O outono já não é o que era!
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Ontem, as cores políticas que são as minhas tiveram algumas vitórias e derrotas. Bastantes mais vitórias do que derrotas. Senti algumas dessas vitórias como muito reconfortantes, mas devo confessar que tive uma derrota que muito me custou. A perda da Câmara de Lisboa para uma coligação que, ideologicamente, está nos meus antípodas, é um momento de tristeza que não posso nem quero esconder.
Fiz parte da Comissão de Honra do meu amigo Fernando Medina nas duas eleições que disputou. Fi-lo convictamente, porque considero - pelos vistos, ao contrário de uma maioria dos votantes de ontem, nesta minha cidade - que ele foi um excelente presidente da Câmara de Lisboa. É um homem e um político de uma grande seriedade e com um elevado sentido de serviço público. Deu tudo a Lisboa e dedicou-se ao seu trabalho com todo o empenhamento. Os lisboetas tiveram outra leitura das coisas, o que temos de respeitar. Como referi no início deste texto, a liberdade de escolha, a cada instante, é a grande virtualidade da democracia.
Os votantes lisboetas optaram por Carlos Moedas, figura que eu, equivocadamente, julguei ser um erro de “casting”, para o exercício deste cargo em particular. Como sempre afirmei, foi um excelente Comissário Europeu, é uma pessoa de bem e um amigo que prezo. Ele sabe que a sua vitória não me deixou feliz, como também sabe que é com grande sinceridade que, a bem de Lisboa, ao felicitá-lo, lhe desejo as maiores felicidades no seu trabalho nos tempos que terá pela frente.
A vida continua.
Há dias, alguém me dizia isto, num jantar no "Raposo", perto do Jardim Constantino, um pouso culinário a que, por tempos, me esqueço de ir e que vivamente recomendo.
Lembrei-me hoje deste recado na "Imperial de Campo de Ourique", também conhecida pela "Tasca do João", um lugar onde, sempre que posso, aos almoços de sábado, vou comer o "bacalhau à minhota" da dona Adelaide.
Pedi uma mesa à porta, com o fresco da rua, e por ali estive, de babete no peito, para evitar pingos de azeite sobre a camisa.
Um destes dias, irei contar por aqui as histórias de vida do João, um homem de Ponte da Barca que, há muito, fez de Campo de Ourique o seu mundo. Que ali foi feliz (vai ser avô, de novo, em breve), cuidando da felicidade gustativa dos outros.
Deixo-os, por ora, com a fotografia do petisco de hoje e de sempre.
Pode ver aqui: https://fb.watch/84fivWNeTe/
Foi há umas horas. Tinha acabado de jantar no restaurante da Casa Fernando Pessoa, convidado por um grupo de antigos Auditores de Defesa Nacional, que pretenderam ouvir-me e conversar sobre os equilíbrios geopolíticos contemporâneos. Foi uma agradável ocasião, com gente sabedora e interessada.
Saí pela noite de Campo de Ourique e decidi ir apanhar um táxi no Jardim da Parada. Podia ter regressado a casa a pé, a distância não era muita, mas ainda conservava uma memória, menos confortável, do que, há 48 horas, se tinha passado comigo no Porto. “Lessons learned”, como também se diz em linguagem militar.
Passei junto à esquina da Livraria Ler, olhei lá para dentro e reparei na mesa com livros. Lá estavam quatro exemplares, bem à vista, do meu livro “A Cidade Imaginária”, que a Biblioteca Municipal de Vila Real há dias publicou. Senti, no instante, uma espécie de “déjà vu”, mas não percebi bem o que era.
Fui caminhando para o táxi e, logo que entrado nele, saiu-me um sorriso que, creio, o motorista, no banco da frente, não terá notado. Eu estava a rir para mim mesmo, quase a rir-me de mim mesmo. De quê? De repente, lembrei-me do “flash” na minha paragem em frente à montra da Ler: era o Artur Corvelo!
Quem é o Artur Corvelo? É a figura central do romance “A Capital”, de Eça de Queiroz, em que há uma cena em que ele vai a uma livraria onde tinha colocado o seu livro de poemas “Esmaltes e Jóias”, folheia um exemplar, decide comprá-lo e pergunta, “com ar distraído”: “Tem-se vendido muito disto?”, para ouvir o empregado, indiferente, a responder: “É o primeiro”.
O Eça sempre surge nas esquinas da minha memória e da minha vida. Neste caso, justificadamente: esta quinta-feira, 16, antes de um jantar no Grémio Literário, eu e o meu colega Luís Filipe Castro Mendes vamos falar do nosso também antigo colega José Maria Eça de Queiroz, um homem grande na memória daquela casa. Ele tratará do diplomata que Eça de Queiroz foi, eu direi alguma coisa sobre o modo como escritor observa, na sua obra, os diplomatas e a diplomacia.
O Grémio fica situado numa rua paralela à da Livraria Férin. Depois do jantar, pode bem ser que passe por lá, para olhar a montra. Mas não, o meu livro não foi posto ali à venda. Nem sequer irei encontrar lá o “Esmaltes e Jóias”, uma obra bem conhecida mas que, curiosamente, nunca foi publicada.
Que mundo! Isto já não é o que era, essa é que é Eça!
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