sábado, maio 25, 2024

Paulo Lourenço


Tinha 52 anos e a perspetiva de uma bela carreira diplomática, de muitos mais anos, à sua frente. Paulo Lourenço, embaixador de Portugal em Cabo Verde, morreu agora, de forma súbita. 

Os meus sinceros sentimentos à sua família.

House of Windsor

A linguagem e a "coreografia" da casa real britânica, em torno da saúde da mulher do príncipe herdeiro, não prenunciam nada de bom.

Logo se verá


20% menos do que os Trabalhistas é o resultado que as sondagens atribuem aos Conservadores, a caminho das próximas eleições legislativas britânicas, em 4 de julho. Aqui fica o quadro, para compararmos depois com o resultado efetivo. 

A lebre

Há algo que o mundo aprendeu: quando o Reino Unido anuncia a possibilidade de dar um novo passo em termos de ajuda a Kiev, sem que atitude idêntica tenha ainda sido anunciada pelos EUA, isso significa que, cedo ou tarde, Washington fará o mesmo. O RU é apenas uma "lebre" dos EUA.

Fascistas à linha

Os conservadores europeus vão ser proximamente sujeitos a um belo teste: se serão ou não capazes de resistir à sedução de uma aliança com a extrema-direita "apresentável". Quando se começa a pescar fascistas à linha, só porque dão jeito para certas políticas, é o oportunismo a prevalecer sobra a decência. Se assim procederem, adotarão o mais miserável princípio rooseveltiano: "He is a son of a bitch, but he is our son of a bitch".

Aveiro!

A Universidade de Aveiro atribuiu um doutoramento "honoris causa" a Sérgio Godinho. Grande, grande é a universidade que decide tomar uma decisão destas ! Sérgio Godinho projeta-se em várias gerações portuguesas, com liberdade, alegria, sensibilidade e cultura. Viva a Universidade de Aveiro!

Qual é a pressa?

Meses depois do parágrafo ("qual é a pressa?"), António Costa foi ouvido. Confirmando as expetativas, saiu do DIAP ("ainda", acrescenta, hábil, uma folha digital) sem qualquer medida de coação. "Mas isso agora não interessa nada" (como diz alguém). O importante está feito, não é?

sexta-feira, maio 24, 2024

A mancha poupada

Se houve um efeito colateral positivo na convocação antecipada de eleições legislativas no Reino Unido foi o arquivar definitivo da celerada ideia de "exportar" para o Ruanda os candidatos a asilo. Pelo menos, os britânicos ficarão sem essa mancha moral no currículo do país. 

Putin (2)

Viktor Yanukovych, o presidente ucraniano forçado a abandonar país depois de Maiden, em 2014, juntou-se hoje a Putin em Minsk. Será que Putin pretender explorar o argumento do termo formal do mandato presidencial de Zelensky? E irá alegar a "legitimidade" residual de Yanukovych? Seria bizarro, mas, naquele mundo, tudo pode acontecer.

Putin

Segundo várias fontes do Kremlin, ouvidas pela Reuters, Putin poderia estar aberto a um cessar-fogo na Ucrânia, com "congelamento" da atuais linhas de frente. A ver vamos.

A Ucrânia...


... e os riscos que a Rússia e o ocidente fazem correr. 

Ver aqui.

Açores

 


quinta-feira, maio 23, 2024

Já não há


Quem havia de dizer que Nikki Haley surgiria a dizer que vai votar Trump! Há meses, Haley personificava, para uma certa América, a dignidade do combate a Trump. A sua linha de rotura não ia ao extremo de Liz Cheney, mas a notável persistência em campanha, forçando Trump a um dispendioso prolongamento das primárias, mostrava que havia um "outro" Partido Republicano. Decente, caramba!

Havia? Já não há.

quarta-feira, maio 22, 2024

Ubiquidade afetiva


Marcello Duarte Mathias é um diplomata português, reformado. Politicamente, é um homem assumidamente conservador, tendo Franco Nogueira como uma das suas grandes referências. Era diplomata na embaixada de Portugal no Brasil, ao tempo do 25 de Abril. Integra uma família que tem diplomatas em várias gerações, a começar no seu pai, ministro dos Negócios Estrangeiros de Salazar. Tem vasta obra publicada e é, reconhecidamente, uma das melhores "penas" oriundas do Palácio das Necessidades. 

Amândio Silva, que nos deixou há três anos, vivia exilado no Brasil, ao tempo do 25 de Abril. Havia sido combatente na luta contra a ditadura, tendo estado envolvido na Revolta da Sé e feito parte da LUAR, sendo um dos operacionais do sequestro político do voo da TAP entre Casablanca-Lisboa, em 1961. Nos anos 80, foi conselheiro social na embaixada de Portugal em Brasília. Até ao fim dos seus dias, em 2021, esteve envolvido numa multiplicidade de iniciativas para a promoção das relações luso-brasileiras. 

Não sei se Marcello Mathias alguma vez se cruzou com Amândio Silva. Conhecendo-os a ambos, de uma coisa estou em absoluto seguro: em termos políticos, não podiam ser duas pessoas mais diferentes. 

Marcello Mathias lançou hoje, em Cascais, mais um volume de seu diário, que foi apresentado por José Pena do Amaral. As memórias de Amândio Silva foram hoje apresentadas em Lisboa, por Manuel Pedroso Marques. Os lançamentos ocorreram quase à mesma hora. Tinha-me comprometido a ir ao lançamento do livro do Marcello, quando soube da publicação do livro do Amândio, pelo que, naturalmente, me vi obrigado a faltar ao lançamento deste último. 

Em toda esta história, noto que sou amigo do Marcello, que fui amigo do Amândio e que se dá ainda o caso dos apresentadores de ambos os livros serem também bons amigos meus. 

Constatei hoje, uma vez mais, uma insuperável limitação: não consigo atingir a ubiquidade física, isto é, estar em dois lugares ao mesmo tempo. Mas registo, com gosto, que tenho andado por esta vida com uma orgulhosa ubiquidade afetiva.


Portugal e a Palestina


Ver e ouvir aqui

Congratulations

Antes que as coisas se estraguem mais, o primeiro-ministro britânico convocou eleições gerais para 4 de julho. 

Podem começar a enviar desde já parabéns a Sir Keir Rodney Starmer KCB, 10 Downing Street SW1A 2AA, London, United Kingdom.

A coreografia do governo

Posso perceber que este governo queira afirmar bem a sua diferença face ao anterior. O que me parece mais misterioso é que não opte por fazê-lo adotando uma capa dialogante, não confrontacional, sem arrogância, correspondendo à escassez da maioria que tem na Assembleia da República.

