sexta-feira, dezembro 29, 2023
Fernando Reino
Fernando Reino representou mais tarde Portugal junto das organizações internacionais em Genebra, sendo depois embaixador em Madrid e na ONU, em Nova Iorque. Ficámos amigos e em permanente contacto desde então. Fernando Reino morreu em 2018. Nos anos anteriores, tivemos dois divertidos almoços com outros amigos.
Há poucas horas, um cruzamento de referências na internet trouxe-me as inesperadas imagens de uma conversa que Fernando Reino e eu tivemos na RTP, em 1996, moderada por Nicolau Santos. Gabo-me de ter excelente memória, mas não tinha a menor ideia de ter feito esta entrevista ao lado de Fernando Reino. As relações entre Portugal e a Espanha eram o tema em análise.
Na peça, Reino, então já há muito reformado, está igual a si próprio, desassombrado, chamando "os bois pelos nomes", sem perder, no entanto, alguma prudência diplomática que lhe vinha da profissão. Eu, pelo contrário, vejo-me demasiado Secretário de Estado, "muito certinho", algo "redondo", politicamente correto, irritantemente oficioso. Mas achei imensa graça observar-me 27 anos depois e reencontrar este mano-a-mano com essa excelente figura da nossa diplomacia que foi Fernando Reino.
Quem tiver interesse, pode ver aqui.
Bicho raro
quinta-feira, dezembro 28, 2023
A vida não tem rascunho
Dia por dia, faz hoje 50 anos. Antes, já tinham passado mais de oito de conversas a dois. Num registo civil, nesse dia 28 de dezembro de 1973, perante apenas duas testemunhas, assinámos um papel. A seguir, sorte das sortes, veio Abril (com uma eterna maiúscula) e surgiram coisas para fazer. A vida foi acontecendo, não teve um rascunho. Andámos pelo mundo, durante quase quatro décadas, com algumas passagens por cá. Um dia, já há mais de dez anos, com toda a naturalidade e sem a menor nostalgia, regressámos ao ponto de partida, para continuar a vida em novas vidas. Sempre com a família, com os amigos - muitos, bons e bem diversos. Uns continuam connosco por aí, outros ficaram-nos na boa lembrança. Correu tudo bem? Correu quase tudo muito bem. Naquele dia de 1973 fazia sol, hoje está a chover. O grande segredo, aprendemos, foi saber resistir com bonomia a todos os climas e, ao longo deste meio século, continuar a olhar, sempre que possível, para a face divertida das coisas. Juntos, claro.
Delors e o "Le Parisien"
quarta-feira, dezembro 27, 2023
Jacques Delors
Contrariamente ao que o senso comum possa pensar, a França não é um país que se distinga por ter um constante e elaborado pensamento europeu. Sendo um Estado central e que foi essencial para o lançamento do projeto económico-social coletivo que a paz no pós-guerra permitiu instituir, Paris alimentou sempre uma leitura singular, e nem sempre solidária, desse mesmo projeto.
Wilson e o fumo
A certo ponto do texto, Wilson, conhecido fumador de cachimbo, mas também de cigarros, aborda a magna questão de se poder ou não fumar nas reuniões do gabinete. Anota que, no governo Attlee, depois da guerra, tinha sido determinado que só se podia fumar nas reuniões depois da uma da tarde, com pretextos de poupança. Depois, a regra caiu, naturalmente, com Churchill. Mais tarde, os hábitos terão variado.
Quando Wilson chegou pela primeira vez a Downing Street, já como primeiro ministro, em outubro de 1964 (ficaria até 1970), assumiu abertamente o uso do tabaco nas reuniões. Na sua interessante e interesseira perspetiva, isso evitava que alguns ministros saíssem a espaços da sala, pretextando urgentes chamadas telefónicas, ou fizessem pressão para que as reuniões acabassem mais cedo, adiando decisões.
Wilson foi substituído por Edward Heath, que ficou no cargo nos quatro anos seguintes (1970-1974). Heath, que também tinha o cachimbo na sua bem conhecida lista de vícios, proibiu o fumo nos conselhos de ministros.
