Só o futuro nos irá ajudar a perceber o significado real do encontro de hoje - sem dúvida, histórico - entre os presidentes das duas Coreias. (Esperemos, contudo, que o Comité Nobel de Oslo não se precipite a dar-lhes o Prémio Nobel da Paz, repetindo a patetice que fez com Obama).
O tempo nos dirá os eventuais efeitos daqulo que hoje ocorreu para uma distensão sustentável entre os dois países. Uma coisa me parece muito clara: as hipóteses de reunificação continuam muito remotas.
Há um ponto para o qual gostaria de chamar a atenção.
Quem conhece alguma coisa da política da Coreia do Sul sabe que os seus líderes não têm, necessariamente, uma permanente sintonia com os governos de Washington. No passado, Seul deu algumas vezes mostras de agastamento, pelo facto dos EUA abusarem da sua função de garante militar do “statu quo”, em moldes que procuravam condicionar a sua própria estratégia nacional. Ao longo destas complicadas décadas, houve vários desentendimentos entre a Coreia do Sul e os EUA sobre o modo como lidar com o volúvel vizinho do Norte.
Quero com isto dizer que não nos deveremos surpreender se Washington vier a mostrar reticências aos termos do entendimento que hoje foi assinado. Os coreanos do Sul têm uma lógica de movimentação face ao “irmão“ do Norte que nada garante que seja totalmente subscrita pelos EUA. Sendo que da atitude destes depende muito o sucesso ou insucesso do que hoje se iniciou.
Um “player” da região tem todas as razões para estar satisfeito: a China. Pequim viu serem dados passos no sentido daquilo que é o seu óbvio interesse: uma península coreana desnuclearizada e menos tensa militarmente, sem que haja uma alteração significativa na lógica de alinhamento internacional da Coreia do Norte. Se a isto se somar algum potencial ganho económico para o regime de Piongyang (que se especula poder fazer parte de um acordo secreto complementar), que venha a atenuar a tragédia humanitária que o país vive (e que podia “sobrar” para a China, em caso de implosão política), será ouro sobre azul para Pequim.
2 comentários:
Os dois assinaram um protocolo que tem por objectivo , entre outros, a eliminação das armas nucleares das duas Coreias.
Um só dirigente pode tomar a decisão: o da Coreia do Norte.
A Coreia do Sul, deve pedir àqueles que as possuem, nas suas bases, isto é, os Americanos, de partir.
Já pediram muitas vezes. Sem sucesso.
Como vai ser possível a Trump abandonar a “sua” fronteira coreana, que protege a Califórnia.
E quando Taiwan tomar a mesma decisão, e obrigar os Americanos a recuar até Haway, vai sentir-se nu…
A China sonha desse dia, que será um pesadelo para os EUA…
O Senhor Embaixador tem razão: Não vai ser fácil de reunificar as duas Coreias… para os Americanos.
A não ser, que daqui lá, encontrem uma razão “imperiosa”, para incendiar de novo a região… Com o aval da ONU ou não…
Resta que, um dos elementos mais significativos da evolução da situação na península coreana é o surgimento dum discurso nacionalista coreano, como um instrumento político pelo norte, mas que encontra um certo eco no sul.
Na verdade, parece que a Coreia do Norte está confrontada a uma estratégia de "frente nacional unida", de acordo com a estratégia de abertura do ex-presidente sul-coreano Kim Dae-Jung.
No discurso oficial da Coréia do Norte, a ênfase é sobre a unidade nacional e não sobre a natureza divergente dos sistemas políticos, e nenhuma condição prévia é colocada à discussão dos princípios de uma federação ou Confederação teoricamente muito flexível.
Trata-se, essencialmente, para o norte, de obter uma garantia de sobrevivência, reconhecimento da sua existência, expulsão dos "actores estrangeiros" e aumento da ajuda económica.
Uma península coreana desnuclearizada - eis o sonho que parece todos animar. Mas eu não percebo o que é a Coreia do Norte ganhava com isso, continuaria com as armas nucleares posicionadas no Japão apontadas ao seu território. A diferença da distância é irrelevante.
Não me admirava nada que o mediatismo fosse a mola real da ação.
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