quinta-feira, março 15, 2018

Ai Brasil!


As estranhas condições em que teve lugar a morte da vereadora do Rio de Janeiro, atentas as tarefas de contestação da presença militar na cidade a que se dedicava, suscitam sérias interrogações.

O Brasil é uma das maiores democracias do mundo. A imprensa é absolutamente livre, não há presos políticos, os órgãos constitucionais funcionam. Há quem conteste o modo de funcionamento do sistema político e judicial? Claro que sim, mas quem o faz fá-lo sempre com total liberdade. É isso uma democracia.

Por isso, porque a democracia brasileira tem de estar acima de toda a suspeita, e antes que renasçam por ali velhos fantasmas, é muito importante para o bom nome do Brasil que este assunto seja esclarecido com a maior brevidade.

9 comentários:

Joaquim de Freitas disse...

“e antes que renasçam por ali velhos fantasmas” .


Que rodam mais que nunca desde o golpe de Estado contra Dilma. Mas o Brasil terá conserto, Senhor Embaixador, quando lemos coisas destas:-

a) Fui pras ruas em 64 com o povo pedir intervenção militar. Vivi todos os governos militares foram os melhores até hoje. Tivemos paz segurança muita liberdade . Foi a melhor época da minha vida
–-
b)- “Acabou indo para onde todo bandidos que eles defendem tem que ir...sepultura!!!! BOLSONARO PRESIDENTE!!!!! PORRA !!!!! “

c)- Já foi tarde, recolheram o lixo. Ela colheu o que plantou. Bolsonaro 2018!

Com a Democracia, a legislação brasileira conquistou muitos direitos e garantias individuais e colectivas, mas na prática muitas dessas conquistas sociais encontram-se apenas na lei e não no quotidiano das pessoas.

Uma pesquisa recente feita pela consultoria britânica Economist Inteligence Unit (EIU) produziu um índice que classifica os países de acordo com a qualidade democrática.

Segundo essa pesquisa, o Brasil encontra-se entre os países que possuem um déficit de qualidade democrática, abaixo do desejável. Na escala o Brasil aparece na 44ª posição dos países considerados democráticos entre 167 países analisados.

O sistema político brasileiro continua, mais que nunca, amarrado ao poder económico, com forte poder de influência sobre o processo eleitoral e sobre governos e Legislativo.

Não me admiraria nada que as forças progressistas venham a perder conquistas sociais obtidas a partir de 2003 e ganhos de cidadania conquistados por uma população antes excluída das decisões políticas e das políticas públicas.

O Brasil corre o risco de perder assim o mais longo período de democracia da sua história e as gerações futuras têm a perder a perspectiva de viverem num país mais justo e sempre mais democrático, que Lula desenvolveu mais que ninguém na historia do Brasil.

Posso enganar-me, mas muito do que fez Lula para o seu povo, aquele que sofre, está em perigo. E o retorno de Lula é problemático com os tais velhos fantasmas do passado que rodam …

Anónimo disse...

ela não contestava a presença militar nas comunidade, ela denunciava as milícias que tomam conta das favelas do Rio, as milícias são associações de bandidos que formaram um governo paralelo, que cobram imposto de todos os serviços desde o gás de cozinha, até a TV a cabo.

Joaquim de Freitas disse...

Anonimo das 11:24: Exactamente. Fui ao Brasil algumas vezes. O meu agente, era uma filial do Grupo Saint Gobain – Pont-à Mousson, que “pesava” na época 154 000 pessoas. Grande empresa. O Director, meu Amigo, morava num magnífico prédio de Ipanema. Ia para o escritório em helicóptero, e os filhos iam para a escola num carro protegido por guardas armados. O porteiro estava ele mesmo armado.

Os porteiros estão em jaulas perdão, grades, e conversam entre eles. Um negócio de arromba no Brasil, todos os prédios têm porteiros, vídeo vigilância, alarmes estridentes insuportáveis que apitam o dia todo, os donos andam de táxi para todo o lado. E, claro, jaulas - perdão, grades.

No fim-de-semana, ia para um clube, vasta propriedade onde tinha a sua “flat”, onde me convidou varias vezes. Na entrada, e em cada ângulo, havia miradores, como os de Dachau! Os vigias estavam, claro, bem armados. Francamente, preferia ficar no Méridien, com Copacabana à minha frente, com uma caipirinha bem gelada:

No Brasil os brancos da classe média, não atendem o telemóvel em qualquer lado, fecham os vidros dos carros, escolhem horas para sair de casa - num recolher obrigatório não assumido.

Se forem pobres é diferente. Rezam antes de entrar no ônibus, e sonham que os filhos "não morram", na escola.

Todos deram por adquirido que se vive assim, "é chato mas adaptaram-se", aceitam o intolerável e quem não aceita isto é "gringo medroso". Também há os gringos que vão em passeios turísticos a favelas sabendo, claro, que em breve estão nas suas casas, seguras e confortáveis. Às favelas, lugares imundos onde se luta pela sobrevivência, têm ainda o desplante de chamar "comunidade".

