O comboio acaba de fazer uma breve paragem em Coimbra B, no caminho ferroviário entre Lisboa e o Porto. Para quem não saiba, convém esclarecer que Coimbra tem uma estação no centro da cidade, designada por Coimbra A, de onde se toma uma ligação para Coimbra B. É, daqui, acede-se “ao mundo”...
(Historicamente, era em Coimbra B que os “caloiros”, arribados à universidade da cidade, eram pela primeira vez chamados de “doutor”, pelos carregadores de bagagem, à espera de uma gorgeta pelo “elogio”, que inchava esses incautos novatos.)
Mas hoje trago Coimbra B à baila por outra razão: uma anedota que se contava no meu tempo de liceu.
Alguém de Coimbra quis, um dia, ir de comboio até Qianjin, uma cidade no norte da China. Dirigiu-se à bilheteira da estação de Coimbra A, bem no centro da cidade, e pediu um bilhete. O homem do guichet respondeu-lhe: “Para isso, só em Coimbra B. Eles é que têm as ligações internacionais”.
Chegado a Coimbra B, a resposta não foi muito mais promissora: “Só na Pampilhosa, meu amigo. Lá é que os comboios ligam a Espanha. Ali é que o podem informar”.
Na Pampilhosa, de facto, as coisas começaram a compor-se, ainda que não em definitivo: “Vendemos-lhe um bilhete para Paris. Depois, eles lá o encaminham para a China”.
E o homem assim continuou. De Paris foi mandado para Moscovo, dali para Pequim e um dia lá chegou a Qianjin. E por ali ficou o tempo que tinha de ficar, sabe-se lá bem a fazer o quê.
Um dia, o coimbrão decidiu regressar. Dirigiu-se então ao guichet da estação ferroviária de Qianjin. A fila de pessoas era grande (tudo o que mete pessoas, na China, como se sabe, é “em grande”). Esperou pela sua vez e, quando esta chegou, pediu um bilhete para Coimbra, que explicou ser uma cidade em Portugal. Contava-se - mas “vendo-a como ma venderam”, como soe dizer-se - que o chinês, com um ar impaciente, lhe perguntou: “Mas o meu amigo acha que aqui não temos mais nada que fazer? Seja mais preciso, homem! Quer um bilhete para Coimbra A ou para Coimbra B?”
Como disse, passei há minutos por Coimbra B. Lembrei-me do homem e da precisão dos chineses. E acreditem: por este andar, um destes dias, vão chegar “palettes” de chineses a Coimbra. A questão persiste: A ou B?
1 comentário:
A estação que refere como Coimbra A chama-se apenas Coimbra. Coimbra-A não existe. É erro comum mas nunca foi esse o seu nome.
Zuricher
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