Na minha adolescência, todos os anos, pela primavera, no dia 9 de abril, uma cerimónia tinha lugar em frente a minha casa, em Vila Real. Com alguma tropa, pompa e autoridades, o monumento a Carvalho Araújo, um valente marinheiro vilarrealense, que havia sido morto por um bombardeamento da Marinha alemã, em 1918, quando o seu navio protegia um barco de passageiros em pleno Atlântico, era coberto de coroas de flores. Era assim que Vila Real honrava a memória de muitos transmontanos que, nessa que era a data da batalha de La Lys, tinham morrido pela pátria.
Nas vésperas, a Liga dos Combatentes da Grande Guerra andava pelas casas e cafés a pedir alguma ajuda financeira, dando em troca uns pequenos capacetes verde-e-preto, com um alfinete, para colocar na lapela. A Legião Portuguesa, a partir de certa altura, passou a intervir nessa ação. (Lembro-me bem da indignação do meu pai: “Estes tipos da Situação querem ficar com a História para eles”).
No seio das figuras que faziam parte regular desta celebração anual, lembro-me bem de um velhote que se evidenciava pelo elevado número de medalhas que trazia ao peito. Havia também por ali alguns outros soldados da guerra 14/18, mas o mais medalhado destava-se. Era Aníbal Augusto Milhais, dito o “soldado Milhões”, de Murça, que se distinguira como ninguém pelo seu heroísmo naquela terrível batalha na Flandres francesa. Era o único que possuia a Torre e Espada de Valor, Lealdade e Mérito, a mais alta condecoração nacional. Morreu em 1970.
Hoje, 100 anos depois da batalha de Lys, é justo recordá-lo.
Hoje, 100 anos depois da batalha de Lys, é justo recordá-lo.
3 comentários:
Portugal caiu em muitas ratoeiras, esta foi uma delas.
Pior só Alcácer Quibir.
Havia gente (anti-salazarista) opinava que deviamos entrar na guerra que se seguiu.
Penso que seria só pelo seu anti-salazarismo que tiveram essa ideia.
Outra ratoera tinha sido o Napoleão e Wellington em Portugal.
A nossa participação na 1ª Guerra teve de esperar que a Alemanha declarasse guerra a Portugal.
Os tratados entre Inglaterra e Portugal indicavam que os ingleses só podiam disponibilizar créditos e ajuda militar se assim fosse.
Portugal da 1ª república não tinha nem os capitais financeiros nem os capitais intelectuais para entrar em guerra sem a ajuda inglesa.
Os alemães tinham colónias de fronteira com Portugal e precisavam do Cabo submarino,o qual saia de Carcavelos, para enviarem as suas mensagens para as suas colónias em África por isso aguardaram tanto tempo.
Quando o contingente português de militares chegou a Inglaterra percebeu-se que desconheciam a totalidade das técnicas de guerra daquele tempo. Ainda foram iniciados em alguns combates mas.... lidar com gazes e cordões de obuzes não era fácil.
Estavam totalmente desprevenidos para aquilo. E foram utilizados como carne para canhão pois as tropas inglesas estavam tão desmotivadas como eles. Foi naquela frente que se decidiu a guerra, no entanto.
O resto é fado............
O que é mais interessante também é conhecer-se o acordo entre Inglaterra e Alemanha para ficar cada uma com uma das colónias portuguesas como paga das dívidas a um e outro. As dívidas pareciam ser imensas e as colónias nesta altura eram.... ainda muito pobres. Talvez S. Tomé com o chocolate era a única mais industrial mas... com o trabalho de escravo dos africanos deslocados à força.
Para Portugal era impensável obter esse dinheiro porque estava falido e sem nada para compensar novos credores. Até porque o regime não tinha bom nome nas praças financeiras mais importantes e por isso nem retaliou este acordo. Dá-se a guerra e tudo foi esquecido.
Como de costume...... o resto.....é fado
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