Comunidade é sair de casa sem ter medo a qualquer hora. Tudo o resto é barbárie.
Ir ao Rio de Janeiro é o mesmo que ir a uma guerra. Se há país onde o Estado é violento é este, sobre isso não há dúvidas, aqui manifestações são reprimidas com canhões e balas! É a guerra.

Mas não há só violência de Estado. Há uma tolerância com a violência paralela que é e sempre foi incompreensível.

Ontem foi assassinada no Rio de Janeiro a vereadora do PSOL Marielle Franco, mãe adolescente que saiu do buraco da pobreza lutando pelos direitos humanos elementares.

Marielle está morta. O Brasil não tolera mais brincar ao socialismo. Agora é a sério.

As classes pobres trabalhadoras não exigem nada porque lutam para chegar ao fim do dia e comer e regressar vivas às casas miseráveis que habitam nas periferias ;a maioria deles chega ao fim do dia e esteve 3 horas no transporte, e comeu açúcar e hidratos de carbono, está esgotado...até para falar. E quando fala mal sabe falar português e explicar o que sente ou quer. A maioria aqui teve uma educação tão baixa que não consegue distinguir numa simples indicação de rua a esquerda da direita. Quantas Marielles deste mundo vão sair das favelas!?

Chegou-se ao limite porque este assassinato é qualitativo, é sobre uma dirigente mulher negra. Não é um dos 60 mil negros todos os anos assassinados, ele é um aviso real a todos os militantes no Brasil para que deixem de o ser.

Marielle morreu praticamente sozinha porque falou sozinha. Porque nos milhões que vivem das favelas houve uma liderança, uma, que se destacou, com uma força anímica anormal, mulher, negra, que estudou, dedicou-se com coragem à causa pública. É a excepção.

A regra é que os trabalhadores das favelas precisam de ajuda de quem está fora das favelas.

A violência no Brasil só vai parar quando quem pode lutar contra ela se deixe de adaptar a ela.
Quando os brancos que vivem nos prédios-jaulas disserem Acabou! Basta!

Anónimo disse...

Democracia "martelada" no Brasil, Montepio Geral com "contas marteladas" em Portugal, na boa, onde é que já vi este tipo de filmes ??????

A Nossa Travessa disse...

Meu caro Franciscamigo

O Brasil que eu conheci nos idos de 1981, 1984, 1987, 1993, não tem nada a ver com o Brasil de hoje verdade tão verdadeira, como diria o amigo bacana.

Infelizmente concordo com os medos explanados pelos comentadores que me antecedem, a democracia brasileira está em risco. É forçoso conservá-la. Sem quaisquer alternativas.

Um abração deste teu amigo e admirador
Henrique, o Leãozão

Portugalredecouvertes disse...


o grande Brasil que está no coração de tantos portugueses :)

Sérgio disse...

O Brasil só será a potência que deve ser e ter o lugar no mundo que merece ter, quando adoptar as medidas económicas semelhantes às que foram implementadas no Chile de Pinochet.

Anónimo disse...

Boa...
Esta de parabens, revelou-se.
Escolheu a opção A que lhe dei. Censurar o meu comentario.

Olhe ...censure este também ou os leitores ficarão confusos

Ou sera que neste momento esta a avaliar... e melhor publicar ou censurar?
Por um lado ja quase ninguem vem ler um comentario com dias
Por outro lado isto pode ter importancia que de momento desconheço
Se publico tentando decredibilizar o autor do comentario os leitores ficarao confusos com o que se passou.
Se censuro como ele me esta a pedir é como se estivesse a aceitar ordens e isso e intoleravel par mim
Se respondo estou a dar parte fraca

Diga la, diga la Francisco qual escolhera

blog da alice disse...

Olá, sou carioca, médico e tenho 44anos. Moro no Rio de Janeiro.
Desculpe, mas seu conceito do que está envolvido no assassinato desta vereadora está completamente equivocado. A cidade passa por uma guerra de facções violentas ligadas ao narcotráfico e que mantém braços políticos, conhecidamente com partidos de esquerda. Na linha de defesa dos bandidos que assolam esta cidade está o partido da dita vereadora que é chamado de PSOL. A narrativa de que o assassinato se deu por forças policiais foi antecipado pela mídia brasileira que está comprometida nestas estranhas ligações entre narcotráfico e política. Ainda não há provas de que lado partiram os tiros, mas a imprensa brasileira se esmerou nacionalmente e internacionalmente em defender este ponto de vista, o de que ela combatia a intervenção FEDERAL, não militar como falam. Enfim, sugiro que você não comente sobre tais fatos em seu blog, porque provavelmente estará participando de uma versão preparada pela imprensa internacional de mistificar uma execução. Para você ter uma ideia, o Brasil é um dos países mais violentos do mundo, com uma soma de 70000 homicidios em 2017. Só na cidade do Rio de Janeiro, em 2017, cerca de 200 policiais foram assassinados, em serviço ou não. E a sua maioria é composta de negros e pardos.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...