Quando, em 1974, Harold Wilson regressou a Downing Street, para um novo mandato como primeiro-ministro (ficaria até 1976), deu-se conta de que os cinzeiros tinham desaparecido por completo da casa. No dia seguinte, ao abrir a primeira reunião do conselho de ministros, fez um anúncio solene: "Aqui, não é obrigatório fumar". E acendeu o seu cachimbo.
terça-feira, dezembro 26, 2023
Não é nostalgia
Aqui em Vila Real, olhei aquela casa, agora feita ruina. E lembrei-me de mim, criança, a brincar lá dentro, junto de familiares, há muitos anos. Tive saudades? Nenhumas. Foi outro tempo. E continuei a passear pelas ruas da cidade. Estava frio, um sol magnífico, cruzei-me com alguns amigos, comi um covilhete, bebi um fino. Este é o "meu tempo".
segunda-feira, dezembro 25, 2023
domingo, dezembro 24, 2023
O nome por detrás dos nomes
Viviam-se os primeiros anos da década de 90. Estava colocado na nossa embaixada em Londres. Um dia, um jornalista do "Expresso" de quem me tinha tornado um bom amigo, Benjamim Formigo, perguntou-me se acaso eu não quereria escrever, para as páginas da secção internacional que dirigia, alguns artigos de opinião, sob pseudónimo.
sábado, dezembro 23, 2023
A explicação
sexta-feira, dezembro 22, 2023
quinta-feira, dezembro 21, 2023
Não resisti
À entrada do Europarque, não resisti. Como quem não quer a coisa, fiz-me perdido e, por alguns minutos, andei por salas onde, há 23 anos, trabalhei muitas horas para poder ajudar a concluir, com êxito, o Conselho Europeu de Santa Maria da Feira. Com António Guterres, Jaime Gama, Joaquim Pina Moura, Maria João Rodrigues e tanta e tanta outra gente que construiu a presidência portuguesa da União Europeia de 2000, recordei naquelas salas o muito que me esfalfei por ali.
Abri hoje portas que me recordaram reuniões complicadas, mas que tiveram imensa graça. Como as que tiveram lugar na sala que a imagem mostra, onde chefiei reuniões que me levaram muitas horas, mas que me deram imenso gozo. É que, para o bem ou para o mal, sempre gostei de trabalhar.
quarta-feira, dezembro 20, 2023
Palavras
Houve quem julgasse que a parcimónia na palavra pública do Dr. Pedro Passos Coelho o levaria a uma escolha prudente naquilo que entende dizer nas suas raras aparições. O "soundbite" pesadote e deselegante de ontem deve ter sido uma surpresa para quem assim pensava.
Brasil
terça-feira, dezembro 19, 2023
O infeliz
O árbitro do Sporting-Porto teve uma "noite infeliz"? Claro que sim! Depois de ter feito tudo aquilo que estava ao seu alcance para falsear o resultado, ter a desdita de ver o Sporting ganhar o jogo deve ter-lhe criado uma imensa infelicidade. Coitado do homem!
segunda-feira, dezembro 18, 2023
O arco da decência
Esgotado
"Ai Portugal, Portugal!"
domingo, dezembro 17, 2023
sábado, dezembro 16, 2023
Democracia
José Luís Carneiro era o candidato que eu desejava tivesse sido eleito líder do PS. Os militantes socialistas escolheram Pedro Nuno Santos. No próximo dia 10 de março, espero poder felicitar Pedro Nuno Santos pela sua eleição como próximo primeiro-ministro de Portugal.
Viewmaster
É tão simples!
sexta-feira, dezembro 15, 2023
América Latina
quinta-feira, dezembro 14, 2023
quarta-feira, dezembro 13, 2023
terça-feira, dezembro 12, 2023
As responsabilidades
segunda-feira, dezembro 11, 2023
António Costa
António Costa voltou hoje a revelar, se necessário fosse, que é, a uma grande distância, o político mais bem preparado para governar o país. Posso estar enganado, mas creio que muitos portugueses, mesmo alguns que nunca nele votaram, terão percebido esta noite que, no plano dos líderes com qualidade para o exercício de funções executivas, se despediram de uma das grandes figuras das últimas décadas.
A vida pode dar muitas voltas, mas estou em crer que António Costa não se pode furtar a ter de encarar a Presidência da República como o seu futuro destino.
Necessidades
"Por una cabeza"
Livro
Foi um duplo privilégio: ver organizada a sessão naquele espaço único e ter como "apresentador" o meu amigo Augusto Santos Silva, também presidente da Assembleia da República.
Escrevi "apresentador" com aspas porque, por sugestão do próprio, a sessão teve um formato diferente de uma apresentação tradicional. Augusto Santos Silva foi-se referindo a vários aspetos do livro, mas ia-me fazendo uma espécie de "entrevista", que me servia de "deixa" para as minhas "entradas". A sessão converteu-se assim num mano-a-mano, com intervenções alternadas.
