segunda-feira, junho 12, 2023

Berlusconi


Um dia, um almoço em São Bento de um antigo primeiro-ministro português foi interrompido: uma chamada telefónica do seu contraparte italiano, Sílvio Berlusconi. O político português regressou minutos depois, com um grande sorriso, revelando o motivo da breve conversa. Berlusconi tinha acabado de vê-lo na televisão e queria dizer-lhe que a gravata que ele utilizara era inadequada, oferecendo conselhos na matéria.

Berlusconi, em todo o caricato do seu estilo, inaugurou um tempo novo na política europeia, um pouco como, mais tarde, na América, haveria de acontecer com o surgimento de Trump. Muitos líderes europeus que o foram cruzando têm histórias divertidas com ele, quase sempre marcadas pelo embaraço com que tentavam gerir as suas inusitadas abordagens.

Teve uma vida pública imensamente longa, com altos e muitos baixos, com vários escândalos, de diversa natureza, à mistura com a política. Nos dias de hoje, era ainda líder de um dos três partidos da coligação de poder, na Itália. Mas Berlusconi já andava ali há muito: recordo-me bem de uma velha "foto de família" dos líderes europeus, em Veneza, com ele a presidir à festa, ao lado de uma Thatcher visivelmente pouco à vontade com aquele inesperado parceiro.

Berlusconi morreu com 87 anos.

Um abraço, António


Neste tempo em que uma miserável campanha pretende atingir António Costa, aliás sob estranhos silêncios, deixo-lhe um abraço amigo e solidário, recordando a extraordinária figura do seu pai, Orlando da Costa, um português de origem goesa que tive o privilégio de conhecer.

Uma boa Estrela


Não consigo explicar, nem a mim mesmo, porquê, mas sinto satisfação com o regresso do Estrela da Amadora à divisão principal do nosso futebol.

Eleições na Guiné-Bissau

 


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domingo, junho 11, 2023

Bola

Gostei da final da Taça dos Campeões. Gostei do "pressing" e da tensão de princípio ao fim. Gostei até do futebol jogado, embora não fosse de excecional qualidade. Gostei que ganhasse quem ganhou. E gostei muito de ver Bernardo Silva, um jogador excecional.

Esperanças

Fui jantar com amigos à rua da Esperança. O serviço foi errático, mas muito simpático, num ambiente caótico, normal para a época. Mas comeu-se bem. Só não digo o nome da casa porque pedir quase 20 euros pelo vinho mais barato, uma mistela que se vende a três euros, foi desonesto.

Falando da contra-ofensiva ucraniana

 


Pode ver aqui.

O cartaz

Não, não vou reproduzir aqui os cartazes dos professores na Régua. Fico à espera do que, sobre eles - sem "mas" nem "porém" nem "no entanto" -, alguns visitantes deste espaço tenham a dizer.

sábado, junho 10, 2023

A China, a Austrália e a questão da Huawei

 

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"Hoje jogo eu"


Há muitos, mesmo muitos, anos, costumava ler "A Bola", com regularidade e interesse. Hoje sou, em absoluto, incapaz de abrir qualquer jornal desportivo, nem sequer para fazer horas num café: não me desperta o menor interesse. E já tentei, confesso. 

"A Bola" tratava, essencialmente, como o nome e o símbolo indicavam, de futebol. Com duas exceções: no Verão, falava de ciclismo, noutras escassas ocasiões, de hóquei em patins. O resto das atividades desportivas eram, quando eram, objeto de notas brevíssimas, por parte do então "trissemanário da Travessa da Queimada".

"A Bola" era, ao que recordo, muito bem escrita. Conseguia dessa forma resistir ao desprezo com que uma certa camada de jornalistas trata o jornalismo desportivo, graças à qualidade dos seus profissionais. Sem ir ao Google, lembro: Carlos Miranda, Aurélio Márcio, Vitor Santos, Mário Zambujal, Carlos Pinhão. 

Um dos momentos áureos de "A Bola" eram as aventuras europeias do Benfica. O meu Sporting era só às vezes, o Porto de então ficava-se pelas Antas. Quando os "encarnados" (era proibido dizer os "vermelhos", adjetivo que tinha ficado reservado para os perdedores da Guerra Civil de Espanha e para quantos eram o alvo privilegiado da Pide) iam jogar a sítios mais bizarros, em especial aos "países socialistas", com muita arte e alguma manha na escrita, os profissionais do jornal destacados para a reportagem faziam sempre umas curtas notas, em caixa, com apontamentos curiosos, tipo "fait divers", chamando a atenção dos leitores atentos para pormenores desse quotidiano diferente, sempre com cuidado extremo de garantir que tal não era objeto de desagrado dos "coronéis" da censura, aliás geograficamente vizinha da redação do jornal. Intitulavam sempre essa coluna de "Hoje jogo eu".

A que propósito surge esta conversa hoje, "dia da raça", como dita a memória de Cavaco Silva? É que amanhã, na reportagem das comemorações na Régua, sem usar esse título mas também procurando captar um "fait divers" para alindar a prosa, a generalidade dos jornalistas que foram obrigados a prescindir do feriado vai falar (vale uma aposta?) dos assobios a João Galamba, como o facto maior a destacar, ao lado da exegese dos recados do presidente, também a propósito disso. Para tanto lhes dará "o engenho e a arte", como diria o vate que serve de pretexto à data.

Mas poderiam eles falar de outra coisa? Ora essa! Podiam falar dos rebuçados vendidos pelas senhoras de avental à porta da estação ou dos "polícias da Régua" ou da mais pequena barbearia do país (na imagem) ou da vitela do "Castas e Pratos" ou das desventuras da Casa do Douro e da filosofia do "benefício". 

Há tanto para falar da Régua, que já foi Peso da Régua, terra onde eu, na minha juventude, achava que havia a maior concentração de NSUs do mundo e que então enviava, para estudar no liceu de Vila Real, alguns dos olhos mais bonitos que alguma vez por lá passaram.

sexta-feira, junho 09, 2023

Pronto! Acabou a (minha) Feira!


Afinal, nem a vinte livros chegou! Para o ano há mais!

Como já não sei o que é feito do meu velho exemplar do "Retrato dum amigo enquanto falo", de Eduarda Dionísio, comprei outro, para recordar. A discreta autora, uma figura muito interessante, morreu há dias.

Ala, que se faz tarde!


