quantos acompanhavam a equipa pelo mundo, tendo estado presente em momentos idos da glória internacional do clube. A minha condição de sportinguista desgostava-o. Eu era irónico nas conversas mas, sendo ele futebolisticamente "doente" e muito mais velho, optava por não ir muito longe nas minhas provocações, tanto mais que era uma pessoa sempre muito simpática para comigo. Numa visita minha a Lisboa, em fins de 1965, levou-me à Luz ver um "derby" com o Sporting. Para seu azar, o Benfica perdeu 2-4. Recordo a minha forçada contenção, no meio de uma bancada homogeneamente "lampiónica". E, estando perto do relvado, guardei para sempre na memória auditiva o ruído dos remates de Lourenço, autor dos nossos quatro golos.

A razão por que hoje falo desse meu primo é pelo facto de me recordar que ele tinha uma imensa e curiosa coleção de capicuas, em bilhetes de elétrico. Nas suas deslocações diárias, ao longo de décadas, no 28, entre os Prazeres e o seu emprego na rua da Conceição, entretinha-se a coletar esses números de dupla leitura, não sei se por arranjo com o cobrador ou por cumplicidade de "fellow-travellers". Que terá acontecido à coleção? Sem descendentes, alguém terá um dia deitado ao lixo, num instante, o que tantos anos tinha demorado a juntar. A única "vingança" é a certeza do prazer que o primo Augusto teve, por muito tempo, na recolha daqueles bilhetes muito especiais, a maioria, recordo, no valor de sete tostões, que era quanto custava o elétrico de sua casa para o emprego - e vice-versa, como as capicuas.

Mas a que propósito vem hoje esta história das capicuas? perguntar-se-á, com legitimidade, o eventual leitor. É muito simples: ao olhar para este blogue, dei-me conta de que, desde que este espaço foi criado, em 2009, publiquei aqui 11111 posts - onze mil cento e onze textos ou fotografias. Achei graça. É que eu sou do tempo das capicuas. E esta é das boas.

quinta-feira, maio 11, 2023

"A Arte da Guerra"


O discurso de Putin no 9 de Maio, a China e os novos equilíbrios no Médio Oriente e o crescimento da extrema-direita no Chile são os três temas na conversa com o jornalista António Freitas de Sousa, no "A Arte da Guerra", o podcast internacional do "Jornal Económico", que pode ver aqui.

Clube de Lisboa


Há dias, tomaram posse os corpos gerentes do Clube de Lisboa, para um novo biénio. 

Por decisão tomada em Assembleia Geral, tenho o gosto de continuar a presidir ao respetivo Conselho Diretivo. A lista completa dos Corpos Sociais e do Conselho Estratégico pode ser consultada aqui.

O Clube de Lisboa foi criado em 16 de dezembro de 2016, na sequência da realização das duas primeiras Conferências de Lisboa (2014 e 2016), cuja organização, sempre a cada dois anos, passou a ser feita, desde então, pelo Clube, por decisão das entidades organizadoras das Conferências.

O Clube é uma Associação privada sem fins lucrativos, tem o estatuto de ONGD e de utilidade pública. Não tem instalações físicas próprias, reduzindo assim os seus custos de estrutura.

São objetivos estatutários do Clube “projetar Lisboa como lugar de reflexão, de debate e de promoção de iniciativas sobre temas relevantes da agenda internacional..., com particular destaque aos desafios estratégicos colocados ao futuro e ao papel de Lisboa e de Portugal na Europa e no mundo”.

O Clube opera como uma plataforma de reflexão e de debate e, sempre que adequado, em parceria e colaboração com entidades públicas e privadas - universidades, escolas, fundações, autarquias, empresas, organizações da sociedade civil, entre outras.

O Clube não assume posições políticas, embora respeite a liberdade de opinião dos seus membros e dos participantes nas atividades que organiza. Desde a sua origem, o Clube é integrado por pessoas com diferentes orientações ideológicas e com variadas origens profissionais. Não lhe sendo indiferente, a agenda oficial portuguesa, na ordem interna e externa, não determina nem orienta a sua ação, nem faz parte da sua agenda de trabalho. 

As atividades do Clube têm sido financiadas pelas quotização dos seus membros (cerca de uma centena), por candidaturas a financiamentos (Camões, ICL, embaixadas, outros), por contribuições pontuais, em dinheiro ou espécie, de variadas entidades (destacadas nas atividades) e, desde finais de 2022, conta com um subsídio plurianual concedido pela Câmara Municipal de Lisboa e um apoio do Instituto Marquês de Vale Flôr.

Um total de 356 palestrantes, de 53 nacionalidades (nomes e biografias estão disponíveis no website), participaram em cerca de 130 atividades do Clube, designadamente:

• Cinco Conferências de Lisboa, bienais, iniciadas em 2014, com a duração de dois dias, realizadas na Fundação Calouste Gulbenkian, como entidade anfitriã.

• Duas Conferências sobre a Fragilidade dos Estados, bienais, iniciadas em 2019 e coorganizadas com o g7+, com a duração de um dia.

• Três Conferências sobre Desafios Globais, anuais, iniciadas em 2020 – uma sobre o Oceano, outra sobre a Energia e a última, em março de 2023, sobre Segurança.

• 82 Talks/, iniciadas em maio de 2017 - 27 Lisbon Talks (LT), via de regra presenciais, de 90 a 120 m cada e 55 Lisbon Speed Talks (LST), todas online, de 30 a 45 m cada.

• Nove Seminários de Verão “Global Challenges”, anuais, em parceria com o Centro de Estudos Internacionais do Iscte-IUL e o IMVF, com a duração de 20 horas - os primeiros 3 realizados ainda ao tempo do projeto das Conferências de Lisboa.

• Um Projeto, iniciado em novembro de 2022, com a duração de 2 anos, que consiste na elaboração de uma plataforma digital com cursos e ações para o público mais jovem.

• 35 Publicações, correspondentes a 8 livros (papel + ebooks) das conferências – 2 livros adicionais, respeitantes aos últimos eventos, sairão ainda este ano – e a 27 resumos das LT. O acervo encontra-se disponível no site, para leitura, cópia e impressão.

A quem quiser seguir a atividade do Clube de Lusboa, aconselho a consulta do nosso site.

Literatura em Viagem

 


Trump

Seria interessante conhecer-se a opinião dos feridos graves e dos familiares das pessoas mortas no assalto ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, quando confrontados com o qualificativo de "a beautiful day" usado por Trump para descrever a data, na sua entrevista à CNN.