Se assim procedesse, dando um ar, verdadeiro ou falso, de estar aberto ao compromisso, julgo que teria uma muito maior possibilidade de, um dia, poder vir a argumentar de que, não obstante toda a sua boa vontade, não consegue governar, por obstrução sistemática por parte da oposição.

O país reconheceria então que o governo se tinha esforçado, mas que a falta de uma sólida maioria parlamentar o tinha impedido de fazer melhor. E isso sublinharia melhor o contraste entre a sua postura e o comportamento "negativo" da oposição. Deste modo, se viesse a ocorrer uma crise institucional, com impacto da funcionalidade do executivo, com necessidade de recurso a eleições, o governo poderia vir a surgir como uma "vítima" aos olhos do país, com a "recompensa" que isso lhe poderia render em termos de votos numa eleição.

Por que razão o governo não se comporta de forma diferente?

Coloquei esta questão, há dias, a uma figura histórica do PSD, por quem tenho grande respeito. A sua resposta foi, no mínimo, desconcertante. Concordando comigo em que uma atitude dialogante poderia ser mais vantajosa, disse-me ser sua opinião que o PSD dos dias de hoje, naquilo que é relevante em termos de decisão política, quase não dispõe de personalidades de outro género do que as que foram aculturadas num clima de agressividade verbal, de quebra de pontes políticas, de "trincheiras" mediáticas e parlamentares. O "jejum" de poder nos últimos oito anos terá agravado esta postura, pelo que, ao lado de Luís Montenegro, há hoje um grupo de assanhados e intraváveis "jeunes loups", muitos com alguma qualidade política, mas todos marcador por essa inescapável atitude "guerrilheira". O PSD do passado, na perspetiva dessa figura, já quase não existe e, em especial, não tem influência na condução do partido. Mesmo o atual governo parece ter sido escolhido para fazer uma política assim, mantendo esta atitude como doutrina.

Será mesmo assim?

terça-feira, maio 21, 2024

AGAVI


Sabem o que é a Agavi? É a Associação para a Promoção da Gastronomia, Vinhos, Produtos Regionais e Biodiversidade, uma associação empresarial sem fins lucrativos, com sede no Porto. Sou membro fundador e integro o Conselho Superior da Agavi desde 2010.

Ontem, no quadro da iniciativa da Agavi "Ideias à Prova", falei por lá de Portugal e do estado do mundo, para umas dezenas de associados. Mais sobre a Agavi aqui.

Deixo o menu do jantar. A inveja é um sentimento pouco nobre, sabiam?

segunda-feira, maio 20, 2024

Gaudin


Um dia de 2010, quando era embaixador em França, fui alertado para o facto de uma empresa portuguesa de construção civil, sedeada em Braga e que operava em Marselha, se queixar de estar a ser objeto de uma persistente perseguição por parte da inspeção do trabalho municipal. As obras que executava eram também municipais.

Constantes visitas dos inspetores aos locais de trabalho e várias multas indiciavam, na perspetiva da empresa, que estava a ser vítima de uma espécie de "bullying", desincentivador da continuidade das suas operações. Conhecido que era o ambiente algo "mafioso" que existia nos meios sindicais de Marselha, tudo era possível. Não podia excluir-se que sl guns dos competidores franceses da empresa no pudessem estar por detrás desta operação intimidatória. A AICEP tinha recebido a queixa e pedia-me para intervir. 

Que fazer? Há algo que aprendi do exercício da diplomacia: nunca devemos tomar por verdadeira uma qualquer queixa só pelo facto do queixoso ser português. Algumas vezes caí nessa asneira e arrependi-me Mas, naturalmente, estando uma empresa nacional na origem de uma reclamação, o embaixador tinha a estrita obrigação de averiguar e atuar, até ao limite do possível e do razoável.

Sabia que uma discriminação como aquela que era denunciada seria sempre muito difícil de provar. A menos que tivesse havido acusações depois infirmadas pela justiça, era complicado arguir que se tratava de uma deliberada perseguição. Mas não custava tentar. Olho sempre para este tipo de situações como para os "cartões amarelos" que alguns árbitros de futebol mostram, com vista a atemorizar as equipas que pretendem pressionar.

Dramatizar politicamente o problema, para apelar ao reconhecimento oficial de uma possível discriminação, era a única solução que via como possível. Através da nossa Cônsul-Geral em Marselha, pedi que fosse marcada um reunião minha, com caráter de urgência, com o poderoso presidente da câmara municipal de Marselha, Jean-Claude Gaudin.

Gaudin era uma figura bastante conhecida na política francesa. Havia sido o frustrado mas histórico competidor do socialista Gaston Deferre na liderança política da cidade. Tendo chegado a vice-presidente do Senado, chefiou interinamente o partido gaullista, UMP, no período de transição entre Alain Juppé e Nicolas Sarkozy. Viria finalmente a presidir ao município de Marselha por um longo tempo, entre 1995 e 2020. 

Não posso esconder que, muito mais do que algumas vedetas com projeção internacional, tive sempre grande curiosidade em conhecer este tipo de figuras intermédias da política, em especial aqueles que acabaram por ficar na soleira da glória.

Chegado a Marselha, comecei por ter uma primeira reunião com a nossa cônsul-Geral e com a empresa portuguesa, com vista a apurar queixas desta. Fiz depois uma visita às obras. Finalmente, fui recebido por Gaudin.

O gabinete de Gaudin, recordo, era imenso. A varanda sobre a cidade, sobre o magnífico Vieux Port, de que guardo algures uma fotografia com ele, era imponente. Tudo aquilo ressoava a poder.

A série televisiva "Marseille", que está na Netflix, com Gérard Depardieu como protagonista, lembra fisicamente Gaudin e, na amoralidade representada na personagem, recorda o ambicioso político Bernard Tapie, que chegou a proprietário do "Olimpique de Marseille".

Velha raposa, mas pessoalmente muito agradável, Gaudin ouviu-me com uma delicada atenção. Perguntou-me, naturalmente, se acaso eu tinha algumas provas concretas no tocante a ameaças sobre a empresa portuguesa. Disse-lhe o óbvio: que não, que apenas tinha relatos e a listagem de insistentes inspeções sucessivas. E acrescentei que sabia que isso não constituía prova, mas apelava a um seu juízo de equidade. Gaudin não reagiu. Ao seu lado, notei que assessores se agitavam, talvez temerosos de que ele viesse a atender às minhas razões.

Como não guardo papéis, a esta distância temporal, não faço ideia de como o assunto se resolveu. Terá a empresa de Braga tido vencimento na sua causa? Só posso esperar que sim. Por mim, fiz o que pude.

Acabo de saber que Jean-Claude Gaudin morreu hoje, com 84 anos. Cada vez mais, as histórias que por aqui conto, estão recheadas de gente que já se foi. Que chatice!

