Eu andava nos últimos anos do liceu. Uma noite, a rádio, no dia seguinte a televisão, no outro dia ainda os jornais do Porto que se liam lá por casa, em Vila Real, trouxeram o relato dramático do desastre.
As fotografias, no preto e branco da época, mostravam as imagens de uma parte de um comboio que embatera contra uma ponte. Era em Custóias, junto ao Porto. Morreram 90 pessoas, que vinham da Póvoa e de Vila do Conde, depois de um domingo de praia.
Para mim, esse número pareceu-me sempre uma monstruosidade. Quase 100 pessoas! Caramba!
No ano anterior, a cobertura de cimento da estação do Cais do Sodré, em Lisboa, tinha caído, provocando meia centena de mortos. Um número impressionante! Mais ou menos o mesmo número de pessoas (o número exato nunca se soube, ao certo) que, duas décadas depois, não muito longe de Viseu, em Alcafache, viriam a morrer num acidente com o Sud Expresso, a caminho de França.
Trago comigo na cabeça esses números, desde sempre, como uma espécie de “benchmark” negativo das nossas tragédias coletivas.
Hoje, ao ouvir que, só no dia de ontem, a pandemia levou mais de 300 vidas, não tive nenhum arrepio, só senti imensa pena. Como a gente se habitua às coisas, como tudo se torna tão relativo!
4 comentários:
É tudo relativo. Num dia morrem em Portugal, em média, umas 300 pessoas (nos dias de verão menos, nos de inverno mais). Por isso a mortalidade covid, na primavera de 2020, que nunca ultrapassou as 40 pessoas, era despicienda, apesar de muito apregoada.
Pois, Luís Lavoura, mas qualquer vida a mais que se perca é um abismo. E essas 40 mortes teriam concerteza dado lugar a números bem piores, como se viu em Itália, sem o confinamento.
Algumas dessas pessoas terão morrido agora, sobretudo as que estavam em lares? Seguramente, mas ganharam um ano de vida, o que é muito significativo para quem tem uma idade avançada. Se lhe perguntassem se preferia morrer agora ou dentro de seis meses, o que responderia?
E cabe notar que o conhecimento que se ganhou na luta contra o vírus seguramente que permite salvar muitas vidas...
Por isso, ter que ler os disparates que você escreve dá por vezes vontade de dar urros. Não há pachorra!
Por que e que tanta gente "da" no Luis Lavoura? O homem e um original, terra a-terra, "thinks outside the box". Nao e par-a louvar? (anagrama deliberado).
maitemachado59
Não é Maite, é mais para alarvear (passe o neologismo)... Terra-a-terra é outro nome para um rústico, como sabe...
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