Estou a olhar para o céu! Afinal não cai chover. Vou à feira do livro!

Eu, Pangloss


Amanhã é o dia de Portugal. 

Só um país bisonho como o nosso é que se lembraria de transformar um dia que celebra a morte de um escritor na sua data nacional. 

A Inglaterra comemora o nascimento do soberano, na França é a revolucionária queda da Bastilha, na Espanha é o dia da Hispanidad (que por cá se lembrasse da "portugalidade" ia logo corrido a "facho"), na Rússia e na China mantiveram a data da consagração como repúblicas socialistas, os EUA têm a declaração da independência, na Itália é o dia jubiloso em que a monarquia foi por água abaixo. Nós, temos um funeral!

Para nos redimirmos do modo como a ditadura tratou os portugueses que tiveram de ir, por aí fora, tratar da sua vida, depois de Abril juntou-se à designação o nome do morto e "... e das Comunidades Portuguesas", como se estas não fizessem parte de Portugal.

Nestes dias de divertida auto-flagelação nacional, de "bota-abaixismo" militante e endémico, eu decreto, por este blogue: por algum tempo, nos comentários que deixarei publicar, só aceitarei pensamentos (sinceramente) positivos e otimistas. Podem continuar a chamar "choldra" e "piolheira" ao país, como fazia um rei qualquer. Usem os vossos blogues, as vossas páginas de Facebook, o Manuel Acácio e as caixas de comentários do "Correio da Manhã". Aqui, não!

Por isso, atenção: reformados tristonhos, de onde geralmente sai a legião escrevinhadora da acrimónia e das vesículas estragadas, abstenham-se de escritas fora do mundo dos sorrisos e da boa-disposição. Não vou ao ponto do exagero do chefe do Estado (é assim que se escreve e não chefe "de" Estado, aprendam), que acha que somos os melhores do mundo. Mas, pronto, andamos lá perto!

Ah! E viva Portugal, claro!

Guiné

O presidente da Guiné-Bissau recuou no seu propósito de não aceitar como novo primeiro-ministro o líder do partido vencedor das eleições legislativas, ato que ele próprio tinha decidido antecipar. Raramente chegam ao mundo boas notícias sobre a política guineense. Aleluia!

O espelho

O "Expresso" traz hoje uma sondagem que revela o mal-estar dos portugueses, em vários setores da vida. Devo dizer que, em face do modo catastrófico e auto-flagelatório como as nossas televisões arrasam, dia após dia, a nossa auto-estima, até esperava pior.

Já agora!

O papa vai dizer missa no alto do Parque. Além do falo em pedra, será que existe a intenção de esconder também a imagem dos familiares dos presos da penitenciária, os quais, cruelmente, ao sol e à chuva, são diariamente expostos à humilhante curiosidade de quem por ali passa?

O mono

A suposta necessidade de esconder, durante a estada do papa, o monumento fálico criado por Cutileiro, esconde, afinal, uma questão mais interessante: só porque o artista é um criador de mérito devemos esconder que há uma alargada opinião de que aquilo é um mono medíocre?

O olhar de fora

Creio que os portugueses não se dão conta de quanto é prestigiante para o país poder apresentar, em regra, perante o mundo, uma imagem de consenso e unidade, em termos da sua política externa. Marcelo e Costa voltaram a estar bem neste domínio, Galambas à parte.

Injustiça

Creio que o país não tem consciência do caos que vivem os nossos tribunais. Milhares - sim, são milhares - de pessoas deslocam-se diariamente a eles, perdendo tempo da sua vida, para, em cima da hora, serem confrontados com adiamentos, por greves ou simples incompetência.

Rabo de Peixe

Parece que a população da localidade açoreana de Rabo de Peixe não aprecia o modo como é retratada na série homónima na Netflix. A ficção nunca é um retrato ao espelho e aquela produção tem uma ousadia dificilmente compatível com a imagem que aquelas pessoas criaram de si mesmas.

quinta-feira, junho 08, 2023

Leonor


Inês Pedrosa lembra que a Leonor Xavier faria hoje 80 anos. Não sabemos onde estará a comemorar, a agitar, a divertir o mundo à sua volta, como sempre fez, com a sua alegria e amizade. Apenas sabemos que, por lá, estará tudo em festa, a dar vida à própria morte. Que saudades, Leonor! 

Kakhovka


O "Le Monde" com data de amanhã traz um impressionante retrato do desastre ecológico resultante da destruição da barragem de Kakhovka. A ser verdade o que ali se escreve, estamos perante ums catástrofe da maior gravidade.

Na análise da imprensa europeia e norte-americana mais responsável e menos vocacionada para o "jornalismo afetivo", denota-se algum cuidado na atribuição definitiva sobre a responsabilidade do desastre, com base na ideia de que, aparentemente, ninguém ganhará com ele e, pelo contrário, ambos os lados parece irem ser prejudicados.

Não obstante, uma tendência maioritária aponta o dedo a Moscovo, tanto mais que, desde o início desta guerra, se viu surgir, de quando em quando, desse lado, alguma retórica, embora não oficial, em torno da possível utilização da destruição da barragem como elemento dificultador da manobra ucraniana de recuperação dos territórios situados a sul do Dniepre. 

Além disso, não parece plausível que Kiev, apenas com o objetivo de poder vir a acusar a Rússia, se arriscasse a desencadear uma operação de "falsa bandeira" com um custo nacional tão elevado. Se acaso a imagem de Moscovo não estivesse tão degradada, isso teria algum sentido, para contra ela mobilizar alguma opinião pública internacional. No atual "estado da arte", não será a responsabilização russa por mais esta ação de destruição que vai mudar o equilíbrio mundial de simpatias nesta guerra.

Clima


Esta magnífica fotografia de António Guterres, a olhar do seu gabinete a poluição do ar em Nova Iorque, é bem reveladora da impotência do SG da ONU perante os obstáculos à implementação das medidas de proteção climática e, simultaneamente, da fragilidade do maior poder mundial.

Da mentira


Os "polígrafos" deste mundo são, em geral, uma forma de dar palco a mentiras e enormidades, com a benévola desculpa de as estarem a desmascarar. Até agora, só um palerma acharia que Salazar criou o SNS. Com esta publicação, um bando de gente passa a pôr-se a questão. Parabéns!

Preso por ter cão...