Ponto

A ver se nos entendemos. O presidente da AR, pelo regimento, não pode impedir um deputado de dizer dislates. Mas, pela ética e pela decência, se for um democrata (e tenho Aguiar Branco por um democrata), deve sempre intervir e denunciar quem ataca os valores da República. Ponto.

domingo, maio 19, 2024

Luxos

Hoje, o Alfa Pendular em direção ao Porto parou no apeadeiro de Vila Nova de Anços. Há dias, foi a aurora boreal. Ontem foi o meteorito. Qualquer dia oferecem-nos lua cheia! Este governo estraga-nos com mimos! Não será demais? Vejam lá as contas públicas...

Vida nova

Para que se não diga que não comemoro a vitória do (meu) Sporting no campeonato, mudei, por algum tempo, a cor do título. Alguns dirão: só isso? Exatamente. Eu sou de júbilos sóbrios.

A máscara


Fiquei sem muitas palavras. Um amigo, daqueles que me conhecem "de gingeira", disse-me, há pouco, com uma crueldade nada compatível com o que se esperaria de uma chamada telefónica, para saber da vida, num fim de semana: "Passas o tempo a falar dos livros, mas a verdade - confessa lá! - é que o teu grande vício são os écrans, de vídeo ou da internet!" E não é que ele tem toda a razão, embora eu não lha reconheça?! 

Tudologia

Hoje, lembrei-me de um amigo, frequentemente convidado para falar em público de "tudo e mais um par de botas", que um dia me disse, com ironia: "Com a idade que tenho, já falo de quase tudo, exceto de algumas ciências exatas". Não o convidaram "sobre o meteorito", espero!

Nota da noite


Quando miúdo, lembro-me de o meu pai se irritar quando, no início dos oficiosos noticiários da Emissora Nacional, surgia a "Nota do Dia". "Lá vem o recado do Botas! O que é que ele quer hoje?", exclamava, referindo-se a Salazar. 

A Nota era como que um editorial, creio que com pouco mais de um minuto, escrito por um plumitivo qualificado, lido com a voz solene e grave adequada à emissora do regime. Eram textos num português gongórico, laudatórios para o poder e implacáveis na denúncia dos inimigos da "situação" - como então se designava o ambiente político que tutelava o país. Recordo-me, em especial, das virulentas diatribes contra os "terroristas" que então ameaçavam "as nossas possessões ultramarinas".

Homem que sempre senti do "reviralho", saudável vício de toda a minha família oriunda de Viana do Castelo, o que me influenciou para a vida, as manifestações de desagrado político por parte do meu pai, funcionário público sem outros meios de fortuna para sustentar a família, ficavam-se, naturalmente, pelo ambiente doméstico e por conversas tidas num grupo de amigos mais próximos, com o qual, ao final da tarde, quando o tempo de Vila Real ajudava, dava umas voltas à Avenida Carvalho Araújo.

Era assim o país que então "vivia habitualmente", como Salazar dizia que o país gostava de viver, até ao 25 de Abril, uma das datas de maior felicidade na vida do meu pai. 

Por que diabo me terei lembrado agora das "Notas do Dia" da Emissora Nacional? 

(Em tempo: Já foi azar! A escrever isto, perdi o meteorito de Castro Daire!)

Na mãe das democracias

Quem se escandaliza pelo facto de se exigir ao presidente da Assembleia da República que evite linguagem ofensiva, talvez devesse visitar a Câmara dos Comuns britânica, onde, sob ordens do "speaker", o "serjeant-at-arms" pode expulsar deputados que usem palavras impróprias.

sábado, maio 18, 2024

O poder da China

O "red carpet treatment" dado a Putin por Xi Jiping, depois da visita que fez à Sérvia e Hungria, parece ser um sinal claro, e definitivo, para os EUA. Na mesma lógica, a China não irá à cimeira na Suiça. Putin rejubila, claro. 

Justi$$a

Acho delicioso o eufemismo sindical dos oficiais de justiça perante a oferta salarial: pedem ao governo para "robustecer a proposta" em termos financeiros. Raramente pedir "mais massa" foi expresso de forma tão elegante.

A direita e a liberdade

Alguns vieram a jogo dizer que Aguiar Branco defendeu a liberdade e que essa é uma atitude própria da sua área política. Só podem estar a brincar. A ideia de que é a direita que, predominantemente, pratica a liberdade tem apenas um pequeno mas imenso senão: a História.

Leiam

Foi divulgado pelo "Die Welt" e pelo "Le Figaro" o acordo de paz que esteve prestes a ser assinado entre a Ucrânia e a Rússia, em março de 2022, com intermediação da Turquia. Nada está igual. Muita gente morreu entretanto, muito ódio se gerou. Importa, contudo, ler o texto.

A ameaça russa


Ver aqui.

Sánchez ou a vitória de um refém


Ver aqui.

Os EUA, Israel e o futuro de Gaza


Ver aqui.

sexta-feira, maio 17, 2024

Embaixadores - a função e o título

Tem-se vindo a falar por aí do título de "embaixador". 

Embaixador designa uma função que se exerce, mas pode ser também uma categoria profissional que se atinge. Trata-se de duas realidades que nem sempre são coincidentes.

A maioria das embaixadas portuguesas são chefiadas por diplomatas que exercem essa função "com credenciais de embaixador". Na hierarquia do Ministério dos Negócios Estrangeiros, essas pessoas ascenderam à penúltima categoria da carreira, a de "ministros plenipotenciários", e, como tal, tiveram a possibilidade de vir a ser escolhidas para dirigir uma missão diplomática. São "embaixadores de Portugal em ...", são tratados por "embaixadores" e manda a tradição que, a partir de então, no seio do MNE, passem a ser designados para sempre como tal.

Esse período de exercício, que frequentemente acontece sucessivamente em mais do que um posto, permite apurar quem, de entre esses "ministros plenipotenciários", se distingue no desempenho da chefia das missões diplomáticas ou de consulados-gerais. De entre esses diplomatas, alguns - muito poucos - virão mais tarde a ser escolhidos para ascenderem ao topo da carreira, isto é, a uma categoria chamada de "embaixador". 

Essa categoria, superior e máxima na hierarquia, tem um número muito limitado de vagas, representando menos de 10% da totalidade dos diplomatas da carreira diplomática portuguesa. Os diplomatas que ascendem a essa categoria têm, neste caso por direito próprio e não apenas por tradição, como nos casos anteriores, direito a usar o título permanente e vitalício de "embaixador". Antigamente, era vulgar distinguir estes diplomatas designando-os como "embaixadores de número", precisamente para sublinhar a escassez dos lugares a que tinham ascendido. Os britânicos chamam aos diplomatas que chegaram ao topo da sua carreira "full rank ambassadors" e os franceses designam-nos como "ambassadeurs de France".

