terça-feira, dezembro 12, 2023

As responsabilidades

Há quase oito anos, num artigo que assinei no jornal "Público", intitulado "Falemos da América, não de Trump", escrevi isto:

"Mas o problema, desculpem lá!, não se chama Donald Trump, chama-se Estados Unidos da América. A América não é vítima de Trump, ele não é um epifenómeno que, “coitados!”, os americanos sofrem. Trump foi eleito pelos americanos, ele representa a América e é à América política – ao Congresso, aos Estados, aos nossos interlocutores institucionais, a cada diplomata americano que encontremos pelas esquinas da vida internacional – que devemos pedir responsabilidades por aquilo que Washington faz enquanto este presidente lá estiver."

Fui à procura daquele meu texto, porque, ao observar o modo como muitos olham hoje para Israel e para Netanyahu, dou-me conta de que alguns procuram assestar o olhar sobre o primeiro-ministro e desfocar a vista do país Israel, das suas instituições e da responsabilidade destas.

Quer Trump quer Netanyahu chegaram ao poder pelo voto popular. Se os cidadãos dos seus países tivessem querido, poderiam ter escolhido outros líderes para os representar. Não decidiram assim, pelo que não podem "lavar as mãos". E, em especial, quem os olha não pode "ajudar à festa".

Nos dias de hoje, Israel é aquilo que Netanyhau for. Separar os dois pode ser agradável a quem não quer mostrar-se crítico sobre Israel e quer atirar as culpas todas para Netanyhau. Mas não nos atirem areia aos olhos.

13 comentários:

Luís Lavoura disse...

O argumento que o Francisco está a utilizar é perigoso. Ele pode ser utilizado para justificar as ações de Israel em Gaza: os habitantes de Gaza escolheram o Hamas, os habitantes de Gaza toleram o Hamas, logo, os habitantes de Gaza são culpados e há boas razões para os bombardear.

netus disse...

BOM DIA
Exactamente o que penso.
Saúde.
António Cabral

Luís Lavoura disse...

O Francisco está (em minha opinião) a cometer o erro de pensar que Trump é muito diferente das alternativas a ele. Não é. A alternativa a Trump é Biden, que é mais ou menos tão mau como Trump ou, de facto, em minha opinião, ainda pior. A guerra na Ucrânia é, basicamente, culpa de Biden. A guerra comercial contra a China foi começada por Trump, mas foi muito escalada por Biden.

Francisco F disse...

Aleluia!!! Há responsabilidade coletiva dos povos!

Putin tem sido eleito e apoiado pelo povo russo!!!
O povo russo apoia a guerra contra a Ucrânia.

O tipo na Argentina foi eleito democraticamente.

A Venezuela fez um referendo sobre anexar parte de um outro país. E o povo votou a favor!

Os cubanos rebelaram-se contra um ditador mas aceitaram outro.

Os líderes são eleitos/mantidos/aceites pelo povo e enquanto não começarmos a responsabilizar os povos pelas escolhas que fazem, estamos muito mal!

Tony disse...

Sr. Embaixador. Mais um Grande, verdadeiro e magnífico texto. Esta a triste verdade. Lembro-me de uma minha tia idosa, que quando via uma aberração, de qualquer desgraça do mundo, me dizia " Oh Tonito. Isto é o fim do mundo em cuecas".

Erk disse...

Obviamente e pela mesma lógica, os palestinos não são coitadinhos

Todos os dias viram passar os terroristas do Hamas. Nos hospitais, partilharam paredes com as chefias, a logística, as armas. Viram cavar os túneis. Sabiam que tudo isso era para matar israelitas, votaram ou pelo menos foram cúmplices de quem tem no programa do Hamas.

Merecem ser responsabilizados.

Unknown disse...

Fico surpeendido. Ha tempos censurei os russos por tolerarem o Putin. Fui censurado por pensar assim.

marsupilami disse...

Há alguma comparação entre o capital cultural e económico, a capacidade militar, a autonomia e a liberdade pessoais, dos palestinos e dos israelitas, ou dos palestinos e dos ocidentais em geral? A equivalência que muitos comentadores resolveram aqui fazer entre ambos é falaciosa, pois não faz qualquer sentido proceder a uma atribuição de responsabilidades independentemente das condiçōes sócio-económicas e políticas das comunidades. Uma analogia (que vale o que vale): os prisioneiros não são os responsáveis pelas condições dentro da prisão, mesmo sabendo que muitos praticam acções pouco virtuosas lá dentro.

amf disse...

Mutatis mutandis , António Costa. Para quem prefira, André Ventura.

amf disse...


...O mesmo se pode dizer de qualquer eleito.
Com a verosimilhança definida pelo correspondente peso eleitoral

Francisco F disse...

"Netanyahu é um produto de Israel". Certíssimo!

Mas Putin também é um produto da Rússia (e não cá de nenhuma "Federação Russa").

É a Rússia, é a sua cultura, é o seu povo que produziram Putin. Putin e mais não sei quantos facínoras e déspotas ao longo da História.

É o povo russo que permitiu que o seu país nunca fosse uma democracia. O povo, presente nos campos mas também nas cidades, nas instituições, no exército, nos "partidos".

Nenhum líder nasce de geração espontânea. Todos são produto de uma cultura.

Não há antissemitismo em quem critica Israel pelos seus exageros. Da mesma forma não há russofobia em quem aponta as enormíssimas falhas e crimes de um país que só se afirma perante os seus vizinhos através da violência e da arrogância.

Porque razão é tão difícil de perceber isto?!

Anónimo disse...

Fernando Neves
No próprio governo de Israel há ministros mais radicais que o Nethanyu. Como o que sugeriu uma “limpeza étnica” em Gaza, como a que os nazis fizeram na Europa. Israel pretende liquidar qualquer tipo de poder dos palestinos na Palestina. O futuro deste problema está na mão dos EUA. Se parassem de armar os israelitas com biliões de dólares ZIsrael seria mais humilde. Agora temos o maior violador do Direito Internacional a dizer que vai castigar as NU. Quando percebi que Obama não ia obrigar Israel a desmantelar os colonatos, percebi que Israel podia continuar a praticar, com o a apoio e cumplicidade americana este hediondo crime

Anónimo disse...

os (ir)responsáveis governativos eleitos em democracia serão a melhor escolha?
Onde existe um navio onde o comandante é eleito pelos passageiros ou tripulação?
O Sec-Ger da ONU é eleito com que critérios? A exigência no sistema vigente tem dado que resultados ?

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