Se o governo, face às previsões das instituições multilaterais, apontasse para um crescimento superior, para uma inflação e uma taxa de desemprego mais baixos, seria propagandista e irresponsável. Sendo as coisas ao contrário, mostra tibieza e não "acerta uma". É a vida!

Barbaridade

A destruição deliberada de uma obra pública essencial para um país, como é o caso de uma barragem, como mera decisão tática no contexto de uma guerra, dela decorrendo graves consequências humanas, económicas e ambientais, é um ato bárbaro, de uma imensa gravidade.

Outros tempos


Sei lá bem porquê, ao surgir-me, num acaso da net, esta capa do DN, deu-me para ir à procura de uma música. E senti-me bem! Ouça aqui.

Verdes


Um utilíssimo mapa da produção de um vinho com qualidade cada vez mais apurada.

Patamar

A destruição da barragem de Kakhovka - hipótese de que se falava desde o início da guerra - representa a passagem a um outro patamar de ação militar. A lógica de quem mais aproveita torna plausível a autoria russa e parece revelar algum desespero tático de Moscovo.

Do algodão

Esgrimir com os mortos "do outro lado" faz parte da narrativa sectária nas guerras. Um "truque" comum, para "animar a malta", é estar sempre a auto-atribuir-se vitórias e pôr gente amiga a dizer que tudo corre mal ao inimigo. O teste do algodão é olhar as posições no terreno.

Guerra de trincheiras

A prova de que a guerra na Ucrânia se converteu num irrecuperável conflito de opiniões entrincheiradas é que, nos bitaites sobre a responsabilidade pela destruição da barragem, não haverá surpresas quanto a quem "acredita" em quem. Já assim foi com o Nordstream 2, lembram-se?

Comichões

Faço parte do seleto grupo de cidadãos que não assistiram, nem por um segundo, às audições da comissão parlamentar que tem a TAP como longínquo pretexto. Depois contem-me...

Notícias do caos

Das duas, uma: ou todo este alarmismo sobre o "caos" que se vai abater sobre Lisboa durante as tais Jornadas é exagerado, para depois se poder dizer que "correu tudo lindamente, somos os melhores", ou então foi uma imensa cretinice ter a ousadia de organizar aquilo. Escolham!

Malta do largo do Rato

 


quarta-feira, junho 07, 2023

Adeus, feira?


Por este andar, este ano acabo por não ir à Feira do Livro. Por comodismo, recuso sábados, domingos e feriados. Por precaução, não vou em dias em que ameace chover. Deteto já, cá em casa, um estranho júbilo em quem há muito acha que as nossas estantes não dão vazão à minha compulsão aquisitiva.

E o papa?

É um pouco cruel pensar que, mais do que com o estado de saúde do papa, o país parece essencialmente preocupado com o efeito que daí possa decorrer para a realização das Jornadas Mundiais da Juventude.

Falando da Ucrânia

1. Um acordo para pôr fim à guerra na Ucrânia estará mais longe do que nunca. Uma intermediação dos países do Sul - depois da desastrada posição de Lula e da bizarra proposta indonésia - parece condenada ao fracasso. Kiev apenas não descartou, em absoluto, um papel para a China.

2. Contudo, a última coisa de que Washington admitiria, depois do evidente desagrado causado pela recente intrusão diplomática chinesa no Médio Oriente, seria ver Pequim assumir um papel de "broker", num dossiê onde é o principal "investidor" político-militar. E a Ucrânia sabe isso.

3. À luz da História, será muito pouco provável que um cenário negocial para o pós-guerra - que envolverá necessariamente os EUA, a NATO e a UE -, que no essencial definirá a nova arquitetura de segurança na Europa, venha a ser desenhado por potências exteriores ao continente.

4. Existe a sensação de que o Reino Unido se estará a posicionar para vir a desempenhar um futuro papel destacado na segurança ucraniana, como poder europeu delegado dos EUA, apreciado por Kiev. A possível designação do seu ministro da Defesa para SG da NATO ajudaria a esta ambição.

5. No seu ziguezague desde o início da guerra, Macron sonhou um "tandem" com a China, para pilotar uma solução negocial, dada a mútua autoridade de membros do CSNU. Os EUA, que não confiam na França, terão travado a iniciativa. E Macron, sem problemas, passou de pomba a falcão.

terça-feira, junho 06, 2023

Ficha na Pide


Há mais de uma década, numa passagem pela Torre do Tombo, inquiri sobre se que, nos arquivos da PIDE/DGS, haveria alguma informação a meu respeito. Foi-me dito que sim, tendo mesmo obtido o número de referência sob o qual esses dados estavam registados. 

O facto de, desde então, nunca ter procurado ter acesso àquilo a que vulgarmente se chama a "ficha na Pide", revela a consciência que já tinha de que nada de muito relevante devia integrar esse dossiê. Antes de Abril, nunca fiz parte de qualquer organização política clandestina, nem nunca fui incomodado pela polícia política. 

Hoje, aproveitando meia manhã livre, e porque andava por perto, decidi ir à Torre do Tombo.

Respira-se uma saudável serenidade naquele espaço. Há por ali um amável silêncio, quase ia jurar que único em Lisboa. (Não excluo voltar, sob qualquer pretexto, só para gozar aquela magnífico ambiente). Notei, além disso, uma excecional simpatia e profissionalismo por parte de todo o pessoal, que me atendeu a mim e a outra gente que estava por ali por coisas bem mais sérias do que a minha curiosidade sobre o que os "pides" pensariam a meu respeito.

E afinal, que descobri? Praticamente nada! A PIDE e, depois, a DGS - cuja Comissão de Extinção, agora me lembro, integrei, por alguns meses, em 1974 - apenas tinha anotado, a meu respeito, coisas inócuas, como pedidos de passaporte, entrada para a Função Pública e ida para a tropa. 

