Baptista-Bastos tinha, como pergunta sacramental das suas entrevistas, o “onde é que você estava no 25 de Abril?”. Hoje, deu-me para perguntar a mim mesmo onde estava nas datas das nove eleições presidenciais até hoje realizadas em democracia.
Em 1976, estava em Lisboa, já era funcionário diplomático, e a vitória de Eanes não me sossegou nada. Achei que poderia vir aí o pior. O futuro veio a provar que estava errado! Cinco anos depois, votei nele, sem entusiasmo mas com convicção, contra um Soares Carneiro que - esse sim! - me assustou muito. Hoje, tenho grande consideração por Ramalho Eanes, não obstante algumas críticas que nunca escondo.
Com Mário Soares, em 1986, na disputa contra Freitas do Amaral, a noite da sua vitória foi uma imensa alegria. O pessoal de chapelinhos de palha à volta do candidato da AD causava-me forte urticária política. Eu, que nem sequer era então um soarista, senti um grande alívio ao vê-lo entrar em Belém. Não tenho memória de ter tido a menor reação aquando da sua natural reeleição, em 1991, comigo já a viver em Londres.
Verdadeiramente empolgante foi, para mim, a campanha de Jorge Sampaio, em 1995/96. Tinha-me envolvido no lançamento da candidatura, entrara entretanto para o governo e lembro-me bem da grande satisfação que senti nessa noite! Se a vitória de Soares, uma década antes, era quase “existencial” (porque achei, sem razão, que a democracia podia estar a correr riscos), a de Sampaio representava colocar mais uma pedra sobre o cavaquismo, o qual, três meses antes, já tinha sido afastado do poder executivo. Para pessoas como eu, eleger Sampaio era o culminar de um projeto geracional. Mais tarde, a sua reeleição, em 2001, foi um “passeio”. Nem recordo essa noite, num tempo em que eu estava a mudar de vida e de geografia, com problemas familares graves a preocuparem-me muito.
Em 2006, estava embaixador no Brasil quando Cavaco Silva chegou a Belém. Não era uma data feliz, mas era a democracia a ser cumprida. Recordo, nessa tarde, ter encerrado as urnas, na embaixada em Brasília, e ter partido para o Amapá, no extremo norte do país, onde tinha uma cerimónia no dia seguinte. Cheguei lá de madrugada e esqueci o sufrágio. Meses depois, passei por Lisboa, e fui o primeiro embaixador a ser recebido por Cavaco Silva, com quem tive um relacionamento sempre muito correto, durante a sua década em Belém. Mas não esqueço, em 2011, comigo embaixador em Paris, o incrível discurso azedo de Cavaco no CCB, na noite da sua reeleição. Costuma dizer-se que há candidatos que não sabem perder. Cavaco provou, nessa noite, que não sabia ter grandeza na vitória.
Em 2015, não votei em Marcelo Rebelo de Sousa. A minha aposta foi Sampaio da Nóvoa, que fez uma campanha com grande dignidade, tal como a minha amiga Maria de Belém Roseira. Nunca tive dúvidas sobre o sentido de Estado de Marcelo, pelo que, sem hesitação, lhe dei o benefício da dúvida, desde a posse. E ele mereceu em pleno essa minha confiança, por muitas críticas que se possam fazer ao exercício do seu mandato. Por isso, é com satisfação que hoje vejo a sua reeleição.
1 comentário:
"Tu marcellus eris manibus date lilia plenis purpureos spargam flores animamque nepotis."
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