sexta-feira, abril 27, 2018

O outro Paralelo 38




Nesta madrugada, ao ver Kim Jong Un e o seu homólogo sul-coreano cruzarem-se no Paralelo 38, que desde 1953 marca a divisão das duas Coreias, na minha memória gastronómica soou uma campaínha.

Existia, em Loulé, o restaurante Paralelo 38, uma casa simples com ótimo peixe, cujo dono, um simpático velhote (que agora me lembram que se chamava Abílio, “Abilinho”), nos anos 70, se gabava das visitas de Mário Soares e nos servia, no final, uma bela aguardente de medronho.

4 comentários:

Ribeira das Vinhas disse...

Já que fala do fabuloso "Paralelo 38" de Loulé, posso lembrar o dono Abílio (mais conhecido por "Abilinho") que apresentava uns salmonetes "do outro mundo" e andava com um copito na algibeira para beber o tal medronho com alguns clientes mais "habituais"...
Verdadeira instituição da Loulé dos anos 70/80!
António Correia

Manuel disse...

Só por causa disso vou agora almoçar uma dourada.

António Sampaio disse...

Nos anos 81,82,83, porque exercia em Loulé, almoçava, posso dizer, diariamente, de 2ª a 5ª,no Paralelo 38. à entrada, em caixas de madeira, em regra, besugo, salmonete e, salvo erro, dourada ou linguado, pescados naquela madrugada. Quase só essas três espécies. O dono Abílio, só dava almoços. Quando lhe perguntei porquê, respondeu que não dava jantares porque à noite o peixe não estava suficientemente fresco. A razão parecia ser outra: Ninguém o via enquanto grelhava com mão de mestre o peixe, servido pela mulher com quem, constava, não falava havia 30 anos. Quando era servido o último peixe, víamos o Abílio sair, casaco e camisa, por vezes engravatado, e constava que ia divertir-se em inofensivos jogos de cartas com amigos. No dia seguinte, lá estava outra vez, escondido onde grelhava, raramente vindo à sala onde se saboreava o seu peixe. Quando reparei que não havia frigorífico, perguntei-lhe porquê. Respondeu: Se tivesse frigorífico significava que no dia seguinte podia estar a dar peixe do dia anterior. O dono Abílio raramente vinha à sala. Só quando um ou outro amigo o chamava é que vinha e conversava um pouco, "filosofando" sobre a vida, defendendo sempre a temperança e frugalidade, e os prazeres imediatos que mantêm a vida simples e sã. Curioso. Na parede ostentava pequenos escritos ou postais de pessoas que lá tinham almoçada, entre os quais de Mário Soares, Amália, e um de que se orgulhava, Edward Heath, primeiro ministro do Reino Unido, onde dizia, mais ou menos isto: "o lugar onde comi o melhor peixe do mundo".
Tive oportunidade de ver lá pessoas como o Prof. André Gonçalves Pereira, Galvão Teles e Francisco Sousa Tavares, quando iam advogar ao Algarve.
Recordo com grande prazer o Paralelo 38, onde, também eu comi o melhor peixe.

António Sampaio Gomes

Jorge Bartolo disse...

Bem me lembro do Paralelo 38 e do Sr. Abílio.
Nos anos 70, uma empresa do grupo da Companhia de Seguros Império adquiriu os Móveis Pinto Gago, conceituada empresa de Loulé que era dos principais fornecedores de mobiliário e decoração para as urbanizações algarvias.
Como director dessa empresa, quando de visita a Loulé ia almoçar obrigatoriamente ao Paralelo 38.
Quando tentei lá jantar, aprendi que não servia jantares. Constava que o nosso amigo Abílio a gastar parte da receita dos almoços no Casino.
Tive o privilégio de estar várias vezes com ele e lembro-me que trazia um copinho num bolso das calças para beber connosco o medronho. Bons tempos!

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