A idade das pessoas que Rui Rio convidou para o seu Conselho Estratégico está a ser objeto de comentários negativos, em setores de imprensa claramente ligados à defunta direção de Passos Coelho. Isso fez-me lembrar uma curiosa história.
Creio estar ainda na memória de muitos uma questão, trazida a público por Bagão Felix, há já alguns anos. Num determinado momento, alguém deu conta que, da forma como uma determinada legislação elaborada durante a governação de Passos Coelho estava redigida, tornava-se impossível a um aposentado da função pública exercer qualquer outro cargo dependente de nomeação do Estado.
Uma lei anterior, já do tempo do governo de José Sócrates, impedia que quem usufruísse de uma pensão de aposentação pudesse ter uma ocupação remunerada no Estado. Algumas exceções havia, mas essa era a regra. O princípio era, em si mesmo, eticamente justificável: abria-se a possibilidade de dar emprego a novas pessoas. Nada a objetar, portanto.
Porém, a tal legislação posterior, publicada pela direita então no poder, ia mais longe. Na letra dessa lei, mesmo lugares não remunerados passavam a estar abrangidos, pelo que tarefas de natureza consultiva - repito, “pro bono” - passavam a ser proibidas. A questão colocou-se a muitas pessoas que se haviam disponibilizado a colaborar benevolamente com várias entidade públicas, nomeadamente nos Conselhos Gerais de universidades. É que, nos termos dessa legislação, poderia ser-lhes suspendida a sua pensão de aposentação, por estarem a exercer outra função pública ... embora gratuitamente!
Bagão Felix suscitou publicamente a questão, que foi controvertida na imprensa por uns dias, e o executivo de Passos Coelho lá recuou, já não sei por que forma de aclaração da legislação. Foi dito tratar-se de um “erro”. E tudo voltou à estaca zero: apenas ficaram abrangidas as funções remuneradas.
Tempos mais tarde, comentei casualmente o assunto com alguém, jovem, ligado ao governo de Passos Coelho. E obtive uma revelação interessante: não tinha sido “erro” nenhum, tinha sido uma decisão maturada e tomada em plena consciência. Com dois objetivos.
O primeiro objetivo era reservar para os “mais novos” esses lugares, mesmo que não pagos. Porquê? Porque ao ingressarem nessas funções, ainda que sem remuneração, essas pessoas iam ganhando linhas formais de “experiência”, o que lhes permitiria darem progressiva substância aos seus “curricula vitae” e, nessa lógica, iam criando “lastro” para ascensão a futuros lugares remunerados.
Notei ao meu interlocutor que, dessa forma, ficava em absoluto posto de lado o interesse em usufruir da experiência de quem tinha tido carreiras ricas e se mostrava disponível para partilhar as “lessons learned”, sem quaisquer encargos.
E foi então que tive uma surpresa ainda maior. É que esse era, precisamente, um segundo objetivo da medida “jeuniste”: pretendia-se evitar que quem vinha do “passado” pudesse “poluir” as instituições com as suas ideias “retrógradas”, dando assim “lugar ao novos”, como se o novo fosse, sempre e necessariamente, só por ser novo, melhor que o antigo.
Tem graça lembrar isto, agora que o PDS, para a definição das suas políticas, está a chamar gente mais experiente. Este será, pelos vistos, mais um contraste nas filosofias que se defrontam dentro do PSD.
7 comentários:
Bom dia.
Tudo em linha com a "peste grisalha". Estão lembrados?
Cumprimentos cá da Bila.
Agora percebo porque é que o jovem deputado do PSD da Guarda, chamava "peste grisalha" aos reformados e pensionistas.
Peeos vistos, essa mentalidade estava bem enraizada nas hostes dos Jotas do partido.
Não era nenhum caso isolado...
Aos meninos da católica era limpar-lhes o osso até à medula...
Porque não gosto de "anónimo"
Anónimo Anónimo disse...
Bom dia.
Tudo em linha com a "peste grisalha". Estão lembrados?
Cumprimentos cá da Bila.
8 de abril de 2018 às 08:51
Guerra
Sempre me perguntei se na Católica seria ministrada a cadeira da doutrina social da ICAR?
Se é, os alunos devem escassear...
Sr. Embaixador: com tantos troca-tintas, até o sr. trocou o nome do PSD para PDS (quase no final do texto). Será já um partido novo? Saudações de uma toupeira voucherista
Concordo. É um ponto importante visto trata-se de saber qual o tipo de personagens que vai criar e gerir os impostos, o tipo de tributação que nós vai ser imposta.
As carreiras profissionais apresentam-se aos jóvens graduados, hoje em dia, como a opção entre o exercício do poder político, ou mesmo para-político, com as benesses associadas ... ou não.
Os jóvens constatam as dificuldades porque passam os que optam pela actividade no "privado".... Isto com todo o respeito pelos indispensáveis profissionais no Estado. A todos os níveis.
Pergunto: Socialismo, afinal constitucionalmente eleito como o preferido, já numa fase radicalizada?. O que julga que vai conseguir fazer Rui Rio e a sua "gente mais experiente", contra a maré socializante.JS
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