Não sei se ocorreram outros casos, mas, curiosamente, houve pelo menos dois "embaixadores de número" que nunca exerceram funções de chefia de uma embaixada, em ambos os casos durante o Estado Novo. O primeiro foi o embaixador Teixeira de Sampaio, que foi secretário-geral do MNE, e o outro o embaixador Franco Nogueira, que foi ministro dos Negócios Estrangeiros.

Bom senso e bom gosto

Aguiar Branco faria bem se se retratasse muito rapidamente, em face do que disse sobre as tomadas de posição racistas. Ele não pode pensar isso e, seguramente, foi uma afirmação precipitada. Se a mantiver, colar-se-lhe-á à pele para o resto da vida.

Botão errado


Foi ontem à tarde, na Fundação José Saramago. A homenagem ao Nuno Júdice era no 4° andar. Distraidamente, carreguei no botão do 3° andar. Ia a sair ali, quando fui avisado do erro. Travei a tempo! Nesse andar é a livraria da Fundação e, conhecendo-me, não passava sem comprar algum livro. Não julguem que estou a brincar! Não estou. Tenho uma compulsão doentia para a compra de livros, quando eles me aparecem pela frente. Estive na Hungria em meados de abril e, claro, fui visitar uma livraria que conhecia em Budapeste. Comprei lá um guia da Holanda, país onde fui por uns dias no fim do mesmo mês. Na Haia, abasteci-me numa livraria em saldos, na rua principal da cidade. Há dias, na Universidade Católica, onde ia moderar uma palestra, enganei-me e entrei pelo piso de baixo. O que eu fui fazer! À esquerda, existe uma ótima livraria e, claro, não saí de lá sem três livros. Há anos que me sinto embaraçado (ia escrever envergonhado, mas já perdi a vergonha) quando chego a casa e os sacos que trago na mão são olhados com ar crítico por quem acha que viver com 132 livros no quarto de dormir (contei-os hoje) é talvez um exagero. Além, claro, de alguns milhares em outras estantes pela casa, fora os incontáveis que estão em Vila Real e os muitos que a biblioteca municipal da cidade já guarda no Fundo Bibliográfico com o meu nome. Este fim de semana vou ao Porto e, à ida e à volta, vou encontrar nas estações de caminhos de ferro umas tentadoras lojas, com fundos de edição ao preço da chuva. Já estou a imaginar o que vai suceder... Daqui a dias, vou palestrar aos Açores: qual é a melhor livraria de Angra do Heroísmo? Logo de seguida, vou a França. Vai ser um "desastre"! A propósito: quando é que abre a Feira do Livro? 

(A imagem é só para ilustrar o texto, não é da minha casa, juro!)

quinta-feira, maio 16, 2024

É só saúde!

É fantástica a súbita "onda de saúde" que se espalhou pelo país. Em poucos meses, não são mostradas filas nas urgências dos hospitais e os telejornais já não abrem com as tragédias no SNS. Se calhar, até as listas de espera para operações diminuiram! Tudo sem crise nem vergonha!

Russos

A porta-voz do governo russo pronunciou-se sobre as relações do seu país com Portugal: estão no mais baixo nível de sempre. A menos que Portugal tenha feito algo (muito improvável) de especificamente anti-russo, quero crer que essa deverá ser a resposta "standard" relativa aos aliados da Ucrânia. Ou estarei enganado e haverá algo que desconheço?  

O futuro da diplomacia


A convite de Jaime Quesado, que dirige a iniciativa "Sharing Knowledge", tive ontem o gosto de fazer uma palestra, no Palácio Galveias, em Lisboa, sob o tema "O futuro da diplomacia". 

Falei dos desafios técnicos da diplomacia contemporânea mas, essencialmente, do quadro de tensões internacionais que serve de moldura à atual ação diplomática. 

O debate que se seguiu, por mais de uma hora, numa sala que se encheu, foi muito animado e participado.

O meu sincero agradecimento ao Jaime Quesado por esta ocasião e pelo seu já longo empenhamento no utilíssimo "Sharing Knowledge".

quarta-feira, maio 15, 2024

Não nos desiludam!

Já há abaixo-assinados contra a decisão sobre o novo aeroporto? E providências cautelares? Então e as objeções ambientais, de invejas locais, de natureza financeira e toda a lista de problemas que os cultores do imobilismo vinham a acumular há décadas? Não nos desiludam!

Mostrar o periscópio

Pressentindo que o país, nas próximas eleições presidenciais, pode preferir um estilo mais sóbrio, o senhor almirante começa a alambicar declarações patrióticas, ao jeito jingoísta dos dias. É tudo tão óbvio!

Notícias do comércio livre

Com a aproximação das eleições, Biden "faz peito" e reforça o protecionismo americano face à China. Verdade seja que, historicamente, os democratas foram quase sempre mais restritivos em matéria de comércio externo, por virtude de neles os sindicatos terem uma maior influência.

A pax chinesa

Putin diz que apoia o plano de paz apresentado pela China, em 2023, para o conflito com a Ucrânia. O texto chinês, se bem recordo, era um monte de ambíguas obviedades, algumas incompatíveis entre si. Dito isto, é bom ver Pequim (não, não escrevo Beijing) de regresso ao tema.

Reforma


Mais 50 pessoas (clique na imagem), de origens bem diferenciadas, assinaram o manifesto para a reforma da Justiça. 

Sabemos que isto vai irritar alguma gente, o que é ótimo.

Ah! Por favor, não comentem sem antes lerem o texto.

Falando de acordos


Ontem, na CNN Portugal, a propósito dos instrumentos jurídicos que, seguramente, estariam a ser preparados para a deslocação - afinal, ainda não será desta! - de Zelensky a Portugal, ouvi-me dizer algo como isto: "Nestas ocasiões, tem sempre de ser assinada qualquer coisa.."

E lembrei-me de uma cena passada, algures na segunda metade do ano de 1976.

Estávamos numa reunião entre delegações presididas pelo ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Medeiros Ferreira, e pelo primeiro-ministro e ministro da Cooperação de S. Tomé e Príncipe, Miguel Trovoada, na Sala dos Embaixadores do palácio das Necessidades. 

A discussão tinha uma longa agenda, nesses tempos de resolução de algum contencioso residual da transição pós-colonial e do início dos primeiros modelos de cooperação. Os trabalhos prolongar-se-iam pelo dia seguinte, culminando com uma conferência de imprensa.

Medeiros Ferreira, que, por qualquer misteriosa razão, tinha a seu lado António Sousa Gomes, ministro do Plano e Coordenação Económica (do que eu agora me lembro!), voltou-se para trás, para o adjunto do diretor-geral dos Negócios Económicos (era assim que, à época, se designavam, no MNE, os subdiretores-gerais), Paulo Ennes, e perguntou:

- Não há nada para assinar?

