Lembrei-me ao passar por lá, há pouco. Exatamente no local onde fui agredido, por uma primeira e única vez, pela polícia da ditadura (sou um “antifascista” sem história de repressão: foi uma simples bastonada num ombro, que nem uma “negra” deixou), no funeral de Ribeiro Santos, nasceu agora um “Subway”. É no largo com o nome desse estudante, assassinado por um “pide”, em 1972, aqui em Lisboa.
Mas o que é que isso tem de notável? É porque estamos na madrugada de domingo e, em todas essas madrugadas de sábado tardio e domingo a despontar, em Londres, no início dos anos 90, aí pela uma da manhã, eu saía de casa e ia invariavelmente a uma loja da “Subway”, perto da estação de metro de Gloucester Road. Comprava uma braçada de todos os semanários (já) de domingo, acabadinhos de chegar para venda: “Sunday Times”, “Independent on Sunday”, “Observer” e “Sunday Telegraph”. E, sempre, uma bela baguette de pão francês, crocante, acabada de sair do forno. O indiano de turbante que me vendia tudo aquilo olhava-me com um sorriso divertido, estranhando os meus gostos (cumulativos) de imprensa.
Regressava deliciado a casa, sacava do frigorífico uma cerveja, e ali ficava eu “na engorda”, com uma pilha de quilos de jornais, a ouvir música e a ler pela noite dentro, no andar de baixo da minha casa em Elvaston Place. Tenho uma memória boa das noites desses dias.
A imprensa dominical britânica era muito interessante, viva, com “caixas” e extraordinários comentários, numa bela escrita. A vida política local era então movimentadíssima, com Thatcher em declínio, Heseltine e Major à espreita, o “Labour” de Kinnock e depois de John Smith a tentarem a sua sorte no pós “block vote”, que só viria a sorrir anos mais tarde a Tony Blair, acomodado que foi Gordon Brown, com o liberais-democratas de Paddy Ashdown no seu eterno caminho das pedras. E havia o Iraque, e a Bósnia em chamas, e o IRA, com Adams e McGuiness por detrás, a pôr bombas, e a Escócia a pedir ”devolution” e Joe Bossano a berrar em Gibraltar. E a “bloody” Europa, com o odiado Delors, a guerra dos “opt out”. Uma festa!
Passado o tempo do “respeitinho” a Buckingham, a contenção informativa foi-se diluindo e a imprensa - particularmente a de domingo - “soltou-se” face à família real, começou a tratar das escapadas de Diana, das gaffes de Fergie e, finalmente, dos amores de Charles e Camilla. Foi muito curioso ver essa mesma imprensa hebdomadária - a que correspondiam, respetivamente, na ordem atrás mencionada, nos dias normais de semana, o “The Times”, o “The Independent”, o “The Guardian” e o “The Daily Telegraph” - começar a posicionar-se, no estilo e na ousadia jornalística, já um pouco entre os tablóides e o estilo mais sóbrio dos “jornais-mãe”. Muito iria mudar, nos anos seguintes, nesse mundo em crise dos jornais de papel.
O nosso “Subway” de Santos nem deve ter o “Expresso”, ou mesmo o clandestino “O Sol”. Mas, verdade seja, a julgar pelas sondagens, com isto por cá está transformado numa pasmaceira política, só animada pelo inacreditável grupo de que Rui Rio se rodeou, para que é que são precisos jornais?
3 comentários:
Sr. Embaixador
Por que razão chama clandestino ao jornal "O Sol"?
Cumprimentos
Pau que nasce torto nunca se endireita...
"O nosso “Subway” de Santos nem deve ter o “Expresso”, ou mesmo o clandestino “O Sol”. Mas, verdade seja, a julgar pelas sondagens, com isto por cá está transformado numa pasmaceira política, só animada pelo inacreditável grupo de que Rui Rio se rodeou, para que é que são precisos jornais?"
O tripé governativo constitui por si só uma stand-up comedy, que lamentávelmente conduzirá a nova bancarrota típica dos governos PS (que apesar dos tiros nos pés do grupo que menciona),mas desta vez com um estrondo ensurdecedor!
No tempo do Salazar existia censura e líamos nas entrelinhas, agora com o actual governo os médias auto-censuram-se; uma "melhoria"(face ao estado novo).
Tudo corre no melhor dos mundos, salvo quando ocorre algum notícia "não controlada" e logo os comissários diligentes vão a correr apagar "os fogos"....
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