Ora eu pensava que ter feito parte da "troika" que entregou a lista oposicionista ao Governador Civil de Vila Real, em 1969, sendo depois chamado à polícia local, por mais de uma vez, tinha marcado para sempre o meu destino. Ou que o facto de ter sido "não-homologado", por duas vezes, por decisão ministerial, como dirigente associativo universitário eleito, era a prova provada de que estava, para sempre, na "lista negra" do regime. Ou que o ter sido vetado expressamente pela Censura de continuar a escrever em "A Voz de Trás-os-Montes", por manifesta desafetação ao regime detetada nos artigos, abrira, de imediato, um severo processo a meu respeito. Ou que a minha assinatura, com trémula letra, em abaixo-assinados claramente ligados ao "reviralho", tinha sido posta a crédito (a débito, para eles) da minha "esquerdalhice". Ou que a circunstância de, por bastantes anos, ter andado da passarinhar por tudo quanto eram reuniões oposicionistas, desde manifestações de rua aos comícios mais diversos, tinha chamado a atenção dos "pides" sobre a minha pessoa. Ou que os incidentes disciplinares por que fora "chamado à pedra" na tropa, em Mafra, bem como a participação nas reuniões clandestinas de milicianos, nos meses que antecederam Abril, estavam a ser registados para devidos e futuros efeitos. Tudo somado a uma imensidão de outras muito pequenas coisas, desde distribuir literatura clandestina a pintar algumas (muito escassas) paredes, atos que pensava que não tinha escapado à argúcia do pessoal da António Maria Cardoso.

Qual quê! Nunca me ligaram peva, não me deram a menor importância, nem sequer tiveram a atenção de fazer um leve juízo apreciativo a meu respeito, fosse ele qual fosse... Uns ingratos!

Não se tivessem passado cinco décadas de ditadura, de perseguições, de torturas, de mortes, da infernalização da vida de muita e corajosa gente, pelo olhar para a minha "ficha da Pide" eu deveria concluir que nunca por cá houve qualquer coisa a que se pudesse chamar fascismo.

Saí hoje da Torre do Tombo devidamente "humilhado" pela descaso feito pela PIDE à minha, afinal minúscula e irrelevante, atividade oposicionista. Mas também saí com uma muito maior admiração por quem teve a coragem, que eu não tive, de enveredar pela luta aberta contra a ditadura, nas esquinas da clandestinidade ou a dar a cara na denúncia do regime, arrostando com as devidas consequências, em muitos casos trágicas. 

Essa gente é que merece, com imensa honra, ter "ficha na Pide". Não eu.

O porto que Lisboa é

Os traços eram estranhos, algo asiáticos, mas não muito pronunciados. O português, abrasileirado, era razoável na pronúncia, embora com ligeiros erros nas concordâncias. Fizemos apostas sobre a origem da empregada que nos servia, no jantar de ontem. Na altura de pedir as sobremesas, perguntei-lhe. "Usebequistão", foi a resposta, com um sorriso. "É muito longe...", esclareceu. Para ver a reação dela, disse-lhe: "Já estive alguns dias no seu país". Abriu os olhos bem oblíquos, entre o espantada e o descrente. "É verdade! Dormi em Fergana, em Tashkent, em Samarcanda e em Bukara". Parecia não querer acreditar. "O seu país é muito bonito". Era pura verdade. O sorriso ia aumentando. A música ambiente, caribenha, aos berros, naquele restaurante novo e incaraterístico, desenhado para turistas, no local onde a Braamcamp cruza com a Alexandre Herculano, onde o fantástico fim de tarde e o acaso nos tinham feito desaguar, não dava para mais conversa. À saída, a rua estava assim, a cheirar a tílias, a lembrar o Jardim da Carreira, em Vila Real. O edifício da sinagoga tem, ao lado, uma loja com nome árabe. Lisboa é um porto, pelos vistos seguro, para gente muito diversa. A mim, é uma coisa que muito me agrada. Só espero que a eles também.

segunda-feira, junho 05, 2023

Carpe noctem

 


Nomenclatura



É com a passagem do tempo num consultório médico que percebemos, finalmente, por que razão somos designados por "pacientes" e o lugar onde aguardamos que nos chamem se designa por "sala de espera".

"Piauí"


Chegou-me a "Piauí" nº 200, pela minha assinatura. 

Lembro-me bem do dia em que comprei, há 17 anos, o nº 1 desta que é, a grande distância, a melhor revista Brasil, que se qualifica uma publicação "para quem tem um parafuso a mais". 

O primeiro texto deste número começa assim:



Em Jaboatão dos Guararapes


Não consigo encontrar o nome de Judite Vilar nos glossários das histórias do movimento operário.

domingo, junho 04, 2023

O segredo de Ansón


Rafael Ansón é, desde há muitos anos, uma figura muito conhecida da vida pública espanhola. Hoje com 87 anos, mantem-se como o "papa" da Gastronomia espanhola, que lhe deve um extraordinário trabalho de promoção. 

Nessa área, Rafael já ocupou todos os lugares possíveis, até ter chegado a presidente da Associação Internacional de Gastronomia. Esteve presente em Lisboa, na passada semana, para participar na gala anual da nossa Academia Portuguesa de Gastronomia*, onde foram entregues os prémios anuais de cozinha, de escanção, de restauração e de divulgação mediática.

Rafael é seco de carnes, como alguns dizem. Andando ele, desde há muito, num vai-e-vem de eventos e, imagina-se!, almoçaradas e jantaradas, perguntei-lhe, um dia, numa refeição no Belcanto, como é que ele conseguia ter aquele físico equilibrado. Coloquei a questão com curiosidade mas também com inveja, confesso.

Riu-se e explicou o "segredo": "Numa refeição, em geral, eu como sempre pouco, mas como muito daquilo que é bom!" Nas vezes que nos voltámos a cruzar, constatei que Rafael Ansón, embora provando de tudo, evita aquilo o que seja lateral à essência do prato, todos os componentes que considere não essenciais. E, claro, é muito cuidadoso com o que come do resto, do "bom". É a arte de comer, enfim.

(* Porque se vive por aí uma cultura de inveja e de desconfiança, gostava de deixar claro que a APG é uma organização sem fins lucrativos, dedicada à promoção da gastronomia portuguesa, em que cada associado paga as suas quotas e o custo de participação nos eventos a que assiste. A APG nunca recebeu, naturalmente, um único centavo do Estado ou de qualquer 20/20 ou PRR...)

A Suécia vai entrar para a NATO. Ponto

 

A ver aqui.

Sanchez - será desta?


Ver aqui.

Erdogan - mais uma corrida, mais uma viagem!


Pode ver aqui.

A guerra chegou à Rússia?


Ver aqui.

Juros

Só uma manifesta iliteracia pública justifica que não seja uma evidência que o Estado português, ao financiar-se internamente através dos Certificados de Aforro, deve tentar pagar a mais baixa taxa de juro que seja possível. Como contribuinte, quero pagar, pelos empréstimos ao Estado, o menor serviço de dívida possível - seja no exterior, seja no nosso mercado financeiro interno. Como contribuinte, não quero que os meus impostos sirvam para subsidiar o investimento de quem tem isso poupanças para comprar Certificados de Aforro. Por isso, quero que estes tenham a mais baixa taxa de juro que for possível conseguir-se. Confundir isto com a questão dos juros dos bancos é uma mera demagogia, que só sobrevive no debate público graças à iliteracia financeira que por aí grassa.

