"É mais novo do que tu dez meses", dizia-me muitas vezes a minha mãe, quando notava que eu e o filho da rainha Isabel de Inglaterra tínhamos nascido no mesmo ano. Ao longo da vida, fui sempre olhando para o príncipe como um "rapaz" do meu tempo.
Com total franqueza, a figura do príncipe Carlos nunca me despertou grande simpatia. Achava-o "stiff", de sorriso plástico, hiper-snobe, com umas tiradas públicas algo pretensiosas e pouco inspiradas, mesmo quando se aventurou por algumas áreas temáticas, em que parecia querer ser original. Ao saber-se que falava com as árvores, deu, a muitos, a ideia de ser um tonto, como às vezes acontece com os rebentos reais. Mas não era assim. Revelou-se uma pessoa com alguma cultura e com louváveis preocupações sociais. Para mim, sempre pensei: que vida chata deve ser a deste tipo, cheio de obrigações e tão condicionado na parte lúdica da sua existência.
Um dia, Carlos apareceu casado com Diana. Desde o início, nunca me pareceram rimar bem um com o outro, mas achei que a pressão das conveniências acabaria por forçar um "modus vivendi". Depois, com imensa surpresa pública, surgiu o "affaire" com Camilla. Afinal o tipo é menos cinzento do que se julgava, lembro-me de ter pensado para mim mesmo. O resto é conhecido.
E lá chegou a rei. Fez bem a transição e mostrou ter "know how" para o desempenho formal da função. Teve, até ver, o bom senso de se resguardar de espalhar comentários que possam afetar a neutralidade de juízos que se espera de um rei britânico. Teve tempo para maturar o "script" que lhe está destinado e parece debitá-lo com profissionalismo - e, nisso, sendo o "benchmark" da mãe inatingível, tem ali uma referência única.
Há 70 anos, no Teatro-Circo de Vila Real, vi um filme sobre a coroação de Isabel II, creio que alguns meses depois do evento. A cor era fraca e, talvez por ser um miúdo, e pequeno na estatura, fixei para sempre um pormenor: o uso, por algumas pessoas que estavam nos passeios, de uma caixa estreita e paralelipipédica, de cartão, com um espelho inclinado na base e outro idêntico no topo, que permitia, a que estava colocado por detrás, ver "do alto" o espetáculo da passagem da carruagem real. Só me lembro disto! Foi o que mais me impressionou, imaginem!
Amanhã, não vou poder ver em direto a coroação. Tenho mais que fazer, mas, à noite, vou puxar atrás na box, para apreciar um "digest", poupando-me, contudo, aos comentários dos "royal watchers". Afinal, não é todos os dias que chega a rei "um rapaz da minha idade". A quem, sinceramente, desejo sorte.
5 comentários:
Não é um rapaz da minha idade, já eu andava e até dava uns belíssimos bate-cus quando ele nasceu.
Os periscópios artesanais!
Já ninguém os usa porque já ninguém vê estas cerimónias "ao vivo", toda a gente as vê através da câmara de um aparato qualquer, mesmo que esteja na 1º fila...
Felizmente aqui onde estou tenho uma operadora que vai manter a BBC News, não por causa deste evento em especial, mas porque é bom ter acesso a ela.
Em Lisboa tenho outra operadora que a vai deixar de ter (neste momento acho mesmo que já a deixou de ter, mas não juro).
Neste evento concreto que minha mulher está ali a ver a BBC porque a BBC é a BBC, o que não é uma frase feita pois de igual modo os nossos canais são os nossos canais, há bocado deu uma volta por eles e apareceu-me aqui a contar-me meio divertida dos comentários sobre tudo e mais alguma coisa, a propósito ou a despropósito.
Eu sei que nem toda a gente aprecia o espectáculo pelo espectáculo e gosta de alguma conversa para amenizar o que de vez em quando é uma visível estopada, mas ao menos calem-se um bocado nos momentos mais "críticos".
Quanto às almas sensíveis que acham isto tudo parvo e inutilmente dispendioso não as contradigo mas, se formos por aí, temos muito por onde encontrar cerimonias parvas e inutilmente dispendiosas, estas têm o "mérito" de o dinheiro que se gastou nelas ficar dentro do país onde decorreram.
à noite, vou puxar atrás na box, para apreciar um "digest"
Pois eu prefiro esta noite ver o Benfica-Braga.
well said.
Já somos 4. Eu também nasci em 1948, Outubro. Tenha a ideia que Charles nasceu em Setembro e o Marcelo em Novembro. Um ano com uma boa colheita.
rui esteves
Segundo a wikipedia, Marcelo nasceu em 12 de dezembro de 1948, Charles em 14 de novembro do mesmo ano.
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