TAP

É extraordinário - melhor, é ordinário - o modo, quase babado de gozo, com que alguns se comprazem, para meros efeitos uso político, com o anúncio de prejuízos da TAP no passado trimestre.

quarta-feira, maio 10, 2023

O outro 10 de maio


"Então tu estragas a memória do 10 de maio, essa data de felicidade, em 1981, da chegada da esquerda ao poder em França, com a evocação da canalha nazi?!" 

O meu amigo, há minutos, ao telefone, estava furioso. E tinha toda a razão. Compensei-o com isto.

Fogueiras


Hoje, 10 de maio, faz precisamente 90 anos que, na Alemanha nazi, se iniciaram as fogueiras onde se queimaram livros "inconvenientes". 

Agora, quando se inicia o caminho da "revisão" da literatura, para "corrigir" passagens também "inconvenientes", lembro-me disto.

Pérolas


De quando em vez, este blogue recebe pérolas como esta.

La Lys



O jornalista Carlos Pereira, diretor do LusoJornal, o mais relevante órgão da comunicação social portuguesa em França, realizou um interessante documentário em torno de uma realidade pouco conhecida e historicamente explorada: o facto de, após terem participado no Corpo Expedicionário Português, em 1917/1918, nomeadamente na batalha de La Lys, um número significativo de soldados, difícil de precisar com rigor, ter permanecido em França, onde se fixou e deixou descendência.

O filme intitula-se "Les Héritiers de la Bataille de La Lys” e, entre outros aspetos, inclui depoimentos de historiadores e de familiares franceses desses militares. Foi apresentado na Sociedade Histórica da Independência de Portugal, no passado dia 9.

Tive o gosto de ser convidado, com o general João Vieira Borges, a fazer a apresentação deste trabalho, abordando alguns dos seus aspetos. 

No passado, enquanto embaixador de Portugal, representei o Estado português nas cerimónias anuais no cemitério militar português de Richebourg, no norte de França, onde estão as sepulturas da grande maioria dos nossos soldados mortos naquela guerra. Fiz igualmente intervenções junto ao monumento existente na localidade de La Couture, em homenagem àqueles militares. 

Este é um tema que me apaixona, desde a infância, quando a minha escola primária era chamada, a cada dia 9 de Abril, a estar presente nas comemorações da batalha de La Lys, junto ao monumento a Carvalho Araújo, em Vila Real. Por lá vi, em vários anos, o celebrado Soldado Milhões, herói dessa batalha. No final dos anos 60, numa deslocação a França, fui expressamente a Richebourg para visitar o nosso cemitério militar.

Pude agora constatar que a evocação da presença militar portuguesa na Grande Guerra, na luta para a libertação da França, tem vindo a ser feita, nos últimos anos, por setores associativos da nossa comunidade naquele país. Este oportuno filme pode contribuir para fazer despertar, ainda mais, o interesse por um tema que historicamente une os dois países.

Sensatez e coragem

Um dia, ainda há-de aparecer um cidadão, sensato e corajoso, chamado a uma comissão parlamentar que, chegadas as cinco e meia da tarde, vai dizer: "Muito boa tarde. O meu dia de trabalho acaba agora, tenho de ir descansar e ir ter com a minha família. Amanhã, estou à vossa disposição, a partir das nove horas". Prendem-no?

Ai coração


Ao ver o "Ai coração!" na Eurovisão, com aquela gente em corridas e aos saltos, numa segura taquicardia, lembrei-me de que ainda não fui à minha consulta anual de rotina do cardiologista.

terça-feira, maio 09, 2023

Rita Lee


Um dia, na Noruega, um amigo brasileiro, o Pedro Avelino, "apresentou-me" a Rita Lee. Era, disse-me, uma antiga rockeira convertida às baladas. A mulher do Pedro, a Mônica, derretia-se com essa música. O som que ele trazia num LP, comprado no Rio, era o do "Lança Perfume". De facto, era diferente. Convenceu-me. Fiquei fã. Depois, em férias em Portugal, consegui o álbum com o "Mania de Você". Mais tarde, fui comprando outras peças da minha avantajada coleção da Rita Lee, da qual consta também o excelente "Baila Comigo". Levei tudo para Angola, em 1982, com dezenas de outros discos (os CDs estavam então a começar) mas, a pouco e pouco, com o aparecimento de outras novidades, fui esquecendo a cantora.

Quando vivia em Brasília, vi anunciado um espetáculo de Rita Lee. Sou pouco dado a shows de música popular com público ululante, com aqueles cromos que enchem os corredores e o espaço junto ao palco, estragando a vista e o sossego de quem comprou o que supunha ser um bom bilhete e quer apenas ver o espetáculo e ouvir a música, sem precisar de aturar, às primeiras estrofes, as palmas dos engraçadinhos que parece querem dizer-nos "ai! esta já conheço". E, quanto a rever artistas do passado, imensos barretes enfiei, por esse mundo fora, em acessos de revivalismo que me levaram a maus e caros espetáculos. Mas, enfim, em Brasília os shows eram raros, tive um descuido e lá fui ver a senhora. Que desilusão! Foi como ver o Eusébio a jogar no União de Tomar. Saí antes do fim!

Rita Lee morreu hoje. Vou ouvir as suas músicas velhas, também para me lembrar de mim quando as ouvi pela primeira vez.

segunda-feira, maio 08, 2023

Eduardo Paz Ferreira


Deve ser bom. Deve ser mesmo muito bom sentir o Anfiteatro 1 da Faculdade de Direito a abarrotar, como esteve ao final da tarde de hoje, para assistir à última aula de Eduardo Paz Ferreira. Meio mundo e mais alguém por ali esteve, para homenagear o Eduardo e ouvir a sua última aula. Ele contou-nos, com a graça e a frontalidade de sempre, a história do jovem que chegou dos Açores em 1970, para estudar Direito, então não suspeitando que ele próprio viria a transformar-se numa figura grada da academia lisboeta. 

A descrição que nos fez do modo como, estudante, ficou impressionado, na primeira vez que entrou na imensa sala onde estávamos, foi magnífica. Entre outras considerações, na hora e meia da sua levíssima conversa, o Eduardo brindou-nos com uma interessante análise, para mim muito pedagógica, sobre a relação do Direito com os temas económicos e o modo como a universidade, em Coimbra como em Lisboa, foi abordando esse tema. Um insigne professor da casa, hoje em comissão de serviço em Belém, também comentou isso em vídeo. Mas o Eduardo também nos falou dos pides, dos gorilas, do capitão Maltez, dando os nomes aos bois sobre quem esteve por detrás desse tempo de repressão académica.

