quarta-feira, maio 10, 2023

Sensatez e coragem

Um dia, ainda há-de aparecer um cidadão, sensato e corajoso, chamado a uma comissão parlamentar que, chegadas as cinco e meia da tarde, vai dizer: "Muito boa tarde. O meu dia de trabalho acaba agora, tenho de ir descansar e ir ter com a minha família. Amanhã, estou à vossa disposição, a partir das nove horas". Prendem-no?

7 comentários:

Luís Lavoura disse...

Muito bem, Francisco!!! Excelente post!!!
É uma vergonha aquilo que a Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP tem vindo a fazer: interrogatórios para lá das sete da tarde e frequentemente prolongando-se até à meia-noite. Ninguém tem que aturar os deputados a essas horas! As pessoas têm o direito à sua vida familiar e pessoal, o direito às suas horas de sono!
Os deputados façam lá as inquirições que quiserem, mas respeitem as pessoas, fazendo-as em horário laboral!
Péssimo exemplo que os deputados dão ao país!

aguerreiro disse...

Já têm prendido outros por bem menos, como aquele "terrorista da Universidade de Lisboa que tinha um isqueiro no quarto

Tony disse...

Muito bem dito. Não há necessidade. As maratonas, são no desporto!.

manuel campos disse...


Totalmente de acordo.

Durante toda a minha vida profissional acabei as reuniões da manhã por volta das 13 horas e as da tarde por volta das 18 horas, independentemente de eu nem almoçar nesse dia ou de ficar até às tantas no escritório.
É uma questão de respeito mínimo pela vida dos outros.

Não quero com isto dizer que, pontualmente, algo não se estendesse um pouco, mas sempre por acordo geral, dada a urgência do tema ou a consciência que com mais meia horita se escusava de voltar tudo atrás no dia seguinte.

Por cá ainda existe a ideia de que, procedendo assim, "se mostra serviço" sem se ter a mínima noção que é um muito mau princípio e uma das causas (e consequências) da nossa péssima produtividade.

manuel campos disse...


É também uma questão de respeito mínimo pelos outros não os fazer esperar sem um pedido de desculpas ou uma explicação, sempre fiz isso quando um assunto se atrasava e estava alguém à espera para outra reunião, fôsse da casa, fôsse visitante.

Onde isso é raro acontecer é em consultórios.
Honra seja feita a um alergologista que foi médico de minha mulher e ao actual oftalmologista "da família", impecáveis nem que seja por 5 minutos.

De resto ainda há dias dízia a uma neta minha, manifestamente chateada com uma espera grande, que todos passamos metade da vida à espera.
E que no meu caso isso me trouxe bons momentos de solidão, dou-me bem comigo próprio.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

O fetiche com as horas extra é uma coisa do pior, idealmente deve ser uma excecionalíssima exceção, mas, como bem diz o Manuel Campos, a ideia de que é uma forma de se mostrar trabalho está muito disseminada e as chefias aproveitam-se disso - "há hora de entrar, mas não de sair".

Quanto ao fazer esperar, deve fazer parte do "hidden curriculum" dos cursos de Medicina algum ensinamento de que um médico nunca inicia consulta a horas e, de preferência, deve começar com pelo menos meia hora de atraso. Mal de mim se eu fizesse isso...

afcm disse...

Mas parece que às segundas feiras e noutras feiras da semana não querem trabalhar durante as horas normais de expediente.
È uma cultura que penso que se copia de outras instâncias ( v.g. tribunais e interrogatórios de arguidos pelas noites dentro...).
Penso que toda esta gente acha que estes horários lhes daõ status de "cumpridores acérrimos dos deveres funcionais de estado".
Mais uma filosofia triste e pobre que por cá se cultiva.

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