"A Cozinha do Manel"


Na noite da passada sexta-feira, no Grémio Literário, ao restaurante "A Cozinha do Manel", situado na rua do Heroísmo, no Porto, foi atribuído pela Academia Portuguesa de Gastronomia o prémio Maria de Lurdes Modesto, que anualmente homenageia um restaurante que se destaque na área da cozinha tradicional portuguesa.

Recebeu o prémio o proprietário, José António Vieira, na imagem com José Bento dos Santos, figura cimeira da Academia, cujo presidente do Conselho Diretivo, Carlos Fontão de Carvalho, sublinhou os mais de três decénios de bons serviços à gastronomia portuense prestados pelo restaurante.

Recordo que, entre outros, no passado foi atribuído este prémio a restaurantes como "A Tasquinha do Oliveira" (Évora), o "Tia Alice" (Fátima), o "Vallecula" (Valhelhas), o "Noélia" (Tavira), o "Casas do Bragal" (Coimbra), o "Geadas" (Bragança) e o "Solar dos Presuntos" (Lisboa).

Parabéns a quem dirige e trabalha no "A Cozinha do Manel", um dos meus restaurantes de eleição no Porto.

sábado, junho 03, 2023

O cambão

Existe um evidente cambão entre os bancos que leva a um ambiente artificial de baixas taxas de juro de depósitos. Por que é que o acionista do principal banco português não impõe que se acabe com esta vergonha? Quem é? É o Estado! Para que serve, afinal, manter um banco público?

sexta-feira, junho 02, 2023

Saber viver com a diferença

A tentativa de desqualificação de alguns comentadores militares, área em que a CNN Portugal faz a diferença face à concorrência, a qual parece viver feliz no seu quase unanimismo opinativo unilateral, tem apenas um objetivo: tentar o afastamento das vozes dissonantes. Digo eu...

"Procuro..."


"Procuro e não te encontro, procuro nem sei o quê..." cantava o velho Toni de Matos.

Lembrei-me desta pérola do nacional-cançonetismo ao ler, há pouco, que a senhora Procuradora-Geral da República disse estar em curso um inquérito (não esclareceu se é "rigoroso", mas deve ser, porque é de regra dizer que o é) por violação do segredo de justiça, nas trapalhadas autárquicas do PSD. 

Perante esta declaração, o país fez "uhf!" e sabe que pode passar a dormir descansado... e esperar sentado!

"Amarra ó Tejo"


Chama-se "Amarra ó Tejo" e tem, muito provavelmente, a melhor vista sobre Lisboa que qualquer restaurante pode ter - o Miradouro de Almada. Fica na zona antiga da cidade, no Jardim do Castelo, com acesso junto à igreja de Santiago, ao lado do coreto. Para lá chegar, atenção!, é necessário deixar-se conduzir pelo GPS e, depois, ter a sorte de encontrar um lugar para estacionar, em alguma das ruelas próximas. Mas, pela vista e pela comida, vale bem o esforço: a lista é muito bem construída e com mão de quem sabe da poda, com um conjunto de entradas apelativo e diversificado (infelizmente, desta vez, não nos deu para ir por aí), com os peixes e coisas correlativas (foi a nossa escolha, de que nos não arrependemos) a dominarem sobre as opções em matéria de carnes, com uma lista sobremesas bem recheada (as que foram provadas estavam excelentes) e uma carta de vinhos não muito longa, espelhando várias representações regionais, marcada por uma cada vez rara honestidade nos preços. O serviço foi competente, cortês e discreto. O preço esteve perfeitamente na média que se justificava, atenta a qualidade daquilo a que tivemos direito. Se a tudo isto somarmos o fim de tarde soberbo que nos calhou em rifa, já estaria feita a festa. No meu caso, juntei-lhe um belo grupo de amigos cuja conversa se prolongou até às horas de fecho da casa. A "outra banda" vale a pena, acreditem! 

quinta-feira, junho 01, 2023

A páginas tantas...


Como eu já esperava, a minha chegada a casa, esta tarde, com uma saca que continha mais de uma vintena de livros, não foi saudada com um excessivo júbilo. Ah! E, este ano, ainda não fui à feira do livro! Os dias que aí vêm não se anunciam nada fáceis...

quarta-feira, maio 31, 2023

"Crónicas de Lisboa"


Na quarta-feira da semana passada, às seis e meia da tarde, cheguei à Brasileira do Chiado, para assistir à apresentação deste livro de Ferreira Fernandes e de Nuno Saraiva. Era cedo demais: o lançamento foi só hoje, com palavras prévias de Manuel Serrão. E lá estive. Prometo que vou tentar não voltar para a semana. Ah! É um belíssimo livro, aviso!

"À suivre..."


Uma notícia curiosa: um jornal informa que alguns gestores da empresa que é sua proprietária têm a intenção de apresentar ao acionista dessa mesma empresa (mas ainda não o fizeram) uma proposta para a aquisição da mesma. "À suivre", como na banda desenhada...

terça-feira, maio 30, 2023

O patife


Tive um grande prazer em ter sido convidado a apresentar, hoje, no Instituto Universitário Militar, o livro do general Francisco Cabral Couto, "O Fim do Estado Português da Índia - Um Testemunho da Invasão". 

O autor serviu no Exército que estava em Goa, foi preso durante seis meses pelas forças indianas e, como muitos outros militares portugueses, foi menos bem tratado pelo regime, depois do seu regresso a Portugal. A sua magnífica carreira militar posterior terá compensado o tempo traumático em Goa, que, com grande rigor, deixou por escrito.

Na apresentação que fiz, procurei contextualizar a invasão indiana de Goa nesse "annus horribilis" que 1961 foi para a ditadura portuguesa, quer no plano interno, quer no quadro internacional.

Destaquei, em particular, o cinismo do ditador, o qual, não obstante ter a plena consciência de que os meios militares ao dispor das Forças Armadas portuguesas que estavam em Goa eram, em absoluto, insuficientes para deter um qualquer ataque, não hesitou em enviar ao governador instruções que incluiam esta sinistra frase: "Não prevejo possibilidades de tréguas nem prisioneiros portugueses, como não haverá navios rendidos, pois sinto que apenas pode haver soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos". 