O Eduardo Paz Ferreira é um jovem. Tem 70 anos, data que comemorámos numa bela festa no passado sábado, que a Francisca organizou para 70 dos seus imensos amigos. Num livro que agora publicou, com o  sugestivo título de "Devo fechar a porta?", ele deixa claro que o seu inquieto espírito cívico não vai ficar parado. Desde sempre, lado a lado com as suas atividades docentes, o Eduardo manteve uma incessante produção de debates e publicações. Lembro-me de ter apresentado, pelo menos, dois livros seus e de ter participado em bem mais de uma dezena das suas iniciativas, nomeadamente sobre temas europeus, área em que desenvolveu uma reflexão aprofundada e de imensa utilidade, questionando construtivamente o posicionamento do país nesse domínio. E até o fenómeno Trump nos juntou, com balanços críticos anuais, enquanto durou (esperamos não ter de reunir de novo sobre o assunto!) O Eduardo é um militante da liberdade e da justiça social e nesse domínio, como hoje uma vez mais provou, tem o papa Francisco como grande referente.

Conheci o Eduardo como jovem estudante universitário recém-arribado a Lisboa, creio que logo em 1970, nas tertúlias da Granfina, num grupo de açoreanos que por ali parava (Jaime Gama, Horácio César), junto com alguns algarvios (Nuno Júdice, Madeira Bárbara), beirões (como o António Massano), alentejanos (como o Diogo Pires Aurélio), transmontanos como eu (Belém Lima, António Leite) e muita, mesmo muita outra gente, em mesas que se juntavam à medida de quem chegava e onde pontuava, entre outros, o brilho do Eduardo Prado Coelho. 

Em 1976, o Eduardo apareceu a chefiar o gabinete de José Medeiros Ferreira, como ministro dos Negócios Estrangeiros, e muito nos cruzámos nos claustros das Necessidades, com ele então a queixar-se do meu radicalismo político. Um dia, num corredor da Igreja de Santo António dos Portugueses, em Roma, onde eu não sabia que ele vivia enquanto por lá estudava, caímos nos braços um do outro. Recordo o jantar em que ele nos apresentou a Francisca, que ficaria para a vida nossa amiga. Os nossos encontros à mesa, por cá e lá fora, a quatro ou em divertidos e às vezes musicados aniversários, foram sempre muitos. E vão continuar a ser!

Um forte abraço, Eduardo. Não, não vais fechar a porta! Nem a Francisca te deixaria! E ainda bem! Nunca te perdoaríamos! 

domingo, maio 07, 2023

Promessa


Juro que quando, um dia, aparecer por aí um político que faça desaparecer isto das paredes de todas as cidades portuguesas eu voto nele. E se esse político conseguir tirar do espaço público toda a propaganda partidária, exceto, em locais limitados, nos períodos eleitorais, então inscrevo-me no seu partido. 

sábado, maio 06, 2023

Um rapaz da minha idade


"É mais novo do que tu dez meses", dizia-me muitas vezes a minha mãe, quando notava que eu e o filho da rainha Isabel de Inglaterra tínhamos nascido no mesmo ano. Ao longo da vida, fui sempre olhando para o príncipe como um "rapaz" do meu tempo.

Com total franqueza, a figura do príncipe Carlos nunca me despertou grande simpatia. Achava-o "stiff", de sorriso plástico, hiper-snobe, com umas tiradas públicas algo pretensiosas e pouco inspiradas, mesmo quando se aventurou por algumas áreas temáticas, em que parecia querer ser original. Ao saber-se que falava com as árvores, deu, a muitos, a ideia de ser um tonto, como às vezes acontece com os rebentos reais. Mas não era assim. Revelou-se uma pessoa com alguma cultura e com louváveis preocupações sociais. Para mim, sempre pensei: que vida chata deve ser a deste tipo, cheio de obrigações e tão condicionado na parte lúdica da sua existência.

Um dia, Carlos apareceu casado com Diana. Desde o início, nunca me pareceram rimar bem um com o outro, mas achei que a pressão das conveniências acabaria por forçar um "modus vivendi". Depois, com imensa surpresa pública, surgiu o "affaire" com Camilla. Afinal o tipo é menos cinzento do que se julgava, lembro-me de ter pensado para mim mesmo. O resto é conhecido.

E lá chegou a rei. Fez bem a transição e mostrou ter "know how" para o desempenho formal da função. Teve, até ver, o bom senso de se resguardar de espalhar comentários que possam afetar a neutralidade de juízos que se espera de um rei britânico. Teve tempo para maturar o "script" que lhe está destinado e parece debitá-lo com profissionalismo - e, nisso, sendo o "benchmark" da mãe inatingível, tem ali uma referência única. 

Há 70 anos, no Teatro-Circo de Vila Real, vi um filme sobre a coroação de Isabel II, creio que alguns meses depois do evento. A cor era fraca e, talvez por ser um miúdo, e pequeno na estatura, fixei para sempre um pormenor: o uso, por algumas pessoas que estavam nos passeios, de uma caixa estreita e paralelipipédica, de cartão, com um espelho inclinado na base e outro idêntico no topo, que permitia, a que estava colocado por detrás, ver "do alto" o espetáculo da passagem da carruagem real. Só me lembro disto! Foi o que mais me impressionou, imaginem!

Amanhã, não vou poder ver em direto a coroação. Tenho mais que fazer, mas, à noite, vou puxar atrás na box, para apreciar um "digest", poupando-me, contudo, aos comentários dos "royal watchers". Afinal, não é todos os dias que chega a rei "um rapaz da minha idade". A quem, sinceramente, desejo sorte.

Lembrar ou informar

 


"A Arte da Guerra"


Nesta semana, "A Arte da Guerra", o podcast internacional do "Jornal Económico", uma conversa com o jornalista António Freitas de Sousa, aborda a guerra na Ucrânia e os sinais de mediação para a paz, o papel da nova liderança das Filipinas na geopolítica dos EUA na Ásia-Pacífico e as atribulações de Macron, na decorrência do violento 1° de maio em França.

Pode ver aqui.

sexta-feira, maio 05, 2023

Hemisférios

Por amostra em menos de 24 horas, junto de amigos do "hemisfério" político do qual o presidente da República referiu ser originário, Marcelo Rebelo de Sousa recuperou bastantes pontos nesse setor. Nos tempos passados, era eu quem o defendia das ferozes críticas desse meio...

O truque

Um grande truque dos críticos do comportamento do primeiro-ministro nesta crise foi fingirem que achavam que o conceito de "deplorável" tinha sido por ele utilizado para se referir ao comportamento do ministro quando, como é óbvio, isso se aplicava ao comportamento do assessor.

