segunda-feira, junho 12, 2023

O preço


Para comodistas como eu, há zonas de Lisboa que acabam por ser baratíssimas, porque nunca consigo estacionar à porta das lojas onde quero ir. Hoje, Campo de Ourique estava muito caro. O pessoal zarpou nos feriados, deixou lugares em barda e quem pagou a fatura fui eu. Não se faz!

5 comentários:

manuel campos disse...


Para C. d' O. nunca se vai em viatura auto própria (sendo "auto" uma redução de "automóvel", aviso já antes que cheguem os puristas da língua).

Mas pode-se ir desde que o motivo seja ter a "desculpa auto própria" de não haver onde o estacionar (e aqui o "auto" sendo também "própria", tudo se complica sem grande necessidade).

Se formos em missão conjugal de motorista nunca nos safamos pois somos supostos ficar ali algures em 2ª fila ou às voltas ao quarteirão (pelo menos eu sou e não devo ser o único).

PS- Como já aqui li que tem um Smart pergunto: nem esse?

manuel campos disse...


Abusando muito da sua boa vontade, não tanto da dos eventuais leitores que podem sempre passar à frente sem ler e sem aprovar, atrevo-me a um texto que pode ser útil a alguém.

No marasmo intelectual de que me sinto cercado por aí, onde parece só interessar o que dá muitos clics no teclado e nenhuns clics no cérebro, ír a um passado muito nosso e relativamente próximo e (re)encontrar isto é uma "sorte grande" que me saíu.

Parar para pensar e arranjar sempre tempo para o fazer, eis a questão.

manuel campos disse...

Sabemos que está lá mas não sabemos onde, ainda que tenhamos uma vaga ideia.
Refiro-me obviamente a um livro numa estante e que tem outros à frente, por evidente falta de estantes (e a partir de agora falta de espaço para elas, apesar de não ter ido à Feira do Livro).
Portanto há que tirar 3 ou 4 da prateleira e ir empurrando os outros para a esquerda ou para a direita até o vermos, firme no seu posto.

Refiro-me à Antologia de “O Tempo e o Modo”, editada pela Fundação Calouste Gulbenkian em Dezembro de 2003 e que teve uma 2ª edição em Outubro de 2007 (é esta que eu tenho, da qual foram tirados 750 exemplares e de que eu sou o feliz proprietário de um só desde essa altura, pois foi outra preciosidade que me tinha passado ao lado antes disso).

Logo à cabeça temos algumas “provas remetidas à censura”.
Sophia (só há uma) traduziu um texto de Hamlet em 14/09/64 que acaba com “… o fantasma avança – Fá-lo parar Marcelo!”, a censura cortou tudo, lá pensou melhor e cortou só esta linha.
António Alçada Baptista, o seu 1º director encontra Marcelo Caetano, uns dias depois, conta-lhe o caso, responde este “Sabe, isto é o mal de a gente ter um nome que vem dos clássicos”.
Já em 15/07/63 tinham cortado o quê?
Uma frase, com o local do discurso e o autor devidamente identificados: Américo Tomás!
Lá terão achado que, para a terem citado, algo de suspeito haveria ali e, honra lhes seja feita, a frase de facto tem uns contornos que se prestam a outra interpretação.

O 1º número de Janeiro de 1963 conta com artigos de Alçada Baptista, Jorge Sampaio, Mário Soares e Ruy Belo, entre outros, custava 15 escudos (7 euros de hoje).
O 2º número (Fevereiro de 1963) contou com Vitorino Magalhães Godinho, Mário Murteira, José Palla e Carmo, João Bénard da Costa entre outros.
O 6º número de Junho de 1963 é um número especial: António Pedro, António Ramos Rosa, Baptista-Bastos, Eduardo Lourenço, João de Freitas Branco, João Bénard da Costa, João José Cochofel, José-Augusto França, José Fernandes Fafe, Luis Francisco Rebello, Mário Dionísio e Óscar Lopes escreveram os artigos.
A lista dos que contribuíram com depoimentos ainda é mais impressionante, são 40 intelectuais, escritores e artistas onde não se encontra um único que não tivesse sido e seja dos “grandes” deste país.
Esta maravilha custava 20 escudos (pouco mais de 9 euros de hoje).

Permitam-me o desabafo.
Não tenho nada de saudosista, nunca fui e entretanto a vida obrigou-me a olhar sempre em frente, mas quando olho hoje à minha volta o que vai por aí nestas matérias quase que me dá vontade de chorar, passe o exagero.

"Continua, claro)

manuel campos disse...


(Estou de volta)

Aberto o apetite aos que gostam de comer destes manjares e, não os tendo provado devidamente na altura nem tido depois a oportunidade de o fazer, é bom adiantar que o livro está esgotadíssimo.

Mas. E isto é um grande mas.
Existem exemplares deste volume à venda nas plataformas habituais de “usados”, exemplares esses em bom estado e francamente baratos.
Trata-se no entanto de um “livro de estudo” tal como eu o entendo, próprio para ler à secretária, o peso desaconselha que se leve debaixo do braço para a esplanada.

Para quem não se importa de ler online há outra maneira de lá chegar, não só à colecção completa desta revista como a uma quantidade notável de outras.
Eu não gosto muito de uma demorada leitura online, dá cabo da vista aos novos e acaba com a vista dos velhos mas, neste caso, será a única maneira prática que conheço para ter acesso a todo o acervo, ler tudo o que me possa interessar e não cabe numa antologia, por natureza uma escolha pessoal de alguém, dificilmente coincidente com a nossa.

É ir ao “Portal RIC”, o “Portal Revistas de Ideias e Cultura”, onde o Seminário Livre de História das Ideias, a Biblioteca Nacional de Portugal e a Fundação Mário Soares e Maria Barroso se juntaram em boa hora, contando ainda com o apoio das entidades que lá aparecem em “Parcerias”.

Ponha-se então “www.ric.slhi.pt” na pesquisa do Google, abra-se logo ali “Revistas de Ideias e Cultura – Portugal” e veja-se o que nos é oferecido em “Colecções”.
Depois é escolher o título, o número, a data e ir desfolhando da primeira à última página.
Não deixar passar que lá em cima dá para carregar em “Brasil”.
E aberto este não se deixar assustar com a “Revista de Antropofagia”…

manuel campos disse...


Uma observação para quem esteja menos familiarizado.
Depois de "abrir número" aparecem vários sinais em baixo para clicarmos.
Os quatro primeiros são auto-explicativos.
O 5º (traço com setas nas pontas) aumenta aquelas imagens de letras minúsculas
e mal definidas para algo entre os 50% e os 60% conforme os casos.
O 6º tem setas nos quatro cantos viradas para fora mas devia-as ter viradas para dentro porque reduz a imagem à dimensão inicial.
No fim temos o passar das páginas para avançar e retroceder sem ter que molhar o dedo como se fazia à época.

Há duas coisas que nunca falham neste casos: os que já sabiam isto tudo e não percebem porque é que estou aqui armado em esperto e os que não sabiam nada disto e nunca se atreveriam a vir aqui pedir ajuda.
Dizer honestamente não sei e perguntar como é que se faz nunca foi uma característica muito difundida.
E no entanto não há muitas mais maneiras de progredir.
Se calhar por isso não se progride.


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