quarta-feira, março 28, 2018

“Cumué?”


No regresso pascal à cidade de origem, os encontros de rua com gente da minha geração têm rituais sedimentados, por décadas. A anteceder o abraço forte e franco, surge quase sempre a frase: “Então, cá por cima?” ou, numa variante, “Então, vieste à Bila?” (com “b”, claro). Alguns, menos crentes de que a minha visita se possa fazer sem sacrifício das “delícias” da capital, acrescentam ainda: “Tem que ser, não é?”. 

Ontem, num passeio pela rua Direita, a antiga artéria principal da cidade, hoje transformada num cemitério ou quase de lojas comerciais, mas que tenho por ritual percorrer sempre que venho à cidade, fui surpreendido por outra expressão, que já não ouvia há alguns anos, mas que fez escola por muito tempo: “Como é?” (”cumué?”). É uma pergunta que não exige resposta, equivalente a um “Atão?”. 

Fez-me muito bem ouvir isto. E deu-me uma ideia. Um destes dias, em Lisboa, vou testar a expressão à chegada a uma reunião que tenha grande formalidade. Sempre quero ver qual será a cara de alguns fabianos...

7 comentários:

Luís Lavoura disse...

“Então, vieste à Bila?” (com “b”, claro).

vieste com v e bila com b? Parece-me invulgar.

Eu quando vou a Aveiro ouço tudo com b, a começar pelo nome da cidade. v é coisa que lá não existe.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Aguardo pela comunicação dos resultados, caro Embaixador!
Boa estada por Vila Real!

Mal por mal disse...

Há muita variedade de transmontanos.
Trás-os-Montes até ainda tem o mirandês...e ó carago!

Anónimo disse...

Nessa formalidade toda cheia de pruridos que muitos emanam, há muita gente que não tem onde cair.

Anónimo disse...

A esse "Como É?" já ouvi darem respostas dignas do mais retinto cancioneiro minhoto, uma coisa saída das bocas e cabeças de gente como Joaquim de Magalhães Barreiros, cantor e poeta de Além-Tâmega.

josé ricardo disse...

Felizmente, esse cemitério que parece ser comum em muitas cidades portuguesas do interior e de média dimensão, como o senhor embaixador refere no post seguinte, não é assim tão comum, principalmente quando os respetivos responsáveis autárquicos olham, adrede, a cidade com uma visão de serviço público, o qual se preconiza o bem-estar dos seus munícipes. Ah!, pois, esquecia-me das corridas. Pena é que quem queira simplesmente passear, nessa autoestrada citadina que é o circuito, não o possa fazer com segurança, pois iluminação, passeios, passadeiras são coisas que não existem nestas bandas.

Joaquim de Freitas disse...

E eu, quando ia a Portugal pela estrada a fazer turismo, e que chegava là para o Norte, não era o “atao” e o “inté” ou o “cumué”que me desagradavam: era o “tudo bem” em cada frase, e mesmo o “tudo bom”.. Brasileirismos baratos, como o sotaque brasileiro daqueles que, quando era jovem, via chegar a Guimarães, donde tinham saído seis meses antes…
Mas isto faz parte do “para inglês ver” que sempre caracterizou os Portugueses… complexados! Os ingleses fizeram muito a Portugal…e continuam !

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...