Dúvida

Há uma dúvida que sempre tive: quando as oposições (sejam elas quais forem) clamam que o governo (seja ele qual for) deve ser remodelado, isso significa que, se acaso o primeiro-ministro (seja ele qual for) aceder a fazer essa pedida remodelação, as oposições passam a apoiar esse governo?

Marx


Faria hoje anos o velho barbudo de Trier. Às vezes, olhando os ciclistas da Uber, tenho-me perguntado sobre o que escreveria ele, num artigo na Gazeta Renana, a propósito deste novo proletariado. E sobre os trabalhadores dos "call center". E, claro, sobre a guerra na Ucrânia.

Posso dizer bem?


Dizer mal, neste país cada vez mais mal-disposto, é a regra do jogo. Dizer bem de alguém ou de qualquer coisa é, nos dias que correm, uma coisa quase suspeita. Pois eu, ontem, tive boas razões para elogiar um serviço. E quero que se saiba.

Sou sócio do Automóvel Clube de Portugal (ACP) desde, creio, 1977. Ao longo destes já muitos anos, a minha experiência com esta instituição foi, sempre e sem exceção, excelente. Bastantes anos houve em que, felizmente, não necessitei dos seus serviços. Mas, sempre que a eles fui forçado a recorrer, tudo correu invariavelmente muito bem.

Ontem à noite, à porta da Gulbenkian, o meu carro pifou. (Já estou a adivinhar o sorriso de alguns amigos, que se fartam de me dizer que teimar em conduzir um carro com mais de 17 anos e mais de 250 mil quilómetros é a receita óbvia para ter problemas). Chamei o serviço de assistência ACP. Chegou num tempo perfeitamente razoável. O técnico era educado, conhecedor e rapidamente detetou o problema. Era simples: bateria. Sabiam que os carros da ACP vêm equipados com um carregamento de baterias que se podem adquirir no local? Com rapidez e eficácia, o assunto ficou resolvido. Não paguei rigorosamente nada pelo serviço, da mesma maneira que, há uns meses, igualmente nada paguei por um reboque que tive de pedir, em outra circunstância, em que também fiquei apeado. (Também neste caso, o pobre do meu carro estava inocente, na sua vetustez: era um pneu rasgado).

Repito assim, com imenso gosto, esta singela publicidade: inscrevam-se como sócios do ACP!

quinta-feira, maio 04, 2023

O deve e o haver

Uma coisa devo começar por creditar, com toda a justiça, a Marcelo Rebelo de Sousa, ao longo destes mais de sete anos: um responsável apego à estabilidade e a uma certa conceção do interesse do Estado. Foi isso que, aquando da sua reeleição, me levou a votar nele.

Uma coisa de há muito coloco a seu débito: uma exagerada propensão para, em cada momento, pretender representar, a partir de Belém, o que julga ler como o sentimento, médio ou maioritário, dos portugueses, atitude que configura uma espécie de "populismo do bem".

O presidente da República não é um barómetro ecoador da "vox populi". É alguém que, tendo de ter isso sempre em devida conta, tem a obrigação política de ajudar a orientar os portugueses a entenderem que a política é a arte do possível, através da intermediação que o lugar que ocupa lhe permite fazer, junto do governo e das forças políticas. A sua autoridade vem daí, não do facto de ser um mero refletor das sondagens. Como alguém dizia, as sondagens não vêm na Constituição e não têm uma dignidade formal na vida da República.

Pode entender-se o sentimento de desagrado do presidente perante o facto do primeiro-ministro não ter acolhido a sua sugestão sobre o futuro de um ministro. Até se pode perceber-se que, dessa forma, tivesse a intenção de proteger historicamente a instituição Presidência, na balança institucional de poderes. Mas parece algo inconforme com o sentido de Estado a que nos tinha habituado ter-se "vingado", da forma que o fez, tentando arrasar a credibilidade pública do governante, que vai ser o executante de políticas que ele sabe serem essenciais no quadro da ação imediata do Estado, adubando deliberadamente o ambiente negativo da comissão parlamentar de inquérito.

Cacha

Que pode o "Expresso" trazer de novo, oriundo da anónima "Deep Throat" de Belém (cuja identidade é um segredo quase tão bem guardado como a autoria do ataque ao Nordstream 2), que vá para além daquilo que o presidente nos disser às 20 horas (com "preview" a Costa às 18:30)?

Guerras

Constata-se que, em Portugal, são aceites como fonte de indisputada credibilidade os comunicados do "Institute for the Study of War", entidade americana, subsidiada por empresas de armamento, que regularmente mistura verdades e meias-verdades com clara e enviesada desinformação.

Que fazer?


Marcelo fala ao país às 20:00. Às 20:00 começa, impreterivelmente, o concerto na Fundação Gulbenkian. Como diria Lenine, que fazer?

Na Haia


Leio que o presidente da Ucrânia faz hoje uma visita à Haia, à sede do Tribunal Penal Internacional. E, a propósito, lembrei-me de uma cena passada há quase 20 anos, em Sarajevo, a martirizada capital da Bósnia-Herzegovina, num jantar social a que estava presente, como convidado, um membro do governo daquele país.

O equilíbrio político na Bósnia-Herzegovina, um país resultante da fragmentação da antiga Jugoslávia, é muito difícil, dado que do executivo fazem obrigatoriamente parte representantes de três diferentes etnias, com um complexo historial de conflito entre si: bósnios, croatas e sérvios. 

O jantar, num agradável espaço ao ar livre, tinha um caráter relativamente informal. Como não podia deixar de ser, a conversa cedo derivou para a política.

A certa altura, veio-me à memória que numa das minhas visitas a Sarajevo, nos anos 90, tinha conhecido Jadranko Prlic, um membro do governo da Bósnia-Herzegovina, pertencente à minoria croata. Era um homem agradável e cordial, com quem eu havia criado uma relação de simpatia, reforçada por contactos posteriores na Grécia, onde ambos tínhamos estado a convite pessoal de Georgios Papandreou, de quem éramos amigos comuns. Perguntei por esse antigo ministro da Bósnia-Herzegovina.

Notei que o nosso convidado, muçulmano, ficou um pouco embaraçado, mas respondeu:

- Está na Haia.

Uma pessoa presente ao jantar, menos dada a interpretar, com a rapidez da nossa profissão, este tipo de informações, perguntou:

- Como embaixador?

Não sei se fui eu que me adiantei ou se foi o ministro que esclareceu que "estar na Haia" significava estar detido sob ordem do Tribunal Penal Internacional, neste caso para a ex-Jugoslávia, que julga os crimes de guerra e que tem sede na capital dos Países Baixos.

