Há poucas coisas que revelem melhor o estado de pobreza a que chegou o debate político em Portugal como o tempo que se tem perdido em torno de uma simplificação simbólica das cores da bandeira nacional, medida sem a menor importância, reversível a qualquer momento. Tenham juízo!
17 comentários:
Boa noite.
Cabe sempre a outrem a apreciação sobre nós.
Isto afirmado, considero-me uma pessoa com juízo, sensata mas, respeitosamente, discordo quer desta simplificação quer da opinião concordante com esta "simplificação".
Votos de bom Domingo.
António Cabral
Posso fazer uma ou duas perguntas? Acha mesmo que a "simplificação simbólica" vale 91 mil euros? Ou que o símbolo (logótipo) anterior era mau? É isso que está em causa - pagar dezenas de milhares de euros por um mau trabalho, que poderia ser feito por um garoto de seis anos no Paint, ainda por cima a um boy do costume, com o contrato assinado por um secretário-geral que é previamente suspeito de corrupção, e isto é sintoma de total descontrole e de corrupção...
Fernando Oliveira Martins. E se eu lhe disser que, ao ver esta representação gráfica, disse para mim mesmo "Ora aqui está uma imagem interessante e criativa!" ?
Claro que é interessante e criativa - para quem recebeu...! Mas acha mesmo que vale 91.020 euros? Eu já tive de comprar logótipos para congressos e sei bem o que custam - mas isto de se meter um boy do PS, suspeito de corrupção, a negociar com "amigos", dá nestas coisas...
Com todo o respeito: "Ora aqui está uma imagem interessante e criativa!"...de quase tudo o que a imaginação nos permita.
Não tenho vergonha de dizer mas este assunto é "demasiada areia para a minha camioneta".
Realmente, num país onde pousar com a bandeira de pernas para o ar não causa particular problema (António Costa, Augusto Santos Silva), ou onde fazer visitas de Estado onde a bandeira nacional é um trapo aldrabado (Passos Coelho, Marcelo Rebelo de Sousa) nem sequer é coisa que mereça menção, isto não tem qualquer importância.
Se tivermos em conta que o Estado permitiu que o país se enchesse de bandeiras importadas e vendidas em todo o lado em que os castelos eram "pagodes" ou mesmo triângulos...
Se acrescentarmos que o próprio Estado não consegue atinar com o formato da bandeira, comprando e exibindo publicamente n versões do nosso símbolo e mantendo versões alternativas do escudo nacional em diversas instituições...
Se nos lembrarmos do enxovalho ao hino que foi o recente 1º de Dezembro, sem que ninguém seja responsabilizado por aquela vergonha...
Se pensarmos que a bandeira nacional está sempre subalternizada relativamente à da UE nos enquadramentos televisivos...
Se repararmos que o dicionário online Priberam agora tem uma versão em "brasileiro"...
Se notarmos que a Livraria Bertrand agora indica que certos livros são em "Português do Brasil" (mais a bandeira)...
Se virmos que Portugal é o único local onde os autocarros turísticos têm locução em duas versões de português...
Se pensarmos nestas coisas, realmente a questão do logótipo não tem qualquer importância.
A questão da proposta de mudança do símbolo nacional, a nossa Bandeira, é daqueles assuntos que não lembra ao Diabo. Um dos argumentos que li, a justificar essa proposta de alteração da imagem da Bandeira Nacional, era de que o nosso símbolo nacional ficaria mais “inclusivo”, desse modo fazendo desaparecer qualquer associação com o nosso passado colonial. São, em minha opinião, argumentos patetas, que de algum modo têm reminiscências com um certo “Wokismo”, como essa treta da “inclusão”. Para além de ser uma proposta bizarra e até algo estapafúrdia, faria com que a nossa Bandeira Nacional se assemelhasse à do Mali, sem necessidade. Quanto ao custo de tal “aventura”, de mais de 70 mil Euros, sendo, neste caso, assunto de menor importância, não deixa de ser extraordinário, pois qualquer criança mais crescidita poderia ter-se lembrado de idêntico “design”. Por fim, afigura-se que tal proposta de alteração, em princípio, não deverá ser decidida através de um Decreto-Lei, ou seja competindo apenas ao Governo avançar com essa alteração, mas, julgo ser da competência da AR (configurando uma Lei, que altere a imagem do símbolo nacional - a nossa Bandeira). Porque raio haveria o Governo de se lembrar de semelhante “causa”, quando há outras muito mais importantes para resolver, é o que me pergunto.
Como entretanto teremos um novo “pacote” de eleições , talvez esta questão acabe por ficar em banho-maria. E não se perderia nada.
a) P. Rufino
Francisco F
Óptimo e assertivo comentário.
Procurei procurei e não consegui encontrar o vídeo do "enxovalho ao hino".
Tendo eu um filho a caminho dos 55 anos que sabe mais destas coisas que nós todos juntos, premiado cá e lá fora em várias ocasiões durante 20 anos (há 10 anos que mudou “de ramo”), poderia escrever sobre isto mas não o vou fazer, pois não consigo elucubrar muito sobre o que para mim não faz sentido e aqui haveria muito a dizer para quem não está “totalmente” de fora do assunto.
Vá que preservaram, aparentemente pois não medi, as dimensões relativas do verde e do vermelho, 2/5 para o verde e 3/5 para o vermelho.
