No regresso pascal à cidade de origem, os encontros de rua com gente da minha geração têm rituais sedimentados, por décadas. A anteceder o abraço forte e franco, surge quase sempre a frase: “Então, cá por cima?” ou, numa variante, “Então, vieste à Bila?” (com “b”, claro). Alguns, menos crentes de que a minha visita se possa fazer sem sacrifício das “delícias” da capital, acrescentam ainda: “Tem que ser, não é?”.
Ontem, num passeio pela rua Direita, a antiga artéria principal da cidade, hoje transformada num cemitério ou quase de lojas comerciais, mas que tenho por ritual percorrer sempre que venho à cidade, fui surpreendido por outra expressão, que já não ouvia há alguns anos, mas que fez escola por muito tempo: “Como é?” (”cumué?”). É uma pergunta que não exige resposta, equivalente a um “Atão?”.
Fez-me muito bem ouvir isto. E deu-me uma ideia. Um destes dias, em Lisboa, vou testar a expressão à chegada a uma reunião que tenha grande formalidade. Sempre quero ver qual será a cara de alguns fabianos...
7 comentários:
“Então, vieste à Bila?” (com “b”, claro).
vieste com v e bila com b? Parece-me invulgar.
Eu quando vou a Aveiro ouço tudo com b, a começar pelo nome da cidade. v é coisa que lá não existe.
Aguardo pela comunicação dos resultados, caro Embaixador!
Boa estada por Vila Real!
Há muita variedade de transmontanos.
Trás-os-Montes até ainda tem o mirandês...e ó carago!
Nessa formalidade toda cheia de pruridos que muitos emanam, há muita gente que não tem onde cair.
A esse "Como É?" já ouvi darem respostas dignas do mais retinto cancioneiro minhoto, uma coisa saída das bocas e cabeças de gente como Joaquim de Magalhães Barreiros, cantor e poeta de Além-Tâmega.
Felizmente, esse cemitério que parece ser comum em muitas cidades portuguesas do interior e de média dimensão, como o senhor embaixador refere no post seguinte, não é assim tão comum, principalmente quando os respetivos responsáveis autárquicos olham, adrede, a cidade com uma visão de serviço público, o qual se preconiza o bem-estar dos seus munícipes. Ah!, pois, esquecia-me das corridas. Pena é que quem queira simplesmente passear, nessa autoestrada citadina que é o circuito, não o possa fazer com segurança, pois iluminação, passeios, passadeiras são coisas que não existem nestas bandas.
E eu, quando ia a Portugal pela estrada a fazer turismo, e que chegava là para o Norte, não era o “atao” e o “inté” ou o “cumué”que me desagradavam: era o “tudo bem” em cada frase, e mesmo o “tudo bom”.. Brasileirismos baratos, como o sotaque brasileiro daqueles que, quando era jovem, via chegar a Guimarães, donde tinham saído seis meses antes…
Mas isto faz parte do “para inglês ver” que sempre caracterizou os Portugueses… complexados! Os ingleses fizeram muito a Portugal…e continuam !
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