Mudámos logo de conversa...

Vim mais tarde a saber que Jadranko Prlic acabou por ser condenado 25 anos de prisão.

Democracia

Há dias, recebi um convite para intervir num debate numa estrutura do PSD. No ano passado, fui falar à universidade de verão do Bloco de Esquerda. Não há muito tempo, fui convidado a palestrar numa instituição do CDS. 

Não sendo nenhum segredo o que politicamente penso e sendo bem patente, nomeadamente por este espaço, o modo como, de quando em quando, me não privo de zurzir as entidades partidárias que me convidaram, acho que só me posso regozijar pelo facto da tolerância democrática ser hoje uma magnífica realidade no nosso país, de que todos devemos estar orgulhosos.

Um pedido

Agora que Eça de Queiroz vai ser trasladado para o Panteão, será pedir demais que não se escreva que vai ser "transladado"? E, já agora, que todos os dignitários que por lá estão deixem de ser designados por "dignatários". Muito obrigado.

Protocolo

Se se confirmar que Jair Bolsonaro não vai poder viajar para Portugal, por ter o passaporte apreendido, Marcelo Rebelo de Sousa vai ficar feliz. É que muito dificilmente poderia recusar-se a recebê-lo em Belém, como antigo presidente brasileiro, se Bolsonaro o solicitasse.

quarta-feira, maio 03, 2023

Dilema

O dilema do presidente da República parece ser este: lançar ou não uma crise de instabilidade, com consequências imprevisíveis, através de uma eventual convocação de eleições, como resposta ao que parece considerar como um desafio aos seus poderes. Alguém que deu provas de prezar muito a estabilidade, mas que se sabe pretender estar sempre de bem com o "ar do tempo" que, a cada momento, prevalece na opinião pública, deve estar a hesitar bastante sobre o que fazer. Uma "birra" em torno da manutenção de um simples ministro valerá o risco de lançar uma faúlha na pradaria? Ou o que aconteceu configura, para ele, uma provocação que pode vir a afetar duradouramente o atual equilíbrio de poderes, criando uma "jurisprudência" desfavorável, no futuro, à própria instituição Presidência? Porque Marcelo Rebelo de Sousa é um imenso solitário nas suas decisões, dado que entende que tem um capital acumulado de experiência política superior a quem quer que seja (mesmo a António Costa), a sua decisão será sempre íntima. Seja ela qual for.

Na mouche!

Basta contabilizar o desagrado provocado pela decisão de António Costa na opinião televisiva, nos detratores tradicionais do governo, para se constatar quão certeira ela foi. Na mouche!

Feriado

Hoje é quase feriado para os comentadores da guerra.

Fogo à peça!

"E agora, rapazes, agarremo-nos à comissão parlamentar da TAP! E ao tal assessor, que é preciso transformar numa arma de arremesso, para evitar que o Costa possa continuar a cantar de galo. E continua a não se arranjar nada contra o Medina? Fogo à peça!"

terça-feira, maio 02, 2023

PSD

"O executivo mantém-se à deriva, sem liderança efetiva, com inegável falta de autoridade", diz um comunicado, de há pouco, do PSD. Não há quem perceba, no principal partido da oposição, que escrever isto, nestes termos, nesta noite, é uma incongruência face à perceção coletiva?

Conselho


Será que António Costa leu este livro de Balladur?

Eleições?

António Costa quer provocar eleições? Quem tem uma maioria absoluta quer eleições? Quando nenhuma sondagem - nem de longe! - aponta para a renovação dessa maioria, antes pelo contrário, passa pela cabeça de alguém (sensato) que Costa quer uma dissolução?

Isto!

António Costa demonstrou hoje a razão pela qual é, a longa distância, o político com mais estofo para desempenhar funções de natureza executiva em Portugal. Seria tão fácil ter cedido ao "ar do tempo"! Ao não fazê-lo, conforta quem o apoia. Como é o meu caso.

Dá tanto gozo!

É muito interessante ouvir o que dizem alguns comentadores sobre o governo: não estão contentes e pré-anunciam que tudo o que Costa vier a fazer não satisfará os seus desejos. Assumem as suas opiniões como sendo a "vontade do país". Dá tanto gozo ver a realidade a contrariá-los!

(Escrevi e publiquei isto mais de duas horas antes de António Costa recusar a demissão de João Galamba)

A TAP a voar

Os potenciais compradores da TAP devem estar a esfregar as mãos de contentes com o facto da Comissão de Inquérito já há muito ter deixado de ser sobre a indemnização a Alexandra Reis (lembram-se?) e ter passado a ser uma espécie de bar aberto para o "voyeurisme" público sobre tudo o que, de perto ou de longe, se ligue à companhia. Cada incidente que ali cai é mais um desconto na fatura final do encaixe de capital.

Guerras e guerrinhas

Nas nossas televisões, dando picos de audiência, a guerra é um tema incontornável. Há uma apetência provada do público pelos pormenores, pelos eventos do dia, pelos avanços e recuos, pelas vítimas. Seja em Bakhmut ou Kherson, seja em São Bento ou Belém. Guerra é guerra.

Ditos e não ditos

António Costa, em geral, não diz mais do que aquilo que quer dizer. Há pouco, à saída do aeroporto, disse o suficiente para se ficar a perceber que, se acha que parte do comportamento do ministro é bastante defensável, outra, mais adjetiva mas nem por isso menos relevante, não o é. Daí...

segunda-feira, maio 01, 2023

No Dia do Trabalhador


Este blogue começou no dia 2 de fevereiro de 2005. Aqui ficam as estatísticas, há pouco constatadas, sobre os números de seguidores, de posts publicados, de comentários e, o que será o mais significativo, de visitantes. 

"Ó Belinha! Anda cá!"


(...) "Fico muito grato pela sua confiança, mas, deve compreender, tenho ainda de falar com a minha mulher". "Claro. Mas pedia-lhe uma resposta muito rápida, pode ser?". "Com certeza!". "Ah! Mais uma questão: dê uma revisão cuidadosa   ao seu passado. Não pode haver nenhuns telhados de vidro". "Por aí, pode estar descansado". Vai ser assim.

O meu primeiro 1° de Maio


Vivi o meu primeiro “Primeiro de maio” na segunda metade dos anos 60. Em sítios esconsos da faculdade apareceram colados uns papéis acastanhados com a expressão “Todos ao Rossio no 1º de maio”, ou uma coisa assim. Creio que também havia a indicação de uma determinada hora. 