Mas o “sol” daquele tamanho podia ter sido evitado, alguém mais distraído ou que olhe de repente pode achar que é a bandeira do Mali.
Claro que muita da confusão que anda por aí é porque muitas pessoas acharam que era a bandeira que ía mudar, é o que dá ninguém se ter dado ao trabalho de ler a Constituição da República Portuguesa pelo menos até ao Artigo 11º.
Na sequência do que se tem escrito por aqui aconselho vivamente a leitura do tema “Bandeira de Portugal” na Wikipedia.
É um texto muito grande (aviso já) mas também muito interessante (também aviso já), cheio de História e de histórias.
No meu caso substituiu com enorme vantagem muita da chachada que a leitura das opiniões avulsas a peso ou a metro que me tentam impingir por aí todos os dias.
Não-assuntos.
E também acho "uma imagem interessante e criativa".
eu gosto. e também gosto da Guta. so what?
É o logótipo do governo,, talvez desapareça a 7/12.
“É um símbolo novo e distinto, representativo do Governo da República Portuguesa, que responde de forma mais eficaz aos novos contextos, determinados pela sofisticação da comunicação digital dinâmica e por uma consciência ecológica reforçada”. Outro objetivo da mudança foi o de tornar a imagem mais “inclusiva, plural e laica”.
Esta justificação é ainda mais engraçada que o grafismo!
Quando escrevi lá atrás que "para mim não faz sentido" não é mudar-se o logotipo do Governo, isso para mim até pode fazer sentido.
O que para mim não faz sentido é mudar-se para "isto".
É que eu dei-me ao trabalho de ir ver os de Espanha, França, Bélgica, Países Baixos, Alemanha, Reino Unido, Suiça, Áustria, Grécia.
E tirando o belga, não tem comparação possível a imagem que passam, no logo francês sendo mais aproximada a ideia, tem o enorme charme da parte central branca ser ocupada por uma imagem estilizada da República com o seu barrete frígio, talvez até o mais elegante de todos apesar de ser o mais simples.
E então a justificação, como diz atrás "J. Alves", é do melhor.
Alguém se terá dado conta do sem jeito daquilo e resolveu ir buscar a "sofisticação da comunicação digital dinâmica" e a "consciência ecológica reforçada”.
Nestes tempos atiram-se assim uns "palavrões" sabendo de antemão que um número considerável de pessoas não fazendo a mais pequena ideia do que aquilo significa, é certo e sabido que vão achar tudo muito bem.
Os textos usados para vender os produtos são aquilo que em arquitetura se chama a "memória descritiva" (talvez me engane). Basicamente, são palavreado redondo cujos objetivos são cumprir um ritual estabelecido e fazer as coisas parecerem o que não são.
Por exemplo: eu quero impingir a um cliente que me pediu uma casa, um cubo de betão à vista, com uma porta e uma janela. Escreverei algo como...
"No centro do relvado - que se constitui como espaço de diversidade de experiências e ligação à envolvente -, surge, contrastante, o objeto habitável, como que realçando a fronteira entre o coletivo e o pessoal, a natureza e a construção. A parede de betão tem o condão de nos despertar a memória dos muros agora desaparecidos, construindo a ponte entre o tempo que é e o tempo que foi, tradução direta de uma permanência quase visceral da memória no espaço agora intervencionado. No interior do edifício, uma porta e uma janela apenas criam um corredor de luz que define os espaços interiores, dinâmicos, proporcionando a cada visitante uma experiência evolutiva na apropriação do local para seu usufruto em que a casa, mais do que modelo que se impõe na construção do "eu", é ela própria feita da reinterpretação do espaço pelos egos de quem nela entra."
Ninguém liga aos palavreados. O que conta é a obra e o que sentimos ao vê-la. No caso, este logótipo é uma porcaria.
Outra coisa que me irrita é o problema que esta gente tem com a palavra "Portugal". Portugal, sim e não república, nem reino, nem associação recreativa.
O país é Portugal. O regime é uma mera circunstância. Com tanta "inclusão", ninguém se lembra de que designar uma nação pelo seu regime é bastante exclusivo?
Nada sabia, nem sei, da historieta por detrás do símbolo. Quando olhei para a imagem vi realmente, e ao mesmo tempo, a bandeira da Itália e uma gema de ovo. Talvez seja um defeito da fisiologia da visão "marsupiliana". Honni soit qui mal y pense. ;-)
Muito boa a descrição do caixote com uma porta e uma janela que Francisco F. faz, muito boa mesmo.
Não tendo a mínima intenção de vender a propriedade que tenho aí no meu "algures", vou no entanto visitando quinzenalmente os sítios de algumas imobiliárias para me manter actualizado sobre os valores praticados naquela zona, com a vantagem de eu próprio conhecer pelo menos "de vista" algumas das casas que lá aparecem.
E é um facto que autênticos "pardieiros" nos são apresentados exactamente com o mesmo tipo de conversa redonda com que Francisco F. nos brindou.
Hoje há quem vá mesmo mais longe fazendo "montagens" de casas novas a estrear e com piscina quase olímpica em propriedades em que só existe uma ruína sem telhado, portanto uma simples possibilidade de lá gastar umas massas malucas em algo com uma área de implantação semelhante.
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