domingo, janeiro 24, 2021

“Casa Carlucci”


Não tinha notado que, à residência do embaixador americano em Portugal, havia sido dado o nome de “Casa Carlucci”, como se vê num azulejo na parede. (Passei por lá há pouco).

Constato que essa foi uma decisão do representante diplomático que Trump manteve por cá nestes quatro anos.

Daqui a uns meses, chegará a Lisboa um novo embaixador americano.

Depois de escolhido pela nova administração, o novo representante passará por um escrutínio parlamentar, como é de regra em algumas democracias presidencialistas, e por um “curso” acelerado de diplomacia no “State Department”. Oriundo da sociedade civil, o novo nome será uma escolha política da equipa do novo presidente. Será, como é de regra, acolitado por uma equipa competente de profissionais, na excelente escola da diplomacia americana, que o ajudarão à sua tarefa em Lisboa.

Dada a importância do país que vai representar, o novo embaixador americano vai encontrar, no seio da sociedade portuguesa, todas as portas abertas, desde logo começando pelas institucionais.

Se souber transmitir uma mensagem de simpatia e respeito pelo país onde está acreditado, pode vir a criar um terreno muito positivo de trabalho. Muitos dos seus antecessores souberam fazer isso, criaram uma excelente relação com Portugal, ganharam aqui amigos, prestigiaram o nome dos Estados Unidos entre nós e, dessa forma, foram muito eficazes.

Se, pelo contrário, o futuro embaixador, a exemplo de outros de quem não ficam saudades, optar por uma outra atitude, as coisas não se passarão assim.

Ao seu lado (geograficamente, quase em frente, como se vê na outra fotografia, também de há pouco), a embaixada e o seu titular terão a FLAD, a Fundação Luso-Americana, uma instituição que liga os dois países e que pode ter um papel muito interessante na relação bilateral. Nenhum outro Estado tem, por cá, uma instituição similar, com o prestígio que a Fundação tem sabido ganhar, embora apenas em alguns dos seus ciclos, como é o caso atual. Aproveitar bem a FLAD é algo que muito poderá contribuir para uma sã e proveitosa relação bilateral.

Termino com um mistério, na presença diplomática americana em Lisboa, que nunca consegui desvendar.

Com muito raras exceções, nunca vi os representantes diplomáticos americanos a associar-se à promoção da fantástica literatura que se produz no seu país, nunca ligamos a sua imagem à divulgação dos artistas plásticos americanos, nunca os colamos à sua extraordinária produção musical, da música clássica ao jazz e a tudo o resto. E o cinema? Onde é que vemos a embaixada americana dar nota de interesse pelo ímpar cinema que se produz no seu país? Onde para a cultura na ação diplomática americana em Portugal? Digo isto também na qualidade de frequentador do Centro Cultural Americano que existia na Avenida Duque de Loulé, em Lisboa, nos anos 70.

A América oficial que por aqui, em regra, se mostra parece sempre muito longe disso. Fala de comércio e de investimento, fala da NATO e das Lajes, refere-se à nossa diáspora por lá e aos políticos com origem portuguesa que vão emergindo. E de pouco mais. Os amigos portugueses da embaixada são, por regra, gente ligada à política, raramente à cultura. Será que o futuro embaixador (ou embaixadora, como já aconteceu no passado) nos vai surpreender?



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Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...