quinta-feira, dezembro 28, 2023

Delors e o "Le Parisien"


Numa conversa com Jacques Delors, em 2009:

- Que jornais diários franceses lê, embaixador?

- De manhã, o "Le Figaro", o "Libération" e o "Les Echos". À tarde, o "Le Monde".

- Não lê o "Le Parisien"?

- Só aos fins de semana e nem sempre. Acha que é um jornal que vale a pena ler diariamente?

- Sem dúvida! Eu começo sempre o dia pelo "Le Parisien". É um jornal simples, popular, que traz muito daquilo que o cidadão comum de Paris absorve, em especial sobre política nacional. E é muito equilibrado. Para se entender o que constroi a opinião média em Paris, passar os olhos pelo "Le Parisien" é essencial.

Depois desta conversa com Jacques Delors, o "Le Parisien" passou a fazer parte da minha leitura diária. E acho que fiz bem.

Um ou dois anos depois, num dos "dîners en ville" que eram o fatigante pão nosso de cada noite, quando vivia em Paris, conheci Thierry Borsa, então diretor do "Le Parisien". Contei-lhe o comentário de Jacques Delors. Ficou entusiasmado: "Ele disse isso?! Deu-me uma ideia: vamos procurar entrevistá-lo". Nunca apurei se o tentaram e se o fizeram. À época, Jacques Delors tinha já uma vida pública muito discreta e recolhida, escolhendo parcimoniosamente as suas aparições mediáticas.

Hoje, o "Le Parisien" trata assim a morte de Jacques Delors. 

Podiam ter acrescentado: um homem que gostava do "Le Parisien"...

3 comentários:

Luís Lavoura disse...

Que paciência, ler quatro jornais por dia! Eu nem um leio...

Anónimo disse...

é capaz de ser o jornal francês com melhores fontes.

Joaquim de Freitas disse...


Por coincidência, dois ex-ministros das finanças que estiveram na origem da euro-austeridade morreram em rápida sucessão: o alemão Wolfgang Schäuble na terça-feira, 26 de Dezembro de 2023, e o francês Jacques Delors na quarta-feira, 27 de Dezembro de 2023.
Se deixarmos de lado a emoção que a sua morte suscita para os seus entes queridos, é claro que os resultados políticos e económicos das acções destes dois homens são desastrosos para os trabalhadores em toda a Europa, e particularmente em França

Na verdade, Schaüble, um conservador que serviu Helmut Kohl e depois Angela Merkelfoi o maior promotor da austeridade europeia, tendo massacrado a Grécia na década de 2010.

Defensor ferrenho de cortes orçamentais drásticos, transformou este último país num antro de pobreza.

Quanto a Delors, o “Pai da Europa” naturalmente fez campanha pela adopção do “Tratado que estabelece uma Constituição para a Europa” (TECE) – que os franceses rejeitaram massivamente por referendo em 29 de Maio de 2005 – depois defendeu o “Tratado Simplificado” de Lisboa adoptado por (anti -) Parlamentares “franceses” em 4 de Fevereiro de 2008.

Jacques Delors foi o artista que em Junho de 1988, introduziu a Directiva 88 (361) sobre movimentos de capitais, especificando que “nenhuma transacção, nenhuma transferência de capital escapou à obrigação de liberalização”. O neo liberalismo antes da hora !

Devemos-lhes o euro-desmantelamento dos serviços públicos, euro-destruição das conquistas sociais, euro-austeridade generalizada, euro-dissolução das liberdades públicas, euro-deslocamento das soberanias nacionais, euro-criminalização do comunismo e Eurofascistização que assumirá a forma de uma imensa “onda castanha” durante as eleições europeístas de Junho de 2024.



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