Na resposta, o governador e comandante-chefe destacou "a desproporção das forças em presença, a fragilidade do dispositivo de defesa e a exiguidade dos meios em pessoal e material postos á nossa disposição".

Francisco Cabral Couto destacou, na ocasião, alguns aspetos do seu texto e, hesitando na escolha do vocábulo, com a contenção própria do militar de honra que sempre foi, concluiu a sua curta intervenção dizendo: "Salazar foi um patife!" E foi mesmo.

segunda-feira, maio 29, 2023

O impedimento


Hoje, estive na Universidade Fernando Pessoa, no Porto, a apresentar uma comunicação num congresso sobre Ciência Política e Relações Internacionais. E recordei a primeira vez que lá não fui. Eu explico.

Foi em inícios de 1996. O reitor da recém-criada Universidade Fernando Pessoa, professor Salvato Trigo, tinha-me convidado para abrir um evento, na minha então qualidade de secretário de Estado. Achei dever corresponder positivamente a esse gesto dessa nova instituição de ensino superior privado. Fixou-se a data e a minha visita foi anunciada na imprensa.

Foi então que tudo se complicou. Recebi um telefonema do meu colega de governo que tinha a seu cargo o ensino superior, o qual, alarmado, me disse: "Peço-te que não vás! O processo de legalização definitiva da Universidade está ainda em curso e vai demorar ainda alguns meses. Se acaso um membro do governo vier a surgir publicamente num evento da universidade isso acaba por funcionar como um reconhecimento oficial implícito. Seria muito desagradável!" E lá tive eu de inventar um pretexto para me furtar ao compromisso que tinha assumido.

Porque o tempo tudo cura, contei entretanto a história ao professor Salvato Trigo e ambos rimos sobre esse episódio. Só nessa altura ele ficou a saber o verdadeiro motivo do meu impedimento de então. Ilustro o post com um belo painel que figura no pátio central da universidade. Onde hoje tive imenso gosto de intervir.

domingo, maio 28, 2023

"O que os portugueses querem..."

Acho natural que um membro do governo se recuse a responder a uma pergunta de um jornalista. A ideia de que um jornalista representa a "voz do povo" é um demagógica falácia. Mas "passo-me" quando o governante, para fugir à questão, diz: "O que os portugueses querem saber é...".

Palavra

"Por que é que estavas a falar, há minutos, dos estúdios do Porto da CNN?", perguntou-me, agora mesmo, um amigo. "Ora essa! Já viste o inferno que está o trânsito para Queluz de Baixo?". Acreditem que ainda houve uns segundos de silêncio.

O partido das maiorias

Mariana Mortágua fez um forte discurso contra a maioria absoluta. Curiosamente, foi com o voto do BE que foi aberto o caminho a duas maiorias absolutas: uma dada à direita, em 2011, e outra oferecida ao PS, uma década depois. A continuar assim, o BE será sempre uma minoria absoluta.

No 28 de Maio

Há um mito, na política portuguesa contemporânea, de que uma determinada pessoa foi convidada por engano para um cargo ministerial, por ter um nome idêntico ao de alguém que era o verdadeiro destinatário do convite. Já está mais do que provado que essa historieta não tem pés para andar, mas, no entanto, tenho-a visto repetida como se fosse verdadeira. Talvez por ter graça...

A propósito da data de hoje, 28 de Maio, dia do funesto golpe militar, em 1926, conta-se que o general Gomes da Costa, depois de se ter desembaraçado dos seus colegas de conspiração, e pouco tempo antes de, ele próprio, ser posto com dono, recebeu os seus novos ministros. Ao cumprimentar aquele que ia ser o primeiro ministro da Saúde da ditadura militar, ter-lhe-á dito: "Tinha ideia de si como uma pessoa mais velha". O novo governante terá respondido: "Deve estar a confundir-me com o meu pai". E lá foi ele tratar da Saúde aos portugueses...

Os velhos turcos

No início da disputa presidencial na Turquia, dei comigo a perguntar, em voz alta, na CNN Portugal, se valia mesmo a pena decorar o nome, difícil de pronunciar, do líder oposicionista turco. Acabei por fazê-lo. O velho político regressa agora a casa.

A vida e o cinema


A CP passa no Alfa Pendular filmes belíssimos sobre a empresa, com funcionários sorridentes (presume-se não serem os grevistas), tudo com um ar "clean", eficiente e agradável. Pena é que a vida por lá não seja "como nos filmes"...

Com a cabeça na lua

Há semanas, numa conversa telefónica, veio à baila a célebre noite de 1969, em que, por todo o mundo, muitos madrugaram para conseguir ver, no nosso caso na televisão a-preto-e-branco, com o Mensurado a relatar, a chegada do primeiro homem à lua.

Explicava eu à pessoa com quem falava que, estranhamente, esse não havia sido o meu caso: tinha um exame de Sociologia no dia seguinte e, com uma disciplina de comportamento em que, nos dias de hoje, me não reconheço, tinha-me ido deitar cedo, depois de reler a muito sublinhada sebenta do professor José Júlio Gonçalves.

Foi então que ouvi, desse amigo quase da minha idade, com formação superior, sem a menor ponta de ironia, porque ele é assim, permanentemente dado às mais sofisticadas (se o termo se pode usar nesse contexto) teorias a conspiração: "Não perdeste nada, como sabes. Aquilo foi tudo montado em estúdio, para mostrar uma suposta superioridade tecnológica americana, em tempo de Guerra Fria. E a patranha pegou, para muitos, até hoje."

Creio que, na passada, lhe perguntei o nome da ilha onde vivem o Michael Jackson e o Elvis Presley. Ah! Esse amigo é um fiel seguidor político de um líder que ele trata sempre por “André”. E está ansioso pelo regresso de Trump, a quem o Biden "roubou" as eleições, é claro!

A vida, sem esta diversidade de gentes, não tinha graça nenhuma.

sábado, maio 27, 2023

Pela Europa


Uma bela manhã de análise das grandes questões europeias, num mano-a-mano com Paulo Sande, a convite da JSD de Setúbal.

O abraço do leão


O Benfica ganhou o "campeonato". Parabéns aos meus muitos amigos benfiquistas. O leão, lá do alto da estátua, representa-me no Marquês.