Com alguns amigos, muito por curiosidade, lá fui. Era um ambiente tenso, cheio de gente que se movia sem destino, olhando uns para os outros, alguns trocando sorrisos cúmplices. Vi-me a tentar perceber quem seriam os “pides” e os PSP à paisana, que sabíamos abundarem. 

Passaram uns bons minutos sobre a hora anunciada. De súbito, num dos cantos da praça, junto à estação, a caminho dos Restauradores, surgiu um burburinho qualquer, berros e gente a correr. Nos segundos seguintes, detrás no Teatro Nacional, saiu a polícia de choque, parte dela atrás da turbamulta que se agitara, a restante a “limpar” o largo de S. Domingos, em cuja esquina eu estava no momento. Do lado da “Casa da Sorte” criara-se uma outra onda de agitação, que caminhava na minha direção. 

A Ginjinha foi o meu local de refúgio. “Meu”? Devíamos ser aí uns vinte, alguns encavalitados sobre o mármore húmido do balcão, sem coragem de pedir “uma com elas”, porque agora é que iam ser “elas”! 

Por detrás do balcão, os da casa não ousavam exigir consumo mínimo, tentando olhar o largo por cima de nós… Por maior naturalidade que tentássemos dar ao nosso ar, estar ali era uma coisa estranha. De repente, sair da Ginjinha tornou-se imperativo. 

Num instante, vi-me separado dos meus amigos, empurrado a caminho da praça da Figueira. Tentei não correr. Não cheguei à praça. Um bando de PSP de bastão, plantado na estratégica esquina traseira da Suíça, não estimulava continuar por esse caminho. Pensei entrar no “Braz & Braz”, mas as portas tinham-se fechado. Voltar para trás era impensável, entrar na ruela à esquerda, a caminho do Hotel Mundial, era arriscado. Por alguma razão essa artéria estava deserta. 

Olhei à volta. O largo de S. Domingos estava pejado de uma boa dezena de polícias. Que podia fazer? Vi uma porta aberta, entrei num prédio e comecei a subir a escada, embora com a angustiante sensação de que estava a ficar cada vez mais encurralado. Ainda me perguntei: “Mas que tenho eu a temer? Não faço parte de nenhum grupo político, não tenho comigo mais do que uma pasta com sebentas”. Mas logo me dei conta de que a racionalidade da situação era de difícil perceção por parte de um cívico de bastão de borracha preto com que viesse a cruzar-me. 

No primeiro andar, ao cimo da escada, abriu-se uma porta. Tive um baque. Era um homem dos seus cinquenta anos (provavelmente era mais novo, mas para mim tinha já alguma idade), com ar de escriturário ou coisa parecida. Ao olhar a ansiedade da minha cara, deve ter percebido tudo. “Venha para aqui. Deixe passar algum tempo. Isto depois acalma”, disse, sem um sorriso, com um olhar neutro. Entrei, grato. 

Era um escritório, creio que de um despachante, mas já não estou seguro. Ainda devo ter balbuciado algumas palavras, mas rapidamente me dei conta de que o ambiente não estava para grandes conversas. Alguns iam, de quando em vez, por um corredor longo, até à janela num compartimento que dava para o Rossio. Achei que o meu estatuto de “asilado” não me dava o direito a partilhar esse “voyeurisme”, pelo que me mantive sentado na cadeira que me tinham oferecido (nos dias de hoje, estaria a consultar o iPhone, pela certa). 

Não sei quanto tempo passou, pareceu-me muito, mas deve ter sido pouco mais de um quarto de hora. O meu hospedeiro, que manifestamente tinha um ascendente na sala, a qual, aliás, dava ares de estar prestes a encerrar, disse-me, a certa altura: “Acho que já pode ir. As coisas acalmaram”. Agradeci e vi os outros ocupantes do escritório olharem para mim, com o que me pareceu ser uma completa indiferença. Ou seria outra coisa, não sei. Não houve sequer um sorriso, embora eu quisesse crer que era uma silenciosa cumplicidade. Porventura triste e resignada. 

A rua, de facto, estava livre. Já só se viam uns PSP em farda normal, de cor cinza. Cheguei ao Martim Moniz onde apanhei o elétrico até ao Chile e, depois, o “dez” para os Olivais. Terei contado a “aventura” em casa? Não sei. Tinha vindo para Lisboa para estudar, não para estas guerras.

(Hoje, apeteceu-me publicar aqui um texto que, há dois anos, editei em "A Mensagem de Lisboa")

O cheiro


Parece que a Ovibeja anda na moda. Ao que li, este ano, o governo não foi convidado para lá ir. A CAP, que parece que não gosta da ministra da Agricultura, terá deixado entender que a senhora não seria bem vinda. No entanto, como a CAP acha que aposta no futuro, entendeu por bem convidar o líder da oposição. Não, não convidou André Ventura, optou pelo "next best", por Luís Montenegro. Ah! E o presidente da República também lá esteve.

Sou pouco dado a cenas rurais, mas, imaginem!, até eu já fui à Ovibeja. É verdade. Há um quarto de século. Tinha estado numa visita oficial à Polónia, a acompanhar António Guterres, e, no regresso, ele disse-me: "Não vamos diretos para o  aeroporto de Figo Maduro. Antes, você vai ter que ir comigo à Ovibeja". 

E o Falcon, em que vínhamos de Varsóvia, lá foi aterrar ao famoso aeroporto de Beja. (A vida é estranha em coincidências: há quatro dias, também num voo que não era de carreira comercial, também vim de Varsóvia, mas para o aeroporto de Tires). Passei assim a fazer parte da restrita lista de pessoas que alguma vez na vida aterrou no aeroporto de Beja. Não guardei o diploma.

À chegada a Beja, esperava-nos o então ministro da Agricultura, Fernando Gomes da Silva. A CAP gostava tanto de Gomes da Silva como gosta da atual ministra. Isto é, muito pouco. E lá fomos os três para a Ovibeja. Aquela visita ficou-me na memória olfativa e auditiva. 

Olfativa porque uma feira de gado é um inigualável deslumbre para as pupilas. Entre bois, vacas, cabras, cavalos e porcos, pelo menos, venha o diabo e escolha o cheiro. Mas aquela foi também uma feira auditiva, porque, para além dos óbvios grunhidos que compõem o som ambiente, teve lugar, a certo passo, uma pequena cerimónia onde António Guterres e o então líder da CAP tomaram a palavra. Nesse momento formal, num palanque, fiquei colocado entre o agricultor-mor de serviço e o Fernando Gomes da Silva. 

