sábado, março 24, 2018

Toninho Drummond


Tinha 82 anos. Sabia-o doente. Acabam de me dizer que morreu. Quando cheguei a Brasília, em 2005, amigo que ele era de outros amigos meus, recebeu-me de braços abertos. Organizou então um jantar que juntou “meia Brasília”, tudo quanto contava na vida política da capital - desde um antigo presidente da República a ministros, de chefes de importantes órgãos federais a figuras do jornalismo, do empresariado e da advocacia. Numa noite, poupei meses na criação da rede de contactos que é essencial ao trabalho de qualquer embaixador. “Só não consegui trazer o Lula”, brincou então.

António Carlos Drummond, conhecido por toda a gente como Toninho Drummond, nasceu em Minas Gerais e era mineiro de alma e coração. Foi jornalista e, em Brasília, por décadas, foi o homem da Globo, reconhecido por ter ajudado a mudar radicalmente a face do jornalismo televisivo na capital federal. 

Era um homem encantador, uma figura cordialíssima, muito generosa, sempre com aquele sorriso bom, com histórias magníficas de um Brasil que passou por muitos e diversos tempos, de que foi testemunha e ator privilegiado. Guardo noites deliciosas a ouvi-lo, com o Tonico Portugal e o Pedro Borio, no jardim da nossa residência ou da sua belíssima casa junto ao lago. E recordo almoços que tivemos a dois no Piantella, o restaurante onde “tudo se passa” na capital brasileira, onde me apresentava àqueles que eu “também tinha de conhecer”, de deputados a “opinion makers”, refeições onde ele me “traduzia” a complexidade do emaranhado político local. Devo ao Toninho muito do razoável conhecimento de Brasília que consegui criar. Mais recentemente, no “gozo” das nossas mútuas reformas, juntávamo-nos em Cascais, na “multidão” selecionada dos excelentes amigos que por cá tinha.

Vou ter muitas saudades do meu amigo Toninho Drummond. Deixo um beijo de grande pesar à Palmira e a toda a família.

1 comentário:

A Nossa Travessa disse...

Meu caro Franciscamigo

Não conheci este este Senhor mas acompanho-te na tua dor. Porque também estou numa imensa situação dolorosa. Faz hoje oito dias faleceu o meu irmão Braz, 72, vítima de cancro na próstata de que padeceu ao longo de quase um ano de sofrimento horrendo. Fui vê-lo na véspera do seu fim, após uma vida profissional muito boa desde o Médio Oriente onde vivia e tinha o seu escritório de consultor de cimenteiras (onde chegou a estar entre os dez melhores do Mundo) e na qual terá ganhado balúrdios (nunca lhe perguntei) mas os espatifou com mulheres, pois teve entre oficiais, casou duas vezes, e "não oficiais" nove...

Para abreviar a estória, fiou sem cheta e a esposa (dizia ele assim) filipina teve de ir a Manila e ele ficou só - com o cancro. Por decisão da Raquel mandámo-lo vir e a via sacra que começara que começara lá continuaria cá em Lisboa. Foram meses e meses primeiro em minha asa, depois no Hospital de Santa Maria e finalmente na Casa de Conforto e Acompanhamento de Santa Bárbara na Lourinhã e finalmente a fase terminal. Foi cremado faz amanhã oito dias.

Eu continuo a esforçar-me por tentar nem sei bem o quê...

Um abração deste teu amigo e admirador

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...