A assinatura de um acordo, ou de um outro instrumento jurídico bilateral, ajuda sempre a "compor" uma visita oficial, produzindo, no imaginário público, resultados mais concretos. Durante muitos anos, quando não havia nada para assinar, era vulgar rubricar-se um "acordo de supressão de vistos em passaportes diplomáticos". Hoje, como esses acordos têm consequências mais sérias, é comum o recurso a "protocolos de cooperação", entre instituições da mais variada natureza. Alguns úteis, outros inócuos.

Paulo Ennes olhou para mim, que tinha o pelouro, passando-me implicitamente "a bola".

- Não, senhor ministro, não vai haver nada para assinar, respondi. 

No ano anterior, após a independência de S. Tomé e Príncipe, tinha sido firmada uma montanha de acordos e protolocos entre os dois países. Estava praticamente tudo concluído. Vi Medeiros ficar com cara de caso. 

Subitamente, lembrei-me:

- Bom, há um texto que está em estudo no ministério da Saúde. É um protocolo de cooperação que permite prolongar, para a época depois da independência, a possibilidade dos funcionários públicos de S. Tomé terem acesso ao antigo hospital do Ultramar, bem como outras facilidades. Mas não sei em que pé está essa apreciação...

Pouco tempo antes, eu tinha sido mandado pelo governo a S. Tomé e Príncipe, durante uma semana, numa rara missão de serviço para ser executada por um "adido de embaixada" com menos de seis meses de casa, e recebera pessoalmente esse pedido do ministro da Saúde santomense, Carlos Graça.

Medeiros Ferreira ficou interessado.

- Veja isso já com o gabinete do ministro da Saúde! Era bom termos algo para assinar amanhã, disse, voltando-se para a frente, prosseguindo a reunião.

Paulo Ennes, excelente amigo e magnífico diplomata, olhou-me e sorriu, como que a dizer: "Já que 'abriu a porta', agora amanhe-se...". E eu fiquei com a "batata quente". 

Arranquei para o meu local de trabalho e falei para o Ministério da Saúde. O meu interlocutor foi um adjunto do ministro, de seu nome Paulo Mendo, o qual, anos mais tarde, viria a ser ministro da pasta.

Por um milagre, daqueles que acontecem uma vez na nossa vida burocrática, o assunto já estava desbloqueado, com parecer positivo. No meu carro, fui pessoalmente ao Ministério da Saúde buscar o texto e conferi-o, minutos depois, com alguém da embaixada santomense, que, sem problemas, anuiu a tudo, tanto mais que o protocolo só tinha efeitos unilaterais a seu favor.

Regressei às Necessidade e mandei dactilografar o acordo, um texto curto, de duas páginas. Disse à senhora (as dactilógrafas eram, nesse tempo, todas mulheres) para fazer dois exemplares: um para nós, que abria com "A República Portuguesa e a República Democrática de S. Tomé e Príncipe..." e outro para S. Tomé, em que a ordem dos países era trocada. 

Para quem não saiba, a regra é que, num acordo, cada país fique com a cópia que começa com o seu nome. O mesmo se passa no lugar das assinaturas, na última página, onde, na nossa cópia, a assinatura do nosso responsável se situa do lado esquerdo. Normalmente, cada país tem o seu próprio papel e capas para os acordos, bem como as suas próprias fitas coloridas, que entrançam as folhas, além de usar um sinete próprio, para firmar o lacre. Liturgias da diplomacia universal...

No dia seguinte, na tarde da cerimónia da assinatura, que antecedia a conferência de imprensa, tudo correu impecavelmente. Ainda tenho uma fotografia dessa cena publicada no "Diário de Notícias", comigo num inenarrável e inadequado blazer cinza, de cara grave, com um cabelo bastante comprido, largo bigode tipo mexicano e gravata com um nó imenso. A notícia do jornal fala de um "importante instrumento jurídico" assinado nesse dia. O pior foi, no entanto, o dia que estava para vir..

Nessa manhã, fui acordado bem cedo, em casa, pelo meu interlocutor da embaixada santomense, quase em pânico. É que, na cópia santomense, o nome do seu país não estava apenas trocado no início do texto: em vários pontos do articulado, onde, por exemplo, na cópia portuguesa, se lia que "Portugal compromete-se a facilitar o acesso às suas unidades hospitalares aos funcionários públicos de S. Tomé e Príncipe", surgia "S. Tomé e Príncipe compromete-se a facilitar o acesso às suas unidades hospitalares aos funcionários públicos de Portugal"... As "responsabilidades" para S. Tomé passavam a ser imensas!

O que é que acontecera? A dactilógrafa havia feito uma leitura "extensiva" da instrução que eu lhe dera para a troca dos nomes dos países, decidindo mudá-los ao longo de todo o texto do acordo. A culpa do que acontecera era, claro, totalmente minha, que, com a precipitação, não tinha tido o cuidado de fazer a verificação cuidada dos dois exemplares do acordo.

Levei algum tempo a acalmar o meu colega santomense, explicando-lhe que, mesmo depois de assinado pelo seu primeiro-ministro, o texto só seria válido após publicado e, naturalmente, isso nunca aconteceria antes de estarem feitas as devidas correções. E, logo nessa tarde, fez-se um novo exemplar, que se pediu, já não sei bem com que argumentário, que o nosso ministro assinasse. E tudo se resolveu, claro. 

Por muito tempo, guardei esse extraordinário exemplar, subscrito por Miguel Trovoada e Medeiros Ferreira, onde S. Tomé se "comprometia", por exemplo, a "facilitar o envio para Portugal de medicamentos" e outros modelos similares, mas impraticáveis, de cooperação recíproca!

Passados muitos anos, numa noite na nossa comum tertúlia na Mesa Dois do "Procópio", contei a história ao José Medeiros Ferreira - o qual, recorde-se, nos deixou faz agora uma década. Ainda tenho no ouvido a sua imensa gargalhada!

Retratos


O rei britânico tem um novo retrato. Terá demorado quatro anos a executar. Eu gosto. Quem fará o retrato oficial do presidente Marcelo Rebelo de Sousa?

Que rico spam!

Passei agora pelo "spam" do meu email. Nem imaginam o dinheiro que tenho para receber! Milhares e milhares de euros e dólares. Só boas notícias! O mundo é tão generoso!

Extraordinário!

Acho extraordinário - não estou a exagerar, acho mesmo extraordinário! - que o ministro das Finanças não tenha falado à comunicação social no final da reunião do Eurogrupo. Passa-se alguma coisa que o país não saiba?

terça-feira, maio 14, 2024

É a vida?