Enquanto o homem da CAP se queixava ao primeiro-ministro, com palavras fortes, da ação do Ministério da Agricultura, Gomes da Silva (lembras-te, Fernando?) emitia, ao meu ouvido, sonoras imprecações, reagindo às críticas, às quais, contudo, não ia poder responder. Como a sua voz está muito longe de ser inaudível, fiquei com a nítida sensação de que o líder da lavoura devia estar a tomar nota daqueles pesados comentários. Eu, colocado no meio geográfico do potencial dissídio físico, cheguei a temer o pior.

Já bem ao final da noite, quando, finalmente, conseguimos chegar a Lisboa, e ainda antes de ir para casa, decidi ir beber um copo ao Procópio. Sentei-me na "Dois" e o Nuno (Brederode dos Santos) logo reagiu: "Estás a cheirar a qualquer coisa esquisita!". Expliquei que tinha estado numa feira de pecuária e que devia ser um odor a gado. Ele simplificou: "A mim cheira-me a merda, desculpa lá!"

25 anos depois, o Nuno continua a ter razão. A mim também me cheira.

domingo, abril 30, 2023

Desporto é isto!

A grandeza de um clube vê-se quando consente um golo na sua própria baliza. Para atenuar a derrota do adversário, para evitar a humilhação do outro. Dias há em que o meu Sporting admite mesmo a derrota, por um extremo de bondade, para satisfazer quem o calendário lhe opôs. Quem não perceber isto é dispensado de comentar.

"A Arte da Guerra"


Esta semana, no "A Arte da Guerra", o podcast de temas internacionais do "Jornal Económico", converso com o jornalista António Freitas de Sousa sobre as queixas de Sergei Lavrov sobre António Guterres, o curioso empenhamento da Arábia Saudita na reentrada da Síria na Liga Árabe e as dificuldades no governo britânico, pela ocorrência de mais uma demissão ministerial.

Poder e ouvir aqui: https://youtu.be/tdykRB3l0xQ

sábado, abril 29, 2023

Ex-jornalistas

Há jornalistas que, num passado não muito distante, parecia exalarem objetividade e rigor, olhavam com equanimidade para as várias posições e, como ficava então bem evidente, esforçavam-se por não tomar posição por qualquer dos lados. Hoje, é o que se vê. 

Batista-Bastos chamava-lhes "pessoas injustamente acusadas de serem jornalistas".

Círculo Jorge Coelho


Um dia, há já uns bons anos, Jorge Coelho propôs a um grupo de uma dezena de pessoas a criação de uma tertúlia, composta por gente de origens e formações diversas, que tinham, como mais relevante ponto comum, o facto de serem suas amigas. 

Sem a menor agenda de ação, trocaríamos impressões regulares sobre o país, os seus problemas e os caminhos do futuro. Consistiria num jantar, organizado de quando em vez, quase sempre com um convidado, muitas vezes uma figura pública, seguido de debate, posterior à intervenção. 

Fizemos um bom número desses encontros, que sempre tiveram lugar no Hotel Vila Galé Ópera, sob o acolhimento do Jorge Rebelo de Almeida. Acho que todos saímos mais ricos desses debates.

Um dia, fez há pouco dois anos, o Jorge Coelho morreu. Exatamente com os mesmos companheiros da "Tertúlia Ópera", e com o mesmo espírito, foi entretanto criado o "Círculo Jorge Coelho", grupo que, tal como a canção de Moustaki, também podia ter-se chamado "Les Amis de Georges".

Na próxima semana, o grupo volta a reunir. Por aquela mesa perpassará, como sempre, a boa memória do Jorge, embora por ali já não possamos contar com a sua graça, o seu sorriso, as suas histórias e, em especial, a sua amizade.

Ucrânia


Ontem, na CNN Portugal, em conversa com Júlio Magalhães, falei sobre o futuro do conflito na Ucrânia e as eventuais saídas para a guerra. 

Pode ver, clicando aqui: https://cnnportugal.iol.pt/videos/nem-sempre-um-compromisso-final-se-faz-a-luz-da-justica-a-contraofensiva-de-kiev-e-a-certeza-historica-e-muito-dificil-derrotar-a-russia/644c41c10cf2c84d7fd393a0

E se falássemos da Europa?


Margarida Marques, antiga secretária de Estado dos Assuntos Europeus e atual deputada ao Parlamento Europeu, é uma pessoa que leva muito a sério aquilo em que se empenha. Desde 2021, decidiu lançar um podcast semanal de conversas, intitulado "E se falássemos da Europa?", envolvendo figuras muito diversas, das mais variadas áreas e origens. Ontem, competou o extraordinário número 100 dessas gravações em vídeo. 

Tive o privilégio de ser o primeiro convidado dessa série de programas, como recordámos na festa que ontem organizou na delegação do Parlamento Europeu, em Lisboa. 

Por lá encontrei gente que já não via há muito, de que é exemplo o meu velho amigo José Rebelo, histórico correspondente em Lisboa do "Le Monde", na imagem com Margarida Marques.

Para ver os vídeos do "E se falássemos da Europa?", basta clicar aqui: https://www.youtube.com/@esefalassemosdaeuropa887

sexta-feira, abril 28, 2023

O Roque Laia


Ontem, no Porto, durante a Assembleia Geral de uma empresa, e perante uma questão suscitada por uma interpelação de um acionista à mesa, pensei para comigo: "Faz falta agora o Roque Laia". Se eu repetisse isso a qualquer das colegas da administração que me ladeavam, estou certo que não entenderiam. Ser mais velho é isto mesmo.

O "Guia das Assembleias Gerais", de Mariano Roque Laia, com uma 1ª edição em 1957, foi, por muitos e bons anos, em Portugal, a "bíblia" das Assembleias Gerais. Era uma utilíssima codificação de regras e procedimentos, sem força jurídica vinculativa mas com um peso "moral" que quase ninguém ousava contestar. Usar "o Roque Laia" com mestria era meio caminho andado para gerir bem uma Assembleia.

Há 53 anos, eu era presidente da Assembleia Geral da Associação de Estudantes do ISCSP, então com um U de "Ultramarina" no final. Depois da surpresa de uma derrota nas eleições do ano anterior (julgávamos serem favas contadas e a lista adversária apanhou-nos desprevenidos), tínhamos, entretanto, recuperado a Associação, nas eleições desse ano.

A primeira reunião da Assembleia Geral a que presidi veio a ser muito complicada, com uma imensidão de intervenções adversas e um ambiente bastante tenso. Até "pides", que ali eram estudantes, em horário pós-repressivo, apareceram, para ajudar a alguma confusão. A sala estava cheia de colegas mais velhos, quadros do Ministério do Ultramar, que se haviam conjugado para dificultarem a vida aos "esquerdistas" que tinha retomado a Associação. Displicentes, os nossos apoiantes tinham desmobilizado e eram em número insuficiente.

