sexta-feira, abril 13, 2018

Marvila


Há não muitos anos, se alguém dissesse, em Lisboa, que havia algo de divertido para fazer em Marvila passava por lunático. 

De Xabregas ao Beato, passando pelo Grilo, do Poço do Bispo a Marvila, a Lisboa oriental era apenas um amontoado de fábricas, silos, armazéns e casas de uma vida suburbana sem qualidade. Depois, já mais para longe, era o Braço de Prata, a Matinha, Cabo Ruivo e Beirolas - hoje, o Parque da Nações, ainda Expo para muitos.

No meu tempo de faculdade, em que vivia nos Olivais, ia de manhã cedo a Moscavide apanhar o “28” para o Restelo, que me iria deixar na Junqueira. Para lá chegar, porém, tinha de começar por atravessar toda essa zona. 

No autocarro, cheio de gente sonolenta, fechávamos bem os vidros para inspirar, o menos possível, o cheiro que nos vinha com o fumo das refinarias da Sonap, olhávamos o cais abandonado onde jazeu por muitos anos a carcaça do último hidroavião para a Madeira, fazíamos graças entre nós sobre um eventual uso de uvas nos armazéns de vinho do Abel Pereira da Fonseca, víamos os motoristas “aviarem-se” no urinol (ainda lá está, é o último de Lisboa, creio) no largo do Poço do Bispo. E, bem incómodos, no irregular do empedrado, íamos como sardinhas em lata verde da Carris, na caloraça do verão ou no gelo húmido do inverno. Nem com esforço tenho saudades desses tempos, confesso!

Olhei há pouco a capa da excelente “Evasões” de hoje e fiquei a saber que Marvila - onde foi criado o histórico Oriental, o Clube Oriental de Lisboa - agora está na moda. Galerias, lojas, restaurantes, um mundo novo! 

Grande Lisboa!

3 comentários:

Anónimo disse...

Há outro urinol, perto da entrada para o Castelo. Mais pequeno, não dá para casais.

AV disse...

Quem a viu e quem a vê.

Luís Lavoura disse...

íamos como sardinhas em lata verde da Carris

Pois iam. O pessoal de hoje em dia, muito fino, quando fala dos apertos que sofre nos transportes públicos, não faz a mais pálida ideia de como neles se andava há uns 30 anos. Nessa altura é que era verdadeiramente "sardinha em lata". Hoje, anda-se à larga.

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