Multilateralismo


Na passada quarta-feira, na Universidade Autónoma de Lisboa, dei uma aula sobre Multilateralismo. Foi mais de uma hora e meia, com um grupo de alunos interessados e interventivos. Se a professora Sónia Sénica não tivesse colocado um ponto final ao debate, aquilo tinha-se prolongado sabe-se lá até quando!

Demos uma "volta ao mundo" das organizações multilaterais, da sua origem, história e desenvolvimento, em especial ao longo do século XX - o século de consagração do multilateralismo. Falámos das diferenças entre as diplomacias bilateral e multilateral, dos métodos de trabalho diversos para operar em cada uma. E discutimos muito o que foi a aculturação portuguesa ao mundo multilateral, desde as reticências da ditadura à "explosão" da nossa ação externa nesse domínio, no pós 25 de Abril. E falámos, claro, dos problemas que o multilateralismo atravessa, com a ONU no centro dessa crise.

Comecei a aula perguntando aos alunos se já tinham mandado uma carta pelo correio, para o estrangeiro. E se, ao pagarem o selo no ato do envio da carta, acaso se tinham perguntado por que motivo alguém se iria dar ao ao trabalho, no destino, de ir entregar a carta ao endereço indicado. Com certeza, esse serviço tinha de ser pago, o que significava que parte do custo do selo tinha de ser entregue ao serviço dos correios desse país. Uma coisa óbvia. Da mesma forma que entendemos natural que, ao colocarmos o endereço, escrevamos o nome do destinatário, depois a artéria, a cidade (mais modernamente, o código postal) e o país. Quem "combinou" que isso fosse assim? Como é tudo começou? Como é que os países se organizaram, entre si, para que tudo funcione, em termos de respeitada reciprocidade?

Foi por causa de tudo isto que, em 1878, foi criada a União Postal Universal, a primeira estrutura institucional multilateral de vocação global. A diplomacia é feita destas pequenas grandes coisas bem úteis ao mundo.

sexta-feira, maio 26, 2023

De Polichinelo


Vou contar um segredo de Polichinelo, que muito jornalista e político sabe, mas que a generalidade do público desconhece. Tem a ver com cerimónias, comícios ou discursos públicos, quando cobertos, em direto, pelas televisões.

A certa altura da sua arenga, quem está a falar para um público restrito recebe um sinal, por parte de uma pessoa da sua assessoria em comunicação social, informando-o de que, a partir desse momento, o que estiver a dizer deixa de ser ouvido apenas por quem está na sala e passa a sê-lo por centenas de milhares de espetadores.

Quase sempre, a partir desse instante, com mais ou menos jeito, o orador muda, subtilmente, de tom. Ele tem guardadas, precisamente para esse auditório exponencialmente alargado, as suas principais mensagens, os "bon mots", os ditos que quer que fiquem na cabeça das pessoas, por todo o país.

Hoje à tarde, por um mero acaso, liguei uma televisão. Fizeram, nesse instante, uma ligação a uma cerimónia onde falava o presidente da República, um evento com empresários.

Voltei-me para a pessoa que estava ao meu lado e disse: "Está atenta. Daqui a muito pouco, o presidente, fingindo que é a propósito daquilo em que está a intervir, vai dizer uma frase que, deliberadamente, ele quer que venha a ser interpretada num contexto mais vasto, aplicando-se à atualidade política". A pessoa não pareceu acreditar, até que ouviu.

Não passou um minuto e Marcelo Rebelo de Sousa, dando ares de que falava da vida dos empresários, lançou a frase de que, minutos depois, todo o país falava: "Quando o poder entra em descolagem em relação ao povo, não é o povo que muda, é o poder que muda".

Haver, há!


Há dias com um tempo mais simpático para passar um fim de semana em Palmela? Há. Mas só há este fim de semana para ser passado em Palmela. É a vida! 

Ferro Rodrigues no "Público"


Eduardo Ferro Rodrigues assina hoje, no "Público", um excelente artigo, onde, em especial, chama à responsabilidade e apela ao sentido de Estado de quem detém os meios de evitar uma crise política que, no seu entender, poderia afetar fortemente o regime democrático.

Olhando a árvore, porque a rama dá sempre mais jeito para alimentar a fogueira da polémica, o on-line do jornal ignora a floresta e, esquecendo o essencial, detém-se apenas sobre um pormenor do artigo - o episódio da dissolução da Assembleia da República em 2021 - embora, aparentemente, não entendendo o sentido que o autor quis dar-lhe, ao chamá-lo para o atual contexto.

E, para "orientar" o leitor preguiçoso, que se fique pelas "gordas" e não queira ler o texto todo, a edição em papel do "Público" faz um destaque enganador, na citação e na fotografia "grave", como se o único destinatário dos "recados" fosse António Costa. Irra!

Não costumo publicar aqui textos "fechados" (e eu pago a minha assinatura do "Público"). Mas, desta vez, o jornal merece que não se respeitem os seus direitos e se apele a que, no futuro, execute um jornalismo mais responsável.

E, já agora, quero dizer que lamento muito que uma figura com a experiência política e o estatuto institucional de Eduardo Ferro Rodrigues, que este texto bem revela, não tenha assento no Conselho de Estado. A sua voz poderia fazer a diferença, neste tempo de grande exigência democrática. 

quarta-feira, maio 24, 2023

Outra coisa


Acabei a aula na universidade, meti-me no carro pelo trânsito infernal da tarde de Lisboa, consegui um lugar no estacionamento, aproveitei uma aberta no meu barbeiro no Grémio ("estavas com um cabelame de lado que precisava de uma aparadela", tinha-me dito alguém que me viu na CNN) e, com calma, entre turistas que olhavam aquele espécimen fardado de casaco e gravata, subi o Chiado até à Brasileira. 

Entrei, passavam já uns bons minutos das seis e meia, a sala estava à pinha. Ao fundo, havia uma senhora a falar ao microfone. Graças à gentileza de uma cliente, consegui o último lugar de todo o espaço, na sua mesa. Com a sede dos afogueados, pedi uma imperial e, olhando a opção da minha companheira de pouso, e sem mais imaginação, mandei vir um "éclair" de chocolate (tardes não são dias e a minha glicose anda controlada). Ela sorriu, por eu lhe seguir o bom gosto.

