domingo, abril 29, 2018

Fareed Zakaria


Desde há dois anos que, no outono, me tenho cruzado com Fareed Zakaria, jornalista que apresenta semanalmente o excelente GPS – Global Public Square, na CNN. É em Kiev, na Ucrânia, num congresso internacional em que ambos participamos, com ele como um dos moderadores de interessantes debates. 

“Cruzado” é uma maneira de dizer: nunca tinha falado com ele, no meio daquelas centenas de participantes, entre figuras políticas, que vão de Tony Blair a Strauss-Kahn, de John Bolton a Paul Krugman ou a David Cameron, passando por jornalistas que cobrem o Leste europeu, para além de gente ligada às relações internacionais.

A conferência tem lugar num antigo arsenal militar, a uns quilómetros do hotel onde fico hospedado, com um transporte vai-e-vem sempre disponível, através de pequenos autocarros. Num final de tarde, vi-me sozinho, numa dessas vans, com Zakaria. Meti conversa.

Veio à baila um painel dessa tarde e, ao falar-se da Europa, vi que ficou interessado em algo que eu disse sobre Angela Merkel e a Comissão Europeia. “Podemos falar um pouco, no hotel?”, sugeriu. Estávamos ambos hospedados no “Premier Palace”, com muitos outros participantes do congresso. Sentámo-nos no bar. 

Zakaria era é uma figura pequena, quase frágil, com um olhar vivo e muito atento. Com uma cordialidade profissional, olhava o interlocutor de frente, o que é sinal de segurança. Não tocou numa gota de álcool, não me acompanhando numa excelente cerveja ucraniana que lhe ofereci.

Pela nossa conversa, que durou bem mais de meia hora, passou, curiosamente, uma assimetria de interesses, em matéria de informação. 

Ele queria falar da Europa, do modo como andavam os equilíbrios entre Macron e Merkel, das hipóteses de evolução institucional, das consequências do Brexit, do futuro político da Itália, do sentimento diferenciado no continente face à Rússia. Portugal não lhe interessava minimamente, mas a Catalunha sim.

O meu objetivo era ter dele uma leitura crítica dos tempos turbulentos da administração Trump, das mudanças na Casa Branca, com análise prospetiva de algumas dinâmicas, fosse no Congresso, fosse na atitude americana nos grandes dossiês internacionais, em especial no tocante à China e Rússia. 

Lá lhe fui dizendo o que pensava, em temas em que tinha uma opinião, mas nos quais eu era seguramente muito menos informado do que ele seria sobre aquilo que verdadeiramente me interessava. Não sei se o que disse lhe serviu de muito, ou talvez o possa ter ajudado a precisar alguns pontos específicos. No que me adiantou, confesso, não houve nenhuma surpresa – ou talvez seja o facto de regularmente o ouvir na CNN que me tenha dado a ideia de que conhecia o que ele pensava.

No final, trocámos os cartões da praxe, como acontece nestas ocasiões, sem que isso sirva depois para nada. Às vezes, os encontros são quase desencontros, por mais simpáticos que sejam, como foi o caso.

3 comentários:

Dalma disse...

Sr. Embaixador, “conheci” o jornalista Fareed Zacarias quando assinava a Newsweek, antes de passar à edição online ( acho que entretanto votou de novo à Ed.em papel) e por essa altura tive notícia de que foi suspenso da revista por ter plagiado um outro autor...
Pelos vistos o assunto deve ter sido esclarecido embora não tenha tido notícia de como o assunto se resolveu!
D.

Luís Lavoura disse...

o modo como andavam os equilíbrios entre Macron e Merkel

Andam assim: Macron é um político em ascensão, Merkel é uma política no ocaso. Atualmente, Macron parece já ter ultrapassado Merkel.

Porém, não auguro que alguma vez Macron venha a ter tanto poder como Merkel no passado teve.

O facto é, Merkel teve no passado os votos de quase 40% dos alemães. Macron apenas teve os votos de uns 25% dos franceses, salvo erro (numa eleição aberta; a segunda volta das eleições francesas não conta, porque só tem dois candidatos). Macron tem muito menos suporte interno do que Merkel no passado teve.

Anónimo disse...

Um arrogante jornalista, típico da nomenclatura norte-americana. Um fabiano. A esquecer.

Livro