O PS não tem pena de não ter sido um seu governo a anunciar o novo aeroporto (não conta, claro, o "anúncio" feito por Pedro Nuno Santos!)? O PS deixou toda a "papa" feita e o PSD, sem mexer uma palha, fica com a glória da decisão. Neste caso, o PS só se pode queixar do PS.

Muito bem!

Acho muito bem que o primeiro-ministro português tenha decidido fazer hoje, às 20 horas, uma comunicação ao país, com vista a reagir, com a firmeza que a decência exige, ao inaceitável ato racista e xenófobo de que foi vítima uma criança nepalesa. 

Muito bem, Luís Montenegro! Que as mãos não lhe doam!

A matemática das bolachas


Quase todas as madrugadas, pé-ante-pé, para não suscitar críticas caseiras, deslizo até à cozinha em busca de um sustento complementar, porque isto de se viver muito já dentro da noite tem, podem crer, bastante que se lhe diga. E as bolachas são a minha perdição. Descobri umas excelentes, no domingo, na mercearia do Miguel, ali em frente à embaixada de França. Há pouco mais de uma hora, encerrado o expediente familiar, fui discretamente à cozinha buscar meia dúzia dessas bolachas. Foram exatamente seis, lembro-me bem. Sentei-me no sofá a ler e a verdade é que, poucos minutos tinham passado e as seis bolachas já tinham desaparecido. Imaginei então o que teria ouvido se acaso tivesse sido apanhado, nessa pecaminosa deglutição doce, por quem me acompanha os dias, mas, às vezes, me perde por algum tempo na solidão silenciosa das noites domésticas: "Devias comer menos bolachas! Fazem-te mal". A palavra "menos", confesso, calou-me fundo. E tive um rebate de consciência. Era verdade! Estava a comer demasiadas bolachas. Seis! Era um exagero glutão. Não podia ser! De facto, tinha de começar a reduzir o número de bolachas. Levantei-me do sofá, fui de novo à cozinha e trouxe quatro bolachas. Começava bem: passava de seis a quatro bolachas. Estou aqui a escrever isto e as quatro bolachas, entretanto, também já marcharam e dou comigo a pensar: ainda volto à cozinha e trago só duas bolachas. É que assim passo a metade da última vez! Cada vez menos bolachas! Esse é o caminho! Good guy!

Tutorial europeu (2)

Gostava de lembrar duas coisas, a propósito de uma menção feita ao alargamento da União Europeia ao Kosovo (alguém falou hoje nisso, embora o Kosovo não seja sequer candidato): o Kosovo não é reconhecido como Estado por todos os países da União Europeia e não é membro da ONU.

segunda-feira, maio 13, 2024

Tutorial europeu

Há por aí quem não saiba que uma eventual escolha de António Costa para presidente do Conselho Europeu, se acaso viesse a ter lugar, seria feita por voto maioritário no seio do próprio Conselho. E que o Parlamento Europeu não tem rigorosamente nada a ver com essa designação.

Basta olhar


A expressão "uma imagem vale mais do que mil palavras" é bem adequada para ilustrar esta fotografia do encontro de hoje entre o presidente da Sérvia e o MNE ucraniano. Basta esta imagem, que ambos quiseram que fosse tal como ela é, para percebermos o estado atual das relações entre os dois países. 

A fórmula de Garrincha

Foi no Mundial de 1958. Garrinha estava a ser instruído pelo treinador Feola sobre o modo de ultrapassar a defesa russa. Feola dava sucessivas dicas a Garrincha sobre como atrair e derrotar, sucessivamente, os jogadores russos, até conseguir chegar à linha de fundo e centrar para a cabeça de Vává. O dispositivo era descrito de forma tão precisa, com decorrências tão automáticas no colapso da defesa então soviética, que Garrincha, a certo ponto, não se terá contido e perguntou: "E já combinaram com os russos?"

A frase ficou até hoje e é utilizada regularmente, no dia-a-dia brasileiro, para significar uma situação difícil em que apenas por ingenuidade se pode crer num resultado favorável, por ser essa a nossa vontade, como se o adversário não existisse.

O ocidente, mais cedo ou mais tarde, vai ter de refletir na frase de Garrincha.

"It"s the economy..."

"It"s the economy, stupid!", foi a expressão cunhada por James Carville, na campanha de Clinton em 1992, para identificar o eterno motor do voto na América. 

Na Rússia, o voto é um detalhe, mas ver um político da área económica ir chefiar a Defesa parece provar a atualidade da frase. E leva a pensar que chegou a hora da economia a esta sua guerra. 

sábado, maio 11, 2024

Uma nota para os tristes


Há vários anos que, quando penso (e penso muitas vezes) ir comer ao restaurante "Salsa & Coentros", não longe da Avenida do Brasil, em Lisboa, digo para mim mesmo: vai ser difícil conseguir uma reserva! A relação qualidade/preço é ali extraordinária e a casa está sempre "à pinha", como antes se dizia. É compreensível que assim aconteça, dado o mérito excecional da comida, serviço e preço, como reconhecem todos (repito, todos!) os meus amigos e conhecidos que gostam de comer bem.

Mas é da lei da vida: nem toda a gente pode ser feliz. E infelizes e tristes, pelo menos e pela certa, são os especialistas "selecionadores" do "Time Out" e do "Boa Cama, Boa Mesa", essas "páginas amarelas" da faca-e-garfo, que nunca devem ter conseguido obter reserva para lá poderem ir. É que só assim se justifica que, nas largas dezenas de restaurantes inventariados na sua seleção de mesas lisboetas para este ano, o "Salsa & Coentros", reconhecidamente um dos grandes restaurantes do nosso país, nunca figure. 

Só posso desejar que continuem a tentar, até que um dia venham a ter a sorte de conseguirem sentar-se por lá! Até ver, deixem as vagas (e, em especial as empadas) para nós! Ficam com o telefone, para irem tentando: 218 410 990. Não, não dou o telemóvel do Duarte! Era só o que faltava...

A Ucrânia, claro, falando também da Rússia, da China e da Europa, esta com eleições à porta


Ver aqui.

sexta-feira, maio 10, 2024

Portugal bem

Portugal votou a favor da admissão da Palestina como membro pleno da ONU, numa resolução na Assembleia Geral da organização. A resolução tem um sentido político, mas não tem um efeito vinculativo, porque só o Conselho de Segurança tem essa competência. 

Dentre os membros da União Europeia, abstiveram-se Áustria, Bulgária, Croatia, Finlândia, Alemanha, Itália, Letónia, Lituânia, Holanda, Roménia, Suécia. Votaram contra Rep. Checa e Hungria. 

Foi você que pediu uma política externa europeia?

