terça-feira, abril 03, 2018

Russos e soviéticos

Hoje, no seu artigo regular no “Público”, o deputado europeu Paulo Rangel, atropela com alguma ligeireza a História para uma chicana política. A propósito da atitude do governo de não seguir alguns parceiros na expulsão de diplomatas russos, por virtude do atentado no Reino Unido contra um espião, Paulo Rangel traz à baila a decisão tomada pelo primeiro-ministro Sá Carneiro de expulsar diplomatas soviéticos, acusados de atos de espionagem no nosso país. E vai mais longe: diz também que foi Cavaco Silva quem não reconheceu a invasão soviética dos Estados bálticos, uns meses depois. 

Quanto a este último caso, se Paulo Rangel quer dar o crédito exato a alguém (eu poderia ser maldoso e acrescentar “da sua área política”, mas não o farei) por essa decisão terá de o fazer ao dr. António de Oliveira Salazar, que décadas antes havia decidido esse não reconhecimento. Cavaco, alertado pelo MNE para este facto, terá apenas impedido uma delegação de deputados portugueses de se deslocar a um país báltico, o que provocou um sururu político no nosso âmbito pátrio. (O “culpado” por esse alerta foi um leitor habitual deste espaço, que poderá, se assim o entender, esclarecer melhor a história).

Mas a confusão propositada - é que, se o não fosse, seria bem pior ainda - entre a União Soviética desses tempos e a Rússia de hoje é apenas um truque fácil - como se o facto da capital de ambos os países ser Moscovo legitimasse a similitude dos atos. 

Recordo que a URSS, quando implodiu, deu origem a 15 países, um dos quais é hohe a Federação Russa. Trazer à colação uma decisão unilateral, tomada no tempo da Guerra Fria, por virtude de uma atitude culposa com impactos bilaterais, como fez Sá Carneiro, durante o período de menos de um ano em que chefiou o governo da AD, é um entorse grave à História. Custa-me ver Paulo Rangel colocar-se ao nível de uma esperteza qualificável como “dos arredores de Lisboa”.

9 comentários:

Anónimo disse...

Aliás, por ter impedido a deslocação de Fernando Amaral e de outros deputados à Estónia é que Cavaco teve a maioria absoluta em 1987. Mário Soares fez-lhe um grande favor, ao dissolver a AR e por consequência o PRD.

O culpado ( sem aspas ) disso tudo fui eu. Ainda fiquei durante algum tempo à espera que Cavaco me mandasse uma caixa de D. Rodrigos mas aprendi rapidamente que nunca se deve esperar gratidão dos poderosos, o que foi muito útil alguns anos mais tarde.

Anónimo disse...

Antes dos arredores de Lisboa que da Régua!...

Anónimo disse...

"a decisão tomada pelo primeiro-ministro Sá Carneiro de expulsar diplomatas soviéticos, acusados de atos de espionagem no nosso país"

Fez muito bem Sá Carneiro.

Nesse tempo os soviéticos eram "unha com carne" com os seus irmãos portugueses,PCP & sobrinhos, MES,MDPCDE milicianos e oficiais dessas ideias, camufladas de liberdade popular as chamadas frentes-anti.

Ainda hoje mantêm o cerne obsoleto e a casca colorida !

Reaça disse...

Não se deve invocar o nome do Homem em vão.

O Homem de Santa Comba fazia aprender na 4ªa classe nas escolas (universidades) do centenário, nos anos 40, no livro de geografia, que dos principais países da Europa, além da França, Londres, etc. ainda faziam parte a Estónia, Letónia e Lituânia.

Isto, quando já todos davam aquilo com caso arrumado, deixando o Homem, "orgulhosamente só", a falar para as paredes.

Isto na altura em que alguns queriam fazer deste jardim (agora ardido),queriam fazer disto uma "Cuba" antecipada.


Anónimo disse...

Para um não-politizado como eu, russos, até daqui a muitos anos quererá dizer, na mesma, os cidadãos da URSS mesmo depois desta última ter desparecido.
Não é por decreto que um regime como o implantado em 1918 desaparece.
Já lá vai um século e ainda se conhecem muitos saudosistas na actualidade.
É puro eufemismo pensar que seja fora da Rússia actual ou mesmo as populações russas, náo desejarem outra tomada do Palácio de Inverno e as suas doces consequências para a humanidade.
Enfim... eu também não gosto de cabeça de pescada e cada um só se deve alimentar do que gosta, mesmo que lhe faça mal à saúde. O que eu não gosto mesmo é quando somos obrigados a aceitar o que outros mandam.

Luís Lavoura disse...

Paulo Rangel é aquele indivíduo que pôs em tribunal Pedro Arroja por este ter dito qualquer coisa depreciativa sobre ele num programa de televisão. Está tudo dito sobre Rangel.

domingos disse...

Caro Embaixador, acho interessante o mini-depoimento do JPG. Talvez ele um dia mais tarde queira acrescentar mais qualquer coisa...

domingos disse...

Caro Embaixador, o mini-comentário do JPG é interessante. Mas talvez algum dia ele se tente a acrescentar mais qualquer coisa...

Anónimo disse...

Ao Domingos das 13.39 e ao Domingos das 13.41: Gostaria de contar a história toda, desde a leitura do DN a informer da visita parlamentar à Estónia até à dissolução da Assembleia, passando pela total ignorância dos factos por parte dos diplomatas então colocados em Moscovo e pelo comportamento impecável do Director Político e do Ministro da altura. Houve uma notícia humorística no Expresso dessa semana. Sei quem a pôs lá. Na altura não achei lá muita graça. Os pormenores ficarão para outra altura.

JPG

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...