Julgo que, para as pessoas presentes, pode ter sido curioso ver-nos "desconstruir" o Ministério dos Negócios Estrangeiros, as suas virtualidades e particularidades, alguns vícios e alguma maneira própria de ser. Sempre com um grande respeito por uma instituição onde Santos Silva deixou uma excelente marca e eu tive grande gosto de trabalhar por quase quatro décadas.
No final, ainda houve tempo para responder a questões colocadas por via digital, dado que a sessão era acessível à distância.
Achei imensa graça ao exercício. Agradeço muito a disponibilidade do meu amigo Augusto Santos Silva e o acolhimento da Lello, nas pessoas da Dra. Aurora Pinto e da sua equipa.
domingo, dezembro 10, 2023
Que diabo de fama!
A senhora olhou para mim, com um sorriso, à entrada para o edifício da estação ferroviária das Devesas, em Vila Nova de Gaia, onde, há pouco, fui apanhar o Alfa para Lisboa. E disse: "Logo à noite, saberemos onde foi almoçar". E continuou a sorrir.
Foi isto?
Passei quatro dias sem ver um instante de televisão e parece que perdi uma reunião qualquer do Chega Dizem-me entretanto que Ventura e o seu bando estão a captar cada vez mais gente ao eleitorado do PSD e que a "culpa" (claro!) é do PS, que tem as costas largas. Foi isto?
sábado, dezembro 09, 2023
Táticas e desejos
O almoço, há dias, num determinado contexto de convívio lúdico, corria de forma animada. Gente simpática, excelente ambiente, histórias e graças, bem-estar generalizado.
Neste tipo de encontros é muito raro a conversa derivar para a política. A boa educação recomenda que esse tema - tal como religião, questões de dinheiro ou o comentar negativamente pessoas ausentes que possam ser próximas de alguns dos presentes - seja evitado, por forma a não provocar desnecessárias divisões e potenciais conflitos. Ainda por cima em período de crise política e com eleições ao virar da esquina.
Um dos convivas, porém, talvez por se ter sentido, por distração, em ambiente de "like-minded", saiu-se com esta: "Não acham que seria muito mais eficaz se houvesse uma aliança pré-eleitoral do PSD com o CDS e com a IL? O risco assim é muito grande".
Não deixei pousar a bola e retorqui: "Essas coisas são sempre difíceis de prever. Mas é capaz de ter razão. Logo veremos. A mim, confesso, tanto me faz, desde que o PS ganhe".
A luz da sala era artificial. Não deu para ver se alguns sorrisos foram tão amarelos como pareceram.
sexta-feira, dezembro 08, 2023
Falando de cunhas, ou quase
quinta-feira, dezembro 07, 2023
Um homem de coragem
quarta-feira, dezembro 06, 2023
Fronteira
O livro faz uma análise, muito interessante e bem documentada, desses primórdios da diplomacia portuguesa. Devo dizer, com sinceridade, que aprendi imenso sobre os meus antecessores longínquos na profissão e a natureza da sua ação.
Procurei, naquilo que então disse, fazer um paralelo entre a prática dos agentes diplomáticos dessa altura, muito bem descrita no estudo, e os tempos atuais, sublinhando os fatores de continuidade e as imensas diferenças. Gostei do exercício, proferido perante uma audiência muito atenta, numa sala cheia, mobilizada pelo interesse na temática da História.
Para eventual surpresa de quantos não me conheciam bem, decidi começar a minha intervenção lembrando que tinha entrado pela primeira vez naquela casa, há quase 54 anos, para assistir a uma histórica reunião de forças oposicionista à ditadura, organizada, com grande coragem, pelo já desaparecido titular daquela casa, Fernando Mascarenhas.
Porque afinal a História era o cenário de fundo do nosso encontro de ontem, apeteceu-me usar o ensejo para lembrar, para a "pequena história", essa reunião naquele Palácio, no ano de 1969, onde estiveram figuras como Jorge Sampaio e Maria Barroso. Naquele que foi um ano de combate à fraude que acabou por ser a "primavera marcelista", aquela reunião política acabou por consagrar as já expectáveis divisões entre comunistas, socialistas e outros setores, num processo que veio a originar, pela primeira vez na história da oposição democrática à ditadura, uma ida às urnas sob diferente denominações - CDE e CEUD - nas "eleições" de 5 de outubro desse ano, como se lembrarão os que têm idade, memória ou conhecimento.