A pessoa que, lá ao fundo, falava, dizia coisas sobre Natália Correia. Estranhei, mas só um bocadinho. Por entre as cabeças, tentei descortinar o inconfundível cabelo da Catarina Carvalho, que me convidara para a sessão. Sem êxito. De um dos autores do livro cujo lançamento ali me levava, o José Ferreira Fernandes, nem rasto. Quase não parecia ali haver nenhum homem! Era um mar de mulheres! Atentei então melhor no que era dito pela senhora que usava da palavra: falava sobre os motivos da sua decisão de escrever uma biografia sobre Natália Correia! 

Ó diabo! Agarrei no iPad, escrevi no tio Google "Ferreira Fernandes" e "Brasileira", na última semana, e lá estava, claro como a água: o lançamento do livro era na Brasileira, às seis e meia da tarde, na quarta-feira... dia 31 de maio, daqui a uma semana!

Acabei a cerveja e o "éclair", pedi a conta à empregada e desculpa à senhora do lado, e saí de fininho. Não é que me não interesse uma biografia da Natália Correia! Antes pelo contrário! Mas, hoje, eu ia ali por outra coisa. E uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. 

ps - a Catarina e o Zé que me desculpem se, lá para o fim do mês, não estiver na Brasileira. Já estive!

Depois, queixem-se!

O justicialismo paranóico, imagem de marca de muita da comunicação social portuguesa - que alegremente junta, no mesmo caldeirão, rumores, suspeitas, meias-verdades e raramente factos provados -, é pasto fácil para um populismo que pode vir a destruir o regime democrático.

terça-feira, maio 23, 2023

Reverar?

Utilizei num texto, neste blogue, o verbo "reverar", no sentido de "ter profundo respeito por". Já não era a primeira vez que usava o termo. Há anos que, em artigos e textos vários, embora sem grande frequência, "reverar" faz parte integrante da minha escrita. Ao reler este último post, surgiu-me a dúvida: o vocábulo "reverar" teria mais algum significado, além daquele que eu lhe dava? Decidi ir a um dicionário: o verbo não constava. Fui ver a outros: idem. Sem querer, desde há anos, utilizo com regularidade uma palavra, um verbo, que, afinal, não existe. E agora, que faço? Continuo a usar "reverar"?

segunda-feira, maio 22, 2023

Os 25 anos da Expo


Leio agora isto, em especial o último parágrafo, e, pondo-me no lugar do leitor, dei comigo a reagir: "Este tipo foi 10 vezes à Expo? É um "Expo-dependente", como António Costa, Mariano Gago e Manuel Maria Carrilho?". 

Ora eu, na realidade, só fui à Expo, como visitante, um único dia. Estas 10 vezes que vêm hoje referidas nas notícias representaram o acolhimento que me coube fazer a 10 ministros ou dignitários de outros tantos países, no respetivo dia nacional, com a cena dos hinos e do hastear das bandeiras, passagem ao filme de apresentação (que já sabia de cor) no Pavilhão de Portugal, com a Simoneta da Luz Afonso a ter de repetir a sua explicação, subida ao primeiro andar, um Porto ou um Madeira branco (eu pedia sempre um Douro tinto), ida para a mesa, débito de um discurso inventado sobre o país em causa e sobre a conhecida "excelência" das nossas relações bilaterais, seguido do ritual almoço "ex officio". Depois, ala que se faz tarde para o trabalho, porque ninguém o fazia por mim.

Foi uma belíssima realização, saída da genialidade de António Mega Ferreira e Vasco Graça Moura, com o apoio de Cavaco Silva e o empenhamento de António Guterres. O país gostou, os estrangeiros também, os erros de Sevilha foram evitados e lá está hoje o Parque das Nações, nome saído de um conselho de ministros, já no final da Expo, a que, por acaso, estive presente e no qual tive a ousadia de propor, com o resultado que se viu, o nome de "Parque do Oriente", por algumas razões que então adiantei, quando mais não fosse, para homenagear o estimável Clube Oriental de Lisboa...

Caldas


... e no dia 16.3.74, um grupo de oficiais, de obediência spinolista, tomou de assalto este quartel e tentou uma insurreição, que saiu gorada. Alguns foram detidos e isso grangeou-lhes esporas junto do "movimento dos capitães". Em 28.9.74 e, em especial, em 11.3.75, perdê-las-iam.

Sporting

Ser do Sporting é sê-lo num dia como o de hoje. Sporting sempre!

Ainda Cavaco

Pense-se o que se pensar sobre o conteúdo, a forma e a oportunidade do discurso de Cavaco Silva - e se fica bem a um antigo chefe de Estado, na plenitude das suas capacidades, agir daquela forma - nem por um segundo acho que Cavaco tenha pisado alguma linha vermelha da democracia.

domingo, maio 21, 2023

Estaline

 


Estaline é uma personagem histórica altamente controversa, "to say the least". A sua crueldade ultrapassou as raias do imaginável, as mortandades que a sua paranóia provocou anularam, para a grande maioria das pessoas, o sentido patriótico da liderança que protagonizou na União Soviética, em face da invasão da Alemanha nazi. 

Escrevo "grande maioria" porque, na Rússia, e até na sua Geórgia natal, encontrei quem reverenciasse a sua memória. E, nas vezes que passei na Praça Vermelha, em Moscovo, junto ao seu discreto túmulo, muito perto do edifício monumental onde está depositado Lenine, nunca ali vi faltarem flores. 

Mesmo em Portugal, como já em tempos aqui relatei, ainda há militantes comunistas que se recusam a entrar no coro da diabolização do "Zé dos Bigodes", como era carinhosamente tratado em outros tempos. Há gostos para tudo e, felizmente, em democracia, quem quiser pode revelá-los, por muito que outros se escandalizem!

Ontem, nas Caldas da Rainha, descobri, numa loja, este boneco, muito bem construído, representando Estaline. Comprei-a e vou oferecê-lo, logo que encontre um portador, a um velho amigo brasileiro que um dia, na cidade do México, ao visitar a casa de Trotsky e ao ouvir, da boca do guia, que ele tinha sido "assassinado" a mando de Estaline, reagiu, indignado: "Assassinado não! Justiciado!"

Imagino que alguns leitores achem que, por vezes, brinco demasiado com coisas muito sérias. Estão enganados: não é só por vezes!

"Quem quer regueifas?"

Sou de um tempo em que, à beira da estrada antiga entre o Porto e Vila Real, havia umas senhoras a vender regueifas. Aquele pão também era p...