Eu tinha estudado muito bem "o Roque Laia", coisa que poucos faziam. Por isso, tinha na ponta da língua todo o arsenal de procedimentos e figuras, passíveis de ser usadas, nos momentos de impasse na assembleia. Perante as obstruções, lá fui driblando as dificuldades, sempre dentro das sagradas "regras do Roque Laia".

Tudo aquilo era feito sob o olhar atento do professor Martim de Albuquerque, que a direção da escola tinha destacado para acompanhar e fiscalizar a assembleia. Era assim mesmo a prática desse tempo: as reuniões de estudantes eram frequentemente vigiadas pelo corpo docente.

No final da sessão, com ar pesado, Albuquerque veio ter comigo e disse-me: "Você foi muito hábil na condução da reunião. Parabéns. Mas não apreciei a orientação que imprimiu aos trabalhos e vou ter de informar o diretor da escola". Não sei se lhe disse "olhe que não! olhe que não!", mas deve ter sido uma coisa parecida.

Meses depois, um desaguisado em público com o diretor da escola valeu-me um processo disciplinar e a posterior suspensão, por seis meses. No sufrágio do ano seguinte, a minha reeleição para o cargo de presidente da Assembleia Geral veio a ser rejeitada pelo Ministério da Educação. Não pude tomar posse. Coisas da vida desse tempo.

Miguel Sousa Tavares...

 


... no "Expresso" de hoje.

quinta-feira, abril 27, 2023

Álvaro Mendonça e Moura


Confesso ter ficado surpreendido pela notícia de que o meu colega Álvaro Mendonça e Moura, embaixador que, até há pouco, desempenhou as funções de secretário-geral do MNE, vai assumir, dentro em breve, o cargo de presidente da CAP - Confederação dos Agricultores de Portugal. 

Sabia-lhe algum empenhamento recente na agricultura, mas desconhecia que ele chegasse a uma imersão profunda no associativismo da nossa lavoura, para utilizar uma expressão bonita e clássica.

Contudo, considero muito importante, num tempo em que as questões agrícolas re-assumem relevância na nossa economia, que quem institucionalmente a passa a representar possa ser alguém com o conhecimento de um antigo representante diplomático português na União Europeia.

Álvaro Mendonça e Moura e eu entrámos no mesmo dia nas Necessidades, vai para 48 anos, e ficámos bons amigos desde então. Só o futebol nos divide! O Álvaro teve uma carreira distintíssima, um percurso em tudo conforme às suas qualidades profissionais, dado que foi um dos mais talentosos diplomatas da sua geração. 

Desejo-lhe as maiores felicidades nesta sua nova fase de vida.

Vida


Começar uma reunião de trabalho com estes dois pratos em frente, como me aconteceu na terça-feira, remete-me para as clássicas tentações de Haddock.


O truque

Há um truque clássico na imprensa, na utilização de imagens, documentos ou escutas indevidas ou mesmo ilegais. É dizer: "É verdade que são privados mas, a partir do momento em que se tornam públicos, seja lá de que maneira for, é impossível evitar comentar o seu conteúdo, não é?"

É isto!

É muito revelador que alguns, em lugar de se solidarizarem com as autoridades do Estado perante o espetáculo, democraticamente degradante, de partidos políticos terem destratado um convidado estrangeiro, logo "mudem de conversa" para criticar os comportamentos dessas autoridades.

quarta-feira, abril 26, 2023

Crimes, digo eu

Recebo "alertas' do Correio da Manhã. (Devo ter posto um "vezinho" algures). Não imaginam o que se aprende! Aparecem por aí cadáveres todos os dias! Ao lado de Portugal, a aldeia do Padre Brown, na Fox Crime, para mim um "benchmark" no género, é um jardim infantil do crime.

Mitos

A ideia de que a extrema-direita cresce por ação dos socialistas é uma mera desculpa de uma direita que, como se tem visto, não consegue afirmar lideranças e promover políticas, alternativas e democráticas, que sejam eleitoralmente atrativas para o eleitorado não-socialista.

Cravos ao alto!


Afinal, a vendedora de flores, com nome e cara, que deu cravos aos soldados que andavam pela Baixa lisboeta, acendendo G3s de vermelho, o que veio a fazer a felicidade gráfica da imprensa internacional, era um belo mito urbano. 

No Porto, na "Praça", também surgiram cravos nas armas dos "prontos" ensonados, que ali andavam sem nada para fazer. Ao fundo da imagem, no Passeio das Cardosas, lá está ainda o Banco de Angola, para o qual esse dia acabaria por ser o primeiro do resto da sua encurtada vida. 

O que pode suscitar uma fotografia do 25 de Abril no Porto!

terça-feira, abril 25, 2023

Lapelas

Os líderes do Chega e da IL não colocaram um cravo ao peito, na cerimónia do 25 de Abril. Há coincidências que só são surpresas para quem anda distraído. Apenas comemora a data quem se sente  próximo dos valores de Abril. Assim, fica tudo muito mais claro. Parabéns, Joaquim Miranda Sarmento.

Circo

As palhaçadas de Ventura e dos seus arruaceiros pode criar a falsa ideia de que tudo aquilo é uma mera comédia. É, mas não só. Há um país mal-disposto e desiludido que, se não tiver respostas credíveis para os seus reais problemas, pode acabar por ir por ali. Foi assim que nasceu o fascismo, lembrem-se.

... e chega!

O Chega, na liberdade que a democracia lhe concede, tem todo o direito de atuar fora do sistema. Não havendo, ao que parece, razões constitucionais para ilegalizar o partido, nada impede que o sistema, de que o Chega ostensivamente se considera fora, o marginalize por todos os meios legais.

Basta

O Presidente da República deveria tirar as necessárias consequências dos acontecimentos que hoje ocorreram no modo como, no futuro, virá a relacionar-se com o Chega. As forças políticas cujo comportamento põe em causa os interesses externos do Estado não podem ser tratadas da mesma forma que as outras.

"Um olhar fardado"

 

Ler aqui o artigo em "A Mensagem de Lisboa".

Viva!


Começar bem a agenda de trabalho, num dia chuvoso e cinzento, aqui na Polónia. Viva o 25 de Abril, sempre!

Está lá? É do Kremlin?

Olav Sholz falou hoje com Putin. Terá mudado alguma coisa, na atitude de Moscovo, que possa justificar que o líder do maior país europeu ten...