quarta-feira, janeiro 13, 2021

Pandemia (3)

No dia em que, em Portugal, morre uma pessoa a cada 10 minutos, vou deixar algumas frases que ouvi no último mês:

- “Mas que importância pode ter mais uma ou duas pessoas à mesa?”.

- “Então eu ia lá ter uma ceia de Natal sem os meus netos!

- “São nossos amigos, caramba! Gente que sabemos que se protege! Claro que podemos ir ao restaurante os quatro”.

- “Há limites para tudo! Alguns riscos temos de correr, senão damos em doidos!”.

- “É pá! Desculpa lá, mas é um exagero estarmos aqui na sala com máscara!

- “Não queres ir no carro connosco? Nem com máscara? Estás paranóico!

5 comentários:

Luís Lavoura disse...

No dia em que, em Portugal, morre uma pessoa a cada 10 minutos

Isso faz 144 mortes por dia. Faço alguns comentários:

(1) Isso são somente os mortos infetados com SARS-COV-2. Para além deles, morrem cerca de três vezes mais pessoas que não estão infetadas com SARS-COV-2. O total de mortos diários anda à volta de 600.

(2) Este número tão elevado de mortos indica fortemente, a meu ver, que há muitas pessoas infetadas (e não infetadas) com SARS-COV-2 que já não estão a receber cuidados de saúde tão bons e tão aturados como eram praticados há poucos meses.

(3) Num dia de inverno é normal morrerem, mesmo sem nenhuma epidemia (de gripe, etc), umas 400 pessoas.

(4) Convém saber as idades e patologias destes mortos com SARS-COV-2. Um morto com 80 anos de idade não tem o mesmo valor nem o mesmo significado (para a sociedade, e também para os seus familiares e amigos) que um morto com 30 anos de idade.

(5) Os mortos portadores de SARS-COV-2 não morreram necessariamente de COVID-19. Muitos deles teriam morrido de qualquer forma, talvez daqui a mais uns poucos meses.

Luís Lavoura disse...

Pois eu ao longo do último mês, e dos meses anteriores, fartei-me de ver pessoas a almoçar em restaurantes em grande proximidade social (umas à mesma mesa, outras em mesas distintas mas muito próximas). Ao almoço, pessoas que trabalham no mesmo local vão comer umas com as outras, e com pessoas que trabalham por perto. Tenho poucas dúvidas que os almoços em restaurantes são um importante veículo de contaminação. E não me refiro ao Natal, refiro-me a dias usuais.

jose duarte disse...

Essas frases são uma boa caricatura da forma como muitos, digo muitas pessoas olham para a situação pandémica. E, provavelmente,serão pessoas pertencentes à classe média
....teoricamente, esclarecidas...??.
Portanto,não há margem para flexibilizar coisa nenhuma,a "malta" acha que é imune....



josé ricardo disse...

Por mais que se construa uma sempre imaginativa desculpabilização deste governo no que à gestão da pandemia diz respeito, penso que tem gravíssimas responsabilidades no que está a acontecer nestas segunda ou terceira vagas. E o ponto acusatório é único: como é possível não ter havido uma preparação, logo desde o Verão, para o enfrentamento do retorno do vírus?
Este ponto implicaria o estudo de algumas vertentes: coerência nas medidas, rigor nas análises, combate implacável à contaminação nas pessoas mais velhas, aposta na logística e nos recursos humanos. Ora, pouco se fez. O resultado é que, neste momento, estamos no grupo dos países com maiores índices de contaminação. Depois é o que se vê, como este extraordinário exemplo de permitir as escolas abertas a todos os alunos. Tomem nota no que vou escrever a seguir: dentro de 15 dias, os números de contaminação e de mortes não vão baixar substancialmente; dentro de 15 dias concluir-se-á que os alunos a partir do 3º ciclo do ensino básico terão aulas a partir de casa. Não é preciso ser especialista (e há-os aos magotes, neste nosso torrão pátrio) para cotejar esta suposição. Um exemplo, dois exemplos apenas: entro numa loja comercial e, à entrada, leio um letreiro que diz: lotação máxima de 6 pessoas; entro numa sala de aulas, com os mesmos metros quadrados, onde existe um letreiro imaginário que diz: lotação máxima: 1 turma com 28 alunos e 1 professor. Vejo, nas notícias que a jornalista C. se encontra em acautelado confinamento porque entrevistou o senhor ministro A. que testou positivo (ou suspeita-se que se encontra positivo); os professores, maioritariamente muito acima dos cinquenta anos, e os alunos, não estão sujeitos a este tipo de providência cautelar quando um discente (ou um professor) testa positivo ao vírus. E alunos que testam positivo ao vírus são, como os comentadores, aos magotes.
A boa notícia? As escolas não são foco de contaminação. Dizem...

Jaime Santos disse...

O José Ricardo tem alguma razão na crítica, nomeadamente na questão das equipas de identificação de contactos de infectados que foram pelos vistos desmobilizadas em parte durante o Verão após a situação em Lisboa e Vale do Tejo ter melhorado, quando deveriam ter sido mantidas, mas relativamente à comparação entre lojas e escolas, está a falar de espaços com superfícies muito distintas e o que conta é o volume de ar interior, o arejamento, a distância entre pessoas, etc.

Parece-me que está a querer substituir-se aos especialistas. Pode acusar-me do mesmo :), mas não atire pedras, por favor.

Quando se diz que o controle da pandemia depende em última análise de cada um, não se está a construir uma qualquer imaginativa desculpabilização do governo, que obviamente tem responsabilidades e tem cometido muitos erros, até pelo grau de incerteza existente e a necessidade de balancear o combate à pandemia com a necessidade de não cansar demasiado a população (não há polícia que valha no controle de 10 milhões de indivíduos), mais até do que a necessidade de proteger a Economia e o modo de vida de muitos.

Está-se a dizer o óbvio...

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...