terça-feira, maio 09, 2023

Rita Lee


Um dia, na Noruega, um amigo brasileiro, o Pedro Avelino, "apresentou-me" a Rita Lee. Era, disse-me, uma antiga rockeira convertida às baladas. A mulher do Pedro, a Mônica, derretia-se com essa música. O som que ele trazia num LP, comprado no Rio, era o do "Lança Perfume". De facto, era diferente. Convenceu-me. Fiquei fã. Depois, em férias em Portugal, consegui o álbum com o "Mania de Você". Mais tarde, fui comprando outras peças da minha avantajada coleção da Rita Lee, da qual consta também o excelente "Baila Comigo". Levei tudo para Angola, em 1982, com dezenas de outros discos (os CDs estavam então a começar) mas, a pouco e pouco, com o aparecimento de outras novidades, fui esquecendo a cantora.

Quando vivia em Brasília, vi anunciado um espetáculo de Rita Lee. Sou pouco dado a shows de música popular com público ululante, com aqueles cromos que enchem os corredores e o espaço junto ao palco, estragando a vista e o sossego de quem comprou o que supunha ser um bom bilhete e quer apenas ver o espetáculo e ouvir a música, sem precisar de aturar, às primeiras estrofes, as palmas dos engraçadinhos que parece querem dizer-nos "ai! esta já conheço". E, quanto a rever artistas do passado, imensos barretes enfiei, por esse mundo fora, em acessos de revivalismo que me levaram a maus e caros espetáculos. Mas, enfim, em Brasília os shows eram raros, tive um descuido e lá fui ver a senhora. Que desilusão! Foi como ver o Eusébio a jogar no União de Tomar. Saí antes do fim!

Rita Lee morreu hoje. Vou ouvir as suas músicas velhas, também para me lembrar de mim quando as ouvi pela primeira vez.

8 comentários:

José Lopes disse...

"desilusão com artistas do passado" aconteceu-me com o Bob Dylan, aqui há 3/4 anos, em Lisboa.
E parece que vai voltar.
A voz já foi, e depois está numa de reinterpretar os clássicos de forma a torná-los irreconhecíveis.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Fantástica! Não falha nas minhas playlists em festas familiares.

caramelo disse...

Só desilude a quem pense que a natureza não funciona. Até na Callas funcionou. Um cantor brasileiro que nunca desiludiu era o João Gilberto, que morreu a cantar com a mesma voz e o mesmo violão de quando tinha 20 anos.

manuel campos disse...


Minha mulher sabia de cor todas as músicas dela há 40 anos.

Ainda hoje sabe de cor as músicas de muita gente, ainda que haja uma cantora de que sabe todas: a Françoise Hardy.
Mas neste caso talvez haja uma razão adicional, é que em adolescente e mesmo um pouco depois, minha mulher era a sósia quase, quase perfeita dela, os álbuns de fotos aqui de casa estão cheios de fotos que o provam.
Ali pelos lados onde vivia, naqueles grupos de esplanada por onde andava, era amigavelmente tratada assim, "nome" que lhe tinha sido posto por uma figura hoje muito conhecida do nosso meio artístico e que não digo quem é porque já lá vão mais de 50 anos e ele não me autorizou.

Flor disse...

Mais uma vítima da doença maldita, cancro!

Que em Paz descanse🖤

manuel campos disse...


O José Lopes tem bastante razão no que diz, Bob Dylan foi também ele "pescar" ao que "dá sempre" e aquilo cantado por ele não tem grande graça nem encanto.

Tenho os álbuns "Following Shadows in the Night" (2015), "Fallen Angels" (2016) e "Triplicate" (2017), todos eles de "standadrds" do denominado "Great American Songbook".

Ora o "Great American Songbook" todos os grandes cantores o cantaram e o Bob Dylan não trouxe nada de novo para além de "dizer" numa voz cada vez mais rouca que só entusiasmará saudosistas inveterados.
Sendo eu grande coleccionador dessa época de ouro da música americana admito que não ouvi os discos mais que duas ou três vezes e certamente não os voltarei a ouvir.
Quando ouvimos uma canção do "songbook" a primeira coisa que nos vem à cabeça como comparação é a versão do Frank Sinatra, que também ele dizía mais que cantava, alguns ficam perto, bastantes ficam um pouco mais além, o Bob Dylan não sei onde o ponha.

O álbum "Triplicate" é composto por três discos de pouco mais de 30 minutos cada, o tipo de compra em que eu me sinto logo enganado pois aquilo cabia perfeitamente em dois discos de uns 50 minutos cada.
Foi muito elogiado pela crítica, nomeado para um Grammy na categoria "Best Traditional Pop Vocal Album", mas não teve grande acolhimento popular e nem estou a ver porque o teria, mais um exemplo de "viver da fama".

O suporte CD foi concebido pela Sony e pela Philips em conjunto e apareceu no mercado em agosto de 1982.
Começaram por ter uma "capacidade" de 74 minutos, reza a lenda porque a mulher do presidente da SONY exigiu que a 9ª Sinfonia de Beethoven coubesse toda num, como as versões variam entre os 68 mins e os 73 mins, de um modo geral, parecia boa ideia.
No entanto acabaram por evoluír para os 80 minutos actuais, que os editores tentam aproveitar ao máximo enchendo o CD o mais que podem.
Com a eliminação de alguma informação supérflua, até porque os leitores de CD foram ficando tão simplificados que muitos apresentam parcas informações no visor, começaram a aparecer CD no mercado com mais de 80 minutos e o meu recorde aqui nas prateleiras é um CD de 86 mins (eram capazes de caber lá os três CD do "Triplicate" bastante mais baratitos).

O suporte CD está a desaparecer das lojas, é difícil encontrar leitores de CD baratos mas os leitores de DVD fazem exactamente o mesmo papel.
O problema é que começam a faltar também estes últimos.

Aqui há 6 meses substituí o amplificador e o leitor de CD que tinha há mais de 15 anos em Lisboa, mesmo modelos não muito sofisticados têm preços sofisticados.
Os vícios pagam-se e este é o meu único vício real.

PS- Costumo conversar com um grande amigo meu sobre a enorme sarilhada que os nossos herdeiros vão ter quando tiverem que se "desfazer" das nossas respectivas colecções pois ninguém já quer nem tem onde meter aquilo.




José Lopes disse...

Leio sempre com prazer o Manuel Campos:
Muito há a dizer sobre esses tempos, falo dos anos sessenta, embora eu, nascido em 1956, só para eles tenha despertado com os dramáticos acontecimentos de 1968: assassinatos de Luther King, Robert Kennedy, Maio em França, o morticinio na cidade do México (quem se lembra?), etc. Para um garoto de 12 anos...
Quanto ao Bob Dylan: começou como um cantor folk, na linha de Pete Seeger e Woody Guthrie (com 22 anos compôs, além de outras, Masters of war, uma denúncia do militarismo e da guerra, na linha do alerta de Eisenhower quanto ao complexo militar-industrial), foi capa da TIME, cantou nas marchas pelos direitos civis, etc.
Em 1965 e 1966 editou 3 obras primas, atingindo o auge no último, Blonde on Blonde.
A partir daí, e com excepções, tem vivido das rendas.

manuel campos disse...


Claro (para mim) que quando refiro que é difícil encontrar leitores de CD "baratos" quero dizer por menos de 500€...

Hoje, aqui na Haia

Uma conversa em público com o antigo ministro Jan Pronk, uma grande figura da vida política holandesa, recordando o Portugal de Abril e os a...