Só para lembrar

Pertencer à CPLP não obriga um país a seguir a linha política da NATO ou da UE, da qual só Portugal é membro. Relembro ainda que sete dos oito membros da CPLP são países do Sul, em regra menos alinhados com os EUA e em geral propensos a terem boas relações com a China e Rússia.

Carlos Fernando Mathias


Em janeiro de 2005, poucos dias depois de ter assumido funções como embaixador no Brasil, fui informado de que estava na embaixada e tinha manifestado interesse em falar comigo um magistrado brasileiro, o desembargador Carlos Fernando Mathias. 

Como ele não tinha audiência marcada e os meus dias estavam muito preenchidos, perguntei a que título ele queria ver-me. Creio que foi a Daisy, uma das minhas secretárias, que me esclareceu, com um sorriso: "Como grande amigo de Portugal que ele é". Estou ainda a ver a figura pequena e ligeiramente avantajada do visitante a entrar no meu gabinete. Trazia os braços abertos, para um primeiro abraço que me deu, como se me conhecesse de toda a vida.

O Carlos, com a sua mulher Maria Luísa, constituiam um dos mais simpáticos casais de Brasília. O sorriso, naquelas duas caras, era uma imagem de marca permanente. Cedo ficámos bons amigos. Ambos eram visita frequente da nossa residência e recordo sempre a grande festa anual que organizavam no jardim da sua casa, naquele que era um ponto alto da vida social de Brasília, coberto pela reportagem televisiva do Gilberto Amaral - que, com a coluna da Jane Godoy, determinavam então quem era "gente" na sociedade brasiliense. Essa era também uma ocasião que eu aproveitava para visitar a imensa coleção de placas "Cuidado com o cão", em várias línguas, que o Carlos se entretinha a colecionar. Uma delas foi oferecida por mim, creio que trazida de Bangkok.

O meu amigo Carlos Mathias, com uma vida muito ativa no mundo judiciário e universitário, tinha uma caraterística raríssima para quem se movia na complexa sociedade de Brasília: nunca lhe ouvi dizer uma palavra desagradável sobre ninguém. O Carlos era um homem positivo, congregador, apreciado por todos, sempre com uma imensa disponibilidade para os amigos e conhecidos. Ah! E era, de facto, como o vim a provar, um grande amigo de Portugal. Por aqui o voltei a encontrar um par de vezes, com a alegria, a bonomia e a abertura pessoal de sempre.

Do Brasil, dizem-me agora que o Carlos morreu, aos 85 anos. Sabia-o doente há uns tempos e que já tinha atravessado períodos bem difíceis. À Maria Luísa e restante família deixo um forte abraço de pesar e de muita e sincera saudade.

quinta-feira, maio 09, 2024

Isto é verdade?

 


Na véspera do Dia da Europa


Aqui entre nós: ás vezes, as sessões de lançamento de livros são uma seca! Em regra, não se sai delas muito mais "rico" ou informado. Quase sempre, são apenas momentos congratulatórios, onde se ouvem coisas simpáticas e agradáveis, sobre o autor e o produto do seu labor. 

Ontem, com a maior franqueza, assisti a uma exceção a esta quase regra. Na apresentação do livro "O Ano Zero da Nova Europa", que só pude ainda folhear, quem lá esteve teve o privilégio de ser brindado com duas intervenções altamente substantivas sobre o atual "estado da arte" na Europa e no mundo. 

Quer o apresentador, António Costa, quer o autor, Bernardo Pires de Lima, trouxeram-nos muito interessantes e informadas reflexões, como ficou patente na pouco usual reação entusiástica do auditório. António Costa, liberto das responsabilidades executivas, fez uma leitura das coisas em que, visivelmente, decantou os oito anos que passou pelos palcos europeus. Pires de Lima, que Marcelo Rebelo de Sousa ali disse ter até agora "escapado" por pouco ao exercício de outras responsabilidades, mostrou a maturação que vem fazendo, desde há anos e desenvolvida já em outras obras, sobre a temática internacional.

Noto que os oradores são pessoas originárias, no passado, de diferentes áreas políticas, unidas agora pela preocupação comum sobre o futuro da Europa em que estamos inseridos. Porque o livro, que foi o mote para ambas as intervenções, assenta nessa mesma preocupação, que também é a minha, estou com bastante curiosidade em lê-lo.

S. Tomé, a Rússia, a CPLP e nós


Se tiverem uns escassos minutos, gostava que ouvissem a curta conversa que ontem tive com Pedro Bello Moraes na CNN Portugal sobre a decisão santomense de estabelecer um acordo com a Rússia. Muitas vezes, é importante pensar fora do "wishful thinking". 

Veja aqui.

quarta-feira, maio 08, 2024

Ridículo e grave

A acusação de traição à pátria dirigida a Marcelo Rebelo de Sousa é, para além de completamente ridícula, de uma extrema gravidade. Os partidos responsáveis deveriam conseguir ultrapassar as reservas que a ação do presidente da República possa conjunturalmente merecer-lhes e, a bem da salubridade da vida política democrática, afirmar perante o país um repúdio conjunto face a esta inqualificável atitude.

terça-feira, maio 07, 2024

Encore Pivot

 


Oposição democrática


Chegou-me ontem a casa, numa edição do autor, este "Vila Real - Oposição e Eleições no Estado Novo". São 230 páginas, que li de um fôlego.

Ribeiro Aires é um historiador vilarrealense, com vasta obra publicada. Tive já o gosto, há alguns anos, de fazer a apresentação de um seu trabalho sobre a figura de Carvalho Araújo, o heróico marinheiro que dá nome à principal artéria de Vila Real.

Neste seu novo livro, Ribeiro Aires traça o panorama possível sobre a ação desenvolvida pelos democratas vilarrealenses, desde a instauração da Ditadura Militar até ao golpe militar democrático de 25 de Abril de 1974. É um trabalho que imagino ter sido difícil, porque, salvo para determinados períodos, as fontes e os dados devem ser escassos. Daí o interesse e a importância desta publicação.

Tive natural curiosidade em ler o que ali está escrito sobre as "eleições" de 1969. Com pouco mais de 20 anos, colaborei então bastante nessa animada campanha, ao lado de figuras prestigiadas da oposição local, como Otílio de Figueiredo, Júlio Montalvão Machado, José Alberto Rodrigues ou Délio Machado. O livro levou-me a recordar, com gosto, essa "campanha alegre". Sem surpresas, fomos copiosamente derrotados nas urnas por uma União Nacional que dominava a máquina pública e tinha o aparelho repressivo do seu lado.

