Quando era miúdo, lá por Vila Real, alguém me ofereceu um dia, talvez pelo Natal, uma máquina da Viewmaster.
Para quem não saiba, tratava-se de um pequeno aparelho de plástico, do tamanho de um palmo de adulto, onde se introduziam discos redondos de cartão, com fotografias transparentes. Colocando os olhos nos visores, mantendo um ponto de claridade à frente, obtínham-se imagens muito nítidas. Podiam ser curtas histórias com desenhos, podiam ser quadros ou paisagens.
As imagens, em cada disco, seriam pouco mais de meia dúzia. Com o indicador, íamos carregando num cursor que as ia mudando. Lembro-me de ter recebido, como ofertas, mais de uma dezena desses discos, que vinham nuns envelopes quadrados brancos. É impressionante o que guardamos na memória de infância! E que, de repente, nos ocorre.
Presentearam-me uma vez com um disco da Viewmaster com panorâmicas de Lisboa. Eu devia ter quatro ou cinco anos - e, nessa idade, nunca tinha ido a Lisboa. Imagino que seria imperativo haver no disco fotografias da Torre de Belém, dos Jerónimos, do Castelo, da Fonte Luminosa, do Rossio ou dos Restauradores.
Contudo, por qualquer razão, a imagem desse disco que, até hoje, me marcou mais, ficando-me eternamente na retina, era uma panorâmica tirada do alto do Parque Eduardo VII, com o Tejo e a outra banda ao fundo, bem como a colina do Castelo, num dia de sol glorioso. Por muitos anos, achei que aquela paisagem era o suprassumo. Podia lá haver coisa mais bonita no mundo, pensava a criança que eu era! Ainda um dia irei ali, devo ter ansiado intimamente, abafado pelo Marão.
Há pouco, saído de um almoço no Eleven, esse panorama reaparceu-me. E tirei uma fotografia daquele área. O dia estava tão glorioso como o da Viewmaster, um verdadeiro "céu de brigadeiro", como fizem os brasileitos. Cuidei em não repetir o enquadramento da Viewmaster, porque não quero que essa coisa banal e óbvia que é a realidade possa alguma vez ter a ousadia de colocar a mínima sombra sobre as coisas únicas, e por definição imbatíveis, que guardo para sempre na minha memória de infância.
5 comentários:
Rectifico que eram 14 imagens duplicadas (7x2), em cada disco.
Cumprimentos.
Também tive um, as imagens eram digamos que a três dimensões pois para cada imagem eram utilizados dois slides, posicionados diametralmente opostos no disco, um na frente de cada olho, o que permitia convertê-los em uma imagem “ilusória” tridimensional.
O Viewmaster foi criado em 1939 pela Mattel e permitia visualizar em estereoscopia com os tais discos com slides, 14 slides que nos davam 7 imagens em 3D.
A estereoscopia é uma forma de criar a ilusão das três dimensões, para isso é necessário haver duas imagens, cada uma com o ângulo representativo da visão de cada um dos olhos.
Há um certo revivalismo disso e a Mattel juntamente com a Google re-lançaram em 2015 o brinquedo ainda que adaptado às novas tecnologias.
Como tive gabinete muitos anos na Rua Castilho e guardo por ali alguns conhecidos, vai não volta convido para almoçar um ou outro, costumo ir ao restaurante “Akla” do antigo Hotel Méridien que tem um menu executivo diário que no embate preço versus qualidade (comida, bebida, serviço, ambiente calmo) não me parece fácil de bater por ali (não é o “Eleven” mas eu também não me ía pôr a convidar todos os meses um ou dois para irmos lá!).
Só lamento este tipo de opções não existirem por ali há 20/25 anos para o dia-a-dia em que não há muito tempo mas há alguma fome.
Como uma vez que quis deixar o carro por ali, ainda não tinha acabado de o estacionar e já me estava caír o galho de uma árvore no tejadilho, desisti logo porque, de um modo geral, só há lugares na alameda interior do Parque, agora sempre cheia de autocarros de turistas.
Agora deixo-o no estacionamento do “El Corte Ingles”, do outro lado do Parque e faço aquele bocado a pé, só me faz bem, para um lado abre o apetite, para o outro lado ajuda a desmoer, ainda dou uma saltada à livraria do dito espaço comercial.
Mas paro ali sempre um bom bocado junto às colunas para olhar e ver Lisboa e o Tejo dali (há quem olhe sem ver).
Num dia de sol e às 3 da tarde é um momento que não perco mesmo quando estou com um bocado mais de pressa, arrepender-me-ia decerto.
Fernando Neves
O problema é que a nova fotografia tem a imagem do ridículo pirilau do Cutileiro que ja devia ter sido removido há muito tempo
A propósito do que diz Fernando Neves.
Para quem, como eu, passa ali a pé com frequência há mais de 30 anos (passar a pé dá tempo a "olhar e ver"), é notável que com o tempo não só nunca me habituei àquilo do "pirilau" como, à medida que os anos passam, o fui achando cada vez mais ridículo e despropositado.
O Parque Eduardo VII só foi "baptizado" assim em 1903, antes era Parque da Liberdade, é estranho que não tenha sido repescado o nome original nas voltas que a toponímia citadina deu entretanto.
Aquilo foi concebido a partir das pedras do pedestal destinado à estátua equestre do Santo Condestável, ali entre as duas colunas de Keil do Amaral.
Paisagem que não cansa!
Muitos fins de tarde por essas bandas nos tempos da Faculdade.
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