“Eu, pelos olhos, topo logo”. Imerso no iPhone, não percebi. “O senhor está cansado, não está?” Olhei, pelo retrovisor dele, o motorista do Uber, no Porto, com curiosidade. O trajeto era pequeno, mas via-se que estava ali um filósofo, daqueles que não se calam.
Há dias em que estou com paciência para conversar com motoristas, em que sou mesmo eu quem puxa a conversa, outros há em que, depois da saudação de entrada, fico na minha concha e cumpro os mínimos na interlocução. No Porto, já aprendi que ganho sempre em falar com eles.
O da manhã de ontem, simpático e tagarela, tinha uma teoria: “As máscaras não deixam ver as caras, as bocas e os lábios. Mas eu ando-me a ‘especializar’ em olhos. Já notei que, quando as pessoas estão chateadas ou preocupadas, os olhos fecham-se mais, não acha?”
Disse-lhe que não tinha nenhuma doutrina sobre isso, mas, à laia de comentário intimista, disse que, a mim, este tempo de máscaras criava-me, cada vez mais, a curiosidade em tentar perceber, pelos olhos, se uma mulher era bonita ou não.
O que eu fui dizer! O motorista filósofo deu um salto de contentamento, lá no banco da frente, ao ter tema comum comigo. E contou-me: “Há dias, apanhei uma senhora no Bolhão para o Palácio. Já nem era nova. Mas que olhos! O senhor nem imagina! Passei a viagem a olhar para ela, pelo espelho. Até fiquei preocupado que ela notasse. Quando a deixei, fiz de propósito e fiquei parado. Vi-a tirar a máscara. Afinal não valia um caracol!”
3 comentários:
Atenta a parte final da história não me acredito. A acontecer o motorista de certeza que dizia: nao valia um caraalho
Caro anónimo das 10:41, o motorista era da Uber, não era um taxista...
E olhe que mesmo entre esses no Porto, há muitos bem-educados e com vocação de filósofos... Só tem que vir cá e experimentar...
Agora, se foi só para deixar cair o palavrão, esqueça...
Ao Anónimo das 10:41: não excluo que tenha entendido mal a última sílaba...
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