Felicito Ribeiro Aires por mais esta sua obra, publicada, muito oportunamente, nos 50 anos da Revolução de Abril.

segunda-feira, maio 06, 2024

Pivot


Morreu Bernard Pivot. Tinha 89 anos. Há hoje uma França (e não só) de luto. Não terá chegado a receber a chamada telefónica que mais temia: "Ainda vou acabar por ter um telefonema da imprensa a convidar-me a comentar a notícia da minha morte", como sempre lhe acontecia quando morria um escritor. Quem teve o ensejo de assistir, na televisão, a emissões do "Apostrophes" ou do "Bouillon de Culture" percebe melhor a importância que este homem teve para a divulgação e popularização, neste caso num bom sentido, da cultura francesa. Pivot era um excelente entrevistador, sempre em tom suave e pouco confrontacional, que sabia extrair o melhor do interlocutor. A promoção da edição e a preservação de uma escrita escorreita - Pivot lançou os Campeonatos de Ortografia - mobilizaram o seu trabalho mediático. Alguns criticavam a ligeireza dos seus programas, que acusaram de serem um favor à indústria editorial. Pivot também escrevia. Deixou alguns livros. Do pouco que dele li, confesso que não me ficou uma marca forte. A palavra e o tom de interesse com que falava com os outros (sempre acreditei que Carlos Pinto Coelho se inspirou em Pivot para desenhar a sua "persona" televisiva, mesmo no traje) eram o segredo do seu êxito. Para sempre, guardei a resposta de François Mitterrand, não longe da morte, perante a sacramental pergunta do questionário que Pivot usava: "Si Dieu existe, quel est le mot par lequel vous voudriez qu'il vous accueille". O ainda presidente respondeu: "Enfin, tu sais...". E ainda: "J'espère qu'il ajoutera: Sois le bienvenu".

Depois de amanhã!

 


domingo, maio 05, 2024

Amanhã!

Hoje!

 


Geórgia à espreita, Ucrânia à espera


Ver aqui

Gaza na América

Ver aqui.

Caro Karl


Nasceste em Trier, ou Trèves, para quem gostar mais, faz hoje 205 anos. Olhaste a sociedade industrial do século XIX e, a partir dela, pensaste ser possível construir um mundo melhor. Alguns usaram as tuas ideias para criar o que vieram a ser monstros históricos. Outros souberam fazê-las evoluir para gizar a base de sociedades mais justas e, o que nos dias de hoje importa cada vez mais, em completa liberdade. Escapaste bem ao "caixote do lixo da História", como tu lhe chamavas, onde caíram muitos dos teus adversários e parte de quantos se diziam teus seguidores e se deixaram tentar pelas vias totalitárias. Nos dias de hoje, caro Karl, aqueles que apreciam a tua figura de pensador parece terem concluído que a arte da política solidária consiste em saber reivindicar o sentido de justiça e equidade que está subjacente ao essencial das tuas ideias, mas reinventando todos os dias a indispensável forma democrática de as viver.

... e a Espanha aqui tão perto


Ver aqui.

Coisas

 


Deu-me vontade de passear pela Toscânia.

Lápis azul

Israel proíbe a Al-Jazzera. Vamos aguardar para ver se a União Europeia tem lata para criticar este ato censório, depois de ter feito o mesmo aos canais televisivos russos. 

Nas democracias, os cidadãos devem poder ver tudo o que lhes apetecer, verdades ou mentiras, sempre sob o direito ao contraditório.

Cabo Verde


Descolonizado e descomplexado

sábado, maio 04, 2024

Nota

Alguns comentadores deste blogue, por coincidência sempre aqueles que vivem refugiados num confortável anonimato ou em pseudónimos, procuram colocar adendas a textos aqui publicados. E chegam a queixar-se quando isso não ocorre, pelo facto de eu não ter dado luz verde a essa publicação. Em alguns casos, vão ao ponto de avançar com "links" para coisas que convêm às suas ideias ou agendas. Estão no seu pleno direito de o tentar, tal como eu estou no meu direito de publicar apenas aquilo que, dentre essas notas, muito bem entendo. Este blogue não é um órgão de comunicação social: é um espaço pessoal. Era só o que faltava que, nesta minha "casa", eu não pudesse decidir o que fica registado.

sexta-feira, maio 03, 2024

Rockwell

 


O fundo da reforma


A quem se atrever a dizer que, num mês, este governo não fez nada que se visse, deixo esta impressionante imagem de uma reforma de fundo - levada a cabo com coragem, rasgo e determinação - a qual, em si mesma, fala já por toda uma legislatura, que tanto promete ... 

quinta-feira, maio 02, 2024

A data

Leio que faz hoje um mês que Luís Montenegro tomou posse como primeiro-ministro. Já um mês? Confesso que não tinha dado por isso.

quarta-feira, maio 01, 2024

Na minha outra juventude


Há muitos anos (no meu caso, 57 anos!), num Verão feliz, cheguei a Amesterdão, de mochila às costas. Aquilo era então uma espécie de "Meca" geracional. Para quem tinha cerca de 20 anos, apenas a Londres dos "swinging sixties" lhe fazia alguma concorrência, embora com diferentes fatores de atração. Paris era mais "grave", pessoal a discutir "à séria", guerra e livros. À boleia desde Lisboa, sem pressas, sem datas e sem companhias precisas, saltitei então entre cidades, entre "auberges de jeunesse" e outros pousos que, às vezes, até tinham bastante mais graça e era fautores de felizes "happenings". (Voltei a repetir a experiência, uma outra vez). Aos amigos que sabia irem estar, por esses tempos, por Amesterdão, disse, antes de partir de Lisboa: "Todos os dias, às sete da tarde, vou estar pelo Dam. Aparece!". (Alguém me tinha ensinado que era assim). E, naquela semana, nos fins de tarde, sentava-me na base do monumento, à espera de tudo, conversando com quem viesse à vida. Hoje, dou agora conta, está vedado.

Sem olhos em Gaza

Nem imaginam o que tenho aprendido sobre o verdadeiro caráter de algumas pessoas ao observar o modo como têm reagido ao que se está a passar em Gaza.

Parecido


Para quem ainda possa lembrar-se: em termos de alegria - embora não necessariamente de esperança - a coisa mais parecida com o último 25 de Abril foi o Primeiro de Maio de 1974. 

Macron

Macron fez, uma vez mais, um discurso europeu ambicioso. Serão as suas ideias exequíveis? Apesar do caso ucraniano, não existe a menor perspetiva de consenso em torno da futura criação de um poder europeu com uma direção comum em matéria de segurança e defesa.

Um número significativo de Estados europeus, a começar pela Alemanha, apenas confia no poder americano para a sua (e da Europa) defesa. Esses países olham para as palavras de Macron como expressão de uma ambição de liderança europeia. E assobiam para o lado. A começar por Berlim.

"Quem quer regueifas?"

Sou de um tempo em que, à beira da estrada antiga entre o Porto e Vila Real, havia umas senhoras a vender regueifas. Aquele pão também era p...