Na ocasião, optei por não contar, porque talvez fosse demasiado pesado para o ambiente que prevalecia na sala, que alguns dos participantes na reunião oposicionista acabaram "corridos" pela polícia de choque, chefiada pelo famigerado capitão Maltez.
terça-feira, dezembro 05, 2023
Quem tem amigos assim...
Apesar de tudo...
Apesar de tudo, recuso-me a acreditar na tese, que por aí anda, de que o agravamento do caso das gémeas surgiu hoje magnificado para obscurecer a chegada do Sporting à liderança isolada da Liga.
Sinceramente penso
Marcelo Rebelo de Sousa pode ter todos os defeitos do mundo. Contudo, até pelo cuidado extremo com que sempre construiu o seu perfil como figura pública, não o vejo propenso a ações deliberadas de favorecimento de alguém. É o que sinceramente penso.
Como foi?
Ao ver hoje a direita (aqui pelas redes sociais é mais a extrema-direita grunha e a direita radical e populista) falar de Marcelo Rebelo de Sousa, levanta-se esse imenso mistério, político e matemático, que é saber quem, afinal, lhe deu em 2016 os 2.411.925 votos (52,00%)?
Caras
segunda-feira, dezembro 04, 2023
As cinco ideias com que Cavaco não se reconciliou
Cavaco nunca se reconciliou com a ideia de que tinha deixado a presidência com a esquerda no poder. Na realidade, foi ele quem entronizou a Geringonça. Marcelo recebeu essa herança e, não encontrando qualquer vício de legitimidade na solução governativa que herdou, deu-lhe condições de vida longa. Alguma direita nunca perdoou isso a Marcelo - embora ande agora a fingir que não foi ela que o elegeu em 2016.
Cavaco nunca se reconciliou com a ideia de que o seu lugar na história política da direita tinha entretanto sido raptado por Passos, pessoa de quem sempre se sentiu distante - e vice-versa. Cavaco sabe que, se bem que o PSD considere seu o património da sua década como chefe de Governo (e, muito menos, como presidente), a direita atual, no seu todo, da decente à infrequentável, revê-se muito mais em Passos Coelho do que nele próprio. Cavaco é um santo antigo no altar da direita, Passos é o prior que a freguesia gostaria de ver de novo a rezar a sua missa.
Cavaco nunca se reconciliou com a ideia de que Marcelo foi o seu sucessor. Deve ter espumado nos anos de "lua-de-mel" deste com Costa. Cavaco - e aqui admito estar a ser "mauzinho" - deve estar deliciado, por estas horas, com as atribulações do atual morador de Belém. Cavaco detesta o estilo de Marcelo, que, no primeiro mandato, procurou, deliberadamente, desenhar um perfil de anti-Cavaco. Ver esse estilo a ser, nos dias de hoje, criticado por grande parte da direita deve vingar Cavaco dos tempos em que viu Marcelo passear popularidade pelas ruas, pelas "selfies" e pelo mundo exterior.
Cavaco nunca se reconciliou com a ideia de que a direita, agora a cheirar o regresso ao poder e a tentar transformar os socialistas nos novos "idos de Março", faria isso sem si. Aproveitando as hesitações táticas de Passos, e depois de outras cirúrgicas aparições, Cavaco ressurgiu no congresso do PSD e, na passada, saiu a jogo por escrito para ajudar à nova narrativa financeira do PSD, sugerindo-se como o patrono da nova maioria, que quer ajudar a levar ao poder, tentando fazer esquecer - repito - que foi ele quem ficou, na História, como alguém que, embora "à contrecoeur", deixou Costa em S. Bento.
Finalmente, Cavaco nunca se reconciliou com a ideia de que quem está no olimpo histórico da direita democrática portuguesa, para o bem e para o mal, é uma figura que morreu, precisamente na data de hoje, há 43 anos. Por muito que ele se esforce, e já se percebeu que o fará enquanto a vida lhe der força e ânimo, Sá Carneiro será sempre a referência insubstituível dessa área política que o superará. E, com isso, Cavaco nunca se poderá reconciliar.
Notícias
domingo, dezembro 03, 2023
Visão Global
sábado, dezembro 02, 2023
Teste do algodão
sexta-feira, dezembro 01, 2023
Latinos
Não sei se Brasília estará a fazer algum tipo de diplomacia para travar a crescente escalada de tensão entre a Venezuela e a Guiana. Espero que sim. O Brasil não se pode afirmar vocação de potência pacificadora à escala global se não conseguir mostrar-se relevante na sua periferia geopolítica.
Já agora!
Agostinho Jardim Gonçalves
Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...