A minha amiga Alice Pinto Coelho, numa das entrevistas que deu, por ocasião das comemorações dos 50 anos do Procópio, de que é proprietária, referiu que, quando foi criado, aquele passou a ser o primeiro bar que, em Lisboa, uma mulher sozinha podia frequentar. Até então, isso era inconcebível.
Há já mais de uma década, num evento no nosso consulado-geral em S. Paulo, no Brasil, eu estava à conversa com a cantora Eugénia de Melo e Castro e com uma amiga dela, brasileira, que em breve ia visitar, pela primeira vez, Portugal. A sua estada não ia ser longa, pelo que procurava referências sobre lugares que, em Lisboa, não podia deixar de conhecer. Falei-lhe então do Procópio.
A Eugénia, naturalmente, conhecia o bar e concordou logo comigo, na recomendação. Para tornar mais apelativa a referência feita, notei então que Procópio era um local onde qualquer mulher podia entrar desacompanhada, sem que ninguém a incomodasse. Para uma bebida ou apenas para tomar um chá.
A amiga da Eugénia olhou para mim, com um sorriso que me pareceu equívoco, e tentou esclarecer: “Você diz que, se eu entrar sozinha nesse tal de Procópio, ninguém se mete comigo, é?”. Confirmei. O sorriso, dessa brasileira que recordo bonita, abriu-se mais, ao dizer-me: “Se ninguém se mete comigo, não vou gostar do sítio!”. E acabámos os três às gargalhadas.
1 comentário:
"notei então que Procópio era um local onde qualquer mulher podia entrar desacompanhada, sem que ninguém a incomodasse."
Em que ano estávamos? Nasci na província, numa terra onde qualquer mulher ia ao café, naturalmente